A última frase ouvida antes que se locomovesse, foi o pedido de seu sensei para que estivesse no gabinete. Yohma concordou com o mover positivo de sua cabeça, caminhando agora pelas ruas da Névoa em mais uma noite que, para muitos, não continha qualquer importância. Porém, ao Uchiha, detinha seu lado significativo. Por isso, manteve os passos vagarosos pelo percurso, utilizando o gabinete como seu guia, e após indo de encontro ao artefato de seu clã.

O clima frio daquele horário causava calafrios ao mancebo, que soprava o ar gélido de seus pulmões. Diferentemente do esperado, não estava devidamente trajado para suportar aquela temperatura, ainda que contivesse uma resistência natural por ter vivido durante todos os seus anos naquele mesmo lugar. Portanto, ignorou momentaneamente o início daquele incômodo, focando os olhos azuis-escuros no conteúdo inicial do artefato. “Até mesmo na pior das perdas, devemos reabrir nossos olhos para o futuro, pois sempre existirá um futuro para ir além”, murmurou o frasear a si mesmo, tentando encontrar uma motivação ainda inexistente.

Seus braços tremiam pelo frio, mesclado ao nervosismo. Não sabia como prosseguir ou que decisão tomar, mas se a pedra continha os conhecimentos de seu clã, ele talvez precisasse de sua kekkei genkai. Consequentemente ativou o sharingan, deixando que os três tomoes se fizessem presentes, no entanto, as informações que surgiram diante de si não pareciam nada novas. As mesmas dissertavam acerca do Mangekyō Sharingan, os olhos que despertou ao assassinar o próprio avô para proteger a Boneca, não restando-lhe nenhum adendo em potencial que fosse capaz de concluir a busca por uma cura ao seu problema particular.

— Certo. — murmurou, fitando de soslaio a movimentação dos civis próximos aquela área. Nenhum deles se viravam ao monumento, como se de realmente se tratasse de um artefato irrelevante, e talvez fosse. Afinal, nem mesmo Yohma sabia de sua existência, se não fosse a menção de Noboru que vivia naquele ambiente diariamente. — Se cada estágio dos meus olhos revela uma nova informação, suponho que... — disse a si mesmo, inspirando e suspirando vagarosamente, para que as narinas não queimassem com o ar gélido de inverno.

Quando se sentiu preparado o suficiente, Yohma despejou o chakra odioso sobre os orbes rubro-negros, revelando imediatamente o Mangekyō Sharingan, enquanto as habituais lágrimas de sangue passavam a escorrer lateralmente por seu rosto, tornando-se um só com o Uchiha. Subjugando a dor, direcionou o olhar mais uma vez à pedra, suplicando internamente para que sua dúvida fosse respondida.

Diferentemente de antes, um novo texto surgiu diante de seus olhos. Aos poucos, a face apreensiva foi-se tornando um ligeiro sorriso de canto, com uma confiança excêntrica surgindo, mas que se mostrava com um movimento pouco natural. Yohma se divertia com o restante da história, embora sua visão se mostrasse muito mais doentia do que o seu padrão. Afinal, aquilo tudo lhe intrigava. O conteúdo do monumento contava-lhe acerca de um Uchiha que, no passado, encontrou um conflito com seu irmão, tentando matá-lo por um método de vingança que talvez fizesse sentido ao próprio, mas que fora subjugado por seu próprio desejo.

Todo aquele ódio fora utilizado como combustível para um combate mortal, tão quanto Yohma ao enfrentar Kreese, mas que em sua conclusão... Fora resolvido por um ato de amor. Algo que, com todas as barreiras possíveis, causava dúvidas pertinentes na mente do Uchiha. — Como o amor poderia me salvar da escuridão? — questionou mais uma vez retoricamente, centrando-se no restante do conteúdo.

Irônico, pensou. O semblante tornou-se uma total incógnita, retornando à tristeza e insegurança habitual, quando as palavras seguintes vieram, informando que, aparentemente, a cura para a mazela de seus olhos estava diretamente ligada a obtenção de um novo dōjutsu. Algo criado pela junção de dois sharingan distintos, que ao seu fim geravam o conceito de eternidade; o Eien no Mangekyō Sharingan, uma capacidade ocular imune à escuridão, a quaisquer máculas existentes nos orbes atuais do mancebo e que, por consequência, lhe traria a luz.

Yohma manteve a postura curiosa e o semblante agora inexpressivo, lendo e relendo o conteúdo daquela pedra enquanto as lágrimas de sangue continuavam a escorrer. Se não fosse a morte de Ichiro, talvez encontrasse alguém disposto a auxiliá-lo, mas naquelas condições... Não havia com quem contar. De toda forma, era satisfatório saber que ainda havia esperança, embora em um contexto bastante complexo e excêntrico, que necessitaria de seu esforço e talvez ações que considerasse pouco pertinentes.

Pressionou a área dos olhos com o punho canhoto, murmurando palavras desconexas, até uma conclusão particular. Eien no Mangekyō Sharingan, pensou enfim, desativando os orbes rubro-negros para caminhar vagarosamente ao gabinete. Não sabia como proceder e de qual forma conseguiria aquele poder, mas finalmente, após dois anos de busca, havia encontrado uma forma de subjugar suas trevas oculares, trazendo-lhe um resquício que fosse de esperança, em meio ao caos.      
 

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