Dia um de academia. Artemis tinha fugido do seu quarto por uma única janelinha que ela havia conseguido soltar as grades de proteção. Nunca entendeu direito o porquê de sua casa ser tão protegida, pois apesar de ser um pouco afastada do centro da vila, nunca havia presenciado situações perigosas acontecerem por ali em toda a sua vida. Seu lar não era muito diferente dos outros da classe média-baixa de Kiri. Estrutura de madeira, um portal de entrada na frente e móveis de segunda mão ou vendidos em desconto. Não havia luxo, mas era confortável e satisfazia todas as suas necessidades.

Seus pais, Galco e Mercedes, sempre lhe trataram muito bem. Bem até demais, um poderia dizer. Nunca na história houveram pais tão complacentes e dispostos. Mas, é claro, não há nada muito bom que não possa ser estragado, e toda aquela benevolência vinha de um lugar que nós, espectadores, já sabemos a origem. Os ‘pais’ de Artemis eram, na verdade, os capangas mais fiéis de Crona, sua irmã do mal que desde antes do nascimento da garota planeja assassiná-la e roubar toda a sua fortuna quando Temis completar os seus dezesseis anos. Mas vamos lá, voltando para a academia.

Ao chegar lá, Temis se surpreendeu com a estrutura e organização do lugar. A academia possuía vários andares e corredor. Diversos alunos andavam em grupos e professores caminhavam de um lado para o outro por livros e pergaminhos em suas mãos. Após admirar brevemente o local, Temis dirigiu-se até o balcão de recepção e, com muita vergonha, perguntou ao recepcionista por onde ela começava. - Aluna nova, eh? E com esses olhos? O homem moveu seus óculos e inclinou-se para perto de Temis, olhando bem no fundo dos seus olhos. - Eu sei bem de alguém que vai certificar-se de que você conheça bem o seu poder, minha jovem. Siga esse corredor e entre na sala 208. Não precisa falar mais nada, a sua tutora entenderá o resto.

Sem entender direito o que havia acabado de acontecer, Artemis apenas obedeceu as instruções do recepcionista e seguiu o corredor em direção a sala 208. Ao chegar na porta da sala, bateu levemente na porta. Uma mulher de aparência jovial, com roupas vermelhas e cabelos pretos abriu a porta, mas havia um detalhe em seu rosto que chamou imediatamente a atenção de Artemis: seus olhos eram brancos iguais aos dela. Temis sabia que nem todos possuíam olhos pretos como seus pais. Já tinha visto pessoas de olhos azuis, outras de olhos verdes e até mesmo roxos, mas era a primeira vez que via uma pessoa de olhos brancos, fora ela é claro.

- Olá, e quem seria v... A fala da professora foi interrompida quando ela encarou Temis de frente, olhando bem no fundo dos seus olhos. - Seja bem vinda a minha classe, querida! Pode entrar. Você vai se sentar logo ali. Meu nome é Pharah. A gentil instrutora apontou uma cadeira vazia ao lado de uma menina de cabelos loiros e olhos azuis. Um pouco desconcertada com uma recepção tão empolgante, Temis se moveu ligeiramente até a cadeira, dando um breve aceno de cabeça para a menina ao seu lado e virando-se de frente para a professora.

- Muito bem, meus queridos. Vocês podem estar se perguntando por que vocês estão separados das turmas das outras crianças. Prestem bem atenção na sua primeira lição. Pharah pegou um giz de sua cabeça e começou a desenhar algumas formas no quadro. - Alguns ninjas nascem com um poder especial chamado de Kekkei Genkai. Uma Kekkei Genkai é uma linhagem sanguínea que vem da sua origem familiar, então se você tem uma Kekkei Genkai, é porque, é algum momento, alguém da sua família também já possuiu uma. Existem exceções, é claro, não é porque seus pais possuem uma Kekkei Genkai que vocês irão herdar ela, mas este não é um caso de nenhum de vocês. Nesse momento, Pharah havia posicionado três crianças da primeira fileira de frente para todo o restante da turma.

A primeira das crianças possuía cabelos brancos como a neve, sua pele era pálida e tinha uma estatura mediana. A segunda, com seus cabelos negros presos em um coque, permanecia encostada na parede. E a terceira sentou-se no chão quase no mesmo instante em que levantou. - Além de Kekkei Genkais, existem clãs que possuem técnicas tão milenares e ancestrais que são conhecidos exclusivamente por essas habilidades. Seus ensinamentos são passados de filho para filho e esses sim, geralmente, não costumam pular de geração.

Pharah deu um tapinha no ombro da primeira criança e sussurrou algo no seu ouvido. No mesmo instante, a menina abriu a boca e soprou diversas bolinhas de gelo que encheram os olhos do restante da turma. - Não posso dizer a vocês muitas informações sobre, mas essas bolinhas de gelo são provenientes de uma Kekkei Genkai muito especial. Sua vez, Caleb. O segundo menino com apenas um selo foi capaz de deixar toda a sala escura, sendo reacendida logo em seguida pela terceira criança, que pareceu ter feito um selo oposto ao segundo.

- Não sei se já perceberam, mas todos que se encontram aqui nessa sela possuem alguma habilidade especial dentro de vocês. Seja controle do gelo, manipulação de luz ou de sombras, cada um de vocês carrega dentro de si um destino muito poderoso. Meu dever é certificar-se que vocês entendam desses poderes e utilizem o melhor deles para proteger a sua família, seus amigos e a sua vila. Pharah tirou os pés do chão e flutuou até a sua mesa, deixando todos da sala boquiabertos. - Suas lições serão um pouco mais difíceis do que os alunos de outras classes. Vocês serão treinados para aprenderem a utilizar seus poderes da melhor forma, mas, no final, entenderão o porquê de termos escolhido esse tipo de treinamento.
Quando finalizou seu discurso, Pharah voltou ao chão e abriu um grande pergaminho sobre sua mesa. Os alunos estavam em estase, percebia-se que a grande parte deles não fazia ideia de que possuíam um poder tão especial assim. E Artemis? Artemis não fazia a menor ideia do porquê dela estar ali.

Considerações: