Voltar de Amegakure foi um alívio imenso para Noboru, pois este mal podia esperar pelo devido descanso após aquele dia desgastante. Apesar do sucesso, a vida estava um caos com tudo aquilo que havia acontecido e com as mortes, o que obrigou o imortal a deixar patrulhas cuidando da aldeia quase que por 24 horas durante os dias que sucederam. Aqueles que odiavam os adoradores de Jashin poderiam agredir parte da população que ainda adorava o deus e isso seria péssimo; isso, somado a reestruturação de Amegakure, que exigiu movimentações de alguns shinobis até a colônia, ocupou a cabeça do Mizukage pelos primeiros seis meses que se sucederam aos acontecimentos em Amegakure. Esse tempo, é claro, não foi apenas para cuidar de Ame, pois não foi só ela que precisou de suporte. Tendo em vista que pessoas em todo o mundo haviam morrido, as demais colônias da vila da névoa precisariam do mesmo suporte, tendo Ame sido a primeira apenas pela destruição causada nela…


O Mizukage estava sentado em sua mesa do gabinete, seis meses após os ocorridos em Amegakure. As coisas já haviam se acalmado na vila e ele estava tendo paz para relaxar naquela tarde… ou ao menos tentar, pois estava no meio de um exercício de memorização de imagens, algo relativamente simples. Era quase um jogo da memória, pois Noboru queria elevar a sua capacidade mental, de modo que conseguisse aprender a armazenar mais informação que o comum, pois achava que aquela era uma característica importante que precisava desenvolver. Isso também ajudava a tirar a mente do sentimento de tristeza, uma vez que já sabia do desaparecimento e provável morte do membro do time: Uchiha Ichiro. Mais uma vez havia perdido alguém importante e isso lhe entristecia, apesar de admitir ter tido menos contato com ele que com os outros dois.

Enquanto ele seguia com seu pequeno jogo da memória, a presença de alguém se fez ali, alguém que utilizava a conhecida máscara da anbu e que observou o Mizukage e o que ele fazia. Como estavam sozinhos, não demorou para a máscara ser removida, revelando os olhos verdes do velho conhecido do imortal; Keichi era seu melhor e mais antigo amigo, ficando atrás apenas de Jyu. Os olhos amarelos do Mizukage desviaram para o rapaz, que sorria, enquanto o próprio massageava as têmporas. — Tudo bem, tudo bem… eu disse que aceitaria sua ajuda nisso. — murmurou antes que o outro pronunciasse qualquer coisa, se levantando para saírem do gabinete. Keichi havia descoberto os esforços do imortal logo quando ele começou aqueles exercícios mentais, se oferecendo para o ajudar com aquilo, mesmo que o Mizukage dissesse não ser preciso e tivesse evitado como pode; acabou cedendo devido a insistência frequente com que era feita.

Os dois seguiram juntos para fora do gabinete, caminhando em direção aos arredores da vila, pois não seriam atrapalhados ali. Durante o trajeto, Keichi recitava frases e obrigava o Mizukage a os repetir, palavra por palavra, tendo que recomeçar sempre que errava, em uma tentativa de auxiliar na memorização do mesmo. Quando frases se tornassem fáceis, ele alteraria para poemas. Aquele tipo de exercício fazia com que Noboru se sentisse um gennin outra vez, o que era incômodo de certa forma, mas ele tentava enxergar ver por outro ângulo; se lembrar de como sua vida era mais simples a alguns anos. De todo modo, para a sua infelicidade e surpresa, aquele exercício simples de memorização havia lhe dado mais trabalho do que esperava. Ele entendia tudo que o outro havia falado, mas não era tão simples repetir com exatidão cada palavra dita por este. Ele estava tão focado nisso, que nem percebeu quando pararam de andar só para ele ficar recitando até acertar; cumprir a tarefa de forma correta arrancou um suspiro aliviado por parte dele. — Isso é mais difícil do que eu imaginei. Eu sou muito inteligente e ter dificuldade com memorização parece ridiculo.

— …Vai ficar pior. — o rapaz de olhos verdes e cabelos escuros disse, contendo um riso. Só então o Mizukage notou que haviam parado próximo a um templo, claramente abandonado. Ele ficava no alto de uma escadaria com cerca de quarenta degraus e olhou para o outro, receoso do que estava por vir. — Eu vou subir primeiro e a cada degrau eu direi uma palavra aleatória que venha à minha cabeça. Quando eu chegar na metade, serão frases. Vai ter que memorizar e subir, repetindo tudo que eu disse em cada degrau. Se errar, vai descer e recomeçar. — o outro disse, simples e direto, arrancando uma expressão incomodada do líder da névoa.

Aquele exercício maldito havia durado toda a tarde, quando o Mizukage enfim alcançou o último degrau e se sentou, resmungando e respirando fundo. Keichi ria, se sentando ao lado dele. — Vamos fazer isso de novo. Todos os dias, por uma semana, até que você consiga memorizar tudo com frequência. — constatou, dando uns tapinhas nos ombros do imortal, este que não iria negar a ideia, pois o outro insistiria de qualquer forma. — Vai anoitecer, deveríamos ir embora… ainda temos aquele problema pra mandarem resolver, lembra? Dos paralelepípedos. — comentou, arrancando um riso do Mizukage, que assentiu e se levantou. Como seus alunos estavam ocupados, assim como Jyu, Keichi havia voltado a ser bastante presente para o líder da névoa e o ajudava até mesmo com os problemas mais simples.

Eles retornariam ali no dia seguinte, e no outro também, diariamente repetindo aqueles exercícios mentais até que o Mizukage fosse capaz de memorizar e guardar mais informação com facilidade tremenda. Era mais uma evolução pessoal que alcançava.


Após aquele treino em conjunto, um ano e meio havia se passado e a vida do Mizukage havia voltado a normalidade, cuidando da vila com todo o zelo que tinha. Entretanto, naquele dia em específico, não estava no gabinete e sim em um cemitério. Havia passado para visitar os entes queridos, deixando flores nos túmulos de Mavis, de Jung, de Haru e, por último, de Taichi. As mãos do Mizukage estavam nos bolsos enquanto ele aproveitava um cigarro e olhava para a lápide com um semblante entristecido. Era alguém fechado justamente por aquele motivo; detestava perder pessoas, então quanto mais longe ele ficasse delas, melhor. Pelo menos sentimentalmente falando.

— Eu queria que você não tivesse morrido e eu tivesse te contado tudo que não pude. — comentou, após deixar as flores ali e suspirar. Uma das mãos acariciou a lápide do rapaz e o imortal fechou os olhos por alguns instantes, se lembrando do jounin. — Estou tentando cuidar de todos, mas é tão difícil. Liderar todas as pessoas da vila para um caminho melhor também é complicado… eu espero ter feito as coisas direito nesses dois anos e que esteja satisfeito com elas. — murmurou, se lembrando de Ichiro, seu desaparecimento e provável morte. Assim como foi com seu colega de time anos atrás, seus alunos haviam perdido um companheiro também.

O imortal continuaria ali por um tempo, se lembrando do jounin que conheceu quando ainda era bem mais novo que ele e lutou ao seu lado na guerra, até ouvir os passos de alguém. Keichi havia ido o encontrar, como haviam combinado, e sustentava um sorriso fraco, como se tentasse silenciosamente dizer ao Mizukage que as coisas ficariam bem. Era o que ele esperava.

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