Retorno

As coisas nem sempre davam certo. É parte da vida. Às vezes você ganha, às vezes o inimigo não perde. Temporariamente, claro. Estar amarrada dentro de um porão mal iluminado e empoeirado é apenas um mero contratempo. Uma nota de rodapé na história de sua ascensão.  As coisas haviam se complicado na última missão da jovem, onde ela acabou sendo capturada pelos fugitivos que deveria levar à justiça. Não, é claro, que a moça fosse algum dia admitir tal acontecimento. Em seu relatório posterior, a Chinoike diria que se deixou ser capturada propositalmente, para assim descobrir onde ficava o esconderijo da trupe. — Eeeeeei, bundões! — Elevou sua voz, tentando atrair os criminosos até ali. — Tem alguém em casa? — A resposta veio na forma de alguns xingamentos vindo do andar de cima, assim como passos pesados no assoalho. A porta se abriu, as escadas rangeram, e então três homens adultos surgiram em sua frente. — A donzela acordou — disse o primeiro. Os outros riram. — Oh, por favor, me soltem! — Shinzou fez sua voz soar monocórdica, quase entediada. Poderia fingir med, caso quisesse, mas não precisava fingir o tédio à essa altura. — Ela está caçoando de você, chefe — o homem à esquerda disse, ainda rindo. — Iwa ainda rasteja na lama, mas alguns pirralhos ainda não entendem que Era de Ouro acabou — rangeu os dentes. — Vamos ver o que essa aqui acha quando for vendida como escrava para o Vento. — Ela arqueou uma sobrancelha. — Então vocês vendem escravos? — Seu questionamento era acompanhado por um tom de desdém. — E o que te importa? — Coma torta — respondeu, o tom agora sério. O homem piscou algumas vezes, confuso. Chacoalhou a cabeça. — Chefe, vamos dar um surra nessa aqui antes — Usando o Nawanuke no Jutsu, a garota se libertou das cordas que mantinham seus braços presos, ficando tranquilamente em pé. — Bom, por mais que tal ideia pareça fascinante — Bateu as mãos nas roupas, para espanar a poeira, sob os olhares incrédulos dos renegados. —, Eu já descobri o que queria. Agora, irei pedir para que gentilmente vocês usem essas cordas para se amarrarem nos pulsos e me acompanhem até a Pedra, onde receberão a punição por seus crimes. — Sorriu. Os homens se encararam, então começaram a gargalhar. O líder deles fez sinal para os dois capangas avançarem, enquanto sorria de maneira retardada. — Vamos lá: ensinem uma lição para essa pirralha, agora. — O mais cínico dos sorrisos brincava no rosto da jovem. — Natureza é transferência de energia. Nada começa, nada termina, tudo apenas se transfere — seus olhos brilharam, assumindo uma coloração e padrão totalmente atípicas ao humano. A mudança atraiu a atenção dos observadores, que tolamente fixaram sua visão justamente no único local onde não deveriam: o Ketsuryūgan. Instantaneamente a ruiva projetou sobre os três seu Genjutsu: Ketsuryūgan, capturando e tomando para si o controle momentâneo de suas mentes. Estando se sentindo entediada e com vontade de se divertir, calibrou a técnica para ter o poder de um genjutsu de rank C. Embaralhando o comando de seus braços, não tiveram reação para se proteger quando ela avançou e os esfaqueou no pescoço com uma adaga moldada com seu próprio sangue através de uma manipulação simples. — Isso vale para tudo, inclusive pensamentos – abriu um meio-sorriso maldoso antes de cortar os tendões dos braços do terceiro. — E, é claro, poder. Você tinha o poder, o controle; agora, vai sangrar até morrer. A não ser, é claro, que coopere comigo. — Sorriu.

Dor é um ótimo dissuasor... se você for um amador, é claro. Medo, este é o verdadeiro pai de todos os negócios. Ninguém aceita um acordo desfavorável se não estiver com medo. Foi o medo de morrer que levou o sujeito a aceitar o acordo de Shinzou e se entregar e em alguns minutos já estavam nos portões de Iwagakure, onde ele recebeu o atendimento médico emergencial. Infelizmente os outros dois procurados não poderiam cumprir o restante de sua pena na prisão por problemas de saúde, mas a aldeia ficaria feliz pelo líder deles ter sido recapturado. A ausência da ruiva foi explicada em seu relatório e mais uma vez estava pronta para operar pela Pedra.

Considerações: