Após os acontecimentos com o trem de Sir. Bao, Yuta voltou caminhando pacientemente de volta a sua aldeia, o caminho era longo e estava longe de ser confortável, o as vezes o frio fazia sua espinha arrepiar e o calor do Sol o lembrava daquela grande labareda ceifadora, eram pensamentos traumáticos demais para se suportar sozinho, mas agora o Hattori tinha realmente percebido, o mundo é um lugar injusto e bastava ele ajudar a todos para garantir a segurança geral, se o símbolo da paz cair, o mundo entrará em trevas, ele precisava ter um ideal forte o suficiente para que não se abalasse facilmente e desastres como esse nunca mais ocorressem novamente.
No anoitecer, o mesmo já havia chego em sua respectiva casa na aldeia, tratou alguns de seus ferimentos rapidamente e logo foi descansar, seu dia foi longe de ser fácil tanto para ele como para os civis que teriam que suportar com suas novas perdas graças as atitudes do rapaz, ele apoia sua cabeça no travesseiro e olha de relance o luar pairando o céu, uma presença tão bela mas tão distante, a Lua era familiar para ele, como se fizesse um chamado indecifrável, essa noite era mais uma das noites que teria que suportar o fardo de suas ações, um ponte tão distante que cada vez mais se afastava e deslizava entre seus dedos.
A única coisa que ele conseguia pensar agora era sua fraqueza, ele não conseguia parar de contemplar como a insignificância e impotência de um homem pode transcender a imensidão do vazio, ele se questionava frequentemente coisas como "o que é de fato ser um shinobi?" ou "como eu me torno alguém mais forte?", mas uma indagação ficou no fundo de seus pensamentos.
"Eu queria pelo menos uma vez viver na pele de um herói incorruptível e justo, alguém que consegue ser um verdadeiro símbolo de esperança, mas a figura que eu me tornei não passa de um vazio cheio de defeitos e sem propósito... Como eu faço para realmente me tornar significante? Acho que seria melhor eu só abandonar tudo já que eu não presto pra nada... " Meditava consigo mesmo e mais uma vez aquele mesmo silêncio ensurdecedor, o som de seus lamentos brandados em lágrimas e os ventos de sua própria respiração era a única coisa que ecoava por sua cabeça, novamente uma noite sem o descanso que o mesmo queria.
Ele se perguntava sobre o que de fato era a vida e o seu propósito, a vida é o tempo ou a vida é como o tempo? Tempo, o tempo...  O som de seu relógio pendular começou a tocar em sua cabeça, "tick" "tick" "tick". Caralho, tem um barulho lá fora.

O Hattori apavorado com o barulho percebeu que foi um grande estrondo na porta de seu quarto como se uma forte pancada tivesse acertado do outro lado, mas... Ele não morava sozinho? Suas próprias memórias estavam tão confusas que o mesmo não conseguia raciocinar direito, seu corpo não se mexia como o ordenado mas ele não sentia cansaço, apenas uma vontade inexplicável de conferir o som que crescia a cada segundo que passava.
Quando o mesmo abriu a porta e atravessou para o outro cômodo conseguiu ver um quarto todo iluminado, ele está iluminado porque as paredes estão queimando intesamente numa labareda azulada, o fogo... Ele lambe todas as paredes do quarto, mas de alguma o quarto parece em temperaturas negativas num frio lastimável, fogo lentamente cresce por todo o ambiente até chegar no corpo do Hattori porém o fogo não o toca, ele queima seus pensamentos e sentimentos fazendo uma ardência por sua alma, a chama da culpa.
O som dos estralos flamejantes na madeira do quarto não é o único som que ecoa por seus tímpanos, ele consegue escutar um ruído familiar que cada vez fica mais alto até um ponto que começa a beirar o insuportável, até que enfim ele percebe que esse som é composto por vozes vívidas gritando num coro desesperador, ele consegue reconhecer a voz de seu pai, os gritos de sua mãe, os berros de sua irmã, os sons desesperados de todos os passageiros daquele vagão, toda a culpa que ele sentia num verdadeiro inferno, o seu próprio inferno.
Lentamente, uma silhueta escura começa a sair no meio das chamas azuladas do quarto, ela calmamente estende a mão em sua direção e Yuta estende sua mão de volta, quando seus dedos se tocam ele finalmente reconhece o semblante desesperado de sua irmã que começa a rapidamente ser incinerado perante seus olhos. Em seguida, o fogo começa a tomar conta de seus dedos até chegar em seu torso, o corpo do Hattori já estava completamente tomado por uma labareda azulada, ele queima intesamente, mas o fogo e a dor da culpa não param, eles continuam até carbonizá-lo por completo com seus pecados.

Bruscamente, os olhos do Hattori abrem que buscam observar os ambientes ao seu redor, percebendo que estava deitado em sua cama no seu quarto normal na mesma noite, logo se tocando que tudo isso foi um pesadelo, ele acorda com uma dor no peito e lágrimas de desespero no rosto, ele conseguiu sentir a culpa lentamente o consumindo por tudo, era uma tristeza sem fim, ele ainda se lembrava do sentimento dos pecados se rastejando por suas costas criando uma corrente inquebrável com seu próprio passado e essa corrente ficava cada vez mais grossa e mais pesada, prendendo seu corpo em memórias antigas, memórias que o mesmo não queria reviver mas a dor sempre clareava sua visão com aquela grande bola de fogo no vagão, o coro de gritos de corpos sendo carbonizados por sua culpa, a culpa de tudo aquilo era dele e somente dele, ele agiu de forma errada e ele matou todos aqueles inocentes. Após alguns minutos relembrando aquela cena denovo e denovo, lentamente ele retomou seu sono, agora, o pesadelo já era sua própria realidade efêmera, vida essa onde tinha que se contentar pelo resto de seus dias o erro que tinha cometido, as vidas que tinha roubado.

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