O Salgueiro sempre dizia que começar de baixo exigia tempo e paciência. Duas das coisas que eu mais detestava na vida. Talvez tempo eu até tivesse, apesar de existir incontáveis ninjas com mais experiência e menos idade do que eu. Mas paciência? Me poupe… pedir paciência pra um jovem de dezesseis anos chega a ser ridículo, pra dizer o mínimo.

O coroa estava em mais uma missão de alto nível, colecionando vítimas e perpetuando a guerra já instaurada nos dias de hoje. E eu? Colecionava o quê? Missões banais? Tédio? Sim, com toda certeza, mas, ao analisar o papiro da mais nova missão me deparei com um colecionador mais idiota do que eu. — Merda. — esbravejei ao céu completamente nublado, mostrando minha completa insatisfação. — Pelo menos tem indicado em qual lugar fica a floricultura desse tal de estranho. — terminei, em baixo tom, fitando qual seria a melhor viela para seguir até à loja.

Segui rumo ao extremo sul do vilarejo, agradecendo pela pouca movimentação nesse dia de calor. O sobretudo enegrecido servia como um ótimo meio de me proteger do sol, mas não poderia esquecer do cigarro. Levei a destra ao bolso mais próximo, buscando o isqueiro metálico do Seiji e o paieiro, ou melhor dizendo, o cigarro de palha recém bolado. Por mais que minha vontade fosse largar essa missão de merda e seguir minha vida nada entediante e monótona, sabia que um dia iria precisar de algumas missões baixo nível em meu currículo e, somente por conta disso, permaneci caminhando vagarosamente em busca da floricultura.

A faixada nada chamativa e de nome nada sugestivo fazia-me crer que estava de frente à floricultura certa. A madeira rangeu conforme ia a passos lentos na direção da única pessoa ali presente. Uma mulher de seus aparentes um metro e sessenta e cinco, longos fios enegrecidos e pele clara. — Licença. — me aproximei do balcão, encarando-a nos olhos. — O dono da floricultura se encontra? — a resposta da mulher se deu de forma rápida e com um lindo sorriso estampado em seu rosto. — Ele disse que talvez viessem perguntar sobre a muda que havia perdido. Não, infelizmente ele foi visitar um ente querido, mas, antes de partir, deixou todas as instruções comigo. — explicou, enquanto eu dava mais um longo trago no cigarro de palha. — Parece que ele perdeu a muda nos arredores do vilarejo, bem próximo à entrada principal. A cor predominante é vermelha, como o fogo. Se destaca em qualquer ambiente, pode ter certeza.— finalizou. — Vou lá procurar essa maldita muda. — com meu jeito educado de ser, deixava o estabelecimento.


Não demorei em buscar o acesso mais rápido aos arredores do vilarejo, pulando por entre os telhados das diversas casas e estabelecimentos espalhados por ali. Por mais que a muda fosse de fácil destaque, me sentia como se tivesse procurando uma agulha num palheiro. O último trago foi suficiente para um longo suspiro, buscando alguma ideia para iniciar as buscas. Sentado sobre a larga extensão arenosa do muro, procurei fitar o arredor com extrema atenção e, apesar disso, nada que pudesse me chamar atenção tinha a cor avermelhada, tão pouco parecia com uma muda. As filhas dos mercadores de fato parecem e são mais interessantes do que uma flor qualquer, mas quem diria que até mesmo procurar uma muda seria difícil? Foi então que, analisando uma das mulheres ali presentes, pude perceber uma cor chamativa entre a orelha esquerda e os fios loiros de sua cabeça.

Me aproximei da jovem, que aparentava ter a mesma idade que a minha, talvez um pouco mais velha. Sem delongas, retirei a bandana a pouco escondida, com o símbolo da Areia talhada no centro. — Sou um ninja da Areia. Me desculpe o incômodo, mas preciso saber aonde encontrou essa flor avermelhada. — apontei na direção da orelha dela. — Encontrei próximo daqui. Achei a cor muito bonita, daí resolvi pegar uma flor. — não tardou em me responder, com sua voz doce e suave, similar ao canto dos pássaros. Pássaros mais lindos do mundo, vale ressaltar. — Preciso encontrar essa muda. Teria como me apontar o local exato? — mantive a postura, engrossando um pouco a voz e pedindo o auxílio da mesma. — Claro. — disse ela, caminhando até o local. A segui, admirando-a.

Dois minutos foram o suficiente para que ela me levasse até a muda, avermelhada do jeito que a atendente havia dito. — Vai precisar da que eu peguei, senhor? — a voz doce dançava uma valsa infinita com meus ouvidos. — Pode ficar, a cor caiu bem em você. — vociferei, recolhendo a muda com cuidado, envolvendo-a com meu sobretudo. Agradeci a jovem com um singelo sorriso, suficiente para me despedir da minha mais nova namorada. — Será que ela sabe que estamos namorando? — longe o suficiente para não ser escutado, gargalhei, levando à destra sobre o rosto, afim de ajustar os fios acinzentados que caiam sobre os olhos.

Na volta ao estabelecimento, pude conhecer finalmente o merda do colecionador de flores que me fez perder a tarde inteira nessa busca que iria me proporcionar uma merreca em ryous. Mas, quem poderia imaginar, não? Uma missão merda se transformar no dia em que encontrei meu amor verdadeiro… ou pelo menos até encontrar uma mulher mais bonita e simpática que aquela. — Senhor? Achei sua muda… — disse, deixando-a sobre o balcão de madeira refinada. Sem tempo para escutar qualquer palavra de agradecimento, deixei o local, pensando no que compraria com o dinheiro da missão.

Considerações:

Jutsus Utilizados: