Os trovões resolveram fazerem-se presentes naquela noite mórbida. Era incomum, de fato, o Vento talvez nunca tivesse presenciado tantos relâmpagos assim. Mas de uma coisa era certo, tratava-se de um mal presságio. Kōga beirava seus dez anos de idade quando tudo aconteceu. A partir daquele dia, sua vida mudou completamente, jogando-o em um abismo sem fim.

Kenji, o pai do prodígio Hatake havia voltado alguns dias antes de uma missão extremamente importante, levemente ferido, com uma espécie de marca que trazia extrema dor ao seu corpo. Passou várias horas de cama, aonde todos os anciões do pequeno vilarejo perdido nos arredores do Vento, junto ao Fogo, diziam que era improvável que ele conseguisse sobreviver. Talvez devesse poucas horas de vida e, se esse talvez realmente tivesse acontecido, o trauma que fizera Kōga começar a fumar não teria, de fato, acontecido e assombrado sua vida até os dias de hoje.

Infelizmente, o homem havia superado tamanha dor, só restando uma marca estranha em seu pescoço e nada além disso. Pelo menos não visualmente. Mas, sua família inteira notou a mudança repentina no seu humor, inclusive, no trato com sua esposa. Estava mais explosivo, certa vezes sussurrava sozinho nos cantos, com olhares desprezíveis para todos os filhos.

Por mais que Kenji estivesse estranho, talvez fosse sequelas da doença que havia assolado seu corpo, pelo menos era isso que Mahri, mãe de Kōga pensava e fazia questão de espalhar para qualquer um que notasse a diferença no homem. Mais alguns dias se passaram e o homem continuava extremamente estranho em seus atos. Não treinava, ato que fazia com tanta frequência quanto comer, não cuidava do pequeno vilarejo sendo um dos poucos ninjas ali presentes, tão pouco fazia questão de atuar como pai.

Foi então que, na tarde do fatídico dia, quando os trovões fizeram-se presentes pela primeira vez na vida do pequeno Hatake, que estava voltando para casa as pressas com medo dos estrondosos barulhos vindos do céu, tudo aconteceu. O ato que mudou a vida de um aspirando a ninja para sempre. Já estava em casa, acomodado no quarto junto com irmãos, acreditando fielmente nas palavras de sua mãe que teimava em dizer que os trovões não significavam nada, apenas a natureza fazendo seu papel.

— Mas mãe... — o garoto de mechas acinzentadas tentou retrucar as palavras da mãe, recebendo de volta um olhar de repreensão. Só bastava acreditar na mais velha. O pai, por sorte, não havia chego em casa, talvez estivesse voltado à si, treinando em qualquer lugar do pequeno vilarejo. Pelo menos era isso que o ingênuo garoto pensava.

Algumas horas se passaram, o jantar estava a mesa e, para a surpresa de todos, o homem da casa não havia chego. Tratou de comer em silêncio, enquanto a mãe demostrava, em sua face, série preocupação com o paradeiro de seu marido. Nenhuma palavra reconfortaria o coração dela, afinal, possuía uma personalidade extremamente teimosa e nada faria faze-la pensar ao contrário do que imaginava.

Já estava na hora das crianças dormirem e, com certa indignação, foram lentamente ao quarto que dividam, resmungando bastante. Por ser o mais velho, Kōga ficava responsável por fazer os demais dormirem. Não foi diferente e, quando estavam quase dormindo e o céu finalmente parecia estar silencioso, um grito estridente fez-se presente. Era a voz de sua mãe, clamando para que o sujeito parasse de bate-la. O prodígio Hatake pensou, por um instante, ser algum ladrão que possivelmente tivesse invadido o vilarejo atrás de dinheiro e comida. Mas, enquanto abria vagarosamente a porta do quarto, pode perceber uma silhueta conhecida. Sim, era seu pai, Kenji, com uma aparência diabólica, tanto em sua pele quanto em seu olhar.

A pele do homem estava em um tom amarronzado, quase que enegrecido. Ambas as escleras tinha mudado, também;  um tom enegrecido fazia-se presente. A aura daquele sujeito que se recusava em chamar de pai era amedrontadora. Parecia, de fato, um demônio dos cânticos infantis. — Kōga... — a voz de sua mãe falhou, mas o garoto entendeu perfeitamente do que se tratava. O olhar da mulher dizia, perfeitamente, para que ele fugisse e tentasse ao máximo ajudar seus irmãos. Mas, infelizmente, não foi possível. Enquanto abriu, de forma rápida a janela do quarto, a porta caia com o peso do corpo de sua mãe sendo arremessada contra a mesma. Os irmãos acordaram atordoados, enquanto que o monstro avançou na direção deles, com uma kunai em mãos.

Kōga não conseguiu olhar pra trás, não podia. Só conseguia chorar e rezar para que alguém o ajuda-se. Todos os moradores dos arredores de sua casa sabiam o que estava acontecendo, mas, apesar de quererem ajudar, nada fizeram. O jovem se perguntava o motivo de não receber sequer qualquer ajuda, até ser abordado por um velho. Se tratava de Seiji, o Salgueiro, um dos homens mais respeitados do vilarejo. Ele levou o prodígio pra longe de todo o caos, sem entender muito bom o que estava acontecendo.

Conforme fugiam, pediu explicação ao jovem que, entre choros e soluços, juntou forças para explicar. — Meu pai... ele pirou. Atacou minha mãe e meus irmãos por nada... ela morreu, Seiji... ela morreu. — dizia, inconformado com o que tinha presenciado. O silêncio do mais velho foi ensurdecedor mas, a face do sujeito serviu como um abraço caloroso à Kōga. Sabia que, junto dele, estava finalmente seguro. — Vou te proteger, garoto. Vamos ao vilarejo da Areia, um local que te defenderá de qualquer um que tente contra sua vida. Depois tentaremos entender oque aconteceu nessa maldita noite. — só podia consentir e assim o fez, balançando a cabeça para baixo e para cima três vezes consecutivas.

A areia, de fato, abraçou o garoto como ninguém, além do Salgueiro que tornou seu tutor com o tempo, criando um vínculo extremamente forte, além do sanguíneo. Afinal, tratava-se de um Hatake também. Apesar de sempre tentar esquecer o trauma do passado, algumas vezes, em algumas noites, conseguia escutar os gritos do passado perambular sobre sua mente, fazendo-o relembrar cada detalhe do ocorrido.

Considerações:

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