Numa manhã fria e úmida de inverno, Fugaku partia de sua residência para o portão do vilarejo, de onde sairia a comitiva de um artista prestigiado que visitara a Folha, e da qual ele faria parte, garantindo a segurança dos demais durante uma viagem de poucas horas até a cidade vizinha de Tanzaku. Ele, designado por um superior jōnnin, recebera as instruções atentamente. Vocês deverão partir às oito da manhã, não se atrase.
Ao chegar diante da imponente carruagem, Fugaku ficou impressionado com o que viu. O carro fazia jus ao material que transportava, no entanto, seria um chamariz para batedores ao longo do trajeto. O homem que se apresentava como Goshinara tampouco era mais discreto do que o veículo, com uma aparência incomum e vestes extravagantes. Durante a estadia do artista no vilarejo, Fugaku não prestigiou a exposição e não poderia afirmar qualquer coisa acerca da qualidade das obras contidas no interior do veículo. Ele, afinal, não era um grande admirador de pinturas ou esculturas, limitando-se a apreciar boa música, embora pudesse reconhecer a importância do trabalho de um artista.
Ao que se aproximou do pequeno grupo reunido junto da carruagem, ele apresentou-se brevemente após a fala de Goshinara, figura que ele pode facilmente reconhecer em razão da intensa divulgação e panfletos estampados com o seu rosto que anunciaram a exposição durante sua estadia em Konoha. — Senhor, me chamo Nara Fugaku. — Fez uma pausa para uma saudação contida antes de prosseguir — Fui designado para garantir a segurança da comitiva ao longo desta viagem. Ao que foram feitas as saudações, o excêntrico artista adentrou a carruagem, deixando Fugaku diante da escolha de acompanhá-lo ou seguir a viagem pelo lado de fora, que foi a escolha do gēnin. Goshinara tinha sua personalidade expansiva e envolvente como um fato notório por onde ele passava, ao contrário de Fugaku, que não valorizava convenções sociais que visavam apenas angariar a simpatia dos demais. Ele, apesar de sua personalidade distante, não poderia correr o risco de distrair-se com a lábia comum aos artistas, permanecendo atento às eventualidades, e por isso decidiu acompanhá-los do lado de fora do veículo.

Considerações:

Ao identificar-se, Fugaku foi prontamente apresentado às belas mulheres que acompanhavam Goshinara, cumprimentando-as com a mesma reverência contida de antes, em seguida reforçando a negativa ao ser convidado mais uma vez para seguir a viagem no interior da carruagem. O agradável perfume, provavelmente de Goshinara, invadia o ar ao que Fugaku pôde notar o olhar da acompanhante de sedutores lábios vermelhos muito volumosos, colocando-se em dúvida quanto a decisão de seguir cavalgando sozinho pelo trajeto. Malditos artistas e suas orgias.
Nas horas seguintes, a viagem foi marcada pelo trânsito agitado na estrada, com toda sorte de pessoas atravessando o País do Fogo. Viajantes, comerciantes, militares e, eventualmente, foragidos, certamente usavam aquela rota para o tráfego, considerando a qualidade da estrada e a segurança ao longo do trajeto. Fugaku, que não estava habituado a cavalgar, começava a sentir um ligeiro incômodo na porção interna dos membros inferiores e no glúteo após a terceira hora de viagem, quando o cocheiro decidir guiá-los por um caminho alternativo, por onde, segundo ele, poderiam chegar em Tanzaku mais cedo. O caminho revelou-se dentro da mata fechada, onde a densa folhagem das árvores bloqueava a luz diurna, obrigando a comitiva a seguir por uma estrada pouco asfaltada. Meu rabo está doendo com todos esses buracos, pensou. O cavalo, um belíssimo animal de grande porte, não tinha outra alternativa senão seguir por entre o solo acidentado, entre buracos, pedras e folhagens, enquanto Fugaku esperava que chegassem o quanto antes ao destino para dar um descanso às suas nádegas doloridas.
De súbito, os animais pararam ao avistar uma enorme pedra diante dos viajantes. De dentro da carruagem, os olhares curiosos do grupo de artistas procuravam identificar a razão da parada inesperada, ao que puderam constatar o grande obstáculo e provável razão para o intenso fluxo de viajantes na estrada principal. Lançando um olhar inquisidor, o cocheiro de certo esperava alguma solução milagrosa do jovem ninja. — Essa pedra deve ter algumas toneladas, e eu não tenho nenhum explosivo na minha bolsa. Devemos contornar a pedra ou encontrar um retorno para a estrada principal. — Ao que encerrou sua fala, dirigiu o olhar para o seu guia, sem expressar sua desconfiança pelo homem.

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