O inverno em Konohagakure estava fazendo mal para a saúde de Haruka, e isso o incomodava muito mais do que devia. O sol se escondia atrás das nuvens pesadas e escuras, aparecendo raramente. O jovem genin voltava do mercado com um enorme saco de papelão carregando de variados tipos de ingredientes para preparar o almoço, visto que sua mãe estava trabalhando naquele dia mas felizmente, seu turno no hospital da vila acabava ao meio dia e ela voltaria para casa para dar continuidade no treinamento do garoto. A cada dia que se passava, o Fong aprendia mais e mais sobre o corpo humano e seus sistemas pois queria um dia poder se tornar um ninja médica e melhorar sua utilidade em um time. Tinha acostumado-se a ler livros e pergaminhos com conhecimentos anatômicos e anotar toda e qualquer informação que podia obter sobre o corpo humano e de algumas espécies de animais, ainda se abismava quando lidava com questões em que as duas anatomias eram tão parecidas mas e ao mesmo tempo tão diferentes.

Trajando seu costumeiro avental o jovem de cabelos escuros cozinhava enquanto preparava o almoço para três, ela, Haineko e sua mãe. Seu devaneio foi finalizado graças a um estalo alto da porta de correr batendo no canto quando Nanao, sua mãe, chegou em casa exatamente à meio dia e vinte e oito. — Tadaima! — Exclamou alto enquanto tirava os sapatos na entrada. Haru respondeu, terminando de cortar alguns legumes para o almoço. Nanao deixou a mochila sobre a mesa e depositou um beijo na testa do filho que retribuiu o afeto com um sorriso sincero. — Tão cedo por que?  — Perguntou enquanto finalizava seu trabalho. Poucos minutos o almoço estava servido e, logo, os três residentes da casa encheram a barriga. — Ah... Você está ficando cada vez melhor na cozinha. — Elogiou, a médica, abrindo o botão de sua calça para dar mais espaço à barriga extremamente cheia. — Obrigado. — Haruka forçou um sorriso. A verdade é que ele sempre odiou cozinhar e só fazia por obrigação, mas amava ser elogiado pelo que quer que seja. — Nem vai fechando esse olho não, você prometeu que continuaríamos nosso treinamento! — Agarrou o braço da mais velha e o arrastou para a sala.

Depois de uma longa conversa sobre o que decidiriam do treinamento a partir daquele momento, os dois chegaram à seguinte decisão: Haru faria uma prova teórica ministrada por sua mãe, caso fosse aprovado, seguiriam para a próxima etapa do treinamento que é a parte prática onde ele tentaria conjurar seu chakra de modo passivo afim de curar algum ferimento. Depois de muito reclamar é claro que ele acabou concordando, afinal não havia nada que podia fazer a respeito. Sua mãe era sua mestre e ele devia fazer o que ela queria se quisesse continuar o treinamento. A prova, marcaram, no dia seguinte. Ao meio dia, assim que chegasse do trabalho, Nanao faria uma série de perguntas orais ao filho e avaliaria seu desempenho e conhecimento adquirido nesses meses de estudo de anatomia.

O genin passou a noite em claro, estudando, revisando, lendo o máximo de conteúdo que podia ler e os assuntos que julgava serem mais importantes de se conhecer, como: sistema vascular e nervoso. Deixou o sistema ósseo de fora de sua revisão, imaginando que devia se aprofundar neste apenas quando já fosse um Iryonin graduado, visto que fraturas são ferimentos mais difíceis de serem curados durante missões ou batalhas. A princípio, ficou no básico e deu um foco especial na teoria ninja de regeneração celular, a base de quase todos os iryoninjutsus conhecidos. A noite passou muito mais rápido do que ele gostaria e, quando se deu conta, acordou pela manhã. Esteve tão cansado que não percebeu quando caiu no sono em cima de sua escrivaninha. Sabia de duas coisas: primeiro, deu um mal jeito na musculatura do pescoço por dormir naquela posição; segundo, havia estudado o suficiente e se daria bem naquela prova. Assim esperava. Como dito, ao meio dia Nanao chegou em casa. Haruka o esperou com o almoço pronto, sentado no sofá da sala para não permitir que ela fosse comer antes de aplicar-lhe a prova. — Estou pronto, vamos começar logo! — Pediu antes mesmo da mãe entrar em casa.

As perguntas foram das mais diversas e, como esperado, não havia muita coisa sobre sistema ósseo. Nomes de músculos, estruturas de fibras, funções de órgãos, potencial de ação, biologia celular e regeneração, esses foram os tópicos das perguntas e o garoto acabou errando algumas, mas acertou a maioria. oitenta e nove por cento de acerto, é uma boa média. — Impressionante! Eu não poderia estar mais orgulhosa. — Disse a mais velha enquanto tratava a torção no pescoço de seu filho. — Agora podemos começar o treinamento prático. — Finalizou.

A nova fase de seu treinamento era o controle de chakra, coisa que não teria dificuldades, imaginou. Depois de sua prova o genin recebeu uma aula sobre a importância do controle de chakra e como a mínima oscilação do fluxo podia afetar a eficácia de todos os ninjutsus, especialmente os de cura.  Usar genjutsus era extremamente mais fácil em relação àquilo. Todos os iryonin precisavam ser dotados de extremo controle e concentração para conseguir pensar e realizar suas obrigações como ninja médico em um esquadrão. Sabendo que seu filho sempre possuiu um excepcional controle de suas reservas de chakra, Nanao a levou para um campo de treinamento para lhe dificultar um pouco mais no que diz respeito a essa parte do treinamento.

Ao entardecer os dois membros da família se encontravam em uma área plana e gramada, coberta por gotículas de água em alguns locais. Havia poucas árvores e muitas rochas espalhadas pelo ambiente. — Eu preciso que você se concentre e consiga gerar e manter o fluxo de chakra contínuo e calmo enquanto te ataco. — A mulher explicou como funcionaria essa parte do treino e Haruka apenas concordou com tudo e se afastou alguns metros para se preparar, parando a uma distância razoável. — Pode começar[/b] — Mal fechou a boca e foi atingido por uma lufada de vento lançada por sua mãe, um jutsu não muito forte e conhecido por ele. Ao que tudo indicava, Nanao não pegaria tão leve como pensou.

O combinado era que ele não lançasse jutsus ofensivos e muito menos genjutsus que eram sua especialidade. Haruka devia evitar ser atacado e concentrar seu chakra nas palmas das mãos de forma calma e pacífica. Concluindo que não conseguiria manter o fluxo e controle de seu chakra por muito tempo recebendo ataques diretos, ele começou a correr o mais rápido que podia, descrevendo círculos de largo diâmetro ao redor de sua progenitora. Hora ou outra fazia um selo de mãos, tentando não perder a concentração. Estava indo bem enquanto Nanao lançava apenas lufadas de vento contra ele, o problema começou quando ela começou ataca-lo com kunais e shurikens, aquilo sim iria a ferir se acertasse. A cada lâmina lançada o garoto perdia a concentração para desviar e o chakra concentrado em suas mãos se esvaía.

Todo esse processo continuou por cerca de uma hora até que Haruka estava esgotado, quase sem chakra. Não adiantava, por mais que tentasse ele não conseguia se manter concentrado em infundir chakra enquanto estava focado em não ser atingido e nem ferido pelas centenas de armas que eram lançadas contra seu corpo. Ainda assim não queria parar por nada. Continuou tentando desviar e tentar ter êxito naquela fase de seu treinamento, não podia desistir assim de cara. Tudo bem, era seu primeiro dia nessa nova fase, mas ele tinha que dar tudo de si. Tinha que forçar até o limite. A cada minuto que se passava o jovem ficava mais lento, mais cansado, e aparentava menos habilidoso. Sua mãe teve que diminuir a quantidade de ataques lançados para acompanhar sua exaustão.

— Tenho que continuar... — Pensava alto, ofegante, seu chakra quase todo havia esvaído de sua rede. Tentava ao máximo focalizar o chakra que já era quase inexistente, até que, por fim, desmaiou. Seu corpo caiu sobre a grama e rolou por alguns metros com a velocidade que corria. Nanao correu a seu socorro e viu que havia alguns arranhões espalhados por seu rosto, braços e joelhos. Apesar de Haruka não ter visto, a expressão no rosto da mais velha era de orgulho. Ela sorria, satisfeita com a insistência do moreno enquanto se preparava para curar os  seus pequenos ferimentos enquanto desmaiado. Assim que ele acordou, os dois voltaram para casa juntos. Haruka sabia que iria demorar algumas horas para recuperar todo o chakra perdido e que quando chegasse em casa só acordaria no dia seguinte.

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