O dia estava agradável o suficiente para me motivar a não ficar enfurnado na minha mesa lendo aqueles pergaminhos massantes de fluxo, controle e toda teoria de direcionamento de chakra, mas ainda assim era meu atual objetivo conseguir aplicar aquilo de forma automática, eu sentia que estava limitado na minha atual situação. ▬ Sinto que tenho capacidade, mas meus reflexos não me ajudam...  ▬ falei, olhando para minhas próprias mãos, algo ali não estava certo.

A realidade é que apenas teria mudado de ambiente, ainda estaria sentado no chão, escorado em um tronco de árvore com seis pergaminhos meio abertos a minha volta, todos eles com descritivos didáticos de controle do chakra e selos de mãos necessários, os quais sem paciência de ler toda teoria eu imitava, concentrava o fluxo e só sentia minha energia se esvair a cada novo selo. ▬ Sempre me disseram que meu nível de chakra era muito maior que a média, mas nunca falaram efetivamente como isso seria controlado... ▬ É, eu estava um pouco irritado, o que parecia uma benção só estava se tornando um empecilho no meu desenvolvimento, chutei de leve um dos pergaminhos ao alcance do meu pé e ele se abriu por completo, ilustrando o desenho de cada um dos doze selos de mão para realização das técnicas shinobi.

Encarei as ilustrações por alguns instantes, não tinha nada de novo naquilo, muito menos em tentar repetir os processos de encaixe, eu já fazia aquilo exaustivamente desde a academia, e por mais que minhas notas na disciplina fossem medianas, eu já tinha certeza que dominava todas... Aquela certeza que falamos pra nós mesmos apenas, sabendo ser mentira.  ▬ Eu tenho certeza que o cara que inventou esse selo do cavalo não tinha intenção alguma de passar isso adiante... ▬ Apesar de alguns ali listados serem de uma facilidade indiscutível, o encaixe de outros específicos eram realmente chatos de realizar. Montei os selos um a um, de forma lenta e bem crítica, firmando os dedos entre si e tentando deixar a postura mais sólida possível, todos eles saiam exatamente como desenhado  ▬ O que eu to fazendo... Eu ainda lembro de tod... ▬ e foi ai que a epifania bateu com força, ficava claro que só uma das minhas memórias estava agindo para aquela tarefa, eu precisava exercitar a outra, e agora com um plano mais claro na cabeça eu me motivava uma pouco mais nisso.  ▬ Certo! Minha memória muscular precisa exercitar essa mudança, mas antes disso eu preciso ter certeza de que vou me condicionar sabendo o que estou fazendo ▬ e então me debrucei em outro pergaminho azulado mais a esquerda.

Ali os desenhos dos selos eram substituídos por silhuetas já posicionadas, ilustrações do yin-yang, energia física e espiritual, equilíbrio entre mente e corpo e uma teoria chata, mas bem fundamentada, da construção de uma forma guiada de transpor a energia do meu corpo para fora dele, nenhuma novidade já que eu dominava com certa perícia o jutsu Kagemane, mas que também só me parecia ter sido dominado agora pela necessidade de um único selamento de mão, se fossemos além disso provavelmente teríamos problemas. Li novamente sobre a concentração, os exercicios de meditação que auxiliavam o processo de controle e refresquei minha mente sobre todo o processo de liberação direcionada, onde o tópico dos selos de mão entravam com mais força, e agora lendo com calma fora da academia me parecia muito mais óbvio, os selos não eram o principio, mas o meio para execução correta das habilidades.  ▬ E agora o resultado faz muito mais sentido, se eu não tenho total domínio da rota que vou seguir, não tenho como atingir o meu objetivo da melhor forma possível... ▬ Todo meu excesso de gasto de chakra e atraso de execução faziam mais sentido, era como se no mapa que eu tinha em mãos, o jutsu fosse meu ponto de chegada e cada selo criasse um pedaço da rota, não dominar os selos não me impedia de chegar ao destino, mas me fazia percorrer caminhos que muitas vezes não eram os mais indicados, otimizados ou passando por locais indesejados. Bati o punho direito na palma da mão esquerda, agora ciente do que deveria exercitar.

Joguei todos os pergaminhos para o lado, me sentei de forma ereta, cruzei as pernas a frente do corpo, fechei os olhos e ambas mãos, encaixei meus punhos a frente do meu umbigo com os dedos virados para cima e tentei esvaziar minha mente, o vento soprou de leve, como se estivesse me ajudando, sorri, me lembrei de recolher a roupa do varal antes de minha mãe voltar para casa e perdi mais uns três minutos tentando deixar isso de fora da minha cabeça. Foram uns 10 minutos meditando, sentindo cada centímetro do meu corpo trabalhando, escutando a batida do meu coração, o refluxo do meu estômago, o espichar dos meus pulmões. Imóvel, eu sentia o meu tímpano reagir a pressão do ar, minha garganta ajustar seu espaço, minhas vértebras reclamando relevante do excesso de postura aplicada. Eu estava entrando em ressonância com meu próprio corpo. Ciente disso, liberei minhas mãos e comecei a fazer um ciclo de 'montagem' dos selos de mão.

Comecei no clico horário padrão, Porco fácil, era um selo muito equilibrado. Cachorro teve um deslize, o encaixe da mão esquerda por cima era mais delicado, Galo ok, me parecia que os selos mais simétricos era os mais simples de executar, Macaco com mais um deslize, jogando minha recem teoria formada pelo ralo. Cabra ok, era um dos sinais mais executados, Cavalo me resgatou novamente o ódio pelo seu criador, de longe uma execução rápida o suficiente, Cobra e Dragão ok, Coelho com atrado, Tigre ok, Boi foi péssimo, Rato foi bom. Repeti a roda e acelerei o tempo, o número de erros não diminuiu e enquanto isso não aconteceu, não alterei o tempo. Mais um ciclo, outro, mais um, agora teve erros adicionais. Mais um ciclo, dois, três, quatro. No quinto, uma redução de erro, perfeito, acelerei o tempo.

Quando consegui acelerar o processo três vezes, inverti o sentido e os erros aumentaram, voltei ao fluxo de aceleração apenas ao me adaptar a atual aceleração e ao reduzir os erros, assim evoluindo minha prática. Fechando mais mais alguns ciclos, voltei ao fluxo horário, fechando um horário, acelerava para um anti-horário, batendo meus requisitos, voltava para outro horário ainda mais acelerado. Brinquei desses fluxos até sentir que meus dedos estavam ágeis o suficiente para responder às necessidades de mudança, sentir que as batidas pelos erros já eram mais sobre encaixe do que sobre estar perdido sobre o próximo passo. Eu ainda sabia, esse treinamento tinha um viés muito forte sobre a posição e troca dos selos, eu ainda não dominava com maestria o Cavalo e sabia que ele só viria depois da Cobra ou da Cabra, isso minimizou os erros no treino, mas sabia que não tinham ido embora se o selo anterior fosse outro. Eu ainda tinha muito o que treinar.

Respirei fundo, abri os olhos e me joguei no tronco novamente, minhas mãos estavam quentes, meus dedos e juntas formigavam, mas eu sentia cada pedacinho do meu corpo exercitado, mesmo sem liberar o chakra no processo. ▬ Bom... Ainda tem o que melhorar... Mas por hora eu acho que serve ▬ sorri me levantando, batendo nas vestes pra deixar a grama sair e juntando os pergaminhos com cuidado. Foram algumas horas bem executadas, que me deixavam um pouco mais tranquilo pra evoluir minhas habilidades, não só pelo treino, mas pela minha compreensão do problema, por ter visto como melhorar. ▬ To com fome... ▬ foram as últimas palavras naquela tarde no campo de treinamento.