- Se havia algo que desde nova eu tinha convicção, era de que eu deveria me tornar mais forte para alcançar o tão sonhado mundo exterior. Cega pela sede de vingança, esqueci do anteriormente almejava, abandonei quem fui há tanto tempo atrás para me tornar uma pessoa fria, sem sentimentos e laços. De qualquer forma, ainda desconhecida e iniciada na carreira de Kunoichi, sabia que antes de ser chamada aos deveres, eu tinha a obrigação de me fortalecer. Então, direcionei-me até o campo de treinamento da vila oculta, desaparecendo na névoa local e me afastando do campo central, adentrando na escuridão da afastada floresta que se encontrava nas extremidades do campo. Solitária entre as enormes e incontáveis árvores, me recostava com um suspiro. O olhar sempre calmo e atencioso me acompanha em todo lugar que eu ia, assim como a luz e escuridão. Um dos dois lados iria prevalecer, e eu não tinha certeza de qual seria o meu destino. Mas isso não era algo que eu me importava - Mas falando a verdade...Será que realmente havia alguma coisa que eu me importava neste mundo? Me desapeguei daqui - Esqueci de tudo o que eu vivi para perseguir um sonho? Não - Um instinto.

Com livros em minhas mãos, buscava pesquisar mais a fundo quanto aos ninjutsus e a arte shinobi em geral. Eu nunca me vi como uma guerreira exemplar, mas se eu estava como uma escória, abaixo de todas, deveria me erguer para enfrentar aqueles malditos demônios. Não preciso de companheiros ou amizades, somente de mim mesma. Folheava as páginas uma a uma, lendo-as lentamente e com total atenção, a fim de absorver o conhecimento. Minha inteligência era mediana, ou talvez um pouco acima, mas nunca considerada um gênio entre tantos outros ninjas. Eu estava destinada a fracassar? Já refleti sobre isso no passado, e agora as questões retornavam. Talvez fosse a verdade que eu tento ignorar, porém não me deixava abalar por nada, nem mesmo pela morte. A Face séria sem expressar quaisquer emoções perceptíveis acompanhava os olhos prateados, que realizavam sua cotidiana vigília sobre as páginas do livro de tutela.

Eu havia aprendido muitas coisas neste tempo em que me dediquei aos estudos - Não apenas os conceitos, como também absorvi com facilidade e memorizei as formas de utilização e funcionalidades de cada jutsu básico da academia. Sem revisar qualquer informação, confiava em minha própria memória. As bainhas de couro amarronzado em minhas costas eram o símbolo de meu poder, uma habilidade tão rara que aqueles destinados a obtê-la eram considerados salvadores ou destruidores de tudo ao seu redor. Com a Areia de Ferro, estava determinada a conquistar meu único sonho: Exterminar aqueles que não merecem a vida. Aqueles que tiraram a minha liberdade, que tentaram contra a minha alma. Não mais - Seria eu quem decidiria a sentença daqueles malditos porcos.  De qualquer forma, arremessei os livros para longe enquanto saltava entre as árvores com minha velocidade, buscando ponto propício para iniciar o treinamento prático.

— "Aqui está bom." — Ditei. —  "O ambiente sereno desta clareira será perfeito." — Finalizei.

Pouco falava, mesmo quando estava sozinha. A bela voz de ecoava de minha boca pouco ressoava, e a jovem atraente que me tornei há um tempo atrás nada era além de pele e osso, subnutrida em uma masmorra infernal a qual jurei que seria o meu ponto final. Porém, eu, aos poucos, abandonava estas memórias. Limpando a mente com meditação durante cerca de quinze minutos, decidi que já era a hora de iniciar meus trabalhos. Mentalizei a existência de um oponente imaginário - E sua imagem era ninguém menos do que uma de minhas irmãos mais velho: Karla. Ela foi a primeira a me acusar de ser a reencarnação daquele que um dia trouxe devastação a nosso clã. A imagem de minhas orelhas era associada ao caos e destruição, mas estavam enganados. Presos a um passado de horror, descontavam todo aquele ódio cego em inocentes.

Porém, por mais que visualizar seu pior inimigo possa levar muitos homens a completa loucura ou fúria, comigo era diferente: Eu já não sentia nada. Vê-la em minha frente como uma imagem mental nada significava. Ela era um dos obstáculos profanos que eu desejava derrubar, e eu faria tudo o que fosse possível para completar este desejo. Concentrando o chakra por todo o meu corpo, recordei-me das anotações dos livros. Com todos os ensinamentos absorvidos por mim durante as horas de estudo dedicado que passei sob as árvores, me via muito mais preparada para o mundo. Talvez aquele fosse o verdadeiro significado de aprendizado rápido. Não só isso, mas com facilidade e rapidez moldei estratégias para me esquivar e fugir de possíveis ataques advindos de Karla. Quando a imagem imaginária avançou com sua espada curvada, imediatamente me esquivei, percebendo os menores detalhes em sua movimentação: Porém, quando pensei em saltar para trás, notei que poderia ser uma armadilha. Então, com isso, apenas me abaixei, enquanto o imaginário se volta para minha direção, com um golpe giratório em um ângulo que buscava atingir o que estava acima de si.

A Sequência de golpes não parou: Por ser apenas um produto de minha imaginação, seu vigor era ilimitado. De qualquer forma, me prestei o serviço de utilizar todas as técnicas que eu possuía naquele momento - As que aprendi na academia. Desde o Shunshin no Jutsu até mesmo o próprio Henge e Bunshin, busquei as melhores formas de utilizá-las com eficiência. Não apenas isso, mas também moldava estratégias para ser capaz de desafiar os mais diversos planos armados por Karla. Neste intervalo de tempo, me via não só com pensamento lógico aprimorado - Mas minhas capacidades de utilização de Ninjutus também haviam evoluído.

Mais trinta minutos se passaram, até que eu decidi que era a hora de parar. Duas horas totais de treino, utilizando incontáveis técnicas básicas - De novo e de novo, até a exaustão. Minha mente e corpo foram levados ao limite naquela simples demonstração de poder imaginário, mas era o suficiente para eu saber que estava um pouco melhor e preparada para o que viria a seguir em minha jornada. Satisfeita com os resultado, simplesmente dei as costas e retornei para a entrada do campo de treinamento, visando retornar para minha residência humilde nas proximidades do portão do vilarejo. Apenas mais uma kunoichi entre tantos outros...Com um sonho ambicioso. Seria eu, nada mais do que uma outra casualidade do destino?

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