Início
Dotado de um intelecto genial desde a primeira infância, Fugaku era capaz de entender frases e formular sentenças bem antes da maioria das crianças, porém sentia pouquíssima vontade de se comunicar, efetivamente começando a falar mais tarde do que a maioria. Antes mesmo que emitisse sua primeira palavra, aprendeu a controlar sua sombra, entretendo-se com as próprias pantominas lúgubres e infantis, demonstrando a predisposição a se tornar um jovem taciturno anos depois. Seus pais, Mei e Koga, formavam um casal comum e distante do ramo principal do clã Nara, alocados em subempregos com salários miseráveis, residindo com o filho único em um distrito marginalizado do vilarejo. A mãe sentia que aquela criança merecia a prosperidade e a oportunidades de estar entre os principais membros da família, onde seu potencial e intelecto poderiam achar vazão, enquanto o marido não era tão ambicioso e pensava muito mais a respeito da vida financeira da família do que no futuro do filho. Com o passar dos anos, os anseios da mulher não encontraram espaço na hierarquia rígida do clã pelo parentesco distante da criança com a família principal, que somada a aparência atípica para um membro daquele clã, gerava desconfiança sobre a legitimidade do menino. Assim, Fugaku passou a maior parte da infância realizando atividades solitárias, lendo, colecionando avidamente os vários insetos que encontrava, e absorvendo todo tipo de conhecimento com  qual tivesse contato, enquanto recebia os cuidados atentos da mãe e aprendia a lidar com a crescente indiferença do pai.

Durante sua infância a relação entre os se desgastava aos poucos. A mãe adoeceu e já não tinha condições de trabalhar, e, portanto, seu marido tornou-se o único provedor do lar. Koga havia ingressado na corporação policial do Konoha, e finalmente a família se viu numa situação mais confortável e sem tantas preocupações. Koga, porém, adquiriu com o tempo o hábito de beber, e se aproximou de policiais corruptos da corporação, que achavam naquela região empobrecida terreno fértil para pequenas corrupções. O padrão de vida de sua família era a única coisa que importava, dizia, mas em sua consciência ele realmente não se importava em incriminar inocentes ou participar de outros esquemas em que ele pudesse lucrar por fora da folha de pagamento. Conforme os anos passavam, ele começava a agir com cada vez mais violência e agressividade dentro do ambiente familiar, e não raras eram as vezes em que de fato agredia o filho, incomodado pela aparência do garoto ser tão distante da sua imagem, escancarando cada vez mais que nunca o desejou e alimentando a desconfiança de uma possível traição esposa, que teria dado origem ao garoto.

Concomitantemente ao agravo de sua situação familiar, Fugaku amadurecia, e ele já não era tão solitário, pois acabou fazendo amizade com órfãos e delinquentes que moravam na mesma região, alguns dos quais passavam pela mesma situação de violência e vulnerabilidade em seus lares. As proles daquelas famílias mais pobres tinham o costume de deixar de lado a educação formal para trabalhar em alguma função qualquer na vila, aplicando alguns roubos e outros delitos leves. O jovem Nara via surgir dentro de si propósito ao se aproximar daquelas crianças. A resiliência do povo daquele subúrbio fomentava o berço de uma próspera cultura em meio à catástrofe da fome e ausência de condições mínimas para a vida digna, e apesar disso, Fugaku acreditava que ali era o lar de pessoas extraordinárias. Vivenciar aquela realidade o radicalizou, alimentando dentro dela uma rebeldia contra todas as formas de autoridade, em especial seu pai. Um dos poucos atos que realizou de boa vontade dentro do ele chama de sistema foi a passagem pela academia ninja, como forma de exercitar suas habilidades latentes e seu raciocínio excepcional, percebendo, no entanto, que a educação convencional era apenas mais um mecanismo de controle social para produzir indivíduos úteis, enquanto ele acreditava que nem todos precisam de um propósito.

Poucos dias após completar treze anos, Fugaku chegou em casa muito sujo e com um forte cheiro de cigarro e álcool, na primeira vez em que se viu ligeiramente embriagado, depois de passar o dia nos destroços de uma construção abandonada qualquer com alguns dos amigo que fizera na vizinhança. O patriarca, com absoluta repulsa pelo filho, em mais um dos seus ataques de raiva, partiu para cima do garoto, socando-o no rosto várias vezes. Assim, apesar de ser muito mais jovem e menor que o pai, eles entraram num combate corporal em que Fugaku apanhava sem conseguir revidar, mas resistia, com os sentidos ligeiramente entorpecidos pela bebida, até que a mãe tentou intervir despertando uma raiva completamente descontrolada no agressor. Ele levantou-se e partiu para cima de Mei, golpeando-a várias vezes no rosto, até que a empurrou com força demais contra uma parede provocando sua queda, que viria a ser fatal.

Assim que Fugaku recobrou os sentidos, ergueu o corpo e viu uma cena que jamais esqueceria: sua mãe abatida no chão da sala, o pai debruçado sobre o corpo, chorando e balbuciando que não tinha sido sua intenção. O jovem ao se dar conta daquele cenário pavoroso de tragédia familiar soltou um grito de pavor e angústia, ao que se deu conta de que ele não tinha sido capaz de fazer nada para defender a mãe, que morreu ao tentar defendê-lo. Koga, que sabia o que tinha feito, logo saiu pela porta e deixou o Fugaku sozinho na casa. Atormentado pela culpa, ele imediatamente se entregou ao departamento policial que outrora havia servido para que sustentasse esposa e filho.

Dias após a morte da mãe, Fugaku foi acolhido por familiares distantes, longe do ambiente em que havia crescido numa tentativa de continuar a própria vida. Assombrado pela cena que vira, ele dormia um sono agitado repleto de sonhos, e enquanto acordado tampouco poderia deixar de lado todo o ódio e revolta pelo sistema que havia abandonado sua família numa situação de vulnerabilidade e permitido que seu pai se transformasse num alcoólatra homicida. Forçado a estar num ambiente em que ele sabia que era desprezado para sobreviver, Fugaku acreditava que deve haver algo de bom para ele no futuro. Precisa haver.