Meus poucos dias em Konoha foram o suficiente para me sentir, de certa forma, sufocado. As ruas largas aparentam ficar estreitas, o céu parece tomar distância e ser coberto por enormes edifícios, em locais quase sendo impossível ter o contato com a luz do solar ou lunar. Apesar das cicatrizes adquiridas durante  os áudios treinamentos com os mestres Saito e principalmente Josuke, pude colher bons frutos, último deles a evolução da minha habilidade elemental congênita.

Refletindo sobre os acontecimentos recentes, enquanto caminho pelo centro da aldeia da folha, minha atenção é dobrada assim que meu olfato identifica aquele odor familiar de porco assando. Sentia um certo vazio em meu estômago, o ronco confirma a sensação e alerta a disposição à próxima refeição, seja ela qual fosse, até porque não tinha hábitos de seguir os padrões sociais (café, almoço e janta), tendo em média cerca de cinco a oito refeições diárias.

Me achego até a barraquinha de origem do cheiro e solicito ao vendedor uma porção de bolinhos de carne de porco assado, levando cerca de dez minutos para recebê-los e mais dez minutos para saboreá-los. Enquanto contava meu humilde dinheirinho para pagar ao senhor da vendinha, sinto uma leve ventania em minhas largas costas, quase voando algumas notas de ryous, recuperando-as ainda no ar a minha frente.

— Ei, o que tá pegando?! - entregue o dinheiro e ao me virar meus olhares dão de encontro a um rapaz desconhecido, com as seguintes características: alto, moreno, de cabelos brancos espetados e uma leve cicatriz no olho esquerdo, trajando roupas típicas dos shinobis de konoha — Qual a tua, a do corte trevoso!? - tentava intima-lo, mas este não esboçava nenhuma reação, apenas permanecia de joelhos curvados, em seguida me entregando um pergaminho e ligeiramente desaparecendo de minha vista em segundos.

Curioso, abro o item entregue e leio o seu conteúdo. Me alegro de imediato ao reconhecer a letra de meu mentor Ryuzo.

Salve gordinho, Ryuzo quem escreve! Me encontre na área florestal a 100 m ao norte do centro de treinamento de Konoha, vou te deixar a localização no mapa que tentei desenhar abaixo.

Obs.: Sou apto na arte das espadas e não em desenho. :P

Ryuzo se encontra na vila e só soube naquele momento ao receber a carta, seguia rumo ao destino da carta, com uma certa inquietação. Durante o caminho comecei a ter picos de nervos, sendo o último caso a me irritar com alguns pirralhos da minha idade, que gritavam e corriam em zig zag, como uns bandos de retardados. Diante de semblantes amedrontados, me senti confuso com aquela minha atitude, seria a primeira vez a me comportar daquela maneira? Não sei, mas irei aproveitar e questionar meu mentor sobre isso.

De longe já conseguia avistar aquele olhar despreocupante e cínico de meu mestre, me chamou a atenção sua vestimenta, ao contrário de seu tradicional kimono surrado, este trajava um terno preto, sobre uma camisa social branca com uma gravata bordô, e o mais engraçado eram seus sapatos sociais preto brilhoso.

— Não sei se define como decadência ou evolução? … - deixava a pergunta paira pelo ar, parando a aproximadamente dois metros a sua frente, que permanece sentado sobre o tronco de árvore, com os braços relaxados sobre os joelhos, ao menos sua katana estava normal, espero que não me venha com surpresas também.

— É assim que você trata aquele que te acolheu e criou?!

— Vejo que as semanas longe de mim, surgiu o sentimento de carência. - replicava de forma sarcástica.

— Chega de papo furado garoto, sente aí no gramado. - ele sempre costuma sorrir com minhas brincadeiras e idiotices ditas, mas desta vez ele estava diferente por algum motivo e eu estava disposto a descobrir, então fiz exatamente como ele me pediu — Muito bem! Escolhi este lugar por dois motivos. Primeiro por estarmos isolado da movimentação dos locais e segundo … - ele faz uma breve pausa enquanto olha para a direita, o mesmo faço e avisto uma espécie de condomínio de casas e depois ele volta sua atenção em direção a mim —  Esta é pequena vila … onde seus pais moravam seus pais biológicos. - achei que ele estivesse tirando um barato comigo, mas seu semblante negativa essa hipótese —   Você possui uma criatura dentro de você, um demônio para ser mais exato, o qual denominamos como biju. Pode até me perguntar, mas não saberei te responder com tanta propriedade, mas uma coisa é certa, os portadores destas criaturas são conhecidos como jinchuurikis. A vida de seus genitores tornou-se um completo inferno, acompanhado de perseguições, mortes, estupros e extorsão, assim que  decidiram por permitiram aprisionar este ser dentro de você. Confesso que não sei os reais motivos para isso se concretizar, mas sua mãe tinha esperança de um futuro melhor, até que adoeceu e não conseguia encontrar forças para se proteger, quanto mais de você.

Confesso que era muito para se processar, mesmo diante de algo que parecia mais um resumo do que a versão completa. Conhecia Ryuzo e aquele olhar desconfiado, lhe entregava quando estava escondendo algo. Tentei cutucar a onça com a vara.

— Que demônio é esse que você mencionou? - ele realiza um leve salto de espanto, o suor de sua testa parecia se intensificar — Desembucha logo, já veio até aqui, me contou tudo isso e vai me deixar no breu?

— Eu já te disse, que saco! O que eu sei, é que há uma espécie de selo em seu abdômen, não sou nenhum especialista de fuinjutsu, mas o pouco que sei, creio que consiga ao menos deixar o selamento brevemente a amostra. Levanta a camisa.

Após me despedir, ele realizou alguns selos manuais e por último colocando as pontas dos dedos de sua destra sobre meu abdômen e com a canhota ele segurava o punho da outra mão. Inicialmente sentia um certo incômodo, uma sensação como se estivesse com diarreia, mas nada evacuava, depois meu grau de irritabilidade se elevou, olhava para ele com um instinto assassino, nunca antes manifestado em mim, mas não se perpetuou por muito tempo, pois logo ele retira sua mão, consigo me acalmar e em seguida visualizar o desenho de selamento no local antes tocado.

— Viu!? Ao que tudo indica, isso aí é o que prende o demônio dentro de você. Ao julgar pelo meu pequeno conhecimento, o final dessas paradas não atendem a finais felizes, exemplo a de seus pais.

— Certo… certo… - eu repetia as palavras, mas internamente continuava encontrar uma forma de digerir tudo aquilo, parecia que havia entalado na garganta.

Me sentia aliviado após alguns instantes de reflexão, como se finalmente pudesse me conhecer, saber do meu passado me traz certa firmeza psicológica, como o motivo de sempre me sentir sozinho ao mesmo tempo que acompanhado, como se estivesse sendo vigiado.

— O que vai fazer garoto?! - ele se levantava e ficava me encarando.

— Agora pretendo abusar um pouco da sua presença, pois não sei quando o verei novamente!

— Que isso, assim você me magoa!

— Já que está por aqui, porque não aproveita para me ensinar algumas técnicas com a espada e quem sabe, me ajudar com essa biju?! - sim, estava curioso e não nego, que se dane.

— Isso, biju! Mas como tem tanta confiança que eu saiba algo? - sempre tentando se esquivar dos questionamentos, sinal esse que indicava ter as respostas.

— Porque você é Ryuzo, aquele que sabe tudo, bom, ao menos na teoria, porque na prática … - gargalhava enquanto caminhávamos na área florestal do campo de treinamento, de relance olho para trás o conjunto de casas, com a intenção de um dia investigar aquele condomínio e buscar mais informações de tudo que conversado.