I.

Quando percebi, eu estava em um campo ardente. Acho que teve um grande incêndio. A cidade que eu conhecia se transformou em cinzas e parecia as ruínas de um campo de batalha de um filme. Mas isso também não durou muito. O fogo tinha cessado no momento que o sol nasceu. A parede enorme de fogo tinha diminuído, e a maioria dos edifícios tinham caído. Foi estranho, ser a única coisa naquele lugar que ainda tinha sua forma original. Eu era o único ainda vivo por ali. Eu devia ter sido muito sortudo, ou minha casa foi construída em um lugar de muita sorte. Não sei qual das duas era, mas o ponto é, eu era o único que ficou vivo. Eu senti como, já que havia sobrevivido, eu deveria continuar a vivo, não desistir. Eu lembro de começar a andar sem rumo, porque achei que era perigoso apenas ficar parado ali. Eu realmente não estava preocupado em ser queimado igual as pessoas ao meu redor. Provavelmente porque, além de não querer ficar igual eles, eu tinha um sentimento mais forte na minha mente. “Continue”. Eu dizia para mim. Mas mesmo assim, não havia esperança. Já era um milagre eu ainda estar vivo, então não podia esperar ser salvo. Certamente, eu não ia sobreviver. Não importa o que acontecesse, eu não ia conseguir escapar desse mundo vermelho. Era um inferno tão absoluto que até mesmo uma criança como eu podia entender. E então, caí no chão. Foi porque não tinha ar? Foi porque não havia nenhuma função restante no meu corpo? De qualquer maneira, eu caí e olhei para o céu nublado. Tudo ao meu redor estava queimado e eu podia ver muitas pessoas incendiadas. O cheiro cobria minhas narinas, repugnante. As nuvens negras pairando sobre mim, me dizendo que iria chover em breve... “Isso é bom.” O fogo vai se apagar assim que começar a chover. No fim, eu suspirei fundo e continuei a olhar para o céu. Eu digo para mim mesmo que está doendo. Digo isso em nome das pessoas que não puderam falar isso.

Isso foi há dez anos. Depois disso, fui milagrosamente salvo. Meu corpo sobreviveu. Mas eu acho que todas as outras coisas sobre mim foram queimadas e reduzidas a cinzas. Se você tirar de uma criança os pais, a casa, e todas essas coisas, não sobrará nada para ela. Por isso, só havia o meu corpo. Acho que é uma história simples... Em outras palavras, para o meu corpo sobreviver, meu coração morreu.

II.

—— Huh?!

Eu fecho os olhos com a luz branca. "Tão claro", eu penso. Era apenas a luz entrando nos meus olhos quando acordei, mas eu não estava acostumado a ela. Eu provavelmente nem entendi o que aquela luz clara significava. Quando meus olhos focaram, eu fiquei surpreso. Estava deitado em uma cama, em um quarto desconhecido. Embora surpreso, o quarto era tão branco e limpo que eu me sentia seguro.

—— Onde estou?

Eu olhei ao meu redor. O quarto era grande e haviam várias camas, com uma pessoa em cada, e todas pareciam feridas. Mas não há uma sensação ruim nesse quarto. Todo mundo que está ferido é alguém que, um dia, foi salvo. Eu relaxo e meus olhos se distraem. Fora da janela, o céu azul claro estava inacreditavelmente bonito. Após alguns dias, eu finalmente entendi. Eu pude lembrar claramente do que aconteceu nos últimos dias. Mesmo assim, eu não era diferente de um bebê recém-nascido. Não é apenas uma metáfora, foi basicamente isso mesmo. De qualquer forma, foi um incêndio horrível. Eu fui salvo, estava no hospital com meu corpo coberto em bandagens, e meus pais se foram. Eu não entendi a situação, mas entendi vagamente que eu estava sozinho. Eu acho que entendi rapidamente... Bom, não havia nada que eu podia fazer, então tudo o que me restava era aceitar os fatos.

E depois disso, aquele homem veio, justo quando eu estava começando a ficar preocupado com o que aconteceria comigo depois. Ele veio no dia que meus curativos foram tirados e eu já podia comer sem ajuda. Casaco amassado e cabelos despenteados. O homem, um pouco mais jovem que o médico, parecia mais um irmão mais velho do que um pai.

—— Olá. Você deve ser o Shirou-kun.

Um sorriso que parece se fundir com a luz branca do sol. Eu achei que era uma voz suspeita, mas também uma voz muito gentil.

—— Vou ser direto. O que você prefere: ir para um orfanato, ou ser adotado por mim, um homem que você nunca viu antes?

Aquele homem estava me dizendo que podia me adotar. Quando perguntei se ele era algum parente meu, ele disse que era apenas um estranho... Ele parecia um cara pouco confiável e sem futuro. Mas não fazia diferença, já que eu não sabia nada sobre ambos: ele ou o orfanato. Então, decidi ir com ele.

—— Entendo, isso é bom. Fique pronto logo, então. Você deve se acostumar com sua nova casa o mais rápido possível.

O homem rapidamente começou a guardar as minhas coisas. Ele não era muito bom nisso, até mesmo para os olhos de uma criança. Então, depois de fazer uma bagunça...

—— Ah, esqueci de falar uma coisa importante. Preciso te dizer uma coisa antes que você venha comigo. Tudo bem?

Eu viro para ele e digo 'sim'.

—— Para começar, sou um shinobi. Na verdade, sou especializado em assassinatos...

Ele diz em um tom sério e exagerado. Aconteceu em um instante. Pensando bem, eu realmente era uma criança naquele tempo. Eu automaticamente confiei naquelas palavras e o transformei em um herói.

—— Uau, você é incrível.

Eu acho que eu disse isso com os olhos brilhando... Desde então, eu virei seu filho. Na verdade, eu não me lembro do que eu disse na hora, mas meu pai sempre me contava sobre aquele dia. Ele iria se lembrar e recontar a história de novo e de novo. Para o meu pai, Emiya Kiritsugu, aquele foi o dia mais feliz da vida dele... Então, acho que foi estranho para o meu pai me dizer que ele era um shinobi especializado em assassinatos, mas foi estranho eu também admirá-lo por isso. Logo, eu virei um filho adotivo, e meu sobrenome virou Emiya.

—— Emiya Shirou...

Quando eu disse meu nome, eu estava realmente orgulhoso de ter o mesmo sobrenome que Kiritsugu.