Konoha, 33°C. 17:00.

A vida de um shinobi pode ser resumida à uma rotina. Independente do seu ranking, seja genin ou seja kage, todos a seguem. Por sinal, suas rotinas são relativamente parecida. Essas, geralmente, giram em torno de treinamentos e missões. Algumas vezes pesadas, outras, mais leves. Algumas vezes entediantes, outras, divertidas. O fato é que todos estão suscetíveis à ela, quer queira ou não. Inclusive Mio, mesmo com todos os problemas por trás de seu nome, é possuída por essa rotina. A quebra dela e o incomum causam estranheza e desconforto. Esse é o ponto no qual os ninjas evoluem.

Naquela quente tarde de verão, a Yamanaka fazia seu treinamento diário quando foi surpreendida por uma figura conhecida que a muito tempo não via. O sujeito, caiu dos céus tentando golpeá-la com uma katana, todavia, o ataque foi bloqueado por uma kunai rapidamente sacada da bolsa de armas da kunoichi.

— Você está diferente, Mio Yamanaka. — Disse o sujeito, ajeitando-se à frente dela e guardando a katana em meio às vestes. Ele vestia-se com uma quantidade incontável de panos rasgados e de tonalidades escuras. Seus olhos de um intenso azul-marfim e longos cabelos loiros. Ele estava diferente da última vez que se encontram, mas seus olhos e sakki eram incomparáveis.

— Não há mudança alguma, a não ser a roupa. — Respondeu.

— Não digo em questão de aparência. Sua presença, é mais forte e confiante que da última vez que nos encontramos.

— Obrigada! — Ela sorriu. — Mas você está bem diferente, Inoeri. Não me lembro de você vestido tão mal e nem que utilizava uma katana. Aliás, essas cicatriz em seu olho… O que houve? — Perguntou.

— Até mesmo jounins precisam evoluir. Digamos que eu mudei um pouco meu estilo de luta. — Ele levou a mão direita ao olho do mesmo lado. — Aquele maldito Yamanaka, ele me acertou com uma kunai.

— Que Yamanaka?

— Bem, isso eu não posso te dizer. Mas acredito que logo você irá descobrir. — O loiro balançou os cabelos. — Enfim, eu tive um tempo livre e quis ver como você estava hoje em dia. — Seu olhar mudou e o sakki se tornou mais intenso. Então, ele mordeu a ponta do dedão, passando o sangue na palma da mão oposta e, após fazer alguns selos de mão bem conhecidos, bateu com a mão ao chão, levantando uma grande quantidade de fumaça branca.

Quando a fumaça se dissipou, revelou-se uma enorme cobra de escamas douradas e olhos rubi. Inoeri, que estava sobre sua cabeça, saltou, pousando novamente em frente à Mio.

—  O que achou dela? — Perguntou.

— Ela é linda, nunca tinha a visto.

— Ela se apegou a mim quando passei um tempo treinando na Caverna Ryūchi, então acabou de tornando uma de minhas invocações. — A cobra se abaixou, deixando a cabeça na mesma altura que os dois. — Ela também não fala nossa língua, mas é bem mais dócil que as outras serpentes que você conhece e bem obediente. Prepare-se, quero te mostrar uma coisa.

— Você não sabe aparecer sem querer problema, não é? — Respondeu, entendendo as pretensões. Então, Mio deu dois pulos para trás, ficando à cinco metros dos mesmo.

— Se você bobear, não voltará para casa hoje. — Disse o rapaz. — MATE! — Ordenou.

“Merda!”, assustou-se. No mesmo instante que o jounin deu a ordem à serpente, ela avançou contra Mio, com a intenção de esmagá-la. A Yamanaka não estava esperando que a cobra fosse tão veloz que quase se feriu logo nos primeiros segundos. Sua única reação foi sacar uma kunai de sua bolsa de armas e colocá-la na posição do ponto de impacto, cravando-a no focinho do réptil. A força, arremessou a kunoichi alguns metros para trás, contudo, ela conseguiu se equilibrar.

A cobra pareceu não sentir a dor da perfuração. Após balançar a cabeça, livrando-se da kunai, continuou com a investida. A Tokubetsu Jounin, por sua vez, iniciou uma fuga. No entanto, a cada olhar para trás, notava que a serpente estava cada vez mais próxima. Elevou sua velocidade ao máximo, saltando pelas pedras e árvores daquele extenso campo de treinamento e, mesmo assim, parecia não ser suficiente. O animal ignorava tudo a sua frente. Seu tamanho permitia manter uma velocidade constante e a força do impacto apenas destruía qualquer estrutura com facilidade.

Enquanto fugia, Mio aproveitou para absorver a energia natural dos arredores e foi isso que a livrou de ter todos os ossos quebrados. Já exausta, ao pisar no galho de uma árvore, ele se quebrou e a jovem caiu no chão. A serpente, alcançando-a, elevou seu corpo e o empurrou em direção à loira que estava caída. Essa, imediatamente entrou no Modo Sábio e obteve um aumento repentino de sua velocidade, o que possibilitou a esquiva perfeita.

A perseguição continuou, agora com uma clara vantagem para a Yamanaka, até retornarem ao ponto inicial onde foi surpreendida pelo braço de Inoeri envolvendo seus ombros e jogando-a contra o chão.

—Você se preocupou tanto com a cobra que se esqueceu de mim. Se eu fosse um inimigo, você morreria agora. — Ele riu. — Senjutsu? Onde você aprendeu isso?  

— É uma longa história. — Respondeu, levantando-se e desativando o jutsu. Satisfeito, o jounin também desativou o jutsu de invocação. — Mas que merda de cobra rápida. — Reclamou.

— Gostou? — Ele caiu na gargalhada.

— É claro que não. Se não fosse pelo senjutsu eu seria esmagada.

— Isso mostra o quanto você evoluiu. — Ele olhou para o céu. — Parece que não vai ter mais problemas com alguém sequestrando aquele casal de velhos, né? — Riu, lembrando-se do primeiro encontro que tiveram. — Aliás, como eles estão?

— Minha mãe está bem, apesar da idade começar a afetar suas atividades diárias. Mas… — Os olhos de Mio se tornaram vazios. — Meu pai acabou morrendo em um incidente alguns meses atrás. — Respondeu, cabisbaixa.

— Sinto muito por isso. — Permaneceram em silêncio por alguns instantes. — Aaaahh que calor! — Reclamou. — Acho que preciso de um banho para refrescar. — Ele virou as costas. — Foi bom te ver, Yamanaka. Espero que possamos realizar uma missão juntos algum dia. Até lá, boa sorte! — Despediu-se, acenando com uma das mãos.

“Banho? Você precisa é tirar esse monto de pano que está vestindo”, retrucou. Assim como o loiro, Mio juntou suas coisas e voltou para casa.

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