As histórias dos heróis do passado contadas através das páginas dos livros mostravam feitos grandiosos, indo desde fundações de vilas no meio de uma floresta até ninjas capazes de destruir montanhas com um único soco. Porém, a vida de um genin se mostrava aquém dos contos criados na mente do rapaz, que dentre suas funções, tinha de organizar livros em uma biblioteca, limpar calçadas e tomar conta de floriculturas alheias. Jin sabia que tinha de passar por aquele momento de provação antes de chegar aos finalmentes, e em toda sua mentalidade de seguir estritamente as regras impostas, aguardou pacientemente.

Mas oportunidades surgem de vez em quando para testar os limites daqueles dos mais fracos.

Um rosto familiar, embora estranho, o abordara em pleno horário de descanso. Ao ser interrompido de seu descanso, Shikajin franziu o cenho, encarou o que talvez fosse um ninja de baixo para médio escalão e o olhou no fundo dos olhos, imediatamente sentindo-se intimidado, mas sem recuar em sua ação. Quando houve o anúncio de sua convocação, o rapaz ficou totalmente desarmado e um surto de adrenalina tomou seu corpo, similar àquele sentido quando fora solicitado a seu teste genin.

– Uma missão! Cara, finalmente!! – comemorou. – O aniki vai ficar doido quando souber...

O entusiasmo era contagiante o suficiente pro genin correr ao quadro de missões sem pensar duas vezes. A bandana de tecido preto com o símbolo da Folha, outrora guardada na bolsa ninja para não sujar em meio ao trabalho braçal, reluzia na testa do garoto com alguns fios de cabelo pendendo pela placa metálica. Jin entrou no lugar pela primeira vez, e guiou-se pelas placas até a sala em que deveria destinar-se a receber sua primeira missão de nível C.

Dentro da sala, uma mulher que claramente era a responsável pelo setor distribuía missões aos outros ninjas do mesmo nível do Nara, incluindo alguns que eram de sua turma e outros de turmas passadas. Assim que anunciou sua chegada à mulher, imediatamente foi-lhe entregue um pergaminho com o teor inteiro de sua missão, cujo objetivo era executar uma escolta oriunda do País do Chá de volta a Konohagakure.

– Bandidos... sei. – balbuciou guardando o pergaminho na bolsa ninja, imaginando o que viria pela frente.

Jin passou pelo portão, apresentando seu salvo-conduto para ir e vir da vila durante uma missão. Acompanhava o garoto apena uma trouxa pequena com alguns bolinhos de arroz e um pequeno cantil d´agua, cuja companhia o fariam apenas até metade do caminho ao País do Chá. Transpondo a trilha com calma a fim de estudar o caminho de volta, o garoto tratava de observar pontos de bifurcação e também a vegetação local para procurar detalhes cruciais na escolta. Anotando todos os detalhes que lhe chamarem a atenção com um lápis em um pequeno caderno para serem estudados, a viagem seguia seu rumo.

Já na fronteira, a poucos metros dali uma carroça - de fato uma carroça! - o aguardava da mesma maneira como a supervisora havia informado que aconteceria. Ele se aproximou dos escoltados, terminando de fazer a última anotação com um desenho do transporte.

– Sou o Shikajin, de Konoha. Vocês é quem serão os escoltados?

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– Tá certo. – balbuciou, analisando a situação.

Na mente do rapaz, a única preocupação de Shikajin era de que seriam alvos fáceis havendo uma carroça daquele tamanho, não parecia ser tão rápida a ponto de retornar para a vila na mesma rapidez que o genin tinha chego no ponto de partida. Desta maneira, o rapaz pegou mais uma vez seu livro de anotações e começou a lê-lo nos pontos mais importantes, constatando o óbvio para uma viagem como aquela.

– Escutem aqui. – anunciou, chamando-os para próximo de si. – Vamos ter de fazer esse retorno lentamente. A estrada é acidentada e se não tomarmos cuidado, essa carroça não vai aguentar nem um quilômetro.

Claro que ainda havia a ameaça de bandidos, mas seus escoltados sabendo ou não, Jin deixaria esta observação para sua mente, que teria papel crucial para estar sempre alerta na situação. Sendo assim, após encher seu cantil e comer um dos bolinhos que levou para a viagem, o genin declarou que estavam prontos para voltar para casa, buscando aproveitar enquanto ainda houvesse luz no ambiente.

Shikajin não deixava de mostrar sua apreensão. Andando próximo a carroça, tratava de administrar a forma como viajava o curso de volta para casa de maneira inteligente, alternando sua posição durante a viagem: hora caminhando à frente, como um guia, hora atrás, como um guardião e hora ao lado. Cada passo que dava, observava os arredores para adquirir informações, estas que resumiam-se basicamente a folhagens, cantos de pássaros nativos e um som irritante da roda de madeira chocando-se lentamente contra o chão de terra marcado pela trilha.

Subitamente tudo mudou, a calma viagem se tornou num campo de batalhas no bater das asas de um pássaro. Jin encarou seu nemesis, que brilhava contra a pouca luz do sol que invadia aquela trilha, e mesmo que estivesse a poucos metros, ainda pôde tomar alguma reação com um grito seguido do selo do rato.

– Parem todos! – gritou enquanto sua sombra se conectou a dos protegidos, tomando os movimentos dos viajantes por completo a tempo de não romperem o fio.

Os autores da emboscada surgiam da floresta como sombras buscando devorar os objetivos do grupo de Konoha. O chão tremeu assim que um dos homens tocou o solo; alerta, Jin encarou seus inimigos e observou os arredores com os olhos correndo o ambiente com rapidez.

– Corram! Sumam daqui! Levem a carroça, pelo amor de deus! – bradou novamente, ordenando para que fugissem com a carroça, liberando-os de seu Kagemane.

O tremor logo abaixo de si não o fez pensar duas vezes: saltou para o lado antes de que as mãos geradas no solo pudessem tolher seus movimentos, e surpreso por aquilo, não poderia contar com a bola de fogo que vinha com velocidade e calor em sua direção. Shikajin fechou os olhos e buscou uma cambalhota em direção à carruagem para, se não conseguisse desviar por completo do ataque, ao menos evitar maiores danos em seu corpo.

Jin saltou, buscando um novo espaço entre os oponentes e a carroça, que se tudo tivesse dado certo, estaria distanciando-se de rumo ao ponto inicial. O selo do rato já estava presente nas mãos do rapaz, cuja sombra se distanciava para a floresta, contornando o ambiente de ambos os lados da trilha, de maneira a flanquear os criminosos e imobilizá-los sem que pudessem perceber sua ação. Uma vez que o controle das sombras de Shikajin estivesse próximo dos homens, as massas negras atacariam as sombras dos homens.

– Aí, seus chifrudos. Vem aqui me pegar!

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A sensação era de pura agonia. Mesmo sem saber como agir numa situação como aquela, Shikajin recorreu à força da própria mente para evitar o fracasso total de sua missão. Uma dor excruciante tomava-lhe os sentidos, a roupa e partes de sua pele em queimaduras de segundo grau que o deixavam com a carne exposta e as vestes chamuscadas nas pontas que sobraram. Com o maxilar pressionado instintivamente ao intuito de minimizar a dor, Jin fechava um dos olhos com força em sua expressão de profunda dor; os braços, que tomaram a maior parte do dano ao serem utilizados para cobrir o rosto das chamas, se mantinham trêmulos, porém unidos pelo selo de mão do Rato.

– Seus... seus putos! – gritou em seu acesso de fúria. – Eu vou acabar com a vida de vocês, seus merdas!

Imediatamente, a expressão de dor torna-se em um semblante de escárnio. Seu rosto, um esgar de pura raiva encara a dupla imobilizada com olhos fixos e arregalados, acompanhados de sobrancelhas arqueadas, ao passo que as juntas dos dedos do genin começavam a se tornar brancas à força que aplicava em seu selo de mão. A intenção assassina do garoto exalava de maneira genuína, e muito embora seu efeito de um mero ninja recém-formado não afetasse homens do crime como aqueles, a vontade de Jin era de tomá-los a vida.

Mas ele não podia fazer aquilo.

Ele respirou fundo uma, duas, três vezes. Seus votos eram de que jamais poderia tomar uma vida humana enquanto estivesse servindo por Konoha; a filosofia de Shikamatsu seguia o mesmo passo do shogi, onde uma peça jamais "mata" a outra, mas a domina e a ensina a ser uma tropa melhor do próprio lado do campo. Jin suspirou e desfez o selo do rato, não desfazendo, porém, a técnica de imobilização. Sem fazer com que os homens repetissem seus movimentos, ele procurou um pedaço de madeira qualquer que estivesse próximo, e se não o houvesse, simplesmente o faria com o próprio punho cerrado com um soco na cabeça dos homens com o objetivo de desacordá-los. O faria repetidas vezes - mantendo a técnica de imobilização - caso necessário, até que a consciência deles se esvaísse.

– Malditos canalhas. – praguejou com desprezo.

Uma vez desacordados e com a ajuda dos escoltados, a decisão do Nara era a de levar os criminosos para Konohagakure em cima da carroça de suprimentos, onde conheceriam a justiça a partir do julgamento e encarceramento a partir de seu relatório. Deste modo, o rapaz seguiria viagem com atenção redobrada, desta vez também tomando cuidado com os homens desacordados para que, ao mínimo sinal de despertar, serem golpeados novamente.

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