A semente da profecia havia germinado, o velho Yoshiro, patriarca da família Meido, antes de partir para o sono eterno deu ao jovem Yomi a espada Preta, pois esse rapaz havia nascido marcado pelo chakra negro, o que em sua família era o sinal do retorno profético do Yugure, uma espécie de inimigo nascido dentro do próprio clã, original de um acontecimento passado onde outro usuário do chakra negro havia causado a desgraça no clã Meido, despedaçando-o e enfraquecendo-o. Seu pai Ikizashi defendia que Yomi veio à essa família curar esse antigo karma, no entanto seu irmão mais velho Ikkin nunca conseguia tirar de sua mente que aquele rapaz traria o fim da família, e constantemente implicava com o rapaz, dando sempre preferências a seu filho e herdeiro, Yoake, três anos mais velho que Yomi.

Yomi tinha 15 anos quando recebeu Preta, era um rapaz confiante em si mesmo, a antagonização que recebia de seu tio mais velho era um obstáculo que somente o tornava mais forte e incentivado, e Ikkin observava essa situação temeroso da auto-confiança que Yomi desenvolvia, principalmente a arrogância que nascia após ser portador da lendária Preta, que nunca largou enquanto andava pelos terrenos do vasto e vazio dojo Meido, atacando o ar, experimentando seu peso e seu corte no que podia, inclusive incitando quem podia à lutar, embora não tivessem muitos que aceitassem. Constantemente treinava com seu primo mais velho Yoake, usando espadas de madeira para a infelicidade do rapaz, que ansiava por uma luta de verdade com sua nova katana.

Yomi era mais novo que Yoake porém parecia crescer mais rápido, seu corpo era mais forte enquanto Yoake era mais fino, porém mais ágil, mesmo assim Yomi naquela idade começou a vencer seu primo em seus treinos, que ficavam cada vez mais intensos deixando os dois jovens cada vez mais feridos. Na terceira vez consecutiva que Yoake perdeu Ikkin se enfureceu, desceu e bateu no garoto dando-lhe tapas na cara, gritando coisas sobre a responsabilidade do herdeiro ou qualquer bobagem, Ikkin era um homem alto e forte, suas mãos eram largas, e não estava pegando leve com seu filho, Yomi não aguentou ver aquela vergonhosa cena.

– Ei, pare com isso! – ordenou através de alguma coragem que tinha dentro de si ainda desconhecida.

Ikkin encarou-o com frieza quando parou de atacar seu filho, as veias de seus olhos estavam rubras de decepção e, lá no fundo, medo.

– Você precisa de uma lição também garoto.

Seu tio então pegou uma espada de madeira, nesse momento tanto Ikizashi quanto o mais novo, seu tio Itton estavam ao redor observando a cena, Yomi sentia-se temeroso, sabia que seu tio era forte e violento, embora poucas vezes tivesse visto-o lutar realmente, no entanto também sentia uma excitação nova que o fazia desejar aquela batalha como nunca havia desejado, uma vontade latente dentro de si, e quando viu sua animação era tanta que, esquecendo por um segundo quem era seu inimigo, simplesmente avançou e deu o primeiro ataque, um corte vertical enquanto saltava, Ikkin facilmente defendeu e empurrou-o para trás com a katana, gritando no ato.

– Insolente, eu vou te corrigir como seu pai devia ter feito!

O homem avançou com alguns golpes rápidos e pontuais em sequência, Yomi desviou de um pulando para trás, defendeu o terceiro porém a força do ataque abria sua defesa, e recebeu um forte golpe no peito, arremessando-o ao chão, porém sem largar sua espada de treino, seu tio ainda estava de pé esperando que o garoto se erguesse, ainda segurando sua espada. Yomi ergueu-se, tossindo um pouco, o golpe que recebeu tinha um impacto incrível, aquilo era uma luta verdadeira, sua primeira luta verdadeira, aos poucos seus sentidos estavam sucumbindo para um novo estado de concentração e animação, sua sobrevivência dependia disso, enquanto encarou novamente seu tio o garoto sorriu inconscientemente, e Ikkin avançou em um passo firme para frente, preparando um ataque forte e vertical vindo do alto, e quando esticou os braços ao ar, batendo forte com o pé no chão, Yomi quase que inconscientemente agiu, avançando com um corte vertical para cima, atingindo pontualmente a base do cabo da espada de Ikkin, arremessando-a ao ar, efetivamente desarmando o oponente.

Todo o restante da família encarava aquilo atônitos, Yomi pensou que Yoshiro devia estar rindo vendo aquela batalha do céu, Ikkin estava absolutamente tomado de ódio e vergonha, e sem pensar sacou furiosamente sua katana verdadeira, Ikizashi intercedeu e saltou ao meio do campo.

– O que está fazendo? Está louco?

Com uma pisoteada intensa Ikkin atingiu o peito de seu irmão mais novo e jogou-o ao chão berrando no processo, em mesmo passo avançou contra Yomi, que em êxtase sacou Preta e a verdadeira luta começou, as katanas se chocavam e Yomi aos poucos compreendia de verdade a força dos golpes odiosos de seu tio, e como a intensidade deles vinha de seus ataques pontuais, porém pausados, havia naqueles movimentos um ritmo, bastava para Yomi dançar conforme a música e adicionar sua harmonia no contra-tempo de Ikkin. Todos percebiam que Yomi atingia um equilíbrio naquela batalha, não estava mais correndo riscos, o ódio de seu tio o deixava cego de uma batalha completa, e Yomi iria se aproveitar disso, carregava em si uma forte mágoa do ressentimento que aquele homem o fazia passar, esperou chegar o momento certo, e quando esse chegou o garoto não hesitou, deferindo um poderoso corte diagonal de cima para baixo, atravessando o peito de Ikkin e desarmando-o, arrancando os dedos de sua mão esquerda no processo, o corte era profundo e alguns ossos haviam sido cortados, Yomi percebeu naquele instante que havia matado pela primeira vez, e não era ninguém menos que o líder de sua família, imediatamente uma poça de sangue cobriu o corpo do enorme combatente que estatelou-se ao chão, abandonando a contorcida expressão de angústia em seu rosto, superada pela expressão de paz.

Yomi se lembra de pouco dos momentos após o corte fatal, mas sabe que acordou em um puteiro nos arredores de Kirigakure, assustado e com dor de cabeça, foi expulso naquela manhã quando sua identidade foi descoberta, a palavra corria nos arredores do banimento de Yomi ao clã Meido, o jovem imediatamente aceitou sua condição, via a família como uma fonte de fraquezas, e distanciar-se deles era o melhor que tinha a fazer. Seu pai cometera seppuku alguns dias após, para compensar pelos pecados de seu filho, que só soube da morte semanas depois, nunca tendo visitado a lápide de seu pai dentro do terreno do dojo. Yoake tomou a liderança da família e jurou vingança a Yomi, que retornaria para concedê-la.

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