> ANO 2DG:Naquele dia do treinamento, após desmaiar de exaustão, fui levado à enfermaria da Vila, onde fiquei sob observação durante 2 dias. E com "sob observação", me refiro não apenas aos cuidados médicos, mas também àqueles ninjas mascarados que ficaram à espreita do meu quarto o tempo todo. Eles realmente acharam que eu não havia notado sua presença? Os dias seguintes à minha alta médica prosseguiram da mesma maneira, com aqueles ninjas misteriosos monitorando cada mínima ação minha. Não demorou muito para que eu retomasse a minha rotina de missões e treinamentos com Athros-sensei, mas sempre que eu falava em treinar o controle do poder da Nibi, o assunto era mudado, mas eventualmente chegou o momento em que o tópico não pôde mais ser evitado.
Naquela manhã em especial eu não possuía nenhuma missão ou treino marcado, mas quando desci as escadas do meu quarto rumo à sala, encontrei Athros-sensei conversando com meus pais. O Hyūga estava com aquele seu riso cínico de sempre estampado no rosto.
— Akkey, já fez as suas malas? — perguntou. Não respondi coisa alguma, pois imaginei ser mais um dos seus deboches, porém a pergunta me deixou intrigado. Retirando aquele sorriso petulante do rosto por alguns momentos, Athros-sensei enfim se explicou.
— Desde o último incidente em um dos nosssos treinamentos, alguns dos Conselheiros da Vila julgaram perigoso prosseguir com o treinamento da besta dentro dos domínios da Folha.— Então é por isso que você sempre evitava o assunto? — indaguei.
— Precisamente — disse o Hyūga.
— Porém, eles ainda julgam importante que você aprimore o controle sobre este poder — julgar, julgar, julgar; era tudo que aqueles miseráveis faziam, minha vida praticamente não era mais minha. Eu estava tão absorto por isto que mal percebi a mudança de entonação na fala do sensei.
— E era por isso que eu estava falando com os seus pais. Nós dois iremos sair da Vila por alguns anos, até que você possa controlar este seu poder. Considere isso como uma Jornada Pessoal! — ele finalizou, retomando aquele semblante cínico.
Eu mal sabia como reagir, mas após alguns segundos de reflexão, percebi que aquela seria uma grande oportunidade. Como meus pais — que eram minha maior preocupação — haviam consentido, não tinha mais nada que me impedisse de partir. E assim o fiz. Ao longo do ano que se seguiu — 2 DG —, prossegui meu treinamento com Athros-sensei, buscando aperfeiçoar cada vez mais o domínio sobre as formas recém-descobertas daquele poder que me havia sido impelido.
> ANO 3DG:— Mais uma missão? — perguntei.
— Sim — respondeu o Hyūga, deixando ir embora a ave mensageira que pousara em seu braço.
— Desta vez é uma escolta. — Pouco mais de um ano havia se passado desde que Athros-sensei e eu havíamos deixado a Folha e passado a vagar como andarilhos pelos ermos de Hi no Kuni em nossa viagem pessoal, a fim de trabalhar em meus treinamentos. Uma das condições impostas pelos Anciões da Vila para que permitissem a nossa pequena jornada fora a de realizarmos missões em nome de Konoha quando requerido. Normalmente as missões nos eram passadas com base na nossa localização atual — a qual precisávamos reportar frequentemente — e no quão próximo estávamos do ponto de execução destas missões.
— Devemos escoltar a filha do governador de uma cidade próxima daqui até a cidade vizinha. As duas cidades firmarão um acordo comercial e a filha do governador irá como embaixadora e representante do seu povo. — disse Athros, lendo o conteúdo do papel trazido pela ave.
— Eles vão mesmo confiar no "Monstro de Duas Caudas" para uma tarefa tão importante como esta? — falei, em tom de ironia.
— Não, eles não confiam em você — respondeu Athros, em semelhante tom.
— Mas o seu controle sobre a besta está melhor, você progrediu bastante no último ano. Já consegue manter a sua consciência estável por um longo período de tempo, mesmo com o manto de duas caudas. Contanto que você persista em manter seu equilíbrio interior, nada demais deve acontecer.— Patético — rosnou a besta de duas caudas. Vez ou outra a criatura se manifestava em minha mente, mas sempre que eu tentava prolongar a conversa, ela se calava. Era estranho ter uma segunda voz falando na sua cabeça, mas com o tempo fui me acostumando.
Caminhamos por algumas horas até chegarmos a cidade de onde partiríamos. Menma, a filha do governador, era uma doce jovem de 20 anos, pele e cabelos alvos e semblante carismático. Apesar de ficar a viagem toda dentro de sua carruagem, vez ou outra ela colocava o rosto pra fora pra puxar assunto. Athros-sensei, como esperado, sequer dava atenção, mas eu perdia horas conversando com a garota, isto tornou a viagem de dias um pouco menos enfadonha. Com tanto carisma, não seria difícil para a jovem conseguir firmar o acordo que tanto desejava, mas nem todos estavam contentes com aquela aliança. Alguns opositores do governo tramaram uma emboscada para impedir a chegada da moça à cidade vizinha, desta forma a aliança não seria consumada, o que contaria como uma vitória para a oposição.
Na calada da noite, aqueles mercenários atacaram a pequena caravana. Seus movimentos incontidos deixavam claro que sua intenção não era outra, senão a de matar. Como a prioridade era a segurança de Menma, permaneci ao lado da garota o tempo todo, enquanto Athros-sensei batalhava sozinho contra os mercenários. Em determinado momento da batalha, um dos bandidos parou e olhou firmemente para mim.
— Esperem, vejam aquele moleque ali! Ele é o tal Monstro de Duas Caudas, da Folha! — gritou o infeliz, apontando para mim.
— Esqueçam a garota, a cabeça dele vale muito mais! — e foi assim que a missão que se tratava de uma escolta se transformou em uma de sobrevivência; de guarda-costas, passei a ser o alvo principal. Com certa dificuldade, Athros-sensei e eu resistimos àqueles ninjas. Eles não pareciam ser mercenários quaisquer, suas habilidades eram realmente consideráveis.
Dentre os inimigos, havia um expressivamente mais habilidoso. Ele empunhava uma espada e demonstrava grande perícia com a arma. No meio da batalha, em um momento de descuido, eu abri uma brecha que permitiu que este indivíduo fizesse uma investida mortal contra mim. Eu não consegui reagir a tempo, mas Athros-sensei, sempre ágil, se jogou na minha frente, recebendo em cheio o ataque da lâmina que transpassou o seu peito. O Hyūga então caiu nos meus braços com sua roupa ensanguentada e a lâmina fincada em seu corpo. A cena me deixou aterrorizado, não pelo golpe ou pelo sangue em si, pois após uma guerra, isto não era novidade. Mas ver alguém querido perecendo em meus braços... aquilo foi demais para mim. Naquele momento não havia equilíbrio ou controle algum a ser mantido. Sem me restringir, ataquei com força total, acessando de imediato o manto de duas caudas da besta. Isto foi mais que suficiente para subjugar todos os adversários, mas a angústia e fúria que eu sentia eram tão grandes, que continuei atacando.
Não demorou muito para que aquele sentimento ruim tomasse conta de mim e começasse a me consumir de dentro para fora. Com sua visão embaçada e beirando a inconsciência, Athros-sensei me viu acessar um modo ainda não conhecido do chakra da besta. Com meu corpo repleto de uma densa camada de sangue, me tornei numa miniatura da própria criatura e ataquei aqueles pobres coitados sem freio algum. Minha capacidade de julgamento havia se esvaído e minha consciência já havia resvalado mais uma vez para aquele ambiente onde eu sempre me encontrava com a Nibi.
— Você de novo? O que você fez comigo? O que está acontecendo lá fora? — indaguei. Rindo de forma soberba, a criatura escondida nas sombras respondeu.
— Eu? Eu não fiz nada. Você quem veio até aqui, como sempre. — Eu ainda não tinha visto a forma verdadeira daquela besta, apenas suas manifestações de chakra, mas a forma como falava e suspirava me fazia humanizá-la na minha mente, como se tentasse dar forma a uma ideia abstrata.
— Vocês humanos são tão voláteis, tão emotivos. Basta uma fagulha e vocês despencam neste poço de fúria, deixando pra trás aquilo de que mais se gabam: sua própria humanidade. — disse a criatura felina.
— Eu não lhe fiz nada demais, meu chakra apenas respondeu aos seus sentimentos, às suas emoções.Após as poucas interações que tive com a besta nos últimos anos, pude perceber que seus discursos eram sempre cercados de profundo ressentimento para com o ser humano de modo geral. Depois de um tempo eu parei de tentar debater e busquei tentar entender.
— Me diga, Duas Caudas. O que fizeram com você no passado? — perguntei inocentemente. Com um rosnado de tirar o fôlego, a criatura respondeu.
— Pare de me chamar assim! Eu tenho um nome assim como você e detesto quando se referem a mim como apenas uma "besta de cauda" ou com um número. — Era irônico, pois a mesma que zombava da emotividade do homem corriqueiramente se deixava inflar por suas emoções. No fim, talvez ela não fosse tão diferente assim dos seres humanos.
— E o que essa pergunta deveria significar? — indagou a criatura.
Eu então dei uns passos à frente e atravessei as grades que nos separavam. Eu não tive medo, pois de alguma maneira, eu sabia que ela não queria me ferir. Depois de mais de um ano treinando o controle do chakra da Nibi, me dei conta de que aquele ambiente onde eu sempre a encontrava era a minha própria psiquê, logo, imaginei que conseguiria exercer algum nível de controle sobre ele. Balançando meu braço num movimento horizontal, rasguei aquela névoa negra que ocultava a criatura e finalmente consegui vê-la por completo.
— Mas que... lindo! — Me faltavam palavras para descrever o que estava diante de mim. Uma enorme e majestosa criatura felina feita puramente de chamas verdadeiras. Sua aparência e beleza eram hipnotizante. A minha reação certamente não fora a esperada pela Nibi, em cuja face pude notar o estranhamento.
— Como você se chama? — perguntei.
— E porque eu te diria? — retrucou a criatura.
— Porque se você não me disser, continuarei te chamando de Nibi. — Com um rosnado contido, a besta de duas caudas então respondeu.
— Meu nome é Matatabi!Tudo naquela criatura era surpreendente, desde o nome à aparência, desde o humor até a forma tão humanizada como se expressava. Após me recompor daquele momento de apreciação, usei meu Kekkijutsu: Tsubasa para planar até a altura dos olhos da criatura. Estar próximo dela era estranhamente aconchegante, como quando se está próximo de uma lareira num dia frio de inverno. Apesar do calor constantemente emanado, suas chamas não pareciam nocivas para mim, tanto que eu pousei em seu focinho e me sentei ali, bem perto dos seus olhos. Ela não parava de rosnar, mas ela parecia mais desconfortável do que agressiva e de alguma forma eu conseguia sentir isto. Após este movimento ousado, retomei a minha pergunta inicial.
— O que fizeram com você no passado, Matatabi-san? Porque você despreza tanto os humanos? — Rosnando ferozmente, a Matatabi respondeu.
— Eu creio que já deixei isso bem claro. O ser humano é mal por natureza, é cruel, egoísta, ganancioso e manipulador. Eu vivi por mais décadas do que você em seu tempo limitado de vida pode contar, eu vi muitas coisas, habitei em diversos hospedeiros e cheguei a conclusão de que para a raça humana não há salvação! — Eu ouvi atentamente a cada uma de suas palavras e após um breve silêncio, respondi.
— Você está certa — certamente não era isso que ela esperava que eu dissesse.
— Você está certa sobre o homem ser mal e todos estes outros adjetivos. Mas você está errada sobre não haver salvação para nós. — complementei.
— Nem todos os seres humanos são assim. Ainda há aqueles que anseiam pelo bem, que desejam a mudança neste mundo. Eu desejo uma mudança neste mundo! Eu não me importo com guerras, conquistas ou o que quer que seja. Se me envolvi em algumas destas, foi por uma única razão: esperança! Esperança de dias melhores, esperança de que após qualquer tribulação, poderei voltar para os braços daqueles que amo e prezo. Enquanto houver esperança, Matatabi, haverá salvação! — A gata flamejante parecia desdenhar do meu discurso, pois ela já devia ter ouvido palavras como aquelas de muitas bocas mentirosas. Mas foi a minha pergunta seguinte que a fez reconsiderar.
— Você me disse que já habitou em muitos hospedeiros, então me diga, nunca houve algum que lhe fizesse acreditar na raça humana? Que lhe fizesse acreditar que há esperança? — A pergunta acertou no ponto vital da Matatabi, pois de fato ela possuía boas lembranças do passado, em um tempo onde mesmo com o mundo estando em conflitos, ela creu nos humanos.
Lhe faltaram palavras para responder a minha indagação, então ela retrucou com outra questão.
— Se você realmente acredita no que diz, então porque lá fora neste momento se deixando consumir pela ira?— De fato... — respondi.
— Como eu disse, nós humanos somos falhos. Mas algo de que nos orgulhamos bastante é a nossa capacidade de aprender e melhorar. Eu poderia melhorar se você me ajudasse! — exclamei, com um sorriso no rosto. A Matatabi gargalhou alto, incrédula com o que eu acabara de dizer. Eu, por outro lado, mantive meu rosto sério o tempo todo, não cedendo a sua provocação.
— Espera, você está falando sério?— Sim — foi tudo que respondi. Após ponderar por alguns segundos, a gata então suspirou e disse.
— Que seja. — Ao dizer isto, a Matatabi me sacudiu para que saísse de cima dela e me jogou de volta para o outro lado das grades. Assim que caí no chão, como num piscar de olhos, me vi de volta no campo de batalha, transformado naquela miniatura da besta, com um dos bandidos em minhas mãos. Desta vez, porém, eu estava em plena consciência.
Quando percebi o estrago que havia feito, inclusive deixando aqueles homens à beira da morte, senti profunda vergonha e arrependimento. No calor da batalha, havíamos nos afastado bastante da nossa posição inicial, o local atual havia ficado completamente devastado. No entanto, engoli todos aqueles sentimentos e sai correndo dali quando lembei o que havia acontecido com Athros-sensei. Voltando ao ponto onde havia deixado Athros-sensei, o encontrei aos cuidados de Menma, que utilizava algum tipo de jutsu médico para tratá-lo.
— O ferimento está contido, mas precisamos levá-lo a um hospital imediatamente! — disse a jovem.
Ao chegarmos na cidade vizinha — aquela que era nosso destino inicial —, fomos direto para o hospital. Com os devidos cuidados e alguns dias de repouso, Athros se recuperou, mas ganhou uma grande cicatriz. Apesar dos empecilhos, o acordo comercial entre as vilas fora firmado com sucesso. Apesar do sentimento ruim pelos danos que eu havia causado e pelas atrocidades cometidas, no fundo eu me sentia feliz, pois de alguma forma estava começando a me conectar com a minha criatura interior.
> ANO 4DG:Após o fim do último incidente, eu e Athros-sensei continuamos nossa jornada pelo País do Fogo. Nós visitávamos diversas cidades e entre os espaços da viagem, treinávamos as mais diversas habilidades, porém sempre focando no meu controle sobre o chakra da Matatabi. Com o tempo isto foi se tornando mais fácil, pois a própria Matatabi parecia mais propensa a me ajudar. As interações com a gata flamejante passaram a se tornar mais frequente, eu já estava acostumado a ouvir sua voz constantemente em minha cabeça. A criatura que para mim havia sido um fardo, uma maldição, tornou-se numa grande aliada, e por mais que ela ainda relutasse, eu sentia que podia chamá-la de amiga.
Neste ano aperfeiçoei também o meu domínio sobre aquela nova forma. Embora a Matatabi não estivesse tentando tomar conta de mim voluntariamente, seu chakra era muito mais forte que o meu, então não era incomum eu perder a consciência após longos períodos mantendo a transformação. Mas após intensas sessões de treinamento, consegui dominar por completo a forma.
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- Considerações:
• "— Falas"; "— Pensamentos".
• Objetivos: Forma Jinchuuriki: V2 + Missão Rank-B.
- Aparência:
• Aparência de Akihito Kanbara, de Kyoukai no Kanata: link;
• Roupas do Tanjiro, de Kimtesu no Yaiba (exceto a espada): link;
• Brincos de cartas de Hanafuda: link.