Como já era de costume, Senko estava sentado em seu gabinete cuidando de alguns documentos importantes de Kirigakure. Na paz de seu escritório, o Mizukage escrevia a sua rubrica no fim das páginas dos dossiês que seriam enviados para o cartório da Névoa. Porém, pôde se ouvir do corredor alguém que gritava o seu nome. — MIZUKAGE! MIZUKAGE! — Renjiro abriu a porta com tudo, mostrando grande preocupação no seu tom de voz. — Senhor! Recebemos uma carta de Sunagakure através da nossa plataforma de transferência celestial! É urgente! Precisam de sua ajuda para salvar a vila da Areia! — gritava Renjiro, enquanto Senko prontamente se levantava para atender ao chamado.

— Sim! Estou indo agora! E quem é a ameaça?! — perguntou Senko.

— O próprio Kazekage.


Senko arrumou tudo às pressas e foi. Embora não tivessem uma aliança, não eram inimigos, então ele se viu obrigado a ajudar. Não tardou muito para que o melhor barco de Kirigakure que levava o Mizukage chegasse até a baía de do País do Vento. Numa viagem que durou não mais do que um par de horas, Senko já estava na vila da Areia. A imagem que podia ver era um caos: pessoas gritando e correndo para longe do foco da confusão, casas destruídas, entulhos voando entre as ruas e muita poeira e fumaça. Definitivamente tinha algo muito grande acontecendo ali. O Mizukage corria na direção contrária da população e tentava se localizar entre os escombros e procurar algum oficinal que pudesse lhe dizer o que estava acontecendo de fato. Enquanto isso, Senko reunia energia natural, já entendendo que sua função ali era enfrentar Tobirama.

— Sr. Mizukage! Sr. Mizukage! — Do alto de um prédio, um ninja gritou para o líder da Névoa. O rapaz, que parecia ter uma posição elevada na vila, acenava para Senko, que por sua vez foi ao seu encontro. — Que bom que o senhor veio, estamos desesperados!

— O que está acontecendo aqui? Na carta dizia que é o Kazekage que causou tudo isso, certo? Eu nunca imaginei que Tobirama atacaria a própria vila! — respondeu o Mizukage.

— É ele, mas… não é ele. Está fora de si! Parece que… que o demônio que vive dentro dele assumiu o controle do seu corpo e agora ele ronda pela vila destruindo tudo que vê pela frente. Nossos melhores esquadrões já tentaram contê-lo, mas ainda não tivemos sucesso. É muito chakra!

— Tivemos baixas? Feridos?

— Felizmente não tivemos nenhuma baixa, mas temos vários feridos.

— Quero que você Monte um esquadrão e foque em evacuar a área o quanto antes. Eu trouxe alguns homens de Kiri que podem auxiliar vocês nisso. Eu vou cuidar diretamente de Tobiram… — enquanto Senko passa as instruções para o sunense, de não muito longe ouviram-se gritos agudos e um grande estrondo. Mais um prédio havia caído. Imediatamente, Senko saltou de prédio em prédio à procura do rastro do jinchūriki descontrolado com auxílio do Sharingan.

Foram necessários poucos segundos até que o Mizukage chegasse até o centro da confusão, onde Tobirama encontrava-se envolto pelo chakra escuro, vermelho-sangue. Ao seu redor, uma grande tropa de ninjas de Suna que tentavam erguer barreiras de Doton em volta da figura animalesca, mas que logo eram destruídas pela força imensa que a versão 2 proporcionava.

— Senko, é melhor você ativar o manto de chakra. Conte as caudas comigo... — Senko e Saiken podiam ver as caudas que saiam do manto de Tobirama. Eram nove. — Esse é um dos meus irmãos... eu diria que o mais forte. Não o subestime!


Senko acatou o conselho do seu parceiro e prontamente ativou o manto de chakra do seis caudas. O chakra branco se alastrou pelo corpo do Mizukage e, ao mesmo tempo, a sua esclera ficou preta, assim como o contorno dos seus olhos: era o Modo Sábio sendo ativado, também.

Tobirama avançava contra um dos prédios em que um ninja mestre em Doton estava. Senko, vendo a movimentação do jinchūriki com clareza através dos seus olhos carmesim, julgou ser impossível uma esquiva por parte do ninja. Se não fizesse nada, seria a primeira morte do campo de batalha. Decidiu então ir na direção do ninja em velocidade máxima, empurrando-o para o lado sem violência para que ele não se machucasse, mas ao mesmo tempo colocando-se na mira do Kazekage; Senko fora acertado em cheio, voando entre as construções e atravessando três prédios com a força absurda com que Tobirama o atingira.

Levantou-se com certa dificuldade, mas correu novamente para o campo de batalha. O outro Uchiha rugia para o cerco que tinham formado e as paredes tremiam e rachavam apenas com a pressão sonora do seu grito. Senko tinha elaborado sua estratégia e estava pronto para agir, mas antes que pudesse a pôr em prática, viu uma pessoa caminhando na direção de Tobirama.

— Ele vai me ouvir! Eu tenho certeza, não ataquem! — dizia uma mulher com vestes nobres.

— Senhora Mahina, não! Seu marido está fora de si! — um ninja tentava a alertar, mas já era tarde demais. Pela distância entre ela e Tobirama, era tarde demais até para Senko.

— Tobirama, meu amor, sou eu... — Num primeiro contato, a besta até se acalmou ao ver a mulher. Olhou para Mahina com ternura, abaixando as caudas e inclinando a cabeça para a direita. — Eles não vão te machucar, eu estou contigo... — enquanto ela dizia isso, um ninja correu por trás de Tobirama e já se preparava para contê-lo com o uso do Doton. Percebendo a movimentação estranha, a besta logo voltou ao descontrole e usou suas caudas para acertar o ninja. Voltando-se para Mahina, acertou-a com um tapa que a jogou para longe.

Tobirama correu até ela, ergueu os braços para o alto estava prestes a acertá-la com mais um golpe fatal, mas Senko jogou-se mais uma vez na frente da besta, agarrando suas patas com as mãos e usando a manipulação do manto de chakra para criar braços enormes que continham as caudas do jinchūriki. — PRA TRÁS! — Senko gritou contra Tobirama. Olhou por cima dos ombros e se dirigiu à Mahina — Vá para um local seguro, ele está completamente fora de controle. Eu cuido dele daqui pra frente!

Ela se arrastou para longe, assustada, e foi embora correndo. Agora era a hora da porrada. Senko usou um dos braços de chakra, cerrou o punho e bateu com força na cara do jinchūriki, fazendo-a se chocar contra o chão. Uma vez no chão, deixou de segurar uma cauda e prosseguiu com mais golpes na cabeça, alternando entre os braços e deixando o chão ainda mais quebradiço. Anos atrás, Senko aprendeu no Monte dos Mortos que, às vezes, é preciso consertar as coisas na base da pancadaria, então é isso que faria.

Contudo, parece que a besta cansou de apanhar e quis participar da brincadeira de outro jeito. Com a cauda que ficou livre, acertou Senko no peito e foi capaz de afastá-lo e parar os ataques. Mesmo tendo pouca distância entre eles, a besta começou a concentrar chakra na altura da boca, formando uma pequena bijūdama. Num alto rugido, Tobirama estava prestes a alvejar Senko com a bola de chakra.

Contudo, como se fosse um vulto de luz, Senko reapareceu embaixo da besta e acertou-a com chute no maxilar, lançando a bijūdama para os céus. Toda Suna pôde ver a bola que atravessou o horizonte e explodiu no meio do nada, causando um grande clarão. Senko mudou a trajetória mais uma vez, aplicando outro chute de cima para baixo, fazendo Tobirama engolir a poeira do chão com tanta força que seu corpo “quicou” no solo e ficou suspenso no ar. Os braços de chakra envolveram o corpo do jinchūriki e o imobilizaram no chão, dando uma brecha para o líder da Névoa olhar no fundo de seus olhos. — É HORA DE OBEDECER! — com seu Sharingan ativo, Senko lançou o mais poderoso Genjutsu: Sharingan contra Tobirama, fazendo-o dormir.

Aos poucos, o chakra da besta foi se recolhendo, revelando a pele queimada do Kazekage por baixo. Tobirama desmaiou e foi rodeado de outros ninjas que auxiliaram na contenção.


— Muito obrigado, Mizukage, você foi o único líder que respondeu ao nosso chamado e, sinceramente, não sei o que seria de mim e da nossa vila sem a tua ajuda. — Mahina, a esposa de Tobirama, agradecia. O Kazekage se encontrava numa maca no melhor centro hospitalar de Suna.

— Não há de que. Foi o mínimo que pude fazer. Sei que não temos nenhum tratado entre as nossas vilas, mas nunca negaria ajuda a um dos heróis da última Guerra. Foi um prazer ajudar. — disse e logo se dirigiu à Tobirama. — E... eu tenho uma dica para você: nunca capte mais chakra do que pode comportar. Eu sei bem como é...

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Nesses últimos dez anos, umas das coisas que ficaram cada vez melhores foi a amizade entre Senko e Yumi. Os dois jovens cresceram e nunca se desgrudaram, cultivando o sentimento de fraternidade que existia entre eles. Senko manteve-se como Kage e Yumi continuou a ser uma exemplar médica de Kirigakure.

Durante esse meio tempo, uma interação marcou o rapaz. Senko começou a ter um tempo livre às tardes, então pegou o hábito de visitar a sua amiga no hospital. Na primeira vez que procurou em que setor Yumi trabalhava, o Uchiha levou um susto, já que a garota trabalhava no setor de autópsias (ou seja, basicamente era só corpo morto).

— Tá zoando, né? Você trabalha aqui?! Cara, isso é nojento, como você consegue? — disse Senko, indignado com a profissão de Yumi.

— Ah, Senko, para de ser fresco garoto. É um trabalho como os outros, com o tempo você se acostuma. — dizia, enquanto colocava um defunto na maca para ser examinado. — Além disso, eu gosto… dá pra aprender bastante sobre o corpo humano assim. Eu consigo até fazer alguém desmaiar só tocando em alguns pontos vitais hahahah. — Enquanto ela dava umas risadas, Senko franzia a testa pensativo. “Ela consegue fazer alguém desmaiar só tocando alguns pontos…? O trabalho dela é meio nojento, mas acho que eu posso aplicar isso em combate, pode ser útil.”

Senko ficou com aquele pensamento na mente por um bom tempo enquanto fazia companhia para Yumi. Os dois conversaram pela tarde inteira até o fim do seu expediente, falando sobre diferentes assuntos e trocando várias ideias, mas aquela curiosidade não saiu da cabeça do Mizukage. Enquanto voltavam para casa, Senko voltou a tocar no assunto.

— Yumi… sobre aquilo de conseguir fazer uma pessoa desmaiar tocando em alguns pontos… consegue me ensinar como se faz?

— Consigo sim, é simples até. Mas você vai ter que parar com esse nojinho de corpos.

— Por quê?!

— Porque para aprender esse tipo de coisas é preciso conhecer o corpo humano. Eu sei como fazer um golpe que machuca, um golpe que mata, ou um golpe que apenas coloca a pessoa pra dormir. Mas não saberia fazer isso sem conhecimentos anatômicos.

— Hm… ok, combinado então. Quando começamos?

— Amanhã, pode ser?

— Claro!

Daquele momento em diante, todas as tardes de Senko foram voltadas a aprender mais sobre o corpo humano. Acompanhando a sua amiga no “setor dos corpos”, o Mizukage começou a participar cada vez mais nas operações que Yumi fazia. Nessa aventura, Senko conheceu todos os órgãos do corpo e a suas localizações, as suas funções, suas fraquezas, os pontos vitais e não vitais; dissecou diversos corpos com a ajuda de Yumi, afim de reconhecer as causas da morte e o tempo de decomposição de cada componente do sistema de um indivíduo; aprendeu a identificar doenças pelas marcas e coloração da pele; mediu o peso e a densidade de cada órgão do corpo; aprendeu a fazer o processo de reanimação (por mais que os cadáveres não fossem simplesmente voltar a vida) por meio de massagem cardíaca; e, por último, mas não menos importante, recebeu inúmeras dicas e vivenciou por meses o processo de conservação de cadáveres (espera-se que ele nunca tenha que usar essa habilidade em uma situação real em sua vida).

Ao fim de três meses, Senko sentia que sabia muito mais sobre o corpo do que podia imaginar quando teve a ideia de usar isso em combate. Aprendeu muito mais do que “fazer alguém desmaiar”. Ele sabia como levar alguém à óbito ao mesmo tempo que sabia como prestar os primeiros socorros a um amigo ferido. Senko dominara o corpo humano.

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Quão longe você iria para impressionar uma mulher?

Mais anos se passaram e a amizade entre Yumi e Senko começou a mudar: não para pior, nem para melhor, apenas... diferente? Nem o próprio Uchiha sabia dizer ao certo o que sentia a respeito da relação que tinha com sua amiga, mas ultimamente as coisas começaram a ficar estranhas, um “estranho” bom, ele diria: algumas palavras que diziam na volta do trabalho, olhares sugestivos que trocavam e aquele frio na barriga que Senko sentia toda vez que via a sua amiga balançar os longos cabelos enquanto andava.

Passaram semanas assim, e a regularidade dos flertes só aumentava. É seguro dizer que ambos nunca se sentiram assim em relação à outras pessoas. Em uma bela tarde, enquanto os dois andavam pelos bosques floridos de Kirigakure no Sato, Senko teve coragem de perguntar algumas coisas.

— Ei, Yumi...

— Sim?

— De zero à dez, quanto você avaliaria a nossa amizade?

— Ah! Onze! Eu amo a nossa amizade, Senko. — Ela deu um soquinho no braço do amigo.

Depois da resposta da garota, Senko apenas tentou conter o sorriso olhando para baixo. O coração do garoto batia mais forte e coragem de dizer o que realmente queria dizer começava a sumir, mas ele não podia perder a oportunidade de dizer. Depois de mais uns metros de caminhada, ele voltou a tocar no assunto.

— Tá, pera aí, eu preciso dizer uma coisa. — Senko parou de andar e se virou para Yumi. — Olha... você e eu, sei lá, você sabe que a gente tem agido diferente nos últimos tempos, né? Sei lá, pra mim isso é tudo muito estranho e... eu nunca tinha parado pra pensar nessas coisas, sempre estive muito ocupado com tudo e...

— Desenrola, Senko hahaha, você não tá falando nada com nada. Primeiro a pergunta aleatória sobre a nossa amizade, e agora isso... Hm... onde você quer chegar? — Yumi exibia um sorriso de canto e as suas bochechas começaram a corar. O azar dela era que Senko nunca teve tempo para pensar em seu lado romântico, muito menos teve namoricos durante a sua pré-adolescência, para ele era um trabalho difícil desabafar tudo o que tinha para desabafar.

— O que eu quero dizer é... que eu gosto de você. Você é minha melhor amiga e eu também amo a nossa amizade, mas...

— Mas...?

Senko engoliu seco, respirou fundo e soltou todas as palavras de uma vez. — Mas eu queria ser mais do que um amigo. V-vo, você quer n-namorar comigo? — seu coração quase saía pela boca ao dizer aquilo.

Yumi corou ainda mais, soltando uma risada ao entender as intenções de Senko. — Ai ai hahah, agora eu entendi... muito bem, mas eu só aceito o seu pedido no dia em que você conseguir fazer selos com uma mão! — respondeu sarcasticamente, usando da hipérbole para instigar Senko a fazer um pedido mais decente. No meio do nada, numa rua comum, sem jantar ou um programa legal? Onde ele estava com a cabeça?

O Uchiha esperava uma resposta positiva, ficando envergonhado com o fora que havia levado. Mas por fora, tentou reagir com humor, dando uma risada forçada enquanto ria com Yumi. Os dois continuaram o trajeto para casa conversando trivialidades.

A tarde virou noite e o Mizukage já se encontrava na cama, sem conseguir dormir, pensando na cagada que tinha feito ao revelar parte dos seus sentimentos não correspondidos. Em meio aos seus arrependimentos que contribuíam com a sua insônia, a frase que ela tinha dito ecoava em sua mente. “Só no dia em que você conseguir fazer selos com uma mão!”...

Era isso! Era só ele aprender a fazer selos com uma mão!

No dia seguinte, para além dos seus afazeres como Kage, Senko iniciou seu plano para realizar selos com uma mão só. Ele se desafiou a aprender aquilo em apenas uma semana durante o seu tempo livre. No primeiro dia, pôs-se a estudar a formação dos selos de maneira bem primitiva, vendo a teoria por trás da combinação dos formatos. Era óbvio que sabia quase que de cor todos os conceitos, mas sempre era bom dar uma revisada, já que saiu da academia ninja há onze anos; já no segundo dia, começou na prática a realizar os selos Boi e Rato. Senko juntava as duas mãos e as separava, prestando muita atenção no formato de cada uma de suas mãos, de forma a reproduzi-los de maneira independente, sem que fosse preciso tocar uma na outra; no terceiro dia, fez o mesmo processo com os selos Javali e Cachorro, sem muitas dificuldades; no quatro dia, prosseguiu com Pássaro e o Macaco; no quinto dia, viu que o selo do Carneiro se assemelhava e muito ao meio selo Tigre, treinando-o juntamente com o selo Cavalo; no sexto dia, aprendeu a realizar os selos Cobra e Dragão, percebendo como era estranho fazer o selo do Dragão com apenas uma mão; E, no último dia, entendeu como faria o selo do Coelho com apenas uma mão, já que o selo Tigre ele já sabia.

Seu treinamento estava completo, Senko tinha uma facilidade enorme para aprender novas coisas e com esses selos com apenas uma mão não foi diferente. Ainda no gabinete, foi mostrar a sua nova habilidade para Renjiro, um dos seus ninjas mais fiéis. O Desvirtuoso ficou espantado em saber que Senko aprendeu aquela habilidade em tão pouco tempo e, da mesma forma, Senko se surpreendeu em saber que tal habilidade é extremamente rara de se adquirir.

Feliz com a sua conquista, bastava ao rapaz tentar novamente estreitar os seus laços com Yumi.

No dia seguinte, quando voltavam para casa mais uma vez depois de um longo dia de trabalho, Senko resolveu convidar sua amiga para um “programa à dois”.

— Yumi, ér... por acaso você gostaria de ir jantar comigo amanhã no centro da cidade?

Casualmente, a garota respondeu. — Ah, sim, bora lá! Que horas? Assim que a gente sair do trabalho?

— Sim, pode ser! Combinado!

Com o “encontro” combinado, Senko dessa vez usou a cabeça e planejou as coisas direito. Ligou para um ótimo restaurante e fez uma reserva. Depois, comprou dois bilhetes para um parque de diversões que estava temporariamente nos arredores da vila e, por fim, traçou um caminho de volta para casa, passando por aquele mesmo bosque florido. Quando o dia chegou, Senko buscou Yumi no Hospital da vila ao fim do expediente e os dois foram diretamente para o restaurante. Comeram e conversaram por horas, também aproveitando o fato de que agora são maiores de idade para beber um bom saquê. Saindo do restaurante, foram se divertir no parque de diversões, passando em várias bancas para tentar ganhar os prêmios daquela feirinha. Conseguiram faturar alguns bichos de pelúcia e vários broches exclusivos!

Contudo, antes de irem embora, Senko passou em uma tenda que vendia fogos de artifício. Tirou de sua carteira um punhado de ryōs e comprou três rojões. — Pra que você tá levando isso, Senko? — perguntou Yumi. — Relaxa, você já vai entender o porquê. — Misterioso, Senko pegou os rojões e eles começaram a caminhar de volta para casa.

Quando chegaram à metade do caminho, Senko começou a explicar o que ele queria com tudo aquilo. — Yumi, lembra da semana passada? Quando... quando eu comecei falar sobre os meus sentimentos, sobre nós dois...?

— Sim...? — Yumi respondeu, muito curiosa. Só de lembrar daquele dia, ficou um pouco corada.

— Eu fiquei pensando e... a minha pergunta pra você foi meio seca, aquele pedido foi bem ruim mesmo, heheh.

— Hahahahah, sim! Foi mesmo hihi.

— Então... eu te chamei pra jantar, a gente se divertiu e... eu consegui.

— Conseguiu o quê? — perguntou, confusa.

— Você disse aquele dia que só aceitaria o meu pedido se eu fosse capaz de fazer selos com apenas uma mão... — Senko pegou os rojões, jogou-os com toda a sua força para o céu e, com apenas uma mão, fez os selos para o Gōkakyū no Jutsu, soltando uma bola de fogo que incinerou os fogos de artifício e fez com que eles explodissem nos céus, fazendo uma linda paisagem em meio àquele céu estrelado de verão. — Eu consegui. E agora eu quero saber: você aceita namorar comigo?

Yumi mordeu os lábios e ficou sem reação, lisonjeada com o esforço que Senko teve para aprender a realizar jutsus com apenas uma mão. Depois do choque, ela começou a rir, se debruçando no peito de Senko. — Seu bobo! Não era isso que eu queria dizer! Hahahah

— Ué, não era isso? E-eu p...

— Calma, não precisa se explicar. Mas não era isso que eu queria dizer! Você não precisava aprender a fazer isso, eu falei porque achava impossível, mas fiquei impressionada de ver você fazendo isso! A verdade é que eu queria que o meu pedido fosse num dia especial, num dia como esse que acabamos de ter. E isso... bem, você conseguiu, sim. — Yumi estava toda vermelha e sem graça, sem parar de conseguir sorrir com o dia maravilhoso que tivera ao lado do seu melhor amigo.

— Então...?

— Sim, eu aceito sim! — Ela respondeu, ficando na ponta dos pés para dar um caloroso beijo em Senko.

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Sentado em cima de uma pedra do jardim de sua casa, Senko observava o pôr-do-sol sozinho, pensando na vida. Com o olhar perdido no horizonte, ouviu uma voz familiar em sua cabeça que o chamava para uma conversa.

— Já faz algum tempo desde que falamos um com o outro. Queria saber... queria entender o porquê que você já não fala mais comigo. —  Perguntou Saiken.

— O problema não é você, Saiken... — Respondeu mentalmente à lesma.

— Então me diz qual é o problema então! Senko, eu estou dentro de você há anos e desde que você teve aquele episódio você nunca mais dirigiu a palavra a mim. De vez em quando você usa o meu poder sem nem agradecer e... é isso, eu me sinto cada vez mais como me sentia com meus outros hospedeiros, você até hoje era o que mais se destacava por ser diferente, por me tratar como um amigo, mas... parece que tudo isso acabou! Acabou, Senko?

— Não, não é isso... você não entenderia.

— Não, não sou eu que não entenderia, é você quem não entende. Você não entende como é viver sentindo que está sendo tratado como um objeto, como uma arma de guerra. Você me fez sentir-me diferente, sentir que eu não era só um monstro de chakra, mas não consigo mais sentir isso vindo de você. Onde está o Senko que eu conheci? Onde está aquele garoto que era animado e cordial? Depois daqueles meses, parece que tudo acabou...

— Eu só estou cheio, Saiken.

— Cheio do quê? Arba o jogo, deixe-me entender, eu quero entender!

— Agora você vai agir como se não estivesse vendo o mundo ao nosso redor? Por amor de Hagoromo... Eu estou cheio de tudo, Saiken. Você acha que é fácil ser o Mizukage? Ter a responsabilidade da vila inteira sobre os seus ombros? Eu perdi boa parte da minha infância vivendo isolado em centros de treinamentos tentando ser o melhor ninja que eu podia ser, o melhor ninja que eu até nunca poderia ser, vivi destinado a assumir um cargo que me foi imposto desde o meu nascimento. Você acha que é fácil ser filho de um dos conselheiros do País da Água? É uma pressão constante, ter que viver sendo o melhor de todos, apresentar as melhores notas, os melhores resultados. Não é fácil. Como você acha que eu me senti quando o senhor Kagura morreu? Eu praticamente tive que pegar a vila em um caos danado da guerra e fazer funcionar do jeito que dava. É estressante, é desgastante, isso me sufoca. Eu sempre tento o meu melhor para ajudar as pessoas porque esse é meu jeito, eu tento cuidar de todo mundo, mas quem cuida de mim?

O silêncio sucedeu as palavras de Senko. O Mizukage já estava quase a chorar, ele com certeza tinha muita coisa entalada no peito que precisava ser dita.

— Desculpa...

— Não precisa se desculpar, eu... eu que preciso me desculpar. Eu não quis falar com você por todo esse tempo porque eu não tinha forças pra socializar contigo, não queria expor minhas fraquezas pro meu amigo.

— Você não precisava ter escondido isso de mim. Suas fraquezas também são as minhas fraquezas. Senko, você precisa confiar em mim pra tudo.

— Eu sei, é que... às vezes é difícil ser honesto comigo mesmo, é difícil admitir que às vezes eu não consigo fazer tudo sozinho.

Com a verdade dita, Saiken tomou a iniciativa de oficializar as pazes.

— Estamos de bem agora, certo?

— Sim... acho que sim.

— Então levanta, quero testar uma coisa.

Senko se levantou e ficou às ordens do seu inquilino.

— Vamos melhorar o manto de chakra agora. Sinto que tínhamos qualquer bloqueio naquela época e hoje, finalmente, não temos mais bloqueio. A partir de hoje quero que sejamos um; uma unidade, um pensamento, um propósito. Confiaremos um no outro e vamos mudar o mundo, Senko. Juntos?

— Juntos! — Senko bateu as palmas das mãos e absorveu a maior quantidade de chakra de Saiken que alguma vez na vida já reuniu. O manto de chakra foi se formando, emanando do selo que unia aquela relação fraterna e se espalhando por todo o corpo do rapaz. A energia no tom azure-branco tomou conta de Senko, tendo uma aparência ligeiramente diferente. A aliança entre eles fora refeita.

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Depois de um processo de reflexão muito profundo e um planejamento grande por parte de Senko e de seu assistente Goro, o Mizukage convocou uma reunião a ser realizada na sexta-feira daquela semana de primavera. Na carta, dirigida a todos os ninjas de maior escalão da vila e aos representantes dos clãs presentes em Kirigakure no Sato, o líder da Névoa convidou-os para o que seria a mais importante reunião dos últimos dez anos.

Com o comunicado dado, Senko passou a semana inteira a se preparar para a reunião. Ele tinha um discurso em mente que queria apresentar aos ninjas e, imaginando a quantidade de pessoas que estariam lá e calculando a expectativa dos presentes, o Uchiha sabia que causar uma boa impressão por meio da sua oratória seria algo extremamente importante para os planos que tinha. Felizmente, Goro esteve sempre ao seu lado, ouvindo todos os dias o mesmo texto ensaiado que ele tinha preparado e fazendo as correções quando necessário, dando dicas de como melhorar a mensagem.


É importante falar sobre Goro. Quando Senko assumiu o cargo de Mizukage após a morte de Kagura Karatachi, o sétimo Mizukage, o conselho do País da Água delegou a função de assistente à Goro Yamanaka. Ele é um senhor nos seus 52 anos, alto e corpulento, cabelos loiros grisalhos e olhos azuis. Está vestido sempre com um sobretudo preto e um boné do Departamento de Inteligência de Kirigakure. Por Senko ter assumido o cargo com apenas 11 anos de idade, Goro teve basicamente uma função de sensei para Senko. Ensinou-lhe tudo sobre política, costumes nobres, processos administrativos e burocráticos, liderança, cadeia militar e gerenciamento das infraestruturas da vila como um todo. Por um bom período de tempo, era de se assumir que Goro administrava Kirigakure muito mais do que Senko, sendo o Uchiha apenas um “aprendiz” de Mizukage. Sendo assim, Senko tem muito respeito pelo assistente, tratando-o da melhor forma possível e sempre pedindo os seus conselhos quando precisa de alguma coisa.

Muito anos antes da guerra, quando Goro soube que Kagura não tinha a intenção de ter filhos e nem preparou um aluno para assumir o posto de Mizukage, os conselheiros do País da Água já colocavam a família de Toshio Uchiha, pai de Senko e Ichiro, na linha de sucessão ao cargo de Mizukage. Ichiro, o irmão mais velho de Senko, desde pequeno não despertou interesse, levando Senko a ser o indicado por seu pai. Por anos, Senko treinou em academias diferenciadas em Kirigakure, sendo privado de ter um ensino regular com os outros estudantes da academia. Foi destinado à elite, fazendo a sua formação com os melhores Jōnins da vila ocultada névoa, passando por provas incrivelmente difíceis para a sua idade. Aos 6 anos de idade, já era considerado um Genin; aos oito anos, Chūnin e, no mesmo ano, Tokubetsu Jōnin; aos dez anos de idade, Senko tornou-se um Jōnin. Veja o peso dessas graduações... em pouquíssimo tempo, o Uchiha foi transformado em uma máquina de guerra às pressas apenas para ser colocado em um cargo político no futuro. O que o conselho do País da Água não esperava era que o “futuro” viria mais cedo do que o esperado. Ninguém esperava pela morte de Kagura. Por mais que já era certo que não tinha um sucessor, a expectativa era de ficar pelo menos mais 7 ou 10 anos no cargo. Quando Senko completou 11, na última Grande Guerra Ninja, Kagura morreu.

— Todos os convidados já estão presentes, Senko. Você está pronto? — perguntou Goro.

— Não sei, acho que nunca estou pronto heheh. Isso é tão enervante quanto a minha cerimônia de posse, mas vai dar tudo certo, eu espero...

— Ok, vai dar certo sim, pode confiar. Nos treinamentos você se deu bem. Lembre-se, encontre três pontos de foco e alterne entre eles, fale com confiança e... boa sorte.

Um apresentador já falava o nome do Mizukage, então Senko se preparou para entrar na reunião. Quando subiu ao palco, foi recebido com palmas calorosas e palavras de apoio. Manteve a postura, o sorriso e todas as palavras na cabeça. Apenas esperou que o anfiteatro se acalma-se e enfim começou o seu discurso.

— Ninjas de Kirigakure no Sato! É uma honra recebe-los nessa respeitosa reunião. Como comuniquei através da carta que receberam, esta é uma das mais importantes reuniões dos últimos dez anos, então desde já valorizo a presença de todos. Ontem, completei dez anos de mandato como Mizukage. Nesses dez anos, vi muita coisa mudar em nossa vila e muita coisa mudar no mundo ninja como um todo. Dentre as coisas boas, vi o grande crescimento econômico que tivemos, alcançando valores recorde nas reservas da vila. Além disso, o nível de nossos ninjas já é referência para outros Países, sendo assim, aqueles que contratam os nossos serviços militares acabam remunerando melhor os nossos ninjas, uma vez que sabem da qualidade do nosso trabalho.

— Contudo, não podemos nos deixar enganar pelos bons anos que tivemos desde então. No dia que pararmos de inovar e melhorar, será o dia em que Kirigakure estará fadada ao fracasso. Com esse receio em mente, apresento-vos hoje o plano militar da vila! A volta dos Sete Espadachins da Névoa! — ao ouvir aquilo, a plateia urrou em alegria pela volta do esquadrão mundialmente respeitado. — Já temos os primeiros indicados ao cargo. Entre eles, o nobre herói Jyu!

Senko continuou a falar sobre os avanços no âmbito militar que tinham planejado para a vila. Conversou e tirou várias dúvidas durante o processo. Porém, já era a hora de apresentar o outro projeto que tinha preparado para aquela noite.

— Além dos projetos militares, também temos a pretensão de colonizar novas terras! Com a recente colonização de Tsukigakure, agora o alvo da vez é Yukigakure, terra que em breve será nossa! — As palavras de Senko soavam como uma bela música de festa para aqueles ninjas e líderes de clãs. Ao fundo da paisagem, Goro sorria ao ver o seu menino fazer sucesso na reunião.

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