O céu estava azul-ciano.
Fitando o infinito acima de si, Luma destacava com o olhar os inúmeros pontinhos brilhantes que formavam a vastidão sem-fim do manto estrelado. No vilarejo onde a jovem nascera era contada uma história sobre uma Princesa Tecelã chamada Orihime que se apaixonou por um Príncipe Pastor chamado Hikoboshi. A versão resumida narra que eles ficaram tão absortos em seu amor que se esqueceram de suas obrigações, e por isso Tenkou, o Rei Celestial, os separou, pondo cada um em lados opostos do Amanogawa, a Via Láctea.

A história era contada para ensinar a crianças a sempre cumprirem suas tarefas diárias, pois se as negligenciassem poderiam ser separadas daqueles que amam. Até onde a mente de Luma a permitia se recordar, ela nunca deixou de recolher os gravetos para a fogueira ou colocar os baldes para juntar a água da chuva. Nunca havia desagradado o Rei Celestial, mas, mesmo assim, foi separada de seus país.

Talvez essas histórias fossem apenas histórias, afinal. Procurar os conceitos de “certo” e “errado”, “justo” e “injusto”, talvez fosse apenas uma mera necessidade da mente em justificar os próprios comportamentos. Se mesmo fazendo o certo as pessoas ainda são punidas, então não existe sentido nas ações humanas. Por mais colorido que o mundo tente se passar, no fim tudo é monocromático.

E por isso Luma apenas existe. Existe por existir, porque está viva. Se suas ações não ressoam em seu destino, então não há razão para se ter desejos. E, por tabela, sonhos e convicções se tornam meros caprichos. E uma vez que não se possua vontade própria, lhe resta apenas viver em prol de alguém ou alguma coisa, e assim continuar existindo.

Sua mestre a ensinou que deveria obedecer às ordens de todos os superiores da vila, ao contrário de apenas as dela, como originalmente Luma fazia. Agora que era uma genin, estava efetivamente incluída na força militar de Konoha, e assim sendo precisava respeitar a hierarquia e as leis shinobi. E foi por isso que, ao receber o pergaminho ordenando que fosse ao Campo de Treinamento, ela sequer questionou o fato de ainda ser início de madrugada – ou seja, pouco mais da meia-noite – e apenas reuniu suas coisas e partiu naquela direção.        

Enquanto caminhava por entre as árvores, trazia o pergaminho enrolado na mão direita. “O mundo é destro”, lembrava de sua mestre a contando. “E seus adversários terão a ilusão de você ser destra também. Use isso ao seu favor, pois cada pequena vantagem pode ser decisiva”. Manusear itens sem propriedades bélicas com a mão direita trazia a falsa sensação de que ela estava, no primeiro momento, impossibilitada de atacar ou se defender de maneira efetiva.

Era um truque simples, até mesmo bobo, porém que já havia se provado efetivo na Academia. Por ela ser na verdade canhota, tinha a vantagem não só do engodo, como também durante os duelos. Normalmente se espera receber um golpe bem trabalhado pela direita, mas raramente pela esquerda. Fora que a maioria das técnicas de luta são voltadas para destros. Se seu adversário for inexperiente ou autoconfiante demais, ela já poderia encerrar o embate nos primeiros instantes.

No fim, ela não fora atacada durante o trajeto. Ao chegar no local indicado encontrou um sujeito que, pelo uniforme, deveria estar no mínimo na patente de chuunin. Seu tom de voz sugeria impaciência, e a escolha de palavras contraditórias evidenciava uma tentativa de intimidá-la, talvez. Afinal, Luma não tinha a intenção de se tornar uma genin, ela já era uma genin.

Então mesmo tendo passado no teste da Academia, precisava da aprovação daquele homem. “Tudo bem”, ela pensou, indiferente. Não sabia quem era ele, e nem o porquê de achar que ela precisava novamente se provar, mas isso também não importava. Se era uma ordem, precisava cumprir.

Sem emitir uma palavra, moveu as mãos para as costas, onde, por debaixo da capa branca, mantinha sua bolsa de itens. Seus olhos rosa-lilás fitavam atentamente o homem à sua frente, sensíveis a qualquer movimento. Era óbvia a necessidade de atacá-lo, embora a jovem preferisse não fazer isso em campo aberto. Ele tinha, pelo menos, quarenta centímetros a mais do que ela, e em um embate físico teria uma vantagem esmagadora. Respirou fundo, puxando o ar para os pulmões, então atacou.

Seu primeiro movimento foi, com a mão esquerda, lançar uma senbon em direção ao lado correspondente de seu rosto. Assim, se ele tivesse uma agilidade padrão, seria mais provável que optasse se esquivar para a direita, onde escaparia mais fácil da agulha. O movimento serviria tanto para induzir o outro a se mover para uma direção vantajosa a ela quanto para testar a sua velocidade.

Simultaneamente Luma iria se aproveitar que os olhos do homem estariam adaptados para os níveis baixos de iluminação da madrugada e lançaria uma Hikaridama para explodir entre eles. Com as pupilas dilatadas a luz repentina teria praticamente o dobro da efetividade, permitindo que a jovem execute os selos do Bunshin no Jutsu. O clone, então, iria avançar de forma a tentar chegar nas costas do sujeito pelo lado contrário de que ele se esquivou, enquanto a Luma original ficaria imóvel.

Um simples Bunshin possui a deficiência de não poder atacar, fato este conhecido por todos os shinobis. Sendo assim, o mais comum nessa situação seria esperar que o clone teria ficado para trás, servindo de chamariz, enquanto a genin avançava para o ataque buscando o ponto cego de seu adversário. Sendo assim, acreditava que o chunnin, que ela esperava estar desorientado pela bomba de luz, se deixasse confundir por esse engodo e atacasse seu clone, e então ela usaria essa janela de vantagem e lançaria mais duas senbon mirando nas pernas do adversário. Afinal, se conseguisse debilitar seus movimentos, a vantagem seria toda sua.

Informações: