"Foi como um piscar de olhos. Em um instante eu estava em frente à besta, encurralando-a e no outro... paz. Nem dor, nem pranto, tudo que eu sentia era plena paz."


— O que... onde estou? — Com os sentidos desnorteados e as vistas tão embaçadas quanto quem acabara de acordar, o jovem Chinoike inspirava mais uma vez o ar daquele mundo. Conforme seu raciocínio ia pondo-se em ordem, Akihito aos poucos recobrava os últimos eventos de que tinha lembrança, eventos anteriores e posteriores à sua morte. O garoto lembrava-se de estar lutando contra a Besta de Três Caudas e acabar sendo pego em cheio por seu ataque massivo, o que o fez conhecer o pós-vida. Lá ele pôde rever muitos ente-queridos, muitas pessoas que ele havia perdido durante sua caminhada, pessoas que ele não foi capaz de proteger...

As lembranças ainda estavam frescas em sua mente, o Chinoike conseguia recobrar nitidamente de toda sua conversa com sua mãe e seu pai, afinal, do seu ponto de vista isto ocorrera há menos de um minuto. Após pegar na mão de seus pais e os seguir, tudo ficou escuro, vazio e silencioso, não havia mais lembrança ou conhecimento algum. Mas de repente, como se aquele vazio não durasse mais que átimos de segundos, Akihito ouviu uma voz o chamar, como se alguém o convocasse. Ao abrir seus olhos, já não estava mais onde lembrava — na verdade, sequer sabia onde estava. Ao seu redor viu vários rostos conhecidos e outros nem tanto, o que fez tornar à memória do Chinoike todos aqueles que tiveram o mesmo destino que ele. Naquela batalha Akihito perdeu familiares, amigos, companheiros, seu lar e sua existência.

Olhando para o outro lado, surpreendeu-se ao ver que a Raikage, Hinka, também fora revivida, e ao lado dela estavam... — Shaka e Takura! — exclamou o jovem, pondo-se imediatamente em pose de batalha. O que aqueles criminosos estavam fazendo ali? Aqueles malditos foram os responsáveis pela maior tragédia dos últimos tempos. Viu que no meio deles estava também Hattori Shion, o que fez se questionar. — Será que aquele é o verdadeiro? — Movendo mais seus olhos, percebeu que quem também conversava com eles era Kobayashi Indra, da Folha. Vê-lo deixou o garoto ainda mais confuso do que antes, fazendo-o baixar sua guarda e sua pose de batalha. Só então Akihito notou que o ambiente não parecia hostil, ninguém ali parecia hostil — exceto Takura, essa estava tão insana quanto sempre — e todos partilhavam da mesma confusão que o Chinoike.

Após ouvir um trecho da conversa entre Shion e os demais, Akihito pôde ter certeza de que aquela não se tratava de uma situação de batalha; mas essa talvez fosse sua única certeza. O garoto então seguiu os demais ressuscitados para o andar superior, onde as devidas explicações foram dadas.


[...]

— Então quer dizer que a Aliança venceu, Hattori Shion foi resgatado, Shaka não é mais um criminoso e nós fomos ressuscitados para enfrentar uma ameaça ainda maior que as do Cerco à Sunagakure?! Isso parece até fantasia... — Disse Akihito a um shinobi qualquer, já no acampamento próximo à Konoha. A oportunidade recebida pelo Chinoike de poder retornar à vida — mesmo que temporariamente — seria de invejar a qualquer um, porém Akihito não sentia anseio algum em se apegar mais uma vez àquele mundo. O garoto estava certo de que sua jornada havia chegado ao fim, então porque retornar? — Não, ainda não acabou... — sussurrou para si mesmo. Como dizer que a jornada havia se encerrado se no fundo ele ainda possuía diversos ressentimentos e arrependimentos? Por trás daquele rosto que normalmente variava entre feliz e neutro, havia imensa tristeza e frustração. Akihito havia recebido mais do que apenas a oportunidade de respirar novamente o ar daquele mundo, o garoto havia recebido a oportunidade de corrigir seus erros do passado, honrar o legado daqueles que morreram antes dele, se livrar dos seus arrependimentos e pôr um verdadeiro ponto final em sua história!

Enquanto passeava em seus pensamentos, um outro shinobi chamou Akihito, dizendo que Hattori Shion o convocava em sua tenda. O Chinoike foi. Chegando lá, viu que alguns dos rostos famosos do Cerco à Sunagakure estavam reunidos, pessoas que antes lutaram de lados opostos agora se uniam por uma causa comum. — Chinoike Akihito se apresentando, senhor!

Considerações:

Aparência:

Assim que entrei na tenda, fui cumprimentado diretamente por Hattori Shion, que começou sua fala realizando um agradecimento. Ao ouvir aquilo, fiquei incrédulo. Hattori Shion em pessoa me agradecendo e ainda por cima me dando o crédito por tantos feitos? Eu realmente era merecedor de tudo aquilo? Do meu ponto de vista, eu não tinha passado de um peso morto durante os eventos em Suna, mas as palavras do Hattori me fizeram enxergar a situação de outra maneira. Talvez aquelas palavras significassem o início da remissão dos meus erros.

Depois dos cumprimentos, Shion me mostrou imagens do que parecia ser Iwagakure. Segundo haviam nos informado previamente, aquela vila e seus moradores haviam sido tomados por Lilith, então ver que ainda tinham aqueles que resistiam aos seus encantos fazia despertar em mim uma fagulha de esperança para com aquele povo. Shion me pediu para que lutasse mais uma vez pelos outros, para que fizesse o possível para resgatar aqueles últimos focos de esperança. Quando o Hattori me passou o panorama da missão e pôs um envelope sobre a mesa, o interrompi, respondendo antes mesmo que finalizasse seu discurso. — Aceito!

Diferente de tempos atrás, não havia hesitação em minha voz. Talvez eu ainda tivesse dúvidas sobre minhas próprias capacidades, talvez eu tivesse questões acerca de mim mesmo, mas algo do qual não duvidava era da minha determinação e do meu propósito.
— Hattori Shion-sama, durante toda a minha curta vida eu lutei com um ideal, algo que me foi passado como um legado, uma herança: lutar pelos próximos! Embora ciente de minhas limitações, em momento algum recuei perante o medo de morrer em batalha, não porque não tinha medo da morte, mas porque sabia que estava dando minha vida por algo maior, e isso bastava para mim. Este é quem sou, mas só agora, depois de morto, consigo perceber e aceitar isto. Aqueles que não são capazes de aceitar quem realmente são, estão destinados a falhar, assim como eu falhei no passado... — Estas palavras eram para mim duras de serem ouvidas, então o fato de ser eu quem as declarava significava mais um passo em meu objetivo. — Não importa que tipo de humano somos, é somente na hora da morte que descobrimos nossa verdadeira natureza, a verdadeira razão de nossa existência. Eu lutei até a morte para defender o que acreditava, então não será agora, depois de morto, que irei retroceder! — Todo o discurso havia sido feito com bastante convicção, mas as palavras seguntes pesaram um pouco em meu semblante. — Afinal, eu ainda tenho muitas dívidas com este mundo e comigo mesmo...

Dito isto, assim que obtivesse a última confirmação por parte de Shion, sairia dali e iria rumo a minha missão.

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Aparência:

Talvez junto da morte viesse também algum tipo de sabedoria sobrenatural, pois Akihito proclamava discursos e reflexões que sequer sabia ser capaz de realizar e que não pareciam caber em alguém tão jovem, no entanto, o discurso de Shion o fez perceber que ainda não passava de um garoto com os olhos fechados para muitas realidades. Mesmo sendo extremamente empático com os sentimentos alheios, o Chinoike parecia não conseguir reconhecer seu próprio progresso. Hattori Shion, porém, conseguiu lhe abrir os olhos e esclarecer a mente ao compartilhar com o jovem aquilo que havia aprendido em sua longa vida. — Perspectiva... e fé? — Se ao menos Akihito tivesse conquistado isso antes de sua morte... Mas como dito pelo Hattori, o jovem havia ganhado algo que muitos desejariam: a liberdade de escolher. E o Chinoike escolheu que ainda não era tarde demais! Assim como não era tarde para ele, não seria para aquelas pessoas de Iwa!

Quando eu já estava quase de saída, Shion me chamou novamente e falou um nome que ainda estava fresco em minha memória. — Tatsumaru?! — Procurei o Senju por todo o acampamento, até que o encontrei se esgueirando por trás de um grupo de ninjas qualquer, aparentemente ouvindo a conversa deles. — Tatsumaru-kun?! Então quer dizer que você também morreu em Suna? Que triste... eu acho. — Depois de tê⁻lo encontrado, tratei de deixar o Senju inteirado sobre a missão que Hattori Shion nos havia designado. — Devemos ir para Iwa imediatamente, acho que você verá mais uma vez sua terra natal! — Dito isto, partimos. — Imagina só se aquele maluco de Kumo nos visse agora...

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