Com a queda de Azshara o Hattori desapareceu por uma semana, ninguém viu o seu paradeiro, não fazia ideia para onde ele foi, Katsura e Opus acreditavam que ele só foi se reencontrar, outros acreditavam que de alguma forma ele estava de luto pela “mãe” morta, não sabemos.

Tempos depois ele retornou para casa de Katsura, ele estava diferente, calado, e sempre ficava em seu quarto, quase não comia ou saia, o silencio era a única coisa que ele precisava naquele momento, Katsura respeitou isso um tempo, deu ele o espaço que ele precisava, mas ficou preocupada, sabia que precisava conversar com ele, entender o que se passava na cabeça de Shion, ele foi usado e manipulado por muito tempo pela mãe dela, ele precisava de um porto seguro agora, ou pelos menos de algo para manter a cabeça ocupada.

Opus fez uma proposta para ele, o convidou para entrar para as forças militares, Shion seria um guardião, uma espécie de polícia, Opus já era capitão, tinha grande nome lá dentro, mesmo pra sua idade de 17 anos. Shion começaria com trabalhos simples, pequenos furtos, problemas domésticos, nada muito elevado, mas a inteligência dele e suas habilidades o fez se destacar rápido e colocaram ele para resolver casos mais sérios. O problema de colocar alguém como Shion para resolver certos problemas era o ensinamento e a visão de mundo dele, os Guardiões têm leis, tem regras e todo mundo deve ser julgado perante a lei, no entanto, Shion deparou com alguns casos complicados, casos esses que o fez ser julgado pelos seus superiores, e é aqui que nós contamos essa passagem da vida dele.

Em uma sala de interrogatório, estava Shion, Opus e um superior de ambos, alguns dos suspeitos dos casos que Shion investigava havia desaparecido e isso exigia perguntas, exigia respostas, Opus já desconfiava o que aconteceu, mas ele queria saber pelas palavras de Shion.
A conversava elevava o nível com Opus se irritando. – O que está fazendo Shion? Você é um guardião, deveria estar ajudando as pessoas. – Shion fechava os olhos reabria olhando para ele. – E estou. - - De máscara? Sabe como chamam isso? JUSTICEIROS! Alguém que age fora da lei, o tipo de cara que eu sou contratado para achar e prender. -

Opus colocava um baú sobre a mesa, e ao abrir roupas antigas de Shion, era uma grande sobretudo negra, junto com um gorro para a cabeça e uma máscara que escondia seu rosto, pequenas faixas e sandálias orientas. – Onde conseguiu toda essa porcaria? - - Mercado. - - Eu pensei que os fantasiados costurassem sozinhos. - - Eu nunca aprendi a costurar. – Opus abria os braços debochando. – Mas aprendeu a lutar. Aquelas imagens sua no beco após os atendados, a forma que você fugia... Seu pai era um samurai, ele não te ensinou nada isso né? - -  Ele não queria que eu lutasse, sabe disso. - - Então como ficou tão bom? - - Daelin Grey... Azshara, eles fizeram coisas comigo. – Opus sorria debochando. – Ham... tá de sacanagem... - - Eles me acharam após você sabe o que, ela me adotou. - - Um Rei... te ensinou as práticas ancestrais dos Greys? Essa não é trama daqueles filmes? - - Eu sei o que parece... - - Eu acho que não sabe não. - -  Ele fez mais que iniciar meu treinamento, ensinou que meus olhos não eram uma deficiência. Que eu deveria sentir orgulho dos meus olhos. Ele me ajudou a entender tudo que eu podia fazer. - - Defina tudo... - - É difícil explicar... minhas habilidades, eu apenas sei coisas, tá? - - Não, nada ok, pode ler a minha mente? Pode prever o futuro? Que tipo de coisa que você sabe? – Shion então demonstrou suas habilidades para Opus. – Sei que não toma banho desde ontem de manhã, mas que lavou o rosto na pia do banheiro antes de vim pra cá, sei que comeu cebola no almoço há dois dias, sei que está com fome e cansado, e sei que quanto mais eu falo mais seu coração acelera. – Opus se levantou um pouco confuso e também irritado. – Pode ouvir um batimento? O outro lado da sala?  - - Ajuda antecipar a conduta, quando alguém vai atacar... quando mentem... - - Assim que soube que aquela mulher falava a verdade, quando a conhecemos na delegacia. - - Foi isso. - - Ouviu os batimentos dela sem sua permissão? Somos Guardiões, não pode fazer isso, existe um sistema a seguir, isso é estranho e invasivo. – Opus parou um momento e olhou para Shion. – Pera aí... ta me dizendo que desde que nos conhecemos e eu estava mentindo você sabia. – Shion abaixou a cabeça um pouco. – E aí? Continuou fingindo? – Shion balançou a cabeça. – Basicamente... é. – Opus se aproximou dele irritado botando o dedo na cara dele. – Se você não tivesse tão ferido eu te meteria porrada. EU TO MENTINDO AGORA? – Shion olhou nos olhos dele e o respondeu. – Não. - - Existiu verdade entre a gente? -

 
A conversa mudou e agora eles falavam sobre o que é certo e o que é justo, Opus novamente de pé e ainda mais irritado. – VOCÊ SAI POR AI VESTIDO FEITO UM IDIOTA E ESPANCANDO PESSOAS. - - NÃO É TÃO SIMPLES, VOCÊ SABE. - - NÃO SEI MERDA NENHUMA! – Opus olhou para seu superior. – Desculpe o linguajar. – Ele so sorriu e balançou a cabeça para continuarem. – NÃO SOBRE ISSO, ENTÃO VOCÊ GANHOU ESSE SEI LA COMO CHAMA, quando era criança? Como passou para aquilo para o que faz hoje? - - Quando eu era criança, antes do acidente, eu ficava acordado a noite ouvindo as sirenes, eu inventava histórias para elas, tentava saber o que era, ambulância ou polícia, roubo ou incêndio, sei lá uma brincadeira boba. Mas depois do sangue, minhas habilidades se desenvolveram eu sabia quantas sirenes realmente eram, quanto essas pessoas sofriam todas as noites. - - Anda por aí fazendo isso desde criança? - - Não, eu tentei não lutar, queria deixar meus pais orgulhos e bloquear tudo, mas eles me forçaram. Depois do que rolou na praia, eu resolvi que iria fazer a coisa certa, mas aí ne uma noite logo depois que batemos ponto aqui, eu ouvi... - - Ouviu o que? - - Uma garotinha... chorando na cama em um prédio no outro quarteirão. O Pai gostava de ir ao quarto dela tarde da noite, enquanto a esposa dormia. – Opus e o superior fecharam os olhos, o superior deixou escapulir um lamento. – Jesus... - - Eu liguei pro conselho tutelar como a justiça manda, mas a mãe não acreditou, disse que não era verdade, e o pai era esperto, se certificava de o que ele fazia e como fazia não deixasse marca. – Shion olhou firme para Opus. – A justiça não podia fazer nada para ajudar a garotinha, mas eu podia. – Os dois olharam pra ele.  -  Eu conhecia a rotina dele, esperei ele ficar sozinho, e “conversei” com ele. – Shion sorriu para os dois. – Ele passou um mês no hospital se alimentando por um canudo, e eu nunca dormir tão bem. - - Você diz tudo isso como... se um dia tivesse e enchido da realidade, mas pra fazer o que você faz, você teve que continuar trabalhando pra ela todos esses anos, sabendo que ia fazer algo desse tipo, não talvez não esteja fazendo justiça Shion, talvez esteja só usando uma desculpa pra bater em alguém. Talvez você não consiga parar. - -  Eu não quero parar... –

A conversava mudava novamente com Opus mais uma vez questionando. – E quanto ao resto de nós? Katsura? Seu filho? Vamos parte disso agora, por sua causa, e nem tivemos escolha. – Shion sorriu pra ele. –  O que acha que vai acontecer se eu desistir agora Opus? Quem vai parar aqueles maníacos? - - Eu não sei, a lei? - - Diga isso a Helena... Se pudesse botar uma mascará e impedir o que aconteceu com ela, está me dizendo que não faria? - - Isso não é justo Shion. - - Não vivemos em um mundo justo, vivemos nesse mundo, eu estou fazendo o possível para torná-lo um lugar melhor. - - Um lugar melhor? Parece que o que Azshara vivia dizendo. - -  Não diga isso, não distorça as coisas. - - Você matou aquele cara Shion, como isso é diferente da maneira como ele resolve os problemas? - -  E como você faz Opus? Tudo que você fez nas ruas Opus não deu certo, deu? - - Há? E o que você ta fazendo é melhor? - - O que eu faço eu faço por questão de necessidade. - - Qual é... eu não faço isso para ferir as pessoas. - - E seria o que então ossos do ofício? - - Cara, eu não mato ninguém. - - Por isso se acha melhor do que eu? - - Não... - - Por isso se acha o grande herói. - - Não importa o que eu acho ou o que eu sou as pessoas não tem que morrer. - -  Acredita mesmo nisso? - - Eu acredito que não seja a minha escolha e não a sua também. - - Sabe o que eu acho de você Opus? Eu acho que é ineficaz, eu acho que é um cara que não consegue terminar o trabalho, eu te acho um covarde. Sabe o que você não enxerga? Que você está a uma decepção de ser igualzinho a mim. Eu não sou bandido Opus - - Que isso explicar isso para os órfãs e viúvas dos homens que matou. - - Cassete, é isso que você acha? Que eu não passo de um louco que saio por aí matando quem eu cismo? - - É exatamente o que eu acho. - - Eu acho quem que mato merecer morrer é isso que eu acho. - - Você deixou homens pendurados em ganchos. - - Na minha opinião aquilo foi pouco. - - E quanto a você Shion, e o que vai acontecer quando alguém decidir que você merece? - - Pois fique sabendo que é melhor eles não errarem. - - Você anda por aí como se a cidade fosse um matadouro. – Shion se irritou levantando sua voz. – E VOCÊ FAZ O QUE? VOCÊ AGE COMO SE FOSSE UM PLAYGROUND, ESPANCA OS VALENTÕES COM AS PRÓPRIAS MÃOS, JOGA ELES NA CADEIA E TODO MUNDO TE CHAMA DE HERÓI, AI UM MÊS, UMA SEMANA UM DIA DEPOIS ELES ESTÃO DE VOLTA NAS RUAS FAZENDA A MESMA COISA. - - Aí você simplesmente manda eles para o necrotério? - - Pode apostar que mando. - - Você alguma vez já se questionou, Shion? - - Nem por um segundo. - - Jura? Você nunca pensou por um segundo, “Porra, eu matei um ser humano.” - - Ta sendo muito generoso. - - Um ser humano que fez muitas coisas idiotas e talvez até perversas, mas que tinha um pequeno traço de bondade, talvez só um pouquinho, mas tinha, aí você aparece e aquela pequena centelha é apagada pra sempre. - - Eu acho que você ta errado. - - em qual parte? - - Eu tudo. Eu acho que não tem nada de bom na escoria que eu elimino. - - E como você sabe? - - Eu sei, olhe em volta Opus, essa cidade fede, é um esgoto, ela fede a merda e esse fedor ta impregnado no meu nariz. Eu acho que esse mundo precisa de homens disposto a tomar decisões difíceis. - - NÃO ISSO É UM MONTE DE BESTEIRA E VOCÊ SABE DISSO. - - Eu só faço aquilo que você não consegue fazer, você bate e eles se levantam, EU BATO E ELES FICAM NO CHÃO, pra sempre, eu garanto que eles não retornam as ruas e eu me orgulho disso. - - Me responde uma coisa. - - O que? - - E quanto a esperança? - - Não fode, você acredita em papai Noel?  - - Eu também vivo no mundo real e eu já vi. - - E o que você já viu? - - - Salvação, ela é real, as pessoas que você mata merece outra chance. - - De que? Matar de novo? Estuprar de novo? - - Não Shion, de tentar. –

Os dois se acalmaram e Shion queria contar algo para Opus. – Sabe Opus me deixa te contar duas histórias interessante, eu fui chamado pra resolver uma briga de casais uma vez, era o que eu sempre fazia quando você me colocou lá, mas Houve um cara... um miserável folgado, eu nunca vou esquecer. Era um cara grande, forte, mas a esposa dele ou sei lá o que era a mulher era bem pequena, como um pássaro, os punhos era dois gravetos. Enfim, eu era chamado lá todo fim de semana, um de nós puxava ela de lado e dizia, qual é? Essa noite você vai prestarr queixa, sabe como é né a lei... E não era aquele caso que lá no fundo ele me ama, não assim, recebíamos muito daqueles, a garota estava assustada, ela não iria irritá-lo de jeito nenhum, não fazíamos nada além de levar ela no hospital, levar ele pro centro e jogá-lo ne uma cela, ele dormia ali e na manhã seguinte ele saia, de volta pra casa. Mas uma noite... a ligação chegou e era a mesma merda... ela tinha quebrado o nariz no banho, eu algemei ele e levei ele, e lá fomos nós, mas naquela noite... o desgraçado estava cantando, aquilo ali foi a gota d’água, levei ele para o meio do nada, mandei ele ajoelhar, coloquei minha katana na boca dele e disse, fim da linha é assim que acaba. Ele chorou muito, se borrou todinho na minha frente, jurou por Deus que a deixaria em paz, gritando o quando ele pode com a lamina na boca, eu mandei ele ficar quieto, eu precisava pensar no que ia fazer ali é claro que ficou quieto, bem quieto era quase um tumulo, como um cachorro esperando o resto do jantar, nos ficamos lá por um tempo, eu fingindo está pensando no caso e o príncipe encantado de joelho na terra todo borrado, depois de alguns minutos eu tirei a arma da boca dele e disse, Deus te ajuda se você tocar nela de novo, eu vou isso e aquilo e tal tal, e blablabla. – Opus então o interrompeu. – Era só um aviso? – Shion sorriu de lado. – É claro... eu queria fazer a coisa certa. – Shion parou um momento suspirando. – Duas semanas depois ela foi morta, é claro... Ele abriu a cabeça dela com um martelo, chegamos lá tinha tanto sangue que dava pra sentir o gosto. A moral da história é, eu escolhi um meio termo, mas deveria ter ido até o fim, nunca mais vou cometer aquele erro, chega de meio termo Opus. –

Shion então começou a contar uma outra história. –  Eu estava investindo um caso de sequestro, Clea, uma menina de 06 anos, eu era mais jovem, pegava leve com os criminosos, deixava eles vivos. Quebrei o braço de um cara pra conseguir uma dica que me levou a localização da menina, eu sabia que menina estava lá, mas quando eu vasculhei o lugar eu não vi nada, e aí eu achei ela. Eu vi na lareira uma calcinha entre o carvão, vi cachorros brigando com um pedaço de osso. Já estava escuro quando o assassino voltou, quando ele me viu ele entendeu... nunca mais ele tocou em alguém novamente, nunca mais ele tocou em mais ninguém. Você segue a lei Opus, eu escolho a coisa certa, somos dois lados da mesma moeda, no fim nem o meu método é o correto e nem o seu, não podem me prender ou culpar por isso, me demitam se quiser, mas eu não concordo em ver tanta merda, tanto lixo por aí e não fazer nada. –

Shion foi expulso meses depois dos Guardiões, não pelos casos extremos de violência, mas por outros motivos envolvendo seu passado com Azshara.