Era noite, cerca de nove horas, quando um barulho estranho e agudo pôde ser ouvido dentro dos aposentos de Katara enquanto ela dormia. A menina ouviu a zoada, porém preferiu ignorar o incômodo esperando que passasse. Alguns segundos depois e o barulho veio mais uma vez, dessa vez alto o suficiente para chamar sua atenção. Ainda um pouco tonta por causa do sono, seus olhos azuis iam lentamente focando no que parecia ser um pequeno pássaro laranja e preto. Mas o que? Resmungou após ter aberto a janela e ter sido bicada levemente pela ave nas mãos.

O gesto agressivo antecedeu uma surpresa: um pequeno pergaminho amarelado foi deixado ali, contendo um selo e qualidade de papel cuja origem Katara já desconfiava.

— Querida Katara, chegou a hora. Encontre-me no seu local favorito em dez minutos.

Venha bem agasalhada,
S.

O bilhete não continha uma identificação completa, mas Katara não precisava de mais nada, ela sabia muito bem quem tinha mandado aquela carta. Sem querer atrasar-se, ela colocou seus robes de frio azuis e amarrou a bandana de Kumo em seu braço direito. Saindo pela janela, tudo o que restou no quarto foi um vulto e a luz do luar.

Bastante ansiosa pelo próximo capítulo da sua jornada, Katara começou a acelerar o passo em direção ao local marcado. Como sempre, a beleza daquele lugar era única. O azul do corpo d’água era o espelho perfeito para refletir a beleza das estrelas e a luz da lua. A brisa fresca noturna ainda tornava tudo mais agradável, proporcionando uma sensação de paz e tranquilidade - algo que, ultimamente, está em falta na vida da nossa jovem Gennin. Desta vez, porém, alguma coisa estava diferente. A silhueta de uma mulher podia ser vista na beira do lago com um braço esticado para cima, a pessoa acenava em direção a Katara, mas ela já sabia quem a aguardava.

Enquanto chegava mais perto da sombra, o que já era conhecido foi revelado. Serena não usava seus trajes médicos dessa vez, mas sim um kimono branco com um símbolo no formato de um meteoro desenhado em preto na parte de trás. Seus longos cabelos loiros foram presos com um longo palito de madeira, deixando a face da moça mais à mostra. A expressão da kunoichi podia ser facilmente interpretada como a de quem estava contente.

— Fico feliz que você não demorou, Katara. A médica retirou um objeto de formato esférico do bolso. Ao levantar sua mão para K, a luz da lua deixou o item mais aparente. O que ela segurava assemelhava-se a um pequeno globo de vidro. A coloração do objeto era completamente negra, com exceção de um círculo vermelho que parecia servir de encaixe para alguma outra coisa. — Nós temos muito o que fazer hoje, mas antes preciso um favor seu.

Sem entender direito, Katara franziu suas sobrancelhas quando viu Serena levar a esfera aos seus lábios, como quem dava um beijo. Após tal ação, um ruído grave, porém silencioso, começou a ser emitido do objeto. A médica olhou para K com os olhos brilhando.

— Katara, preciso que você ative seu Sharingan e olhe diretamente para o círculo vermelho no centro dessa esfera. Eu sei que esse é um pedido estranho, mas se você quer descobrir a verdade sobre o que aconteceu com sua família é preciso que você confie em mim. Hoje é apenas o começo do que será uma longa e árdua jornada para que você entenda a magnitude dos seus poderes.

K estava claramente preocupada com o rumo que aquela aventura poderia tomar, mas seu medo já havia sido deixado para trás fazia muito tempo, hoje tudo o que nossa protagonista quer saber é a verdade sobre seu passado. — Tudo bem. Quase como se fosse uma habilidade natural, algo que ela sempre guardou consigo, Katara fechou seus olhos por alguns segundos. Ao reabri-los, os azuis oceano haviam dado lugar ao vermelho escarlate, uma cor magnífica que, inclusive, brilhava em meio as trevas.

Assim que os olhos escarlates de Katara encontraram o vermelho da esfera, um barulho de engrenagens disparou do aparelho. Pouco a pouco, diversos feixes de luz brancos eram disparados do corpo da esfera. Em poucos segundos, o estranho e misterioso objeto agora era uma bola de luz branca.

— Mas o que diabos acabou de acontecer? Exclamou Katara, ainda estatelada por nunca ter visto esse tipo de tecnologia antes. — Isso é uma chave de portal, minha cara. Apenas shinobis com poderes selecionados, como o seu Sharingan, podem abri-la. Cada chave é única no mundo, sendo responsável por abrir apenas uma única porta. K era inteligente, mas não tinha entendido muita coisa. — Portal? Nós vamos para outra dimensão? A expressão no rosto de Serena era alegre, a médica esbanjou um sorriso ao final da pergunta da Gennin. — Não, querida. Um portal é apenas uma maneira figurativa de falar sobre um esconderijo. Agora chega de perguntas, ainda temos muito o que fazer.

A bela Serena tocou com sua outra mão na esfera brilhante, que automaticamente retornou a sua coloração negra inicial. Dessa vez, porém, o vermelho ao centro do objeto estava brilhando em uma incandescência belíssima, era como se o Sharingan de Katara houvesse ativado o mecanismo da chave. Prepara-se. Avisou a médica. Com seu caminhar altamente sutil, Serena agachou-se na beira e molhou a esfera na água. Os próximos acontecimentos após essa ação explodiram na mente da jovem Gennin.

Lentamente a água do lado começou a borbulhar. Um agito de ondas e correntes espalhou-se por todo o corpo d’água, emitindo barulhos que lembravam uma tempestade no meio de um oceano, mas que ao mesmo tempo eram abafados o suficiente ao ponto de serem focados apenas naquela região. De repente, a água distendeu-se do centro e formou um paredão enorme de dois lados. — O que está acontecendo? Exclamou Katara, perplexa diante de toda a situação. — Não se preocupe, querida. Quando passarmos por aquela porta tudo vai ser esclarecido.

K ainda não havia visto, mas a alguns passos do paredão podia-se ver uma porta de metal cinzenta. Serena fez um gesto chamando a menina, e ela seguiu. Enquanto passavam pelas grandes paredes de água que haviam se formado, Katara conseguiu visualizar peixes e moluscos pequenos nadando tranquilamente, como se nada estivesse acontecendo. O cheiro agradável de água limpa também estava intensificado, o que acalmou os nervos de Katara momentaneamente. Chegando na frente da porta, K percebeu que o encaixe em seu centro tinha exatamente o mesmo formato da esfera.

Finalmente, Serena levou a mão com a esfera até a entrada redonda na porta e encaixou o objeto em seu lugar. Um grunhido agudo metálico podia ser ouvido enquanto os mecanismos da porta eram ativados. Depois de cerca de cinco segundos, a porta se abriu. Logo em seguida, a médica retirou a esfera do encaixe da porta. — Vamos. Katara foi na frente, com Serena logo atrás dela. Ao fechar da porta, K percebeu o brilho vermelho da esfera se apagar e um breve estrondo vindo do lado de fora, era o sinal de que o lago havia voltado ao normal. — Se ficou surpreendida com isso mal posso esperar para lhe mostrar o que ainda está por vir. Consigo ver um futuro brilhante para você, Uchiha Katara. Serena levou seu braço até a parede e acendeu o interruptor, fazendo com que diversas luzes revelasse a primeira ala do local. — Uau.

A expressão de surpresa de Katara foi genuína e merecida. Um gigantesco salão com decoração clássica era iluminado por lustres e candelabros de prata. Ao centro da sala, um pedestal com o que parecia ser mais um encaixe redondo destacava-se de todo o resto da decoração do ambiente. Por entre os enormes pilares que sustentavam o pé direito, diversas portas metálicas também faziam parte da composição, dando acesso ao que provavelmente eram outras salas semelhantes a esta. Nas paredes do grande cômodo, algumas pinturas de figuras desconhecidas por Katara decoravam o local, criando uma atmosfera de estar em constante observação.

— Mas o que é tudo isso?— Perguntou Katara, ainda de boca aberta com o que estava escondido debaixo do lago que ela vem frequentando desde que era pequena. Serena, que desde o momento em que abriu a porta não havia dito uma palavra, guardou a esfera dentro de seu kimono e virou-se para a Gennin. — Isto, minha cara, é uma instalação construída para pessoas como você. O semblante de dúvida ainda era visível no rosto de Katara. — Pessoas como eu? Você quer dizer portadores do Sharingan? Antes de responder, Serena dirigiu-se até um dos quadros e fez um gesto para chamar Katara, que sem demora seguiu a médica.

Serena apontou na direção do maior quadro dali. Uma mulher de cabelos negros e olhos verdes olhava para cima. Suas roupas não pareciam ser de qualquer uma das cinco grandes nações, mas assemelhava-se bastante ao mesmo kimono que Serena estava usando, exceto por alguns detalhes. — Diante de você está Talissa, a fundadora da nossa ordem. Talissa era uma jovem muito parecida com você. Ela também foi sequestrada quando criança para viver com uma família muito rica. Entretanto, diferente de você, o poder que Talissa possuía não provinha de um doujutsu, mas sim de uma Kekkei Genkai muito rara.

Por detrás da figura principal do quadro, em meio às sombras, era possível visualizar a silhueta de uma leva do que pareciam ser troncos e raízes de árvores. — Você provavelmente não conhece essa história, mas o clã Uchiha, o qual você agora sabe que faz parte, possui uma história muito profunda e sangrenta. Veja bem, não vou entrar em detalhes sobre esse assunto por enquanto, você não está preparada, mas o ápice do poder do Sharingan provém de formas sombrias e questionáveis, isso é tudo posso falar por ora. O foco de Serena havia se desviado brevemente do que ela estava querendo falar, mas a médica rapidamente retomou o fio da meada.

— Esse local costumava servir de refúgio para que pessoas como você, que foram extraviadas das suas verdadeiras vidas, soubessem a origem da sua história e conhecessem seu passado. A ordem hoje não existe mais, todos os seus integrantes foram capturados ou mortos, eu sou a única que restou. — A feição de Serena foi invadida pela tristeza, mas a loira conseguiu controlar suas emoções. — Não será hoje o dia em que todas as suas perguntas serão respondidas, Katara, mas tenha certeza de que você não sairá daqui de mãos vazias. Por falar nisso, acredito que chegou a hora de eu lhe apresentar alguém…

A expressão de sorriso costumeira voltou ao rosto da médica, que soltou o palito que prendia seus cabelos e virou-se na direção de uma das portas metálicas do salão. O barulho que seus suas sandálias faziam no chão ecoava por todo o salão, os mistérios finalmente estavam se revelando.

A medida em que Katara seguia Serena, ela pôde perceber que os quadros espalhados ao redor do salão possuíam uma coisa em comum: em todos eles, ao fundo, haviam silhuetas de raízes e plantas distorcidas. Ela não sabia o que aquilo significava ao certo, talvez era o poder especial que Serena havia mencionado? Ao chegarem em frente a porta metálica, K percebeu que dessa vez não foi necessária a introdução do orbe a nenhum encaixe para abrir o caminho. — É vital que façamos silêncio ao entrarmos aqui, entendeu? O olhar da médica era sério, qualquer que fosse o motivo para não fazer barulho ali seria respeitado pela Gennin sem pensar duas vezes. Então elas entraram.

Luzes vermelhas espalhadas por todo o salão se acenderam quando a porta fechou-se atrás das duas. O local era completamente diferente da sala anterior. Suas paredes e chão eram escuros como carvão  em e diversos lugares havia o que parecia ser lastros de cinzas. No pé de algumas das pilastras jaziam sacos e sacos de ovos alaranjados e gosmentos. Ao chegar perto de um deles, Katara percebeu que a criatura que estava sendo incubada ali fazia o ovo palpitar: estava vivo. — Antes que você comece com as perguntas, deixe-me apresentar o Viveiro.

A medida que falava, Serena se aproximava lentamente do lago. A mulher se agachou, tocou sua mão na água e recitou algumas palavras que não fizeram o menor sentido para os ouvidos de Katara. De repente, uma torrente de água rompeu dali, indo desde a base do lago até o teto do salão. No meio de toda a agitação K conseguia ver uma sombra se locomovendo entre a explosão como se estivesse nadando, até que a água se dispersou e o que estava oculto finalmente foi revelado.

O que aconteceu foi incrível. Uma enorme criatura de quatro patas e olhos negros emergiu da torrente, pousando bem na frente das duas Gennins. Katara ficou estatelada, a menina ativou seu Sharingan de imediato e assumiu sua posição de batalha, mas Serena pegou na sua mão e falou, em tom de repreensão. — Não lutaremos hoje, Katara. Pelo menos não da maneira que você está pensando. Vista esse manto de fogo. K não sabia se deveria confiar totalmente nas palavras da médica, mas até então S nunca tinha dado motivos para ela duvidar de sua palavra, então a menina baixou a guarda e propôs a ouvir o diálogo.

O manto de chamas não queimava ao contato da pele de Katara. Pelo contrário, o fogo era frio e reconfortante. Assim que pegou a manta e cobriu seu corpo com as chamas laranjas, uma sensação de euforia inexplicável invadiu o corpo da menina. Flashes de imagens iam e vinham em sua mente, mas as figuras não estabilizavam a ponto de serem compreensíveis. Agindo instintivamente, a Gennin aproximou-se do lago e mergulhou seu corpo inteiro dentro das águas. Curiosamente, a água dali era salgada. — Impressionante. Sussurrou Shinzu para Serena. — Seu potencial é tão grande que nem precisei guiá-la pelos seus próximos passos.

Ao emergir, a menina percebia que suas técnicas de fogo haviam se tornado muito mais poderosas, feito que foi descoberto ao conseguir manipular com sucesso a chama dançante criada por Shinzu. — Agora vamos, Katara, temos muito o que fazer. Disse Serena. E então, elas foram.