Em um futuro próximo...
Dentro de seus aposentos, Lilith encontrava-se visivelmente incomodada. Mesmo com a diversão proporcionada que tivera com tal evento, e por mais que Hikari Cobra tentasse disfarçar suas emoções, a Rainha de Nazjatar percebia a condição lastimável que seu subordinado mais poderoso se encontrava após a batalha contra Hattori Ayako. Sem honra, o rapaz sentia-se humilhado pela maneira que o combate contra o filho de lobo havia terminado, ele agora estava inconformado e despretensioso de qualquer foco atual.

"Hikaris e Hattoris... não importam seus méritos, continuam sendo meros humanos que possuem a maior das fraquezas e defeitos: O Orgulho." A Imperatriz continuava a refletir em silêncio. Buscava alguma forma de persuadir o Hikari de somente um olho e fazê-lo voltar a como estava anteriormente, demandado certa quantia de tempo até encontrar uma solução que lhe parecesse razoável ao seu alcance. "Um reencontro... que lindo seria." Um sorriso cínico surgia no canto dos lábios da mulher, que logo saía de onde estava para colocar sua ideia em prática.

[...]

Em passos firmes, Hikari Cobra seguia em direção aos aposentos de sua imperatriz. Havia sido convocado pela própria para tratar de um assunto em particular, fazendo que um ponto de interrogação permanecesse em sua mente. Quando adentrou ao recinto, rapidamente se ajoelhou diante ao trono onde sua majestade se encontrava, com seus olhos vislumbrando a lealdade que seu subordinado exercia. - Como possa ajuda-la, minha rainha? Disse-me querer conversar comigo? - Pronunciou Hikari, enquanto ouvia Lilith levantar de seu trono e permanecer inerte em sua frente.

- Sim... convoquei-o por uma simples razão. - A mulher falava de maneira suave, fazendo o servo paralisar por um instante. - Sua batalha contra o Hattori deixou sua imperatriz muito feliz, e como prova de minha benevolência, quero recompensa-lo com um prêmio à altura do que fora tal combate. - Ao ouvir as palavras seguintes, Cobra se segurou para não soltar um suspiro frustrado, limitando-se apenas a respondê-la de volta. - Fico lisonjeado por ser considerado merecedor pela vossa rainha, mas, lamento, gostaria de recusar, pois não me acho digno de tal presente. - Pôde notar um balançar de cabeça em negativo por parte de Lilith, que também esboçava um sorriso caloroso para o rapaz. - Reconsidere, minha criança, foi de seu mérito pelo que está prestes a receber. - Com um movimento simples de cajado, levando-o para cima e o batendo no chão em seguida, uma grande chama azul se ascendeu ao lado e distante de ambos.

Gradativamente, a silhueta de um homem tomava forma dentro das labaredas devastas. Cobra encarava aquilo com curiosidade, no entanto, seu semblante uniforme era bruscamente alterado para outro pasmo, quando a sombra finalmente tornava-se reconhecida por todos. O homem possuía cabelos loiros e trajava uma armadura amarela-dourada, com uma serpente entalhada nascendo desde a base da armadura e se enrolando por toda ela, em cor preta, passando por ombros e descendo de volta até se consumir; em suas mãos, soqueiras feitas em peças de ouro com o símbolo de ouroboros marcado nos dedos. Seu corpo vacilava e desabava ao chão com o peso de seus equipamentos, parecia estar adormecido mesmo que preparado para um combate. - Pai!!! - Sequer pudendo conter a emoção humana, Cobra rapidamente se colocava ao lado do corpo daquele que considerava como seu falecido pai.

Hikari Opus.

Sim, ele estava ali, desnorteado, porém demonstrando sinais de pulsação, Hikari Opus fora trazido a vida por Lilith. Essa que num instante se aproximava e colocava sua mão gentilmente no ombro do mais novo, que cruzava seu olhar maravilhado ao encontro dos olhos benevolentes de sua realeza. - Deixarei que vocês tenham um tempo a sós, mas depois irei querer vê-lo em seu melhor estado para as lutas que ainda virão. - Esboçava outro doce sorriso junto ao pedido, que logo era afirmado pelo Uchiha lacrimejando de seu único olho. - Obrigado... Muito obrigado, vossa majestade. - Cobra limpava as lágrimas com sua destra, não precisando virar seu olhar para saber que Lilith já estava se retirando do local - ouvindo sua imperatriz sair pela porta, deixando pai e filho sozinhos para uma conversa que transcendia a vida após a morte.

[...]

Vagarosamente, minutos depois de sentir o próprio corpo sucumbir e desabar ao chão, Opus abria seus olhos perdidos em meio ao salão. Reunindo um pouco de suas forças, que aos poucos retornavam, conseguia ficar sentado em frente a uma figura embaçada - que sem tempo para reagir lhe abraçava com intensidade, fazendo o próprio Opus grunhir em dor. - Céus, eu sinto muito, parece que você ainda está enfraquecido. - A voz emitida pela figura era muito familiar para o Hikari, que apenas segundos depois tinha sua visão estabilizada e consequentemente reconhecia o garoto a sua frente. - Erik... Você cresceu muito... - Cobra se emocionou outra vez, agora ele tinha certeza que aquele era seu pai e que tal estava vivo.

- Muita coisa aconteceu, meu querido pai, tornei-me um paladino justo como o senhor... finalmente, graças a senhorita Lilith eu posso lhe dizer essas palavras. - O sorriso fraco que existia no rosto de Opus, a princípio do reencontro com seu filho adotivo, sumiu completamente ao ouvir o nome que aterrorizava até o mais bravo cavalheiro dos dois mundos que residia, fazendo-o levantar bruscamente com a força que agora tinha em suas pernas. - Lilith?! Impossível! ... Onde estamos? E como viemos parar aqui? - Uma série de perguntas foram feitas para o Uchiha, que ainda com um meio sorriso no rosto não se importava de responde-las com sinceridade. - Estamos em Nazjatar, uma propriedade da nossa Rainha Lilith, essa que também fora quem lhe deu a vida novamente para nossa alegria. - Opus ficava abismado com as palavras de Cobra, a raiva era nítida em seu rosto. - Não, não, isso não pode estar acontecendo! - Começou a esbravejar, enquanto encarava seu filho de cima para baixo. - Essa situação é um completo desastre, como que deixaram esse demônio escapar?! E o que ela pensa que vai ganhar revivendo-me aqui!? - Cobra ficou quieto enquanto ouvias as frases iradas de seu pai, esse que ao perceber o silêncio do filho e raciocinar a maneira que o mesmo se dirigia a mulher foi consumido pelo choque outra vez. - Erik, meu filho... você está aliado a essa mulher?

Um silêncio perpétuo se estabeleceu no ambiente, com Cobra permanecendo quieto e seu pai também mudo ao entender o que se passava. - Eu não consigo acreditar, Erik... - Comentou, antes de prosseguir com mais uma pergunta. - Aonde estão eles? - Ainda de cabeça baixa, Cobra entendia rapidamente de quem seu pai estava à procura. - Não faço ideia do paradeiro da primeira, mas o segundo está sendo caçado e confrontado aqui em Nazjatar pelas forças da Rainha Lilith. - Após ouvir o que queria Hikari Opus se dirigiu a saída do local, mas antes parou em frente a porta para encarar seu filho mais uma vez. - Eu não posso contar com você... Erik? - - Um paladino é fiel a sua rainha até depois da morte. - O convite de Opus foi sutilmente recusado de imediato, fazendo-o bufar em decepção ao entender que seu filho agora estava sob às asas de um verdadeiro demônio.  - Eu não quero lhe perder outra vez. - - Compreendo... mas acabou de perder, adeus, Hikari Erik.

Sem hesitar, Opus partiu daquele lugar numa velocidade absurda, deixando Cobra sozinho para trás. O Hikari recém-vivo começava sua procura pelo companheiro no qual havia prometido nunca se reencontrar novamente, entretanto, os tempos eram outros e a situação nunca fora de tão extrema urgência, restando apenas ao guerreiro relâmpago encarar a consequências de suas próximas ações. "Sou uma desgraça como paladino... desculpe-me, Erik, Shion, mas promessas nunca foram juramentos pelos quais também daria minha segunda vida."