Tobirama andava tranquilamente pelas florestas de Konoha. O dia estava calmo, com o sol a pico, mas uma brisa constante tornava o clima acalentador. A calma pacífica daquele mar de verde fizera com que o Uchiha optasse por fazer daquele dia um revigorante repouso. Assim, Tobirama subiu e se deitou no galho de uma árvore, e então abençoou o seu ócio ao observar as nuvens do céu e o canto dos pássaros nativos.

Aquela paz, no entanto, estava com seus minutos contatos. Sons de passos acelerados e uma respiração ofegante pudera ser ouvida na direção sul, bem como o movimento por entre as matas, onde algum indivíduo desesperado abria caminho com sua lâmina enferrujada. A figura logo se revelou, um sujeito de baixa estatura, trajes de monásticos e grandes olhos arregalados em sua face. Uma expressão de terror e um rápido olhar pela retaguarda, indicando que alguém ou algo o perseguia em caçada.

O conforto de Tobirama deu lugar a um sentimento de alerta, fazendo-o descolar as costas do tronco e observar com mais atenção. O monge corria cansado, quase dando-se por vencido naquele ponto do percurso. Tobirama ameaçou levantar a voz e questionar o sujeito, mas antes da primeira sílaba soprar, um vulto negro rompeu os arbustos e a garganta do Uchiha congelou.

Sakki.

A aura assassina e impura fez os pássaros levantarem vôo e o monge dobrar os joelhos ao chão. Não indiferente, Tobirama congelou por simplesmente estar ali na presença do desconhecido. A silhueta negra ia tomando forma enquanto o Uchiha agora fazia forças para respirar e não entrar em pânico.

Tobirama Uchiha

Ninpo Ikkan

Em pânico, Tobirama sentia seus músculos enrijecidos, impossibilitando-o de interferir ou mesmo fugir. Apenas os seus olhos eram capazes de se mover, o que lhe permitiu assistir o que viria a seguir. A massa negra de olhos vermelhos deu origem à uma forma humana. Humana? A figura sinistra mostrou-se em formato humanoide, pele extremamente pálida, corpo esbelto e longos cabelos pretos ao vento. Dois braços, duas pernas... parecia um homem comum, mas a energia que ele emanava não se assemelhava a nada que seja natural deste mundo.

O Uchiha assistiu aquele “homem" desmembrando o pobre monge usando apenas as mãos nuas. A horripilante cena continuava a piorar quando a figura sinistra estraçalhou o que restava de sua caça, arrancando o resto dos membros e decapitando-o com as mãos nuas. A força exibida era fora do normal para alguém de corpo tão esguio, mutilando a vítima como se estivesse arrancando pétalas de uma flor.

Teria aquele ser notado a presença do Uchiha? Tobirama torcia para que não.

Por fim, o sádico homem agarrou uma bolsa que o monge deixou cair, vasculhando o seu conteúdo repleto de pergaminhos e alguns livros aparentemente antigos. Ele tomou os espólios para si e adiantou alguns passos  na direção de uma poça d',água que ali estava. Tobirama sentiu seu coração quase parar quando notou que, pelo reflexo da água, o misterioso assassino o observava, sendo possível observar de volta a sua face pálida e um diabólico sorriso. Em seus olhos era possível notar a dominância da cor rubra e inconfundíveis tomoes negros adornando o globo ocular.

Sharingan.

Como uma aparição fantasmagórica, o sinistro imergiu de corpo inteiro na poça e desapareceu. Com ele, a energia sufocante também desapareceu do ambiente, permitindo que Tobirama voltasse a se mover e respirar aliviado.

Tobirama Uchiha

Ninpo Ikkan

Tobirama já viu a morte de perto algumas vezes, passando por perigos extremos em missões e outras situações corriqueiras da vida Shinobi. Entretanto, por maiores que fossem os riscos, nenhuma de suas lembranças lhe trouxeram a real sensação de impotência como a que sentiu neste dia. A certeza do fim e o desespero final. A paralisia total pelo medo, o pânico interno confundindo todos os sentidos, e o terror de estar diante de um monstro como aquele. O Uchiha jamais esqueceria aquele fatídico dia.

Ele desceu finalmente da arvore, aterrissando no chão ainda com as pernas um pouco trêmulas. Algo estava diferente... o rapaz andou em direção à poça d’água que o assassino se inseriu. Curioso, Tobirama olhou para aquele espelho natural e viu algo em seus olhos.

- Sh... Sha.. Sharingan? – sussurrou com espanto.

O doujutsu amaldiçoado dos Uchihas finalmente desabrochou, se revelando na face espantada do Shinobi. Um misto de surpresa, confusão e felicidade, aquele era de fato um marco na vida do Jounin.

Com seus novos olhos, Tobirama vislumbrou o que restara do monge que ali jazia. Uma bagunça desgostosa. totalmente desmembrado e mutilado, os restos mortais do sujeito se misturavam com a vegetação e pedaços de roupas estraçalhadas. O jovem pensava consigo se deveria dar ao desconhecido um enterro, mas foi então que uma brisa mais intensa fez voar uma manga de seu kimono rasgado, revelando algo oculto por baixo: Um livro antigo, coberto de sangue e vísceras.

Tobirama Uchiha

Ninpo Ikkan

Aquela sequencia de acontecimentos nublou a mente do Uchiha. O medo do terrível desconhecido, o despertar do Sharingan e agora a oportunidade de descobrir os motivos daquele horrendo assassinato. Um livro, um documento manchado de sangue sob as vísceras de um infeliz. O choque de novidades fez Tobirama ajoelhar-se por um momento, repousando o peso do corpo sobre o joelho esquerdo. Suas mãos tocaram o solo ensanguentado e então ele encheu os seus pulmões de ar. O Uchiha soprou vagarosamente, pensou por um instante e apanhou para si o livro, abrindo-o com cuidado para não partir as páginas ensanguentadas.

O livro contava algumas historias antigas, mas não havia nenhuma relevância no contexto ninja por si. A preciosidade daquele espólio esquecido estava em um pergaminho cuidadosamente guardado na última pagina. Tobirama o abriu, reconhecendo prontamente que se tratava de instruções para um misterioso jutsu. O jovem ficou intrigado, mas não notou nenhuma dificuldade para decifrar aquele passo a passo, afinal, ele ostentava a patente de Jounin por seu próprio mérito. Na parte traseira do documento estava uma lista de nomes e assinaturas sanguíneas carimbadas pelo polegar de alguns shinobis. Um pacto de sangue, ele confirmou.

Uchiha Tobirama possuía algum conhecimento sobre invocações, mas não tinha ideia de que tipo de criatura seria invocada. Se aquele contrato era importante o suficiente para ser protegido com a vida, então automaticamente passou a ser de interesse do Uchiha.  Aquele complexo documento tratava de obrigações a respeito das invocações, mas também deixava explícito que o invocador também teria obrigações a serem respeitadas e honradas. O acordo mútuo não poderia ser revogado, e esta informação pudera ser lida em caixa alta, confirmando a seriedade da sentença. Por isso, mesmo estando bastante interessado, Tobirama queria ver com seus próprios olhos antes de tomar alguma decisão.

Astuto, o Uchiha utiliza o sangue do próprio monge e da início ao jutsu de invocação sem firmar nenhum contrato. Memorizar aqueles selos e instruções não foi nada difícil, principalmente agora com o Sharingan brilhando em seus olhos.

Tobirama Uchiha

Ninpo Ikkan

A conclusão do jutsu de invocação aconteceu sem dificuldades. Utilizando o sangue do cadáver, Tobirama foi capaz de depositar uma grande quantidade de chakra e finalizar a invocação sem precisar assinar o contrato.

Uma grande nuvem de fumaça tomou conta do local, como uma bomba ninja que aos poucos dispersou-se através do vento. A criatura invocada não era nada impressionante: um sapo velho, pequeno e franzino, parado logo à frente de Tobirama, encarando-o com uma expressão tristonha.

- Eu tive alguma esperança de encontrar Sandayu aqui, visto que o sangue utilizado para a invocação foi o dele. Eu esperava pelo menos me despedir do velho amigo. Porém, ao mesmo tempo eu pude sentir que o seu chakra desapareceu momentos antes, sem deixar nenhum rastro... e agora observando os seus restos mortais, a minha esperança morre com ele. Eu me chamo Fukasaku, o sábio. – O sapo tecia aquelas palavras com um aperto no peito.

Tobirama espantou-se com a situação, pois ao que parecia, o velho Fukasaku sabia muito bem do ocorrido.

- Se você sabia que o seu amigo corria perigo, porque não veio ajuda-lo? – Questionou o Uchiha.

O sapinho encarou o Jounin e sem mais delongas proferiu a sua verdade.

- Nós, os sapos, não teríamos nenhuma utilidade contra aquele assassino. Só aumentaríamos o número de cadáveres. O monge Sandayu sabia disso e bloqueou a nossa passagem com um fuuinjutsu, ele fez isso para nos proteger e proteger também os segredos do Monte Myoboku. – respondeu o sapo.

- E quem era aquele homem? Qual o seu objetivo? – indagou Tobirama.

- Homem? Ele não é mais um homem... aquele arauto da escuridão deixou de ser humano a um bom tempo. Se quer saber mais sobre ele, assine este contrato e me ajude a dar um enterro digno ao meu velho amigo.

O Uchiha estranhou aquele pedido.

- Assinar o contrato? Você nem sabe quem eu sou! – disse o Jounin.

O pequeno ancião sorriu de canto.

- É claro que sei, Tobirama Uchiha. Nós os sábios sempre sabemos quem são as crianças da profecia. Assinar o pacto de sangue com os Sapos vai ser útil para todos nós... será útil para você, em sua jornada pelo poder... e vai ser útil para nós, que buscamos eliminar a ameaça que nos assombra. Você precisa de nós, bem como precisamos de você e deste dom que hoje nasce em seus olhos. Precisamos cruzar os nosso destinos! – disse o ancião.

As palavras de Fukasaku estremeceram Tobirama. Havia verdade e seriedade naquela sentença em tom profético. O rapaz não podia duvidar do que fora dito. Como se algo o guiasse por dentro, Tobirama deixou a razão de lado e fez o que lhe foi recomendado. Assinou o contrato, agora com seu próprio sangue, e encerrou aquele dia com um simplório enterro de um desconhecido. No fundo, o Uchiha sabia bem que aquele encontro, aquela nova aliança, mudaria para sempre o rumo de sua vida como shinobi.

Tobirama Uchiha

Ninpo Ikkan