Katsushiro logo após de receber sua bandana, que representava sua graduação como Genin não conseguia tirar o sorriso do rosto, depois dos cumprimentos e festividades relativas ao evento, e a recepção que teve onde morava, no orfanato, quando enfim deitou para dormir o garoto não conseguiu impedir o fluxo de memórias que jorrava para dentro de sua consciência.

Katsushiro passou bons tempos em sua infância, lembra-se de quase tudo, da barulheira, da gritaria, da correria daquele amontoado de crianças juntas, e na maioria do tempo soltas num pátio pedregoso, em meio às núvens de Kumogakure. As brincadeiras que mais gostava de brincar era pega-pega e queimada, Katsushiro sempre foi ágil, e já era o campeão dos dois jogos muito antes de começar seu treinamento na academia ninja. Já não tinha tanto tempo para brincar assim com seus 10 anos de idade, pois estava dedicando-se muito ao seu treinamento ninja, e mesmo assim sua posição de campeão se mantinha, a única pessoa que conseguia vencer o jovemzinho na corrida, ao menos das crianças daquele orfanato, que não era já mais uma criança, era um Chuunin chamado Byun, o mais próximo que Katsushiro teve de uma família, de um pai e irmão. E a competição entre os dois no pega-pega era intensa, era sempre Katsushiro correndo atrás de Byun, por toda vila. Assim que Katsushiro aprendeu a controlar melhor seu chakra com o treinamento ninja, começou a utilizá-lo a seu favor nas brincadeiras e competições, mas mesmo assim não era páreo para Byun, que sempre incentivava o jovem aspirante à ninja a ir mais rápido, correr mais, distribuir o peso, arrumar a postura, controlar o chakra. Byun tinha uma personalidade muito mais determinada e engajada com as coisas, enquanto Katsushiro só estava brincando, na perspectiva de Byun ele de alguma forma estava sendo preparado.

Não era sempre que o Chuunin, já quase um adulto, estava disponível para visitar Katsushiro no orfanato, estava ocupadíssimo com as questões que os Chuunins se preocupam no cotidiano, que nos olhos do jovem Katsushiro era só um empecilho para que os dois pudessem se divertirem mais juntos, ou ao menos passarem mais tempo juntos. Mas quanto mais o treinamento ninja de Katsushiro na academia progredia, as brincadeiras entre os dois também progrediam, a bola de queimada foi substituída, primeiro por kunais e shurikens de madeira, e posteriormente para as armas de verdade. É claro que Maki-chan, a bela patrona do orfanato sempre brigava com Byun por trazer armas para lá, e ainda por cima brincar com uma das crianças, aquilo era inaceitável. A bronca que ele recebia, se outra pessoa a recebesse, dificilmente teria a cara para lá aparecer de novo, mas do que importa isso para Byun e sua cara de pau? Ele não ligava, quando voltava lá a cara dele era tão lisa quanto sua determinação de alguém cabeça dura.

Katsushiro aos poucos compreendia que as brincadeiras eram algo além do que brincadeiras, e o gosto que Byun tinha em melhorar suas habilidades foi de, pouco a pouco, entrando e fazendo ninho também no coração do jovem Katsushiro, adorava e idolatrava o Chuunin como um filho idolatra o pai, e o que no começo Katsushiro fazia para impressioná-lo e passar tempo com, metamorfoseou-se em hábito e rotina. Katsushiro desde então não perdia um dia de treino, tinha que surpreendê-lo, superá-lo, ganhar dele na corrida, na queimada, pegá-lo no pega-pega.

Sua primeira vitória foi na corrida, assim que aprendeu na academia o Shunshin no Justsu, compreendia então a velocidade extraordinária de seu irmão de criação, as corridas desde então tornaram-se mais páreas, mas mesmo assim não era o suficiente para superá-lo, sempre que Katsushiro aproximava-se dele, chegando tão perto ao ponto de sentir o pano de suas vestes, Byun dava um jeito de subir nas parades, nas pedras, nas árvores. - Trapaça! - Gritava a criança, mas em seu âmago sabia que não era trapaça de verdade,  Byun ainda era melhor que ele, tinha que aprender também a desafiar a gravidade e subir nas paredes, não como uma aranha, mas como um verdadeiro ninja. Não deixou seus professores na academia quietos até que o ensinassem tal técnica, demorou algum tempo, Katsushiro tinha certa dificuldade perceber em controlar seu chakra, seus professores sempre falavam de sua inaptidão elemental e o garoto parece ter de alguma forma internalizado aquilo como se fosse uma inabilidade dele, por falta de perícia, e não uma impossibilidade de nascença, algo como se ele fosse o problema. Mas aos poucos ele foi aceitando seus próprios defeitos, aprendendo a lidar com eles, e depois de algumas semanas, já estava lá, o pequeno correndo atrás do Chuunin, agora indo também atrás dele por penhascos e construções, para baixo, para cima, no teto, sem medo algum. Confiava totalmente em Byun, especialmente depois de certa vez que ele o salvou. Katsushiro pensa que sempre se lembrará desse dia, estavam um correndo atrás do outro nos arredores rochosos da vila, quando passavam por um desfiladeiro estreito, um raio atinge o topo da montanha e grandes pedaços de pedra caíam em direção à ambos, Katsushiro ficou paralisado com toda cena, e se não fosse salvo por Byun , que o agarrou com destreza e o tirou do caminho das pedras, teria certamente sido aquele seu último dia de vida. Que bom que não foi. Não foi muito tempo depois desse dia que Katsushiro conseguiu pegar Byun no pega-pega pela primeira vez, talvez aquela experiência de quase morte o tenha influenciado de alguma forma, ou não, talvez tenha sido só o resultado dos treinos dedicados que começavam a aparecer.

Foi praticamente desse jeito que os aprendizados da academia se consolidavam no jovem Katsushiro, o Kawarami no Jutsu e o Kakuremino no Jutsu, foi resultado de muitos e muitos esconde-esconde. Só utilizando o Bunshin no Jutsu que o pequeno conseguia ter alguma chance contra seu melhor amigo, a brincadeira de mímica, que Katsushiro nunca gostou, só ficou interessante para o garoto assim que ele aprendeu o Henge no Jutsu. Se qualquer um perguntar a Katsushiro como ele se tornou um ninja, e se ele respondesse brincando “brincando”, não seira mentira.

Outra memória que assaltou o garoto antes de ter o merecido descanso depois daquele dia importante foi a seguinte: O dia em que Byun disse que não voltava mais, foi ao mesmo tempo o dia em que quase desistiu de se tornar um ninja, e o dia em que mais chorou. Foi há menos de um ano atrás, quando o jovem ninja havia ainda 11 anos de idade. Em uma determinada madrugada Katsushiro desperta com alguém tampando sua boca, primeiro o desespero veio, mas quando ouviu a voz de Byun sussurrando por silêncio o desespero foi substituído por felicidade, sem deixar nenhuma sombra para trás. - Vem comigo – Disse ele, e sem um pio, tentando de fazer o máximo de silêncio para não acordar os outros garotos no dormitório, acompanha-o.

Não demorou muito para chegarem num lugar ermo ali perto, dentro de uma caverna que Katsushiro nunca havia entrado antes, nem sabia que existia esse lugar. Byun carregava uma tocha consigo. O caminho foi feito totalmente em silêncio, Byun agia muito diferente daquele seu modus operandis expansivo e extrovertido habitual.

- Provavelmente nós não vamos nos ver mais, eu vou para uma missão e tem grandes chances de eu não voltar – A voz do Chuunin rasga o silêncio.

Lágrima já começam por parte de Katsushiro, não precisava de outra palavra, estava tudo muito para o jovem estudante da academia ninja, Byun estava saindo para uma missão com um grande risco de morte, talvez até uma missão suicida.

- Para com isso – Diz Byun secando de modo tenro as lágrimas da criança. - Eu nem deveria estar aqui, ninguém pode saber disso, eu já deveria estar fora da vila, mas eu não podia te deixar sem falar nada Katsu… seu bebêzinho, ainda lembro quando te carreguei no colo. - As palavras do Chuunin só faziam a criança chorar mais e mais.

- Observe, você tem que aprender rápido, de qualquer forma, esse é o meu legado que deixo com você! Bunshin no Jutsu! - Era uma simples técnica de iniciante, no entanto Katsushiro obedeceu e observou atentamente, estava claro a diferença, o selo de formação da técnica era feito só com uma mão.

- Como…? - Pergunta gaguejando Katsushiro, e Byun detalhadamente explica a teoria por trás da técnica, o controle fino do chakra envolvido, a compensação que tem de ser feita por causa da ausência de uma mão, os riscos… os benefícios, o Chuunin sucintamente faz um discurso de despedida. Katsushiro respeitava aquele ninja demais, não podia esquecer nem sequer de uma palavra que estava sendo proferida ali naquele momento, tentava o seu máximo para assimilar tudo. Byun não ficou ali muito tempo, e foi embora sem olhar para trás, Katsushiro permaneceu na caverna chorando até o sol raiar, murmurando para si o legado que Byun deixou. Voltou para o orfanato e treinou por muito tempo aquela técnica de utilizar jutsus com uma só mão. Era a memória que tinha de seu melhor amigo e irmão. No dia em que enfim conseguiu completá-la foi profeticamente o dia em que ele retornou e o abraçou.

Boas memórias. Katsushiro adormeceu com um sorriso no rosto.

Considerações:

Jutsus utilizados e ativos:

Databook:

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