Revirava-se de um lado para outro na cama; a noite era fria e parecia demorar uma eternidade para o tempo passar. Das três vezes que tentou dormir, as três acabou tendo o mesmo pesadelo. Já viu tantas vezes pessoas queridas morrerem ao seu lado por conta de sua fraqueza; seria essa guerra mais uma despontada do destino para lembrar o rapaz do que realmente deveria estar buscando? Permanecia deitado, com os braços atrás da cabeço, virado para cima, olhando para o teto. O silêncio do ambiente parecia criar peso sobre ele, quase fazendo-o sufocar. Que sensação de incompetência era aquela? Se Shion estava vivo, e ele havia concordado em ir para a dita guerra, ele teria a oportunidade de salvá-lo, e não deixar um aliado morrer, certo? Então, por que raios se sentia dessa forma?

"Takane concordou em ir também... Parece que isso será uma guerra em grande escala.” - Pensou, olhando através do ambiente escurecido, que mais parecia uma penumbra, iluminado apenas pela luz da lua através da grande janela.

Enquanto seguia perdido em seus devaneios, de súbito em forte estrondo ecoou dentro do quarto, e algo literalmente caiu em cima do rapaz, fazendo-o sentar-se sob a cama, caindo para o lado em sequência. Do chão, revirou-se rolando para o lado, se afastando um pouco da cama, assustado. Ergueu-se em um rápido movimento, pronto para reagir ofensivamente contra quem quer que fosse o invasor. Mas, para sua surpresa, não era um invasor - pelo menos não um que fosse perigoso - mas sim sua amiga.

- Takane? - perguntou, perplexo.

Por mais inusitada que a cena fosse, lá no fundo Squall não estava surpreso. Afinal de contas, era dela que se tratava. Aparecer em uma casa, no meio da madrugada, sem aviso, para a menina, não era nada de mais.

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A risada da garota lhe causava uma certa irritação, visto que simplesmente apareceu dentro de seu quarto, no meio da madrugada, sem avisos, fazendo o rapaz despencar da cama, e ainda achava aquilo tudo engraçado. Mas, era exatamente quem a amiga do rapaz era, então simplesmente suspirou e se levantou, acenando com a cabeça positivamente e indo para a cozinha. Sinalizou para a menina ficar À vontade enquanto ele preparava um café para os dois. À seu gosto, fez o café preto e bem concentrado, como costumava tomar. Mas, antes mesmo de se virar, uma explosão de informações vieram em sua direção, ao passo que ele ficou em completo silêncio até que sua amiga terminasse de falar. Tentando processar tudo, enterrou sua face em sua mão, baixando a cabeça um pouco, com o rosto virado para o lado.
"Morrer?Do que ela está falando? E como eu não iria? Está me pedindo para eu deixar quem eu considero como amigo ir para uma guerra enquanto eu me escondo aqui?” - Pensou, enquanto levantava seu rosto da mão, suspirando.

Virou-se para a garota, e em silêncio, caminhou até ela para lhe entregar o café. Se virou para ir para o outro lado da cozinha, enquanto tratou de lhe responder.

- Está me pedindo para ser um covarde e traidor, que deixa seus amigos irem colocar sua vida em risco por alguém importante, enquanto eu fico escondido aqui? Desculpe, mas eu serei o primeiro à entrar no campo de batalha.

"Não posso nem irei morrer tão cedo… ainda tem alguém que preciso encontrar.” - Pensou, lembrando da pessoa ao seu lado no quadro da sala.

Parou à frente da janela, tomando seu café enquanto olhava para fora, observando a escuridão que cercava o local e o estrelado céu, raro de ser visto em meio à neblina que cercava o local.

- O que há de errado com sua saúde? - Questionou, já decidido sobre o assunto anterior.

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Observou e ouviu atentamente eqnaunto a menina voltava atrás de seu pedido, não completamente, mas já era um início. A explicação sob sua saúde veio na sequência, ao que ele respondeu prontamente.

- Você devia falar com Angell sobre isso. Talvez ela possa ajudar, já que tem grandes habilidades médicas.

"Rinoa...” - Pensou, ouvindo a próxima pergunta, ascenando negativamente com a cabeça.

- Encontrei o esconderijo do homem que a mantém cativa, e a vi lá. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, houve uma grande explosão e fiquei inconsciente. Acordei no hospital da vila. E ele me ensinou uma habilidade que traz os mortos de volta para lutarem sob seu comando. A mesma que você mencionou em Konoha.

Permaneceu em silêncio, virando um gole de seu café, até que um nome foi citado.

"Shaka???” - Pensou, dando um grito internamente, embora não o demonstrasse externamente. Ficou alguns segundos em silêncio, observando sua amiga, enquanto recobrava algumas lembranças.Não precisava de muito para se recordar do que fazia=lhe ter uma aversão mortal ao homem citado; graças À ele, a prova Chunin de dois anos antes fora interrompida, quando suas servas - ou o que quer que fossem dele - deliberadamente invadiram as provas e atacaram os genins que participavam do exame. Foi durante esse ataque que companheiros morreram, outro chegaram bem perto disso, e que fora anunciada a morte de Shion; clara e repetidas vezes aos berros; o homem fora morto pelas mãos de Shaka, pelas mãos de seu próprio filho. A causa que Shion tanto defendera, naquela época, parecia terrivelmente perdida. O hokage, líder da Folha, pai de sua antiga mestra, Angell, morto. Sem sequer haver respeito, a mulher que os atacou simplesmente chegou anunciando isso aos berros, como se fosse algo qualquer, sem importância.

-... você o matou? -  respondeu após alguns instantes de silêncio, sético.

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O rapaz ouviu em silêncio, perplexo, as palavras "perdoei ele" saírem da boca de sua amiga. Deixou sua xícara cair no chão, espalhando café pelo chão todo do local, molhando seus pés inclusive.

- Você está brincando? Mudado, ele? Que quase matou Shion e o deixou no estado em que ele está agora, preso em Suna? Sabe o que nós passamos durante o Chunin Shikken nas mãos da serva dele, que invadiu a prova e nos atacou? Ela quase matou a mim, seu aluno Yukito, e chegou à matar companheiros nossos naquela luta! DROGA! - Gritou, abaixando sua cabeça para o lado enquanto se cobrava de sua postura habitual.

"Se Shaka não tivesse feito tudo o que fez...” - Pensou, antes de terminar sua resposta para a garota.

-Não precisaríamos ir para uma guerra e arriscarmos nossa vida por Shion se não fosse por ele...

Foi a última frase da garota que chocou de vez o rapaz. Se fora no mesmo dia, a mesma pessoa, e com as mesmas palavras que colocaram Takane e Squall nos seus devidos cargos, isso só poderia dizer uma coisa; não era uma manifestação de Shion, era Shaka. E isso explicaria porque a manifestação dizia estar morta, quando na realidade Shion estava vivo. Mas se realmente tudo aqui era verdade, se realmente foi Shaka quem colocou tanto a menina quanto Squall nos cargos que hoje ocupam, isso só poderia significar que estavam sendo manipulados; erma meras marionetes, colocadas sob o palco para serem manipuladas e usadas ao bel prazer de quem segurava as cordas. Mais uma prova de que seus desejos de acabar com tudo e reescrever as coisas à sua vontade, tendo ele mesmo como ditador de como tudo deve ser, eram reais. Isso, claro, se tudo fosse verdade.

"Se foi shaka... quer dizer que estamos sendo manipulados? Usados?” - Pensara, imóvel e em silêncio.

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Sentiu o ambiente pesar à sua volta, e conforme os segundos passavam, sua respiração ia diminuindo o ritmo, ia voltando para seu estado habitual; a razão, não a emoção.  

"Cuide de sua própria vida.” - Pensara, cobrando-se mentalmente por se alterar daquela forma, o que não era habitual para o rapaz, que estava com sua face enterrada em sua mão novamente.

Suspirou profundamente, buscando acalmar-se e mudar seu semblante, tirando aquelas expressões de raiva que estavam marcadas nele antes. Juntou do chão os pedaços que sobraram da xícara, jogando-os fora, e tratou de limpar-se, bem como ao chão, onde havia respingado café. Ainda em silêncio, fez mais uma servida de café quente, dessa vez um pouco mais fraco e adoçado. Sabia muito bem como sua amiga era, e não queria contribuir para piorar essa situação que ela havia comentado. Andou tranquilamente até a mesa após ter ouvido tudo que ela havia para dizer, notando no olhar dela que estava abalada por tudo aquilo. Sentou-se em outra cadeira e estendeu a xícara com café quente para ela, sem expressar qualquer sorriso ou frustração dessa vez. Apesar das dúvidas da menina, Squall não tinha nenhuma quando se referia àquele homem. As vezes que conversaram foram o suficiente para ver nos olhos dele que não estava mentindo. Não se tratava de uma guerra entre o bem e o mal, tratav-se de dois lados com visões opostas, mas uma delas poderia destruir tudo e todos.

- Não acredito em bem ou mal, apenas dois pontos de vistas diferentes. A questão aqui, é que se Shaka realmente pretende o que Shion falou, esse ponto de vista pode custar a vida de muitas pessoas. Eu vi o olhar de Shion... era dor, não motivação. Ele travou guerras contra seu próprio filho, e isso o mutilou por dentro, ficou nítido. E eu entendo sobre essa dor, por isso entendo ele, e sei que o que ele falou é verdade. - Disse, olhando para o alto. Depois, voltou-se para a menina novamente.
- Assim como eu conheço o seu olhar, que tem tantas dúvidas. Não se preocupe Takane, apenas faça o que sei que você acredita ser o certo; ajude seus amigos.

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O clima saiu de algo pesado e tenso para uma conversa entre amigos, como era desde o começo. Tomou mais um pouco de seu café, enquanto ouvia o que a sua amiga tinha para dizer. Não precisou muito para ele lembrar das imensas pilhas que haviam sob sua própria mesa. Pareciam nunca terminar.

"Não me lembre disso... muitas noites em claro, e muitas ainda por vir.” - Pensou, lembrando-se das várias vezes que acabou caindo no sono na sua mesa, madrugada À dentro, enquanto trabalhava sem parar.

Não podia condenar a menina pelo que estava falando; ela tinha um ponto em tudo que dizia, e não havia literalmente provas contra o que ela argumentou. Mas, lá no fundo, o rapaz sabia que Shion lhe dissera a verdade, e que se Shaka estivesse realmente arrependido, teria aparecido para lhe contar o mesmo que contou para a menina. Aparecer seletivamente para ela era estranho, parecia ter mais motivos por trás daquilo. Mas, independente do que fosse, ficar divagando sobre aquilo não ajudaria. Arrependimento e mudança... as duas palavras que ficaram martelando na cabeça do rapaz.

- Talvez você esteja certa... - Resmungou, dando mais um gole de seu café na sequência. - Takane... resolva essa situação com a sua saúde. Não quero enterrar mais amigos... principalmente por que já não tenho mais muitos. - Falou, enquanto se levantava da mesa.

Ouviu a menina se despedir fazendo algumas demandas, e por mais que fosse alguém mais simplista, que vivia com coisas mais básicas, fez uma anotação mental para comprar aquilo; agradar sua amiga também de vez em quando não faria mal. Desde que ela não contasse para mais ninguém depois, claro. Acenou com a cabeça positivamente, se despedindo silenciosamente da menina, observando o rastro prateado e dourado deixado para trás após seu corpo sumir, benefício de sua habilidade especial. Levantou-se da msa, colocando as louças todas na pia, e foi-se para a janela da sala, onde ficou observando o distante horizonte, banhado em escuridão.

"Mudança... é, acho que não sou ninguém para falr, depois do quanto eu mesmo mudei.” -Pensou, olhando para a figura de Rinoa no quadro posto no centro da sala.

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