[Solo • Capítulo] O demônio do Redemoinho

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[Solo • Capítulo] O demônio do Redemoinho
[Solo • Capítulo] O demônio do Redemoinho

Nero.

Jōnin

Ventos invernais uivavam por todo o Redemoinho e farfalhavam as folhas das árvores que se espalham pela aldeia. Seus olhos azuis-celestes namoravam os céus de ardósia com um copo de café quente aquecendo as palmas das mãos. Estava de pé, envolto em sua coberta de pele de urso com o lobo branco aninhado em seus pés. Respirou fundo o ar gelado que parecia cortá-lo por dentro quando invadia suas narinas e então tomou um gole de sua bebida, queimando garganta abaixo, uma sensação que ele acha estranhamente prazerosa.
　　O som de um par de asas batendo chamou sua atenção, mas não desviou o olhar, ele sabia que as aves mensageiras não o machucariam. O corvo pousou em seu ombro esquerdo e soltou um cuorc, pavoneando-se após sentir o cheiro forte do café quente. Levou a mão direita até a cabeça do bicudo e o acariciou, antes de deslizar os dedos até o pergaminho na pata da pequena criatura. A letra “S” se destacava no corpo do objeto, mas ele já imaginava. Asas escuras, palavras escuras.
　　Chacoalhou a mão que segurava o pergaminho e com a ponta dos dedos que seguravam o café, o manteve desenrolado para que pudesse esquadrinhar os katakanas que manchavam de preto o branco. O olhar semicerrou, o semblante fechou como o clima no vilarejo e ele deu as costas para os céus, com Shiroyuki em seus calcanhares. As palavras eram de fato escuras.

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Nero.

Jōnin

Sex 3 Jul - 14:28

II.

A porta da sala do Mizukage rangeu quando a fechou de dentro para fora. Caminhou até o Terceiro já vestido em suas habituais vestes negras que lhe cobriam todo o corpo, deixando apenas o rosto em evidência. Jiro estava na companhia da Sombra mais uma vez, como seu braço direito que age enquanto o outro comanda.
　　— Eu sabia que você viria rápido. — disse Squall enquanto os passos do Sarutobi estalavam em sua direção.
　　— Eu recebi a carta rápido, o mérito é todo do corvo. — ele respondeu em tom calmo. — Então a Uzumaki não era a única?
　　— Não — e o outro ficou mais taciturno, como se as trevas o tivessem engolido. — Crianças de diversos clãs foram raptadas para atuar em favor desse grupo de renegados. São todos órfãos, mas parece que a grande maioria possui alguma Kekkei Genkai ou alguma característica especial que despertou o interesse dos nukenins.
　　Cada palavra do Uzumaki escurecia ainda mais a finalidade da tarefa, ele sentia isso no tom e na expressão do Mizukage.
　　— Tem mais. — não perguntou, tudo já estava bastante claro para ele – ou obscuro até demais.
　　— Como a Uzumaki, essas crianças raptadas já não são tão jovens e agem como ferramentas, com um tipo de gratidão pelos renegados. — as palavras pareceram entalar na garganta do Terceiro. — Eles não podem ser salvos.
　　Jiro anuiu, com a habitual frieza no olhar.

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Nero.

Jōnin

Sex 3 Jul - 16:24

III.

Deixou a companhia da Sombra quando fora informado do exato local onde estavam mantidos os órfãos especiais. A tarefa era simples, mas tão sombria quanto as próprias trevas, quiçá um mergulho sem volta – ou uma passagem só de ida para a insanidade. Ele sabia onde estava se enfiando e seu coração já estava escuro há tempos, são os frutos do maldito sistema. Um homem toma o poder após a queda de outro, mas a ganância do ser humano é insaciável, alguns se julgam bons demais para dobrar o joelho, e assim o mundo jamais conhecerá a paz. Ele estava convicto de que faria a coisa certa.
　　Tomava cada vez mais distância do vilarejo, acompanhado somente de suas espadas e do ar frio naquela manhã de céu nublado. Se as informações da ANBU estiverem corretas, durante o dia é quando os jovens estão treinando do lado de fora de seus abrigos e se recolhem durante a noite para seus leitos, em esconderijo semelhante ao que fora devorado pelas chamas.
　　O plano estava todo traçado, mas precisaria de uma nova face. Seu rosto poderia ser reconhecido ainda que não tivesse deixado sobreviventes no assalto anterior. Parou em frente a uma árvore oca e deixou quase todas as suas vestes, ficando coberto apenas por uma camisa de mangas curtas e uma bermuda de cor preta, deixando consigo apenas a adaga, o medalhão, a máscara e as armas.

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Dom 5 Jul - 16:58

IV.

Encaixou a porcelana sobre a face e tomou mais uma vez a forma da menina de cabelos de fogo. Sabia seu nome e seus deveres, conseguiria ganhar tempo o suficiente até que descobrisse sua identidade – e quiçá, quando o fizerem, será tarde demais. Caminhou tranquilo com o rosto roubado na direção das crianças que treinavam sob tutela de alguns homens e mulheres mais velhos. O tilintar do aço de uma kunai se chocando contra outra, respirações pesadas, vozes infantis bradando os nomes das técnicas antes de as usar.
　　Correu os olhos para a esquerda e viu espelhos de gelo contornando um garoto que atacava com diamantes rosas. Eu conheço esta técnica e lembrou-se da mulher que matou quando ainda era um Folha. Correu os olhos para a direita e um dragão de relâmpagos negros mesclados com roxo perseguia um jovem com a aparência completamente deformada e que parecia furioso, desejando o sangue do outro que enfrentava.
　　— Tenshi! — uma voz de mulher chamou pelo nome da menina morta.
　　Seus pés firmaram na grama, ainda de costas para quem quer que o chamara. O coração acelerou, não esperava ser descoberto tão cedo. Cerrou o punho direito e respirou fundo, atitudes precipitadas podem causar desconfiança e estragar o plano, ele sabia.

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Seg 6 Jul - 16:14

Virou-se um tanto receoso, mas sem demonstrar em seus movimentos. Deixou transbordar a gota de confiança que ainda restava em seu plano, afinal seu disfarce cedo ou tarde seria descoberto e tudo o que ele precisava era se infiltrar no orfanato dos renegados.
　　Olhou fundo nos olhos de uma mulher de longos cabelos pretos com fios lisos e profundos olhos de ônix. A pele branca parecia macia por baixo dos trajes negros, que curiosamente se assemelhavam aos que ele próprio estava usando. Na expressão da mulher, era evidente a confusão que ela demonstrava com uma das sobrancelhas arqueadas.
　　— O que você está fazendo aqui? — a outra perguntou, um tanto afrontosa.
　　— Minha missão no Redemoinho acabou. — ele retrucou, rápido e firme para não levantar suspeitas.
　　— O ataque já aconteceu? — o tom de voz da mulher mudou para a verdadeira curiosidade, o disfarce permanecia intacto.
　　— Ainda não. — respondeu, já bastante mais tranquilo. — O demônio do Redemoinho atacou e eliminou todos os que iriam se encarregar de invadir e roubar as armas, fui enviada apenas para alertá-los de que não é seguro agirmos agora.
　　Os olhos da mulher arregalaram como se tivesse visto uma assombração. A garganta se moveu como se tivesse engolido seco.
　　— O demônio do Redemoinho... — disse, com a voz fraca, quase como soubesse que era ele bem ali. — Sarutobi Jiro.

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Jōnin

Qui 9 Jul - 18:08

VI. memories come

A luz do sol não rasgava com força por entre os céus nebulosos de mármore e o dia era escuro como se a noite estivesse prestes a chegar, quando havia poucas horas que o dia começara. Ele estava a sós com o Terceiro no gabinete, sentado numa cadeira de frente para a grande mesa da Sombra. A expressão do outro parecia apreensiva, vinha estando assim desde a invasão e acontecimentos recentes estavam perturbando seu sono. As olheiras pareciam ainda maiores que dias atrás, a feição estava cansada e as mãos com dedos entrelaçados a frente dos olhos davam-lhe o ar de intriga.
　　— Os relatos da ANBU, — Squall findou a própria quietude. —se estiverem corretos, os inimigos nos consideram Potenciais de Combate.
　　— Potenciais de Combate? — indagou, instigando uma explicação mais aprofundada.
　　— Aparentemente, classificaram a tarefa de nos roubar como altamente complexa porque consideram a mim, você e Fuyuki inimigos extremamente perigosos e nos chamam por códigos.
　　— E descobriram os códigos?
　　— Bem, temos os nomes e especulamos a quem sejam destinadas as alcunhas.
　　A relutância do Uzumaki em falar tudo de uma vez passou a incomodá-lo. Seus olhos azuis semicerraram, fuzilando o líder como se exigisse mais clareza.
　　— Como nos chamam? — o tom ríspido quase soou como uma ordem.
　　— Gênio Branco, imaginamos que este seja o Fuyuki. — ele começou, ainda um tanto receoso. — Tempestade Negra, acreditamos que este se refira a mim...
　　— E a mim, como eles me chamam?
　　Viu Squall engolir seco, como se não quisesse falar.
　　— O demônio do Redemoinho.
　　As palavras soaram estranhamente agradáveis aos seus ouvidos. Por um mísero segundo, surpreendeu-se, antes de um sorriso torcer-se em seus lábios.
　　— Eu gostei. — disse o demônio.

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Jōnin

Sex 10 Jul - 0:05

VII. memories fade

A noite fria caiu sobre o país e a névoa cobriu as árvores como um véu. Ele caminhava por corredores estreitos mal iluminados por lâmpadas presas ao teto, o piso de madeira rangendo sob seus pés e enxergando mal mesmo com uma candeia na mão direita. Seu rosto falso o guiava para o quarto da menina que roubou a identidade, correndo os olhos de porta em porta contando quantas eram.
　　Levou a mão até a maçaneta da última porta a esquerda, num corredor que tinham dez a direita e dez do lado oposto. Entrou e viu que havia apenas uma cama com alguns trapos para se cobrir e um travesseiro mofado. Sentou e esticou as pernas, namorando o teto como se por alguns instantes refletisse a respeito do que estava prestes a fazer.
　　O demônio do Redemoinho, ele lembrava, não sabendo o porquê, mas gostava do som daquilo. “A melhor maneira de se evitar um combate é fazer que seus inimigos o temam”, seu avô costumava dizer, e talvez por isso a alcunha lhe agradasse tanto. Iriam pensar duas vezes antes de se colocarem em combate quando o vissem, ou o começariam amedrontados. Talvez seja assim que se forja a paz.

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Nero.

Jōnin

Sáb 11 Jul - 18:55

VIII.

Caminhou novamente pelo corredor até chegar a uma sala comum. Lá estava apenas a mulher de cabelos pretos sentada numa poltrona, olhando para a chama de uma fogueira crepitando enquanto tomava alguma bebida em uma caneca preta, com filetes de fumaça subindo do líquido e dançando no ar frio da noite.
　　Aproximou-se da mulher que sequer deu importância para sua presença e sentou-se diante da fogueira, cruzando as pernas e apanhando uma pequena vara de ferro para mexer a lenha.
　　— Não está tarde para tomar café? — ele perguntou, tirando as toras queimadas de cima e as sobrepondo com pedaços de madeira inteiros.
　　— Talvez esteja. — a outra respondeu, bastante calma. — É verdade o que disse sobre o demônio?
　　— Sim. — manteve o tom tranquilo, e estranhamente aquilo soava melhor a cada vez que ouvia. — A última ordem foi para não atacar, os Potenciais de Combate ainda estão na vila. Há um informante infiltrado que nos avisará quando for o momento.
　　— Entendo. — a morena se calou por alguns segundos, talvez tivesse dado uma golada na bebida.
　　— Por quê o chamam de demônio? — indagou, mergulhado em sua curiosidade pessoal.
　　Ouviu um suspiro, seus olhos permaneceram postos na fogueira.
　　— Todas as vezes que ele recebia uma missão de captura ou assassinato, ele sempre optou por matar o alvo. Se não matava, feria gravemente de forma que a vida só durasse o suficiente para que fossem retiradas as informações necessárias. — ela fez outra pausa, quiçá outro gole. — Assassinatos, extermínios, se o Mizukage precisa eliminar alguém, ele é sua primeira opção. Ele matará homens, mulheres, crianças, não importa. É quase como se ele sentisse prazer.
　　Seus lábios curvaram-se num largo sorriso, ainda de costas para a mulher.
　　— E é por isso que o chamamos de demônio.

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Nero.

Jōnin

Sáb 11 Jul - 21:25

IX.

A casa estava toda apagada. A fogueira estava extinta, lâmpadas desligadas, a luz da lua invadia por filetes e banhava cômodos e corredores, o resto eram sombras e escuridão. Ele estava mergulhado num canto escuro do quarto, usando o breu como seu disfarce quando a porta rangeu. A mulher de cabelo preto parou e olhou para o volume da cama, rezando para que não houvesse movimento. A lâmina em sua mão reluziu com a luz do luar quando ela voltou a se aproximar.
　　Ela já sabe, pensou lembrando-se das últimas palavras dela “por isso o chamamos de demônio”. Ela sempre soube. A mulher juntou as duas mãos no cabo da kunai quando finalmente parou ao lado do corpo sob as cobertas. Não havia receio nos movimentos dela, não havia medo, ela sabia o que estava fazendo. O movimento foi um só e as mãos desceram como um lenhador que desce o cajado na madeira. O aço perfurou a carne num tunc úmido, mas o sangue não empapou o lençol branco.
　　Quando ela perceber, será tarde demais.
　　Sorrateiro como uma serpente, ele emergiu das sombras atrás da mulher. O amuleto em seu pescoço brilhou um azul claro como o céu limpo da manhã e sua lâmina também. O beijo da morte foi frio na garganta da mulher que ele jamais soube o nome. O sangue na garganta congelou antes que pudesse manchar a roupa de cama e o corpo caiu sem vida por sobre onde esteve um clone que explodiu sua existência quando apunhalado.
　　O Demônio do Redemoinho anunciava a morte.

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Nero.

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Dom 12 Jul - 14:27

Eles não tem culpa, pensava enquanto fitava cada uma das crianças se reuniam na sala de refeições para o café da manhã. Os cozinheiros postavam os pratos enquanto todos os olhos estavam voltados para ele, sem disfarce. Esquadrinhou cada rosto cuidadosamente e sem pressa, como se tentasse guardá-los em sua mente. Sua expressão era serena, o olhar beirava a indiferença; de braços cruzados, ele tinha os holofotes.
　　— Vocês são livres agora. — disse, com a voz firme.
　　Os murmúrios começaram baixos e foram se alastrando até que ficasse difícil até de ouvir o próprio pensamento. Ergue a mão direita fechada num punho e o silêncio se fez novamente. Uma menina, quiçá um pouco mais velha que ele, de olhos brancos que pareciam não ter pupilas, pele pálida e cabelos negros como carvão erguia a mão aberta. Jiro desceu a mão com o indicador apontando para a garota.
　　— Livres de quem? — a voz dela estava tomada de medo.
　　— Livres do sistema. — a voz dele era forte como a de um líder. — Estavam sendo treinados para se tornarem armas por conta de suas habilidades extraordinárias, mas agora são livres para decidirem seus próprios destinos. Tornem-se ninjas se desejarem, serão acolhidos no Redemoinho. Tornem-se camponeses, ou viagem pelo mundo, façam o que bem entenderem. — seu olhar tornou-se sombrio, e o peso de sua presença parecia sufocar todos lá. — Causem problemas e eu mesmo cuidarei de vocês.
　　Seu corpo desapareceu como se jamais tivesse estado lá. Não desejava saber que rumo cada um deles tomaria, mas seria covarde matá-los quando outros fizeram escolhas por eles. Apanhou suas coisas no tronco oco e cobriu a cabeça com o capuz negro, transformou-se em vulto. O que fizerem daqui em diante, eles mesmos arcarão com as consequências, e o demônio estaria pronto para revê-los.

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Chūnin

[Solo • Capítulo] O demônio do Redemoinho URkFDZ9

Dom 12 Jul - 17:24

@Nero. Aprovado

PS: Bastante interessante a maneira como conduziu a história, acabou sendo um enredo de fácil digerimento e bastante rico. Só achei que necessitou de um pouco mais de dificuldades ao longo do solo. Entretanto, é apenas uma percepção ou um conselho meu. Sem mais blablablá meu, aprovado

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