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A LUZ DAS TREVAS
Arco 02
Ano 27 DG
Outono
Meses se passaram desde a missão de investigação ao Castelo da Lua, no País do Vento, que culminou na Batalha da Lua Minguante. Soramaru, o cientista responsável pelos experimentos, morreu em combate, assim como outros ninjas do lado da aliança. Após a missão ser bem-sucedida, mas carregando tantas mortes, Karma, o líder da missão, ficou responsável por relatar às nações o máximo de informações sobre a organização por trás dos crimes agora que estava com o selo enfraquecido e com isso ele revelou o verdadeiro nome dela: Bōryokudan. Ainda não tendo como fornecer mais detalhes, pois o selo se manteve, e precisando de mais pistas antes de investir novamente em uma missão, Karma saiu em missão em nome das Quatro Nações para encontrar o paradeiro dos demais membros da organização — e sua primeira desconfiança recaiu sobre Kumo.

O mundo, no entanto, mudou nestes últimos meses. Os Filhos das Nuvens concluíram a missão de extermínio aos antigos ninjas da vila e implementaram um novo sistema político em Kumo ao se proclamarem o Shōgun sobre as ordens não de um pai, mas do Tennō; e assim ela se manteve mais fechada do que nunca. Em Konoha a situação ficou complicada após a morte de Chokorabu ao que parece estar levando a vila ao estado de uma guerra civil envolvendo dois clãs como pivôs. Suna tem visto uma movimentação popular contra a atual liderança da vila após o fracasso em trazer a glória prometida ao país. Já em Kiri a troca de Mizukage e a morte de ninjas importantes desestabilizaram a política interna e externa da vila. E em Iwa cada dia mais a Resistência vai se tornando popular entre os civis que estão cansados demais da fraqueza do poderio militar ninja. Quem está se aproveitando destes pequenos caos parece ser as famílias do submundo, cada vez mais presentes e usando o exílio de inúmeros criminosos para Kayabuki como forma de recrutar um exército cada vez maior.

E distante dos olhares mundanos o líder da Bōryokudan, Gyangu-sama, se incomoda com os passos de Karma.
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SHION
SHION#7417
Shion é o fundador do RPG Akatsuki, tendo ingressado no projeto em 2010. Em 2015, ele se afastou da administração para focar em marketing e finanças, mas retornou em 2019 para reassumir a liderança da equipe, com foco na gestão de staff, criação de eventos e marketing. Em 2023, Shion encerrou sua participação nos arcos, mas continua trabalhando no desenvolvimento de sistemas e no marketing do RPG. Sua frase inspiradora é "Meu objetivo não é agradar os outros, mas fazer o meu trabalho bem feito", refletindo sua abordagem profissional e comprometimento em manter a qualidade do projeto.
Angell
ANGELL#3815
Angell é jogadora de RPG narrativo desde 2011. Conheceu e se juntou à comunidade do Akatsuki em fevereiro de 2019, e se tornou parte da administração em outubro do mesmo ano. Hoje, é responsável por desenvolver, balancear, adequar e revisar as regras do sistema, equilibrando-as entre a série e o fórum, além de auxiliar na manutenção das demais áreas deste. Fora do Akatsuki, apaixonada por leitura e escrita, apesar de amante da música, é bacharela e licenciada em Letras.
Indra
INDRA#6662
Oblivion é jogador do NRPGA desde 2019, mas é jogador de RPG a mais de dez anos. Começou como narrador em 2019, passando um período fora e voltando em 2020, onde subiu para Moderador, cargo que permaneceu por mais de um ano, ficando responsável principalmente pela Modificação de Inventários, até se tornar Administrador. Fora do RPG, gosta de futebol, escrever histórias e atualmente busca terminar sua faculdade de Contabilidade.
Wolf
Wolf#9564
Wolf é jogador do NRPGA desde fevereiro de 2020, tendo encontrado o fórum por meio de amigos, afastando-se em dezembro do mesmo ano, mas retornando em janeiro de 2022. É jogador de RPG desde 2012, embora seu primeiro fórum tenha sido o Akatsuki. Atua como moderador desde a passagem anterior, se dedicando as funções até se tornar administrador em outubro de 2022. Fora do RPG cursa a faculdade de Direito, quase em sua conclusão, bem como tem grande interesse por futebol, sendo um flamenguista doente.
Mako
gogunnn#6051
Mako é membro do Naruto RPG Akatsuki desde meados de 2012. Seu interesse por um ambiente de diversão e melhorias ao sistema o levou a ser membro da Staff pouco tempo depois. É o responsável pela criação do sistema em vigor desde 2016, tendo trabalhado na manutenção dele até 2021, quando precisou de uma breve pausa por questões pessoais. Dois anos depois, Mako volta ao Naruto RPG Akatsuki como Game Master, retornando a posição de Desenvolvedor de Sistema. E ainda mantém uma carreira como escritor de ficção e editor de livros fora do RPG, além de ser bacharel em psicologia. Seu maior objetivo como GM é criar um ambiente saudável e um jogo cada vez mais divertido para o público.
Akeido
Akeido#1291
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Havilliard
Havilliard#3423
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Rendezvous
Genin
This garden bloomed full of thorns
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433
This garden bloomed full of thorns
Aquela foi a minha primeira manha acordando na minha nova casa. Sendo basicamente apenas um único espaço em que eu distribuí os poucos móveis que comprei para separar visualmente nas áreas dos cômodos, eu estava feliz por finalmente poder ter alguma autonomia e poder sair do orfanato. Eu sabia que muito do meu dinheiro seria destinado a essa moradia, mas eu não me importava em trabalhar pra isso. Esperava que junto de minha experiência viesse então uma melhor condição financeira, ou pelo menos o suficiente para eu conseguir realmente comprar uma casa só para mim.

Abrir os olhos naquele ambiente novo foi o suficiente para me arrancar um sorriso do rosto. Me permiti ficar ali deitada por mais vários segundos, no que com a cabeça devidamente apoiada no travesseiro fiquei observando aquele ambiente. O meu cantinho. Descalça, segui direto para o fogão e ergui uma mão para pegar a chaleira na prateleira em cima da pia ao lado. Sorri de forma boba novamente, pois seria a minha primeira vez usando aquele bule. Na verdade, eu sabia que ficaria rindo a toa o resto do dia inteiro sempre que usasse algum objeto recém adquirido. Estava mesmo realizada. Com a água no fogo, me permiti ir até o banheiro onde escovei os dentes e levei algum tempo usando produtos para a pele. Com uma tiara prendendo meu cabelo para cima e deixando toda minha testa à mostra, me distraí por um segundo e precisei ir correndo de volta para a cozinha quando escutei a chaleira apitar. Apenas retirei o objeto de cima do fogão, e enquanto o tempo necessário até poder retirar os cremes em meu rosto se passava, eu terminei de preparar o chá e o bebi virada para a janela da cozinha, apreciando a minha nova vizinhança.

Ao fim, tive que retornar ao banheiro para poder limpar enfim meu rosto e então tomar um banho adequado. Até aquela água quente descendo pelo chuveiro se tornou motivo para eu estar animada. Quando enfim me vesti adequadamente, me permiti levar o tempo necessário arrumando o cabelo. Não tinha compromissos para aquele dia, mas gostaria de sair para comprar comida, então ajustei bem a minha bandana na minha cintura e saí rumo ao mercado.

Chegando lá, passei pelas bancas procurando algo que fosse do meu interesse, e então dei de cara com Kanechiro, o homem que me alugou minha nova casa. Nós cruzamos o olhar por acaso, e então me aproximei para cumprimentá-lo. No fim das contas, ele estava proporcionando que meu sonho se torne realidade.

— Bom dia, senhor Kanechiro, não esperava lhe encontrar aqui.

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Última edição por Rendezvous em Ter 30 Jun 2020, 17:45, editado 1 vez(es)
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This garden bloomed full of thorns
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O senhor Kanechiro tinha uma aparência que facilmente o faria se passar por meu avô. Eu não entrei muito nos detalhes sobre sua vida, embora tenhamos conversando bastante já que ele se mostrou interessado sobre meus hobbies. Eu não faço muita coisa além de me dedicar às atividades shinobi, ainda mais agora que me formei e realmente não sobra muito tempo para outras coisas, mas Kanechiro parecia ser bem interessado nessa coisa de ninja. Lembro dele comentando por alto que sempre quis ter se formado na Academia, mas alguns problemas de saúde o impediam de se esforçar demais. Acho triste ele nunca ter tido a chance de realizar o próprio sonho, mas a vida é assim, não é? Também sempre sonhei em ter um pai e uma mãe, mas simplesmente querer não faz que certas coisas aconteçam. Felizmente, ser forte é algo que eu posso escolher e trabalhar para acontecer. É meu objetivo de vida.

— Bom dia, Takara-chan. Como foi sua primeira noite na sua nova casa? Dormiu bem? — perguntou Kanechiro, se aproximando para me cumprimentar com um abraço. Por ser mais alto que eu ele precisava se inclinar um pouco mais. Eu realmente o via como meu avô nesses momentos — não que eu tenha conhecido o meu de verdade —, e seu abraço era bem caloroso até. Gosto de abraços apertados. Parecem desengonçados, mas são os melhores.

— Sim, sim. Estava tudo perfeito. Vim na feira só procurar algumas coisas porque não comprei comida recentemente. Você também? — perguntei puxando assunto por educação. Me virei para dar uma olhada em alguns tomates e selecionei alguns para levar.

— Eu venho à feira todos os dias. É meu exercício diário. — responde o velho com um sorriso no rosto — Mas a casa está boa mesmo? Não precisa de nada? Consertar uma lâmpada ou algo assim? — perguntou o homem sendo atencioso.

— Não, está tudo perfeito, de verdade. — respondi de forma descontraída, me virando para receber a sacola com os tomates que pedi e então voltando para olhar para Kanechiro. Seus olhos se moveram subitamente para cima, e eu sorri achando engraçado. Deve ser a idade, né? A visão começa a ficar ruim e você ganha uns tiques para tentar ver melhor — Bom, eu vou indo. Se precisar de qualquer coisa pode me avisar, viu? — e me virei, pronta para ir em outra banquinha para realmente fazer as compras da semana.

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Poucos segundos após eu me virar de costas, senti uma mão pousar sobre o meu ombro esquerdo e me virei para ver do que se tratava. Nos primeiros segundos eu supus que esqueci algo na banca anterior e alguém tinha vindo me devolver — afinal esse tipo de coisa é a minha cara —, mas franzi as sobrancelhas quando notei ser Kanechiro. Tínhamos acabado de conversar e eu pensei que o assunto tinha acabado, por isso me virei para continuar minhas compras. Ainda assim, ele parecia um tanto preocupado e eu diria até que um pouco ansioso. Estava coçando muito a lateral do pescoço, e eu pensei que talvez ele estivesse doente.

— Ahm, precisa de algo, Kanechiro-san? — perguntei, tentando ser educada. Os olhos do homem pareceram vacilar ao olhar para baixo (o que é compreensível, afinal sou mais baixa) e então voltarem subitamente para cima, como se tivesse tentando disfarçar algo. Mas não tinha o que disfarçar ali, então assumi que era realmente efeito de algum tipo de doença que ele estava enfrentando. Na sua idade é comum ser mais facilmente atingido por enfermidades, então é sempre bom prestar atenção na saúde dessa gente mais velha — Você não parece bem, quer que eu lhe acompanhe até o hospital?

— Eu estou bem, Takara-chan. Sabe o que é? É que eu... — conforme falava, Kanechiro pareceu ir se acalmando ao retomar seu tom de voz e postura habituais. Isso me deixou aliviada, porque aparentemente não era uma doença tão grave assim, se é que ele realmente está doente. Sua mão ainda estava sobre o meu ombro, mas eu não me importava. Talvez fosse cansaço, então? Isso justificaria ter se apoiado em mim, certo? Já que esse é o seu exercício matinal seria compreensível ele só estar muito cansado. Continuei prestando atenção ao homem enquanto ele parecia tomar fôlego — Quando eu fui lhe mostrar a casa anteontem eu esqueci minhas chaves lá.

— Sério? — perguntei tentando me recordar de ter visto algo, mas foi sem sucesso. Limpei e arrumei a casa toda no dia anterior, mas não vi nada — Eu não encontrei nada enquanto fazia a faxina. — eu disse, e no mesmo instante Kanechiro pareceu ficar nervoso de novo — Será que não misturei sem querer com o meu lixo? — conclui o pensamento enfim, e tão súbito quanto ficou nervoso o homem voltou ao seu estado normal.

— Será que não poderíamos ir lá ver? Minha esposa me deu aquele chaveiro de aniversário. Ele significa muito pra mim.

— É claro! — respondi. Eu ajudaria mesmo que não tivesse valor sentimental, de qualquer jeito. Olhei para as sacolas em minhas mãos, lembrando que tinha ido até ali com um objetivo em mente — Acho que podemos ir logo. Depois eu termino as compras, né?

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O caminho até minha residência foi calmo, porém inquietante. O motivo? Uma dor de cabeça súbita que comecei a sentir. Levei uma mão até a cabeça assim que senti a primeira pontada, e o senhor Kanechiro se aproximou imediatamente e colocou sua mão por trás das minhas costas, me segurando. Eu não tinha perdido o equilíbrio nem nada, mas a preocupação dele em me acudir em um aparente momento de fraqueza foi bem espontânea. Sorri para ele como forma de agradecimento, e dei um passo para frente saindo de seu apoio. O homem deu o mesmo passo para frente, e agora segurou mais forte em minhas costas. Seus olhos se moveram até a sua mão, como se checasse se elas estavam no local correto, e eu dei outro passo para frente, saindo momentaneamente do seu toque.

— Está tudo bem, senhor Kanechiro. Foi apenas uma dorzinha de cabeça, eu estou bem, não se preocupe. — avisei, segurando mais forte nas sacolas para poder continuar o trajeto. Percebi que Kanechiro não estava me acompanhando assim que voltei a caminhar, e me virei olhando para trás para ver se algo tinha acontecido. Ele estava com a mão no nariz, coçando-o. Não parecia estar prestes a espirrar, mas talvez estivesse resfriado. Assim que percebeu que eu o encarava, ele moveu rapidamente as mãos para trás do corpo e começou a me acompanhar. No que ele sorriu ao chegar do meu lado, eu sorri de volta.

— Estamos quase chegando. Será mesmo que me distraí ao ponto de jogar fora sua chave?

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Assim que chegamos na minha casa, eu fui direto até a lixeira maior da cozinha porque tinha certeza que tal chave não estava perdida pela casa, e se estivesse em algum lugar seria ali depois de eu ter feito a faxina. Me senti aliviada por ainda não ter colocado o lixo para fora — pretendia o fazer depois do almoço, quando tivesse cascas e demais restos para jogar fora também —, e basicamente o que estava ali dentro eram entulhos. Folhas, panos, muita sujeira acumulada dos meses que a casa passou sem um morador, enfim, essas coisas. Joguei tudo um canto na lavanderia (lógico que não vou sujar minha cozinha de novo) e fui passando a mão procurando o bendito chaveiro. Logo na primeira passada eu sabia que não estava ali por não ter soado nenhum barulho, mas continuei procurando mesmo assim só para ter certeza.

O senhor Kanechiro tinha ficado na sala enquanto descansava da caminhada. Quando terminei a busca no único lugar possível do que ele queria estar, coloquei tudo na lixeira novamente e passei uma vassoura para deixar tudo brilhando novamente. Quando retornei para a sala afim de avisar que não tinha encontrado nada, acabei por não encontrar Kanechiro. Estranhei, logicamente, e fui em direção ao meu quarto. Pelo lugar ser pequeno, o avistei imediatamente antes mesmo de chegar na porta. Ele estava de costas, segurando algo na altura do rosto.

— E aí, encontrou alguma coisa? — perguntei, imaginando que ele estava me ajudando a procurar o bendito chaveiro. Meus olhos se arregalaram e eu senti minhas pernas travarem quando ele se virou na minha direção e em suas mãos estava uma de minhas camisetas. Ele estava a cheirando. Olhei para o lado e notei meu guarda-roupa completamente revirado, incluindo a gaveta onde eu guardava minhas peças íntimas. Essa pequena olhada para o lado foi distração o suficientemente para ele, e quando me dei conta ele já estava em cima de mim. Eu tentei me soltar, mas Kanechiro se mostrou forte demais para alguém que mal conseguia caminhar por longas distâncias. Um pano com um cheiro forte foi colocado sobre meu nariz, e a última coisa que lembro daquele dia foi de tudo escurecer no segundo seguinte.

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Quando eu enfim despertei, meus olhos estavam vendados e eu sentia minhas mãos e minhas pernas amarradas em algo. Pela posição de meu corpo, eu assumi que estava amarrada em uma cadeira. Algo que ele tinha feito comigo estava me deixando meio grogue, então ainda que eu estivesse acordada, ainda assim não consegui fazer muita coisa sobre minha situação. Cogitei utilizar a técnica de se livrar de amarradas que aprendi na academia, mas aquilo parecia estar um passo além das minhas capacidades: o material frio me fazia acreditar que se tratavam de correntes e não simplesmente uma corda. Nesse caso, eu não poderia fazer nada para me livrar por conta própria.

Apesar de estar de olhos vendados, o pano ali colocado não me impedia de ver tudo. Ele era fino, como se fosse mais velho que minha própria existência. Minha boca não estava impedida e eu sentia minha língua seca. Agora que tinha notado isso, percebi que o motivo era a sede. E nossa, como eu estava com sede. Tentei me mover forçando as correntes, mas eu estava realmente bem presa àquele lugar. Minha falta de força também não ajudava, embora eu duvidasse muito que mesmo plena eu teria chances de escapar daquilo na brutalidade. A pouca luz do ambiente estava sendo providenciada por uma lâmpada fraca, no que tentei olhar aos arredores para ver se encontrava algo. Consegui notar apenas as silhuetas de diversas caixas e prateleiras, o que fazia parecer um tipo de depósito. Como eu estava sozinha ainda, eu me mantive calma para tentar entender a situação. Mesmo que a última coisa que eu lembrasse tenha sido o senhor Kanechiro vindo em minha direção, ainda assim eu estava me questionando o que estava acontecendo ali. Jamais imaginei estar em uma situação como aquela, e quando lembrei do meu guarda-roupa revirado e minha camisa em sua mão, só aí eu comecei a cair na real.

— Não... Não faz sentido. — sussurrei para mim mesmo, com a cabeça pendendo para frente. Senti lágrimas começarem a se formar em meu rosto conforme eu tentava lembrar de tudo o que aconteceu aquele dia, desde o encontro na feira até em casa. Me recusando a acreditar que aquilo estava realmente acontecendo, comecei a analisar cada detalhe. Conforme lembrei das olhadas, dos toques e dos assuntos que ele puxava sobre minha vida, eu percebi que ele deu todos os sinais. Ainda tentando negar os fatos, pensei que talvez eu que tivesse deixado algo a entender — Será que isso é minha culpa?

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Observando apenas a sua silhueta, já que a venda me permitia ver por ela apenas de uma forma não tão clara, eu notei aquele que parecia ser o senhor Kanechiro se aproximando de repente. Ainda me recusando a acreditar que o homem estava mesmo fazendo aquilo pra me machucar, eu acompanhei com os olhos ele repousar algum tipo de equipamento em uma das bancadas ali perto. Ainda lacrimejando, eu sorri ao notá-lo ali, pois sabia que ele iria me soltar se eu pedisse.

— Senhor Kanechiro, desculpa se não achei o seu chaveiro. — eu disse, ainda sem entender a gravidade real daquela situação — Eu juro que compro outro para você, e se quiser eu posso falar com sua esposa e explicar tudo. — complementei, acreditando que a causa de tudo aquilo era apenas eu ter sido desastrada o suficiente para não ver um amontoado de chaves enquanto limpava minha nova casa.

— Criança tola. — respondeu ele. Sua voz estava mais agressiva do que eu podia me recordar, já que ele sempre falou baixinho e suavemente. Ele estava estranho, mas eu ainda acreditava ser apenas raiva por ter perdido o seu tão amado chaveiro — Eu não tenho esposa. Nunca tive.

— Mas... Mas você disse que... — tentei questioná-lo afim de entender o que ele queria dizer, mas enfim comecei a me sentir assustada com aquilo tudo. Acho que naquele momento eu percebi que até para ser ingênua existe um limite, e comecei a finalmente ver a situação como ela era. Ainda processando a ideia de eu ter sido realmente burra esse tempo todo, levantei a cabeça tentando forçar a visão para enxergar o que o homem estava fazendo ali ao lado. Um som de ferro se chocando com algo começou a ecoar, e eu tentei me soltar. Comecei a desesperar.

— Você não sabe há quanto tempo eu quero ter você só pra mim. É, desde que chegou na vila, naquela época, sim. — ele contou, e então começou a rir alto de uma forma macabra — Se eu soubesse que era só lhe oferecer uma casa que você viria correndo para os meus braços eu teria feito antes. Ah, quanto tempo eu perdi.

Depois de ouvir tudo aquilo, a melhor expressão que definia o meu estado era em choque. Sem piscar e com os olhos arregalados por trás da venda, as lágrimas começaram a cair de forma descontrolada, encharcando o pano e dificultando que eu continuasse acompanhando o que acontecia ao meu redor. A ficha caiu de forma definitiva. Todas as vezes que ele foi legal comigo, me ofereceu doces e abraços... Todas aquelas vezes que percebi seus olhares estranhos e pensei ser apenas coisa da minha cabeça. Eu nunca estive errada de suspeitar, mas me forcei a acreditar que sim. Acreditando que nenhuma pessoa próxima a mim poderia me machucar, eu fechei os olhos para tudo o que estava acontecendo. Ele tinha razão: eu fui uma criança tola.

Senti algo tocar meu rosto. Era frio, como se fosse uma barra de metal. Kanechiro se moveu para trás de mim e com calma destrancou os cadeados que prendiam as minhas correntes. Naquele momento eu me preparei para correr, mas não consegui ser veloz o suficiente. O velho, como dito, tinha mais força do que eu tinha percebido até então, tudo parte da sua farsa para me atrair. Ele me segurou pelo pescoço quando fiquei de pé e me jogou em direção à parede atrás de mim. Eu bati de costas em uma prateleira velha que foi ao chão no mesmo ritmo que eu caí de joelhos. Com tantos movimentos, a venda finalmente saiu do meu rosto e só então eu pude notar com mais detalhes.

Segurando uma barra de ferro, Kanechiro estava ali na minha frente sem roupa alguma. Sua expressão assustadora com a saliva pingando pelo canto da boca foram apenas o último sinal que eu precisava. Eu rugi conforme me levantei e segui para cima do homem. Com as minhas mãos para frente, eu pretendia empurrá-lo para que tropeçasse na cadeira atrás de si que outrora era a minha prisão. Mais uma vez não fui capaz de surpreendê-lo, no que a sua barra de ferro veio de encontro ao meu rosto. Atordoada e agora sangrando, eu fui novamente de encontro ao chão, desta vez sem ter reação para amortecer a queda com meus braços e batendo a cabeça contra uma mesa.

Eu estava tonta e com a visão turva quando senti suas mãos nojentas tocando minhas pernas e então começando a subir. Eu gritei o mais forte que consegui, recusando a participar daquilo. Fui respondida com outra pancada no rosto que abriu um corte no lado esquerdo da minha bochecha. Agora ainda mais desnorteada, tentei me levantar. Kanechiro me pegou pelo pescoço com uma mão e ao soltar a barra de ferro levou a sua agora mão livre em direção ao meu rosto. Ele aproximou sua língua de mim e lambeu por cima do ferimento recém-aberto.

Foi naquele momento que eu senti a minha cabeça queimar.

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Genin
This garden bloomed full of thorns
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Eu nunca tinha sentido antes aquilo na minha vida. Por sempre confiar nas pessoas, eu raramente senta raiva de alguém. Ainda assim, já senti raiva antes e sei qual a sensação. Aquela ardência na minha cabeça, como se meu cérebro estivesse pegando fogo, contudo, não era um sentimento comum. Eu estava raiva... Não, eu estava furiosa. Sentir aquela língua nojenta contra a minha pele me fez sentir algo que eu nunca tinha sentido antes. Minha visão pareceu oscilar por um instante e as cores fluíram para diverso tons de vermelho, mas então voltou ao normal. Kanechiro ria e parecia estar em êxtase naquele momento, no que eu aproveitei para reunir forças na minha perna e então chutar-lhe no meio das suas. A dor súbita fez o homem me soltar e nisso eu corri para as escadas que anteriormente vi ele descendo, ainda quando estava enxergando apenas borrões por causa da venda. Assim que coloquei os pés no primeiro degrau, aquela ardência na minha cabeça se identificou. Meu equilíbrio vacilou ao ponto de me obrigar a apoiar as costas na parede ao meu lado. Com uma mão na cabeça, eu senti minha visão escurecer como se eu estivesse desmaiando... Mas não foi isso que aconteceu.

Desde pequena eu tenho sonhos estranhos com laboratórios e médicos assustadores, sendo este o meu pesadelo mais recorrente. Eu sempre achei que aquilo era apenas a minha imaginação fluindo, embora conforme eu fui crescendo a ideia de que não era simplesmente a minha imaginação começou a tomar força. Na verdade, eu percebi há muito tempo que aquilo era algum tipo de resquício do meu passado, mas me forcei a acreditar que não era esse o caso. Naquele momento que minha visão escureceu, ela voltou logo em seguida comigo vendo aquele mesmo laboratório que eu sempre sonho, que de tão recorrente eu consegui identificar de imediato. Naquela visão, eu estava por entre grades altas o suficiente para me impedir de sair, mas não maiores que outras pessoas. Eu era... Um bebê?

Voltei para a realidade quando senti algo tocando o meu braço. Era Kanechiro, recém recuperado da dor que lhe causei instantes antes. A sua expressão era bestial, pronto para revidar o que tinha acabado de acontecer. Ele me jogou desta vez em direção a outro canto daquele porão. Minhas costas se chocaram com uma outra mesa velha ali presente, fazendo-a se desmontar. Vários acessórios que estavam ali em cima caíram no chão ao meu lado. Quando o velho se aproximou e segurou no meu tornozelo, eu peguei um canivete caído no chão e o joguei na sua direção. A pequena faca passou cortando o braço do velho, que deu um grito de dor e me soltou subitamente. Aproveitei a brecha para ficar de pé mais uma vez, mas a visão pareceu vacilar assim como momentos antes.

A cena continuou de onde tínhamos parado. Então eu era uma criança no que parecia ser um berço. Explosões por todos os lados me assustaram ao ponto de me fazer chorar. Eu corri em direção às grades, tentando fugir. Várias pessoas corriam de um lado para o outro bem na minha frente, mas nenhuma parou para me salvar. Uma mulher veio de repente correndo em minha direção e eu a achei tão familiar que de repente meu coração se acalmou. Mas não durou muito, porque no momento seguinte o seu peito foi atravessado por uma lâmina e ela caiu ali, morta.

Com uma mão na cabeça novamente, a ardência que outrora estava apenas no topo da minha cabeça pareceu fluir por todo o meu rosto. Eu sentia ele arder de uma forma que indescritível. Na verdade, naquele momento a adrenalina era tanta que eu senti aquele fogo correr por todo o meu corpo. A visão vacilou novamente para tons de vermelhos, durando mais segundos do que antes, para então voltar ao normal. Peguei um estilete que também tinha sido derrubado e deixei sua lâmina à mostra quando apontei para Kanechiro. O homem começou a rir.

— Pare com isso, Takara-chan. — ele disse. Ouvir meu nome ser chamado por ele me deixou ainda mais enojada — Você sempre foi uma garota tão gentil, sempre deixou pra lá a nossa relação. O titio apenas está fazendo o que você queria. Era isso, não é?

Ouvir ele dizer que eu pedi aquilo foi o ápice. Eu percebi que não importava o que eu fizesse, ele não me deixaria ir. Estava completamente louco. Naquele porão eu sequer sabia se ainda estava na vila e se teria auxílio se conseguisse escapar. Em outras palavras, meu futuro estava em minhas mãos. Eu jamais iria cogitar matar um cidadão do meu país. Mas Kanechiro não passava de lixo. Um lixo que precisava ser descartado. Kanechiro teria que morrer. Seria ele ou eu. E eu já tinha feito a minha escolha.

— Não. Eu nunca pedi isso. Admito que eu era apenas uma garotinha inocente que não conseguiu notar as coisas horríveis que aconteciam ao seu redor... — respondi enfim a sua provocação, segurando mais forte o estilete em minhas mãos — Mas essa garotinha inocente já não está mais aqui.

Corri em sua direção enfim, e minha expressão era vazia. O homem tentou se defender colocar uma mão na frente, mas eu apenas reuni toda a minha raiva naquele golpe e mesmo desengonçada ele não conseguiu me parar. Com as mãos levantadas e o estilete apontando para o peito, eu perfurei o corpo de Kanechiro com um ferimento fatal. Ele ainda poderia revidar se fosse o caso, mas a dor e a surpresa lhe paralisaram. Ele morreu sangrando ali na minha frente. Eu o vi em seus momentos finais de vida. Quando ele enfim parou de se mover, eu caí de joelhos no chão e com as mãos na cabeça soltei o grito mais alto de toda minha vida. Era um grito de desespero, sim, mas também um grito de libertação.

Aquela ardência de antes se tornou mais forte e fluiu do meu rosto se concentrando nos meus olhos. Levantei a cabeça assustada e levei as mãos em direção aos olhos, como se esfregá-los fosse o suficiente para fazer a sensação parar. Mas não foi. Tudo escureceu novamente quando os flashs de memória de antes retornaram. De volta ao berço, o homem que matou a mulher em direção de repente caiu no chão, no que outra pessoa estava atrás de si. Essa pessoa foi quem me tirou do berço e correu por horas comigo nos braços, sem parecer ter um destino em mente. Ele me deixou na frente de um portão, e aquele portão eu reconheceria mesmo se um milhão de anos tivessem se passado: era o orfanato onde cresci.

Confusa e perdida, eu tentei limpar o sangue de minha roupa. Esfregar só manchou ainda mais o tecido, no que me levantei enfim e segui finalmente em direção à escada. Ao final da escada percebi que estávamos em uma cabana. Um espelho próximo de uma janela me permitiu olhar para o meu próprio reflexo, e eu fui pega de surpresa quando notei que meus olhos estavam diferentes. Tingidos de um vermelho como sangue, eu me aproximei do espelho para ver aquilo mais de perto. Um novo flash de memória tomou conta, e de repente o nome daquilo me veio à mente.

[Cena - Solo] O que você vai fazer agora? 1200px-Sharingan_simple.svg

— Sharingan.

Ao sair da cabana notei que estava fora da vila ainda que não tão distante assim. Seguindo uma trilha, eu levei cerca de uma hora para enfim chegar aos portões de Iwagakure. Quando os guardas notaram eu me aproximando toda ensaguentada, vieram rapidamente correndo em minha direção. Exausta, eu apenas caí no chão bem diante dos seus pés. Aquele pesadelo tinha acabado, enfim, mas eu sentia que de alguma forma um novo capítulo na minha vida estava prestes a começar.

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A narrativa foi ótima, parabéns!
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