Poderia alguém como eu, com uma existência pautada em objetivos torpes, se apaixonar por alguém? A meta da minha mãe sempre foi me ver construindo uma família, mas nunca tive vontade de ser o marido de qualquer garota que conhecesse. Para mim, as mulheres eram… Difíceis demais de lidar. Sabia que também era uma pessoa difícil de conviver, por isso nunca me permiti sentir tais emoções. Porém, esse tipo de coisa não se escolhe sentir. O amor… Ele pode nascer nas ocasiões mais inoportunas, nas situações mais insanas. Era por isso que, naquele fim de tarde ensolarado, me dirigi ao cemitério, para visitar alguém. Tudo por causa daquele maldito acidente...

   A conheci meses atrás depois que minha mãe bateu com a cabeça em um acidente doméstico, tentando pegar algo em cima do armário usando a cadeira como escada. Ela não tinha sofrido nada de ruim, mas precisou ficar dois dias de repouso no hospital. Não sabia por que, mas ela foi colocada justamente no quarto daquela garota… Quanto mais penso nela, mais acredito que nunca deveria ter ficado mais tempo naquele quarto. Utsugi Saori… Ela era tão gentil com a minha mãe, tão atenciosa, e mesmo que a sua pele estivesse pálida por causa de uma doença incurável, ela estava sempre com um sorriso no rosto, enquanto ela olhava para o céu. A menina estava bem magra, mas tinha uma aura muito especial.

   - E qual é nome do seu filho, Haru? – ela perguntou para a minha mãe, me olhando com admiração. Não entendia o porque dela me ver daquele jeito, mas parecia que ela olhava para todos daquele jeito, do médico que a examinava ao enfermeiro que afofava o seu travesseiro. - Indra. O nome dele é Indra. – ela segurou em minha mão e sorriu. Como podia alguém que estava a beira da morte manter aquela aparência angelical, aquela ânsia pela vida? Não era capaz de entender tamanha felicidade num momento de desgraça.

   Isso atiçou a minha curiosidade. Depois que minha mãe recebeu alta, resolvi visitar Saori dois dias depois no hospital sem contar para a minha mãe. Descobri que a menina gostava de ler, então levei um livro que retratava sobre as grandes invenções do passado, só para descobrir que ela gostava de livros românticos. Assim que percebi isso, sentei-me ao lado dela em seu quarto, e pedi desculpas pelo erro. Antes que pudesse lamentar, Saori segurou em minha mão, ainda que sem muita força, e pediu para que eu lesse para ela. - Sua mãe disse que você é o maior inventor de Konoha, Indra-kun. Por favor, me ensine tudo o que eu preciso saber sobre tecnologia. – e naquele dia, tive a oportunidade de contar para ela não só a história da tecnologia, mas como havia virado inventor.

   Mas não tive coragem de fazer a pergunta que tanto gostaria de fazer. Tudo o que sabia era que precisava fazê-la logo, pois pelo que via nela, não havia tanto tempo para questioná-la.

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   A curiosidade de entender a verdade por trás de Saori foi maior do que o meu bom senso de deixá-la partir das minhas lembranças. Primeiro, consegui permissão dos pais para visitá-la no hospital, indo lá por vários dias, até mesmo depois do meu trabalho. Foi então que descobri que ela tinha uma doença que parecia não ter explicação e que era incurável, já que o seu corpo não era capaz de produzir os anticorpos necessários para protegê-la, e que ela só estava viva por causa do aparelho que fora construído para pessoas com a sua doença, mas nem isso poderia salvá-la.

   Ainda assim, ela continuava ali, mesmo que cada dia mais magra, mais pálida, mais fraca… Dia após dia, ela continuava linda, continuava positiva e radiante, como o Sol que iluminava Konoha. Mesmo curioso, não tinha coragem de perguntar a ela o porque dela ser daquela forma, enquanto a vida parecia querer derrubá-la todos os dias. Preferia conversar com ela sobre outros assuntos, de explicar sobre o que ela quisesse saber. Sabia mais sobre engenharia e sobre criações de tecnologias do que tudo, o que a princípio poderia entediar Saori, mas ela sempre dizia que tudo aquilo era muito legal.

   Até que numa noite, tomei coragem para perguntá-la. Estávamos mais íntimos, pelo menos era isso o que os pais dela diziam. - Como você consegue ser tão positiva? Como consegue ser tão radiante diante do caos que é a sua vida? – perguntei baixinho. Então ela segurou a minha mão, e naquele momento senti toda a minha pele arrepiar, e meus olhos fixaram-se no dela. - [color=#ff9900]Porque a vida é tão bela, com tantas pessoas boas… Como você. – ela sussurrou, então eu abaixei o rosto. - Mas… Você está fraca, pálida, os olhos fundos. – disse, mas mesmo assim ela não ficou triste. - Mas o meu coração continua bom... – ela disse, e então nos olhamos por alguns segundos. De repente, nos beijamos. Um beijo calmo, sem malícia, mas que mexeu com cada centímetro do meu corpo.

   Foi um dos dias mais felizes da minha vida, e penso que dormi com um sorriso no rosto. Nunca havia sentido tanta felicidade, tanto desejo de estar com alguém, e nem ao menos entendia como aquilo foi acontecer. Será que deveria pensar naquilo? Tudo o que mais queria era voltar para o hospital e beijar os lábios de Saori novamente.

   Mas no dia seguinte, Saori entrou em coma.

   Naquela noite em que ela entrou em coma, fiquei na varanda da minha casa bebendo. Minha mãe soube do que houve e voltou para Konoha graças a um tipo de transporte rápido. Ela não disse nada, apenas tirou a garrafa vazia de sakê de perto de mim. - Por que isso está acontecendo comigo, mãe? Por que na última vez que sinto algo bom por alguém, ela tem que partir? – disse em voz alta, sentindo lágrimas saindo dos meus olhos. - Por que, mãe? – falei mais alto, enxugando as minhas lágrimas com a manga da minha roupa.

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   15 dias depois, lá estava eu, com as flores na mão. Lembrei de todas as coisas que se passaram nos dias anteriores, não conseguindo deixar de escapar algumas lágrimas em meus olhos, enxugando-as com a manga da minha roupa. Minha mãe chegou perto de mim e segurou a mão, não dizendo nenhuma palavra. - Coitado de você, meu filho. É a primeira vez, depois de muito tempo, que te vejo chorando. – disse, apertando a sua mão. - Só estava lembrando de tudo o que aconteceu. Ainda não acredito como as coisas podem mudar de repente. Será que vai dar certo, mãe? A senhora sabe... – perguntei a minha mãe, que parecia ser uma mulher mais vivida e sabia das coisas. Ela pensou bem e rapidamente respondeu. - Só você pode responder isso, meu filho. Quer dizer… Você parece bem diferente. Existe vida em seus olhos, depois de tanto tempo. Agora pare de chorar, pois ela está vindo. – de repente, olhei para trás e lá estava ela.

   Saori vinha em uma cadeira de rodas bastante sofisticada, criada por mim, em colaboração com os médicos que tratavam da sua doença. Não havíamos descoberto a cura definitiva, mas graças a uma nova versão do Reator ARC criada por mim, a cadeira foi adaptada para criar os anticorpos necessários para encher aquela garota tão bela de vida. Tive a ideia naquela noite, depois de tanto chorar com medo de nunca mais ver o sorriso de Saori, mesmo não conseguindo compreender porque ela me fazia tão bem.

   Bem, talvez eu soubesse, mas não era capaz de explicar com tantas palavras. Não era como ter que explicar o funcionamento de uma armadura ou criar uma teoria sobre jutsus temporais. Talvez a única palavra que poderia definir aquilo era amor. Nunca quis sentir esse tipo de coisa, ainda mais sendo um ninja, mas por mais inexplicável que seja esse sentimento… Talvez não tenha sido tão ruim a minha mãe ter se machucado, afinal de contas.

   Assim que ela ficou próxima de mim, me ajoelhei no chão para ficar na mesma altura de Saori, acreditando que assim poderíamos nos olhar nos olhos melhor.

   - Saori… Como eu prometi, vim visitar o seu avô com você, mesmo que ele já esteja morto a muito tempo, ainda mais da doença que quase te matou. – ouvi minha mãe gritando o meu nome em voz alta e levando a mão ao rosto, no passo em que Saori começou a rir, levando a mão ao meu rosto, fazendo minhas bochechas queimarem. - Obrigado por ter vindo. Amanhã, gostaria que viesse almoçar com a minha família. Todos estarão lá. Quero convidar vocês dois, pois se não fosse a sua mãe, não estaria viva. – ela disse, fazendo carinho em meu rosto.

   - Em breve, vou construir uma armadura para você poder andar sem precisar dessa cadeira. – prometi, olhando nos seus olhos. - Você salvou a minha vida, Indra-kun. – ela sussurrou, olhando nos meus olhos. - Não, Saori… Você salvou a minha. – disse o mesmo tom.

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