Já era a quarta vez que Mikan passava pela sala e via os pais entretidos em uma nova encenação que estava sendo feita nos festivais da vila oculta. A mãe contava um dos desfechos emocionada para ela no café da manhã enquanto o pai escondia a face atrás de um jornal, provavelmente aos prantos.

— Só o Dr. Marcoh poderá salvar nossa heroína na semana que vem… Vai ser sensacional, você podia vir com a gente, será a penúltima peça para encerramento desta atração.
— Mãe, encenação de novels é coisa para velhos. — reclamou colocando o achocolatado na caneca.

O pai levantou-se batendo as mãos fortemente na mesa e com os olhos empolgados — Você não entende por tudo que aquele doutor passou… Seus conhecimentos foram capazes de salvar tantas vidas, todos estariam mortos se não fosse Marco-sama. — relatava em uma demonstração de encenação mais amadora possível.

Mikan mantinha os olhos fechados, levando a caneca a boca, sentindo apenas o doce em sua língua e desmotivada pelas histórias dos mais velhos.

— Okay, irei dar uma chance ao tal Dr. Marcoh-sama, Yamanaka-san. — disse dirigindo-se aos dois. Deixou a mesa da cozinha quando acabou a refeição e foi aguar as plantas da loja Yamanaka.

Por todos os lados via panfletos e cartazes com chamadas e frases motivadas do médico qual os pais admiravam. Mikan quando mais jovem chegou a ter interesse por ninjutsus médicos por causa dos pais de uma melhor amiga que morreram em guerras passadas e foram considerados heróis por todos os feitos. Por um tempo, eles eram seu herói também, e com tantas coisas que tomaram o tempo da loira, sequer voltou a ler ou pensar sobre isso.

De alguma forma, Mikan tinha em si uma curiosidade inata, digna de pesquisas, conhecimentos, e busca por mais e mais informações, não é atoa que está sempre com livros em mãos, por mais entediantes e difíceis que possa ser sua leitura.


O show seria aquela noite, enquanto os pais saboreavam dangos com chá verde, a jovem Mikan experimentava o Takoyaki da venda de um conhecido seu quando morava na casa de uma parente. Não era tão ruim, podia dizer, até mesmo queria comer mais, só que a encenação já ia começar e enquanto Mikan achava que tudo aquilo seria entediante, foi completamente o inverso. Os atores, a peça em si, os conhecimentos transmitidos e toda a emoção lhe fez perceber porque os pais gostavam tanto do Sr. Marcoh. Ela até mesmo quis ir até os bastidores para conversar com tal, mesmo que atores de festivais costumassem ser arrogantes com fãs e darem autógrafos.

— Mikan Yamanaka.

O homem a chamou, em meio à multidão a porta do ator principal. Ele não era tão velho, mas não era jovem, parecia ser muito inteligente e transmitia isso com seu olhar… Mas… De onde ele a conhecia?

— Marcoh-san… — respondeu em gaguejos, quando todos se calaram para olharem para ela. Ele riu se aproximando da jovem e a multidão que estava no meio.
— Me chame de Inokyu. Você não deve se lembrar de mim, mas eu sou irmão da prima de sua mãe.
— Um parente realmente distante. — comentou.

Os pais ao lado riram, não queriam contar nada a ela por causa da surpresa. O trio foi levado ao camarim e lhes ofereceram alguns lanches e sentaram-se para conversar. Ela preferiu ir até a estante com centenas de livros sobre anatomia humana e biologia dos seres humanos, que acabou fazendo seus olhos brilharem.

— Gostou da peça, Mikan-chan? — o homem perguntou, ele segurava um copo de chá gelado para ela.
— Foi… Interessante. A história é bem contada e os fatos são bem encenados pelos atores. Fizeram um ótimo trabalho de ensaio, parabéns. — respondeu e aceitou o copo.
— Boa análise. — riu envergonhado — Gostou da minha coleção? — ele pareceu mudar de assunto ao ver um dos livros na mão dela.
— Sim, são fantásticos. — disse com um sorriso largo.
— Quer emprestado para ler? — ofereceu e a cabeça dela não cogitou em acenar positivo para aquilo, com toda a empolgação do mundo.

Mikan parecia mais animada com aquela coleção em seus braços do que com a própria peça teatral ou os comentários da família, e conhecendo a jovem, ela não demoraria dois dias para ler metade daqueles livros, mesmo sendo eles bem explicados e ilustrados, os deixando bem volumosos.

Em mistura com os tais livros, quais estudou com afinco, Mikan reuniu livros antigos que tinha quando o interesse pela medicina era maior, acabando que através de estudos, a última peça que assistiu na primeira fileira e os livros emprestados pelo tio distante, adentrou-se no mundo dos conhecimentos medicinais e anatômicos.

Consid.: