Yota tinha um costume de quando começava a anoitecer de pairar pela vila em busca de alguma coisa para fazer. Normalmente passava horas conversando com amigos que também estavam sem sono e voltariam logo em seguida cada um para as suas casas. Agora que havia finalmente se tornado um Gennin havia muitas coisas na mente do garoto então era obvio que a ansiedade para a madrugada estava em pico.

Reparou o clima quando estava prestes a sair e sentiu uma gota grossa bater em sua testa. Suas mãos foram de instinto até ela e reparou que seus planos haviam sido destruídos por aquilo. A chuva aumentou e ele teve que voltar para casa como todos estavam. Um pouco de confusão flutuava na cabeça do jovem, não se lembrava da ultima vez que havia acontecido, porém não era uma pessoa que se lembraria de uma chuva, principalmente com os acontecimentos da sua vida nos últimos tempos. Porém ao escutar a reclamação de seu avô em relação à chuva, teve sua desconfiança confirmada. Algo estranho tinha acontecido. Era de padrão de o garoto reclamar na sala de estar com seus avôs sobre tudo aquilo e como havia estragado seus planos, mas até Yota conseguia sentir que aquele não era o melhor momento para esse tipo de comentário.

Já tinha se preparado e estava todo arrumado para ficar conversando com seus amigos então sono era algo que estava distante de seus pensamentos, então o tédio estava lentamente, mas com bastante força possuindo o corpo do Gennin.

“Nada para fazer!” Gritou, jogando seu corpo para a sua cama. Tentou fechar os olhos para fingir um sono, mas nada aconteceu. Remexeu-se fortemente em sua cama e se sentou de forma brusca. Seus olhos vagaram por entre o quarto e em cima de uma mesinha reparou em um livro.

Sua mãe tinha bastante coisa dela pelo quarto então imaginava que aquilo pertencia a ela, então por respeito se levantou para poder guardá-lo, porém ao se aproximar dele e ler lentamente o nome uma curiosidade tomou conta de si. Andou até sua cama com ele em mãos e já que não tinha nada para fazer não faria mal a ele ler algo que parecia ser tão interessante.

Ao abrir o livro e começar a leitura logo nas primeiras palavras reparou que talvez fosse melhor se ficasse um pouco mais confortável e que pelo bem de suas costas seria melhor que se apoiasse em algum lugar. E assim fez, se encostando nas costas de sua cama e com o livro em seu colo voltou a leitura. Séculos de conhecimento são passados de um ninja para outro, geração após geração. Somos os guardiões desse segredo antigo, da arte milenar conhecida somente como Shikigami no Mai. Yota sentiu um arrepio ao perceber que talvez não fosse certo o que tivesse fazendo por alguns segundos. Porém não pensava que sua mãe poderia ter feito algo de errado tendo posse daquele objeto, então apenas deu de ombros e voltou a focar na leitura.

Ninjas do mundo inteiro se tornaram usuários do origami, e viram nela uma ferramenta para se consolidarem na Arte da Guerra.   A leitura aos poucos absorvia mais o garoto para dentro do livro, cada parte dele se encaixando em seu cérebro. Podia não parecer pela sua forma hiperativa de ser, porém o garoto sempre foi bastante inteligente então conseguia entender a seriedade do que tinha em suas mãos. Nós somos aqueles que usam os papéis não só como uma forma de expressar a nossa arte, mas também a nossa fúria, a nossa vontade de sobreviver às armadilhas da vida. Sentiu uma pitada de receio por ter aquilo em suas mãos, mas até sua curiosidade era mais alta do que qualquer sentimento que pudesse o fazer parar de ler Aqueles com boa maestria em Ninjutsu e Controle de Chakra podem se tornar conhecedores e dedicarem as suas vidas ao aprendizado deste jutsu. Pensou calmamente em suas próprias técnicas e refletiu sobre as coisas que havia ouvido dos professores que teve e talvez caso se dedicasse conseguisse aprender pelo menos um pouco da técnica.

A leitura havia prendido a atenção de Yota ponto de ele não sentir que aos poucos o cansaço estava tomando conta de seu corpo. Ler antes de dormir não era algo que costumava fazer, mas agora entendia o porquê de as pessoas terem isso como hobby. Não conseguia tirar da sua cabeça os exatos passos do que tinha que fazer para aprender a técnica e sabia exatamente o que faria no dia seguinte. Colocou o livro no criado mudo ao lado de sua cama e se virou para o lado para dormir. O barulho das tempestades e de raios que antes o deixavam preocupados havia participado de musica de fundo durante toda a sua leitura então a forma constante de que eles apareciam ali começava a tranquilizar o mesmo.

A manhã seguinte foi do jeito de sempre, como se aquela estranha chuva não tivesse acontecido. Não tinha ninguém para fazer perguntas sobre o ocorrido já que seus avôs provavelmente estariam fora de casa no momento, então deixou essa duvida de lado e voltou a pensar no livro. Havia parado antes de começar a praticar realmente o que estava ali, então era impossível negar o entusiasmo dele. Pegou o livro e procurou exatamente onde estava escrito os passos que tinha que fazer para que não esquecesse nenhum detalhe. “Os usuários de Shikigami no Mai transferem o seu chakra para o amontoado de papéis que pode carregar com ele em uma bolsa ou torná-lo parte do seu corpo, produzindo-o através da sua própria energia e liberá-la quando bem entender, sendo os únicos limites impostos o da sua imaginação... ” Leu baixo para si mesmo para que fixasse ainda mais em sua mente.

Precisava naquele momento um punhado de papeis e sabia onde poderia encontrar. Desde que sua mãe se foi, não havia mudado muitas coisas no quarto dela além de ter limpado e retirado as cartas, porém sabia que ainda tinha bastante papel que ela não havia usado espalhado por lá, e sabia que seus avôs não sentiriam a menor saudade deles, então seria com eles que a pratica seria feita.

Pegou os papeis do quarto de sua mãe e foi direto para o seu os colocando no chão. Sentou-se perto dele e pegou o primeiro papel. Estava um pouco nervoso, mas estava bastante determinante em aprender.

Tentou se focar com seus olhos abertos, porém acabou os fechando percebendo que para a sua primeira vez teria que usar toda a sua concentração. Segurou a folha com uma das mãos e focou plenamente nela. As instruções de como fazer o primeiro exercício estavam claras em sua cabeça então acreditava que precisava apenas se manter atencioso para conseguir fazer o que era mandado. Ao longe poderia ouvir pessoas falando do lado de fora e o silênco que ele desejava aos poucos se aproximava quando conseguia tirar a sua mente de fora de sua casa. Sua mão direita segurava a folha enquanto aos poucos sentia o seu chakra passar por você. Era como se uma ligeira carga elétrica que aumentasse de força e se andasse por todo o seu corpo. Seu chakra corria por ele e aos poucos se focava em seu braço descendo até sua mão. Yota deu um sorriso lembrando que sempre foi bom em controlar o seu chakra, então aquela situação estava sob controle.

A parte que complicava para o menino chegava quando o chakra já focado em sua mão passava para a folha.  O seu controle desvencilhou por alguns milésimos, porém respirou fundo e conseguiu sentir o que tinha que fazer. Manteve a idéia de um kunai em mente tentando fazer com que o papel se transformasse.

As tentativas falhas poderiam causar decepção em algumas pessoas, mas Yota era determinado. Ele sabia que se tentasse mais vezes era provável conseguir algum resultado, não necessariamente o melhor deles, mas um pouco menos ruim do que os que estava tendo pela ultima hora. Havia pegado outro pedaço de papel imaginando que talvez a culpa fosse daquele que já havia sido usado diversas vezes, mesmo sabendo que aquilo não era nada mais do que uma desculpa falha de seu cérebro, ele pegou outro papel e quando começaria a se concentrar novamente ouviu sua porta abrindo e seu avô entrar no quarto.  Pensou em negar ir almoçar, porém sua barriga roncou um o fazendo mudar de idéia. Talvez um descanso para comer não fosse fazer mal. Além do mais precisava das suas energias cheias para tentar com mais força da próxima vez.

Ao escutar seu avô falar da sua mãe um sorriso apareceu em seu rosto. Nunca havia a mãe usar aquele tipo de jutsu, então saber que ela também passou por essa situação que ele estava passando era de certo modo bem confortante. Levantou-se com um salto para se sentar ao lado de seu avô e ao escutar como a outra havia aprendido jogou a mão para o lado desdenhando da idéia de pedir à ajuda de alguém. Yota quando cismava com algo era difícil que escutasse alguém que o dissesse o contrário.  Não conhecia os Nakajima, porém naquele momento não tinha muita vontade disso, sabia que conseguiria fazer sozinho, então não precisava de ajuda de mais ninguém.  Deixou o livro ao seu lado e seguiu o avô até a cozinha da casa onde estava a sua avó já pondo a comida sobre a mesa. “Eu acho que consigo aprender sozinho...” Falou, mesmo não tendo muita certeza daquilo, mas não iria mesmo desistir e ir buscar ajuda quando só estava no começo do treinamento.

Yota comeu o mais rápido possível e não prestou atenção em nada que seus avôs conversavam durante a refeição. Estava mais focado em voltar ao seu treinamento e se focar intensamente em aprender aquilo o melhor possível. Ninguém ali estranhou seu comportamento, pois era comum que quando estivesse focado em algo se mantivesse o mais obcecado pelo resultado possível.

Voltou ao seu quarto nas pressas e pegou o livro novamente se preparando para a nova sessão de treinamento. Com o livro repousado em seu colo, e suas pernas cruzadas no chão, procurou pela pagina onde havia parado imaginando que talvez fosse achar alguma dica de como fazer todo o processo ficar um pouco mais fácil para ele. E foi lá que encontrou um pedaço de folha presa no livro. Reconheceu a letra imediatamente fazendo com que um sorriso formasse em seu rosto. Até mesmo depois de falecida, ele ainda poderia ler novamente uma carta dela. Aquela não era tão pessoal quanto as outras, mas ainda sim, lia lentamente como se estivesse escutando um carinho vindo de sua mãe.

A dica dela passou pela sua cabeça e ele se concentrou para elaborá-la. Ok, imaginar todo o processo . Pensou, colocando o livro para o seu lado e pegando um pedaço de papel novamente. Fechou seus olhos e novamente recolheu o chakra de seu corpo para o local determinado, porém dessa vez se manteve em mente todo o processo que imaginava que seria.

Em sua mente o papel se enrolaria em um tubo antes de começar a afinar em uma das pontas, e na outro um circulo apareceria com a base onde imaginaria que começaria a segurar quando abrisse os olhos. Pensava lentamente o processo diversas vezes para que pudesse passar toda a energia necessária e também os comandos corretos.

Enrolou a mão pelo papel esperando encontrar o objeto e sentiu uma alegria crescer dentro de si quando sentiu a Kunai por entre seus dedos. Abriu os olhos e levantou a arma para cima para que pudesse observar claramente o objeto feito totalmente de papel. Analisou ele lentamente com um sorriso enorme em seus lábios antes de colocar o objeto de lado e pegar o livro. Uma kunai não era o seu objetivo apenas em aprender a arma. Pegou o livro e tirou a carta de sua mãe do caminho a colocando do seu lado. Obrigado... Agradeceu mentalmente lançando um olhar carinhoso para o papel como se tivesse encarando memórias de sua mãe.

Pegou o livro e colocou no ar estendo seu braço para cima enquanto jogava suas costas para o chão, bem animado por ter conseguido fazer pelo menos uma coisa com a técnica. Clones de Papel Começou a ler em sua mente, focando em cada uma das palavras para que pudesse executar a técnica, que parecia mais difícil, da melhor forma possível.

Sua mente foi imediatamente para a habilidade de clones que aprendeu na academia e era obvio que aquela era uma versão dela com papeis então sorriu confiante enquanto pulava para se manter de pé, quase tropeçando quando fincava os pés no chão.

Precisaria de bastante papel e olhou a sua volta e mesmo que sua mãe houvesse deixado bastante papel acreditava que não era o suficiente para que pudesse fazer um clone de si mesmo. Não era bem alto, então não imaginava que fosse precisar de tanto, mas aquele punhado não parecia que faria nem seu tronco.

Correu para sala determinado a pedir dinheiro a seu avô para poder ir à papelaria comprar mais papel para o seu treinamento.

Aceitou o dinheiro com um sorriso nos lábios. As palavras de seu avô fizeram com que desse uma risada e confirmasse levantando o seu dedão para ele. Na sua próxima missão já sabia o que fazer com o dinheiro que iria receber e isso seria pagar suas dúvidas. Ir para o centro de sua vila para comprar os papéis necessários foi rápido, pois estava tão distraído que nem sequer falou com ninguém ou pensou em conversar com algum amigo seu. O sol estava forte então ficou bastante feliz que estava passando o dia dentro de sua casa, pelo pouco tempo que passou do lado de fora já estava começando a cansar do calor. Mesmo que já estivesse acostumado com o clima ainda sim era algo que sempre o pegava desprevenido.

Entrou em sua casa e acenou para seu avô avisando que havia chego. Colocou a enorme quantidade de papel junto com o resto de papel que havia sobrado ali e antes de começar a praticar voltou a ler o livro procurando por alguma dica para que pudesse fazer a técnica com mais facilidade e ali estava. Leu com atenção e confirmou com a cabeça quando entendeu exatamente o que tinha que fazer.

Organizou a multidão de papel na sua frente e fechou os olhos. Sentia novamente a corrente elétrica por dentro de si, agora bem mais agitada, pela quantidade de treino no dia. Tentou controlá-la primeiro para que pudesse manipulá-la com mais facilidade. Quando sentiu que poderia, se concentrou nos papeis em sua frente. Tentou estender parte de seu chakra para ele e em sua mente ficou a sua própria imagem. Imaginou como se tivesse enxergando um reflexo nítido de seu rosto e corpo. Fazia seu chakra sair de seu corpo e ir em direção ao papel e esperava que pelo menos parte de seu corpo se formasse ali. Nas primeiras tentativas faria de olhos fechados, mas estava começando a ficar ansioso para saber como era realmente feito o processo de transformação, mas era paciente em saber que precisava focar inicialmente no processo antes do resultado.

Havia passado novamente pelas tentativas falhas e Yota mentiria se falasse que suas expectativas estavam bem altas depois de ter conseguido fazer a Kunai e agora vendo como estava novamente com dificuldades foi jogado um pouco de volta para a realidade, porém ele não era mesmo uma pessoa que desistia facilmente então não seria agora que ele largaria de mão o treinamento solo, ainda mais quando sentia que estava tão próximo de começar de conseguir fazer aquilo.  Depois de algumas práticas reparou que a falta de calibragem na emanação de seu chakra estava o atrapalhando e isso talvez seria a próxima coisa a se resolver.

Respirou fundo novamente e enquanto se concentrava em controlar a descarga elétrica dentro de si pensou que talvez precisasse ser bem mais exato na cópia. Lembrou que na hora de fazer a kunai teve que ser bastante específico parecia óbvio agora para ele que precisava da mesma especificação para criar um clone. Imaginou a si mesmo com mais clareza encarando o espelho e começou a descrever partes de si mesmo mentalmente. Cabelo cinza, bem baixo, conseguindo ser menor do que muitas crianças que estavam entrando agora na academia... Ele revirou os olhos de si mesmo por ter se perdido na sua imagem bem pequena de si. Respirou fundo e tentou voltar com o foco. Cabelos cinza, olhos verdes... E assim foi pensando em cada parte de seu corpo tentando deixar a imagem bem clara em sua mente de como ele realmente era para que o clone ficasse perfeito. Ou o mais próximo disso.

Abriu seus olhos e ali estava um copia perfeita de si mesmo. Até demorou para acreditar que aquilo ali era feito de papel , mas ao ver o resto de papel perto do pé do clone ficou obvio que tinha conseguido. Tentou se segurar mas um grito veio alto em sua garganta e se aproximou do clone dando um abraço nele fazendo com que dissipasse por ter perdido todo o foco para manter ele ali. A criação daquilo foi um upgrade enorme na auto estima dele fazendo com que apontasse para o livro com um olhar confiante, suas sobrancelhas se encontrando perto de seus olhos e o rosto apontando para baixo em direção ao objeto.

“Eu vou aprender tudo que ta em você!” Falou como se tivesse desafiando o livro para uma disputa.  

Demorou uns segundos para que retornasse a si mesmo e apenas riu da forma boba que havia reagido aquilo, até mesmo seu avô foi para o quarto para ver se ele havia se machucado, porém estava muito distraído para reparar nele que só se encostava na porta do quarto o observando. Yota correu até o chão e pegou o livro o colocando em seu peito pronto para aprender mais coisas. Aberto para novas dificuldades e aprendizado.