– Eu não sou completamente desenvolvido, é claro que não posso – respondeu Rá, indignado.

Estávamos de saída na porta de casa e decidindo os métodos de treinamento daquele dia, estava tomado pelo ânimo de um bom progresso dos dias anteriores e ainda tinha algumas falhas a serem corrigidas.

– Mesmo completamente desenvolvido, você não ganharia em uma corrida.

– Você acha que sabe sobre mim, mas não sabe nada Artemo – apesar da seriedade severa na voz do lobo, a encenação roubou uma risada e nos colocamos nas ruas da Nuvem.

Embora da boa velocidade e agilidade já tomavam conta dos músculos, não me sentia inteiramente capaz de me adequar a algumas situações que demandariam maior capacidade. Da mesma forma, porém um pouco mais degradado, meu taijutsu havia se encostado nas capacidades excepcionais do ninjutsu e genjutsu e acabou por ficar um pouco para trás.  

– Já que você não me acompanha em uma corrida, corro sozinho. – Despedi-me dando as costas e colocando-me sobre os telhados, de salto em salto em direção aos limites do vilarejo.

Os músculos correram com facilidade e completamente relaxados, até os muros de Kumo a distância não se estendia por muitos quilômetros. Passei por eles despercebido de qualquer atenção e as pernas dispararam, suaram, voaram e esgotaram toda a energia que conseguiriam reunir sem um tempinho para descanso. Nessa altura eu já beirava a proximidade de um fragmento de mata que rodeava a vila, sentia o frescor do verde se aproximando na umidade do ar.

Não contei os minutos do descanso, mas o sol informou que nem uma hora havia passado. Busquei algumas árvores de estatura semelhante a de bonecos de treinamento e usei-as como alvo e saco de pancadas. Boa parte da prática de taijutsu que eu conhecia envolvia explorar seus limites de equilíbrio, velocidade e precisão ou execução dos golpes. Trabalhar com o peso e movimento do corpo era essencial, pois a força e eficiência dependia basicamente de como você manejava esses dois fatores. E foi a área exata que o treino alvejou.

Novamente corri, dessa vez tanto para aumentar a resistência da velocidade quanto a dificuldade dos movimentos do corpo enquanto tentava alvejar os caules marcados, lutei como se enfrentasse mil exércitos e os dedos ornamentaram o chão com o sangue que deixavam escorrer pelas feridas abertas. Continuaria noite adentro se não fosse o meu apreço inestimável pelo que aquelas mãos eram capazes de fazer, pensar em tê-las danificadas por um mero treinamento fez um frio correr e arrepiar a espinha.  

Lavei as mãos com o pouco de água que me restava e coloquei a floresta para trás, dessa vez a calmaria comandava os passos e o ar acalmava os pulmões ainda agitados.  

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