Apesar de equipado e convencionalmente trajado, de estar nos arredores do Quartel General e durante o tardar da noite, não havia qualquer busca por missões ou deveres nos passos apressados que me guiavam. Independentemente do que eu queria ou planejava, algo descia do céu e certamente trazia meu desgosto consigo.  

Estendi o braço para o pássaro pousar sem qualquer preocupação com o comprimento das garras. Estranhei o mensageiro ter acabado de deixar seu posto e encontrado o alvo da mensagem, provavelmente seria algo necessitado de pressa e do ninja mais próximo. Liberei a ave sem o conteúdo e o li rapidamente, inflamando o tédio a cada palavra. Deveria me deslocar o quanto antes ao prédio em chamas de um burguês da Nuvem. Não foi difícil imaginar uma dezena de subalternos menos capacitados que poderiam se dispor energeticamente àquela tarefa. Mas, ainda carregava o cargo de genin e aquilo parecia ser o mais emocionante a se conseguir em missões dentro da vila.

Deixei a pressa de lado e pensei por alguns segundos se eu estaria preparado para ir tratar de um incêndio. Estar preparado, nesse caso, incluía não ter nada comigo que poderia se perder ou danificar. Depois da displicência inofensiva, meus passos foram ágeis e precisos ao me levarem até o prédio a ser salvo.  

Considerações:

Equipamentos:

Exigi dos músculos tudo que eles podiam me dar de velocidade naquela noite. Não me surpreendi ao me deparar apenas com uma parcela de curiosos e afetados que a luz do dia poderia trazer. Nada me deixaria mais satisfeito que transpirar calma e displicência em torno da burguesia da vila. Pessoalmente, os danos patrimoniais e financeiros não me importavam muito, corri os olhos rapidamente pelo lugar e ninguém demonstrava qualquer indício de desespero ou angústia acentuada, o que poderia indicar alguém em perigo. Mas a mensagem no pergaminho de convocação fora clara e específica: os danos no prédio e nos documentos que ele mantinha poderia causar prejuízos para a vila, displicência deveria passar longe de mim.

Caí de um salto com habilidade e graça ao lado do homem farto e trajado por tecidos que eu diria custar uma casa inteira.  

ー Qual é a sala mais importante? ー perguntei, dessa vez com encenação na voz.
Deixei claro a urgência da resposta e mantive o olhar vagando em busca de algo, o semblante mais carrancudo que o de mil velhos.  

ー Ú-ú-última sala do corredor principal ー O gaguejo fora mais por surpresa e falta de dicção que por susto propriamente dito.
Ignorei-o a partir do momento em que não era mais útil e novamente percorri o ar com um pulo hábil para dentro de um dos cômodos ainda pouco infestado por fogo.  

Considerações:

Equipamentos:

Imaginei que a janela me levaria direto ao banheiro do andar, à um deles pelo menos. Além de ser comum prédios de empresas daquele porte terem todas as janelas com tamanho o suficiente para um humano adulto saltar e tomar rumo pelos telhados, todos sabemos que para saidinhas discretas, convenhamos, havia pouca iluminação do fogo refletindo nos vidros. Outra característica daquelas arquiteturas luxuosas é justamente o luxo dos sanitários, geralmente compostos de cerâmica ou materiais do gênero, pouco inflamáveis. Eu estava certo.

Movimentei as mãos como se o gesto trouxesse para mim toda a água dos vasos sanitários, contei dez rapidamente e de fato as trouxeram. Juntei as substâncias em uma só e ordenei-a sem pensar em direção aos principais focos de incêndio que os olhos conseguiram buscar. Era grande o suficiente para se dividir em quatro lugares, cada nuvem de água separando-se em gotas antes de enfrentar o fogo, como uma chuva começando a ficar nervosa.

Antes de deixar o banheiro, com a pressa e precisão que a missão requeria, quebrei três torneiras e fiz fluir três fontes incessantes de preciosa água. Era líquido o suficiente para formar fileiras de aglomerados e correr em suas companhias por todo o andar, fazendo explodi-las em gotículas para atingir o incêndio.  

Considerações:

Equipamentos:

Descrições:

Talvez toda a ação tenha durado dois minutos, três no máximo. Dei mais atenção ao cômodo que julguei acolher os papéis importantes que a missão prezava, controlando a água para não estragar ainda mais o conteúdo em chamas. Quando saltei da janela principal, provavelmente a sala do burguês buchudo lá em baixo, havia apenas fumaça escapando pelas janelas, sem qualquer indício de fogo vivo. Novamente pousei ao seu lado, sem ofegar ou trazer comigo qualquer ferida ou dano ao que vestia. Uma parte ou outra tinha pretejado em resposta às lambidas quentes, detalhes inevitáveis.  

ー Eu esperaria uma equipe avaliar o local e dizer as condições antes de você sair medindo danos – disse como se falasse comigo mesmo, sem qualquer compromisso.  
Já estava dois passos mais próximos de reportar minha missão e ir para casa, as costas confortavelmente viradas para o homem. Sua voz pareceu irritadiça, mas agarrada ao medo covarde e vingativo.

ー Espere aí! Isso tudo foi criminoso e você simplesmente vai deixar por isso mesmo?!

Interrompi imediatamente o progresso do meu caminho e avaliei a situação por alguns segundos. Eu poderia dar-me o prazer de deixá-lo se foder com seus próprios problemas, afinal, a missão já estava cumprida. Mas, no alto do seu trono temporário e imponentemente majestoso, o tédio fez-me virar para o homem e mirá-lo com um olhar de quem tem o fio da paciência e atenção prestes a estourar.

ー Um rival representante de outra vila – ainda havia irritação e medo na voz, dessa vez acompanhados de urgência.

ー Iraiko, vou te poupar dos detalhes da trama e dar a certeza de que é ele. Vocês têm meios de saber a verdade, cobrem-me se eu estiver errado.
Por um momento deixei de lado o semblante carrancudo e fiz questão de expressar prazer e esperança.

ー Eu vou gostar disso. Onde eu encontro?

ー Rua da Pedra, uma das casas do bloco de entrada no condomínio Imperatriz.  

Explodi em fumaça sem deixar de fitá-lo nos olhos. Uma das primeiras coisas a ser feita quando cheguei em Kumo foi conhecer a vila fisicamente. Desde as estruturas comuns e exóticas dos prédios até os nomes de cada pedaço de chão batizado. Não estava muito distante de onde o suposto criminoso morava, longe o suficiente para pensar em um plano.

ー Preciso da sua total atenção ー as palavras explodiram calmas e severas na frente do porteiro distraído.  

ー Estou em missão pela vila e preciso de agilidade e discrição. Onde é a casa do Iraiko? ー mostrei a ele o selo oficial da vila no pergaminho com as instruções da missão.
A marca teve um segundo de atenção até o homem passar o dedo em uma lista e pará-lo sobre o número que supus rapidamente ser da casa. Quando virou para me dizer, eu já não estava lá.

Não foi difícil encontrá-lo, invadir a casa nem chegar furtivamente ao quarto onde dormia. Certifiquei-me de não ter mais ninguém na residência e aproveitei cada segundo do interrogatório. Dei a ele o prazer em apreciar a transformação dos meus olhos e sondei cada canto do seu cérebro. Felizmente, ou infelizmente se fosse eu a cobrar falsas informações dadas a militares, era o culpado pelo incêndio. Passei os detalhes para o superior também através de um genjutsu voluntário e retirei-me aos aguardados aposentos que me esperavam reciprocamente.

Considerações:

Equipamentos:

Descrições:

Não descansei um dia completo antes de procurar mais atividade na vila. Busquei algo que exercitasse ao menos uma porcentagem do meu ser, mas nada além de simplicidade e facilidade pintava o papel que listava as missões disponíveis. Deixei o dedo cair em cima de qualquer uma e pedi para a mulher que trouxesse o pergaminho para assinar.  

- Muito cuidado nessa missão. Você vai manusear informações importantes – disse a ninja em tom robótico, aparentemente rotineiro.  

Deixei-a com a imagem de um sorriso simpático e coloquei-me a apreciar a paisagem da Nuvem enquanto a caminho do gabinete do Raikage. Lá estavam os registros dos ANBU’s a serem revisados em busca de um infiltrado. Estranhei o tamanho do fardo, normalmente seria dado a um genin nervoso e incompetente, inseguro demais para lidar com o peso do conhecimento das identidades secretas. Sem dúvida alguma o conteúdo estaria codificado de uma forma a ser entendido, mas sem a interpretação principal.  

O prédio do Kage era sempre preenchido por uma atmosfera de nervosismo e apreensão. Caminhei pelos corredores e subi degraus sem alterar meu conforto comigo mesmo. A única coisa que me incomodava era a provável espera pela explicação do funcionamento e organização da papelada.

Considerações:

Equipamentos:

ー Bom dia senhorita... ー busquei alguma identificação e a menina saltou na cadeira, tirando o crachá do bolso e colocando-o onde deveria estar.

ー Agora sim, Akemi. O dia tá corrido, se puder agilizar meus papéis com eficiência eu ficaria grato. Poderíamos até acertar isso depois.  
Joguei com leveza o pergaminho sobre a mesa, passeando com os olhos enquanto ela o avaliava. Era nítido e engraçado os modos da possível estagiária deixando vazar a irritação e ofensa tomada pelo tom um pouco incisivo, assumo.

A explicação correu maravilhosamente rápida e como deveria ser. Entendi os detalhes da função mais por mérito da minha inteligência e dedução que pelas habilidades didáticas da garota. Acompanhei-a até uma sala funda no corredor e isolada de quaisquer outras, confinada distante da movimentação do prédio.  

- É óbvio que você não deve tirar literalmente nada dessa sala. Seu material tá separado – virou as costas e saiu.  
Alarguei o sorriso arrogante e me tranquei na sala. Apesar da Nuvem raramente ser importunada pelo calor que me incomoda, o ar mais frio que o comum do ambiente refrigerado agradou como um beijo gelado na nuca. Não me surpreendi com a pouca espessura do monte de papéis separado e etiquetado com meu nome.

Considerações:

Equipamentos:

Realmente havia informações escondidas nos papéis. Descreviam dados certamente criptografadas, mas suficientemente expostos para um genin avaliar e checar a discrepância se houvesse. Até três quartos das fichas eu tinha certeza que não teria muito a se encontrar e por isso uma patente tão baixa fora designada a função. Dessa vez a surpresa veio, inesperada como deveria ser. A criptografia inicial de uma das fichas era visualmente legítima, se olhasse por cima e não desse muita atenção, não haveria diferença entre essa e qualquer outra. Porém, decifrando os códigos iniciais aos quais eu tinha a chave, a tradução não dizia nada com nada.  

Por mais que a primeira criptografia padrão levasse a uma segunda também em código, sua linguagem expressava informações com sentido e completamente racionais, não era o caso dos registros em mãos. Não havia nada interessante ou de aproveitamento nos papéis, o que mandou a surpresa embora tão rápido quanto a própria chegada. Dei a recepcionista o papel alterado, recomendando que o levasse o quanto antes ao Raikage ou qualquer um responsável pelos ANBU’s. Reportei, passei imediatamente cobrar o que me deviam pela missão, o dinheiro seria mais essencial do que poderiam imaginar, comi um espetinho estranho e voltei pra casa.

Considerações:

Equipamentos: