[cena/solo] ligeiro

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Convidado

13/2/2020, 22:58

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Já me estendia por uma semana e meia com as lamentações sobre a monotonia dos treinos. Apesar de eficientes, era importante manter a sanidade psicológica de vez em quando. Para minha sorte, pelas ruas de Konoha deslizava a carroça anunciante, puxada por dois búfalos machos e provavelmente no fim de suas vidas ou muito mal tratados. - [...] fora dos limites da querida e respeitável civilização, é claro. Senti o sarcasmo escorrer dos alto-falantes. - [...] se não o maior, o melhor, se não o melhor, o mais desafiador ringue de luta livre. E se nem isso, vá à merda! Se é forte e não tem medo de perder uns membros, apareça e ganhe uma grana! O sorriso foi largo e acolhedor, recebeu a notícia com a familiaridade que ela jamais receberia naquela vila.

Pulei rapidamente pelo topo das casas até meu quarto alugado, peguei mais uma ou outra coisa que poderiam ser úteis e parti pela janela mesmo, sem me dar o trabalho de fechá-la. Não havia nada para trás de valor ou comprometedor a meu respeito. Alcancei rapidamente o portão e dali o caminho era confortável, quieto até certo ponto e prazeroso. Apesar da estrada larga, a floresta impunha sua imponência nas cores, som e extensão.

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14/2/2020, 11:55

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Não demorei a chegar ao lugar anunciado pela carroça. Já nos arredores, ainda sem vê-los, o som alto das conversas e metais batendo entregava o evento escondido pelas árvores. Deixei o capuz da capa cair sobre a cabeça, um pouco de discrição enquanto ainda não sabia direito o que se passava seria prudente. Gradativamente um ou outro ninja surgia entre a vegetação ou cruzava o caminho em um trajeto de volta à vila, até a multidão tomar conta do horizonte e decretar o fim da estrada já estreita.

Enfiei-me em meio as pessoas, mantendo sempre o tecido sobre a maior parte do rosto. O evento abraçava uma parcela peculiar de Konoha, além da diversidade aparente, mulheres e homens quase em mesma quantidade, o que geralmente mostrava-se raro nas estruturas militares de todas as vilas, os shinobis dali também se destacavam em aparência. Julgando rapidamente, eu diria que ali estava a parte mais sombria e menos simpatizante com os costumes da Vontade do Fogo.

Ignorei o mínimo possível a luta que já acontecia, apesar de não prender muito a atenção da plateia. O responsável pelo gerenciamento dos combates destacava-se facilmente; alto, alegre e gritante em cima de um palco improvisado. Dois seguranças completamente imersos em seus pensamentos e observações cercavam-no, sem aparentar disposição para qualquer coisa que não fosse fazer o que foram pagos para fazer.

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14/2/2020, 16:02

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- Como funciona?! Perguntei sem qualquer encenação de simpatia. Apesar disso, a alegria na voz do homem de idade avançada, talvez seus cinquenta anos conservados, era quase palpável. Provavelmente o lucro dos negócios estava acima do normal. - Você paga a vaga e pode competir na leva da vez. Não há muitas limitações no combate, cada um usa o que tem, desde que não seja tecnologia dessa geraçãoziha suja. Pode usar todo o espaço da arena e armas que não sejam de arremesso, alguns telespectadores não são tão capazes assim. Se perder tá fora e se ganhar passa pra próxima fase, até o final. Olhei em volta, fingindo avaliar minha decisão já tomada antes mesmo de deixar a vila. - Ah, e custa 1.000 folhas de cada. Prêmio final é setenta por cento de todos os pagamentos e a próxima leva já começa depois dessa. Ele revezava sua atenção entre a minha pessoa, o público e o ringue.

Dei a quantia certa ao homem e permaneci nas suas redondezas, onde eu poderia observar o que fazer sem precisar perguntar. A última luta daquela leva custou mais que cinco minutos, o que notei tirar um tanto de desdém e inquietação da plateia. Aproveitei para separar as armas de arremesso em um canto isolado na bolsa de equipamentos.

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14/2/2020, 20:21

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Houve uma comoção automática e ritualística quando um dos combatentes atingiu o chão, derrotado. Parte dos espectadores que me rodeavam juntaram-se em grupo ao se aproximarem do ringue. Acompanhei-os na suposição de serem meus adversários, ainda antissocialmente distante. O velho responsável pelo evento deixou o palanque que o mantinha e caminhou até o centro do campo de batalha como se todos ali fossem seus subordinados. Pensei que estouraria a garganta gritando para todos ali, mas tirou das roupas um pontinho preto e prendeu no pescoço.

ー A TERCEIRA LEVA DE LUTAS DO DIA ESTÁ PRESTES A COMEÇAR! ー e o silêncio caiu sobre as cabeças viradas para o ringue, a voz mais alta que todas as árvores da floresta.

ー Àqueles que ainda não nos conhecem, saibam que as regras não limitam nada além das armas a distância que todos são proibidos de usar, da área externa do ringue que trará derrota a quem pisar e certamente seguimos as normas comuns de todo duelo ninja, por mais baixos que alguns de vocês possam ser ー parte da plateia entrou no jogo e os risos correram pelo ar vazio.

ー E por favor, terminem suas lutas logo. A primeira será entre Elu e Safira.
Os ninjas deixaram algumas das bagagens de mão próximas ao ringue, estrategicamente dentro do campo de visão de seus donos, suspeitei, e cumprimentaram-se no centro.

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15/2/2020, 01:35

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Afastaram-se, se prepararam e partiram para cima um do outro; dois minutos e o ninja apagou em companhia do chão. A shinobi fora rápida o suficiente para desviar do ataque veloz e certeiro, se a visão não fosse suficientemente treinada, talvez o movimento soasse como um teleporte até o pescoço da mulher. Porém, ainda mais rápida, desviou para o lado e prendeu o braço do homem antes de atingi-lo na cabeça e levá-lo à escuridão. A plateia comentou animada, longe da reação retirada pelo último confronto. Comecei a entender o que se passava com os ouvidos atentos em alguns comentários mais altos que o desejado.

É comum plateias de espetáculos apreciarem shows longos, que compensem o tempo perdido ao assisti-los. Ali, por outro lado, parecia ocorrer de maneira completamente oposta. Por mais que o espetáculo se caracterizasse como uma competição marcial de fundo de quintal, os participantes sabiam apreciar a lógica de uma batalha rapidamente encerrada. Quanto mais rápido finalizar o inimigo, maior é o respeito por suas habilidades. Por isso ninguém se atentava por mais que três minutos nos mesmos participantes. A observação vinha depois do respeito, durante a busca por características que revelassem informações bem vindas de um possível futuro oponente.

ー Ecanis e Lau, rapidamente ao ringue! ー soou alto dos poucos alto-falantes espalhados.

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15/2/2020, 15:54

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Coloquei-me em um estado psicológico onde a existência no meu mundo resumia-se ao ringue e o oponente. Os incontáveis pares de olhos sequer chegaram a ser interpretados pelo cérebro durante o caminho até o centro da arena. Entendi o contexto das lutas e queria o máximo dele, o desafio de derrubar o adversário antes de ser derrubado, tão rápido quanto um dedilhado, lavava dos músculos e da alma a monotonia de uma vila bem protegida.

Uma das minhas estratégias carregava a certeza de vitória. Porém, era uma carta de apenas um uso e de muito cuidado na aplicação, as chances de fatalidade eram altas. Guardá-la para depois poderia ser essencial, dependendo das habilidades dos participantes. Apertei sua mão, busquei os olhos severos e experientes, me afastei e o tempo desacelerou sem qualquer preocupação.

Se dependesse do homem ele lutaria coberto pela capa negra barrada antes de subir no ringue. Entendia o apego e o gosto, talvez eu também a usasse se permitido. Tínhamos a mesma altura, mesma cor de pele e tons diferentes nos pelos. A barba e o cabelo fartos vibravam com a luz refletida no alaranjado. Empunhei a espada ainda sem sacá-la, não sabia qual estratégia usar contra ele. Não portava nenhuma arma ou qualquer bolsa de equipamentos, só poderia ser usuário de taijutsu. Desencaixei a lâmina da bainha com o polegar, o campo de batalha era limitado mas parecia suportar bastante impacto, talvez fosse obra de algum doton.

ー COMECEEEEEEM!!

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16/2/2020, 02:57

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A voz mal havia decretado início e metade do caminho o homem já havia deixado para trás. Julgando seu olhar ligeiro pelos meus braços e o punho da espada, imaginei que ele esperasse um saque para defesa ou contra-ataque. Se fosse esse o caso, a luta estaria encerrada nos primeiros segundos a seu favor e eu iria para casa com prováveis ferimentos sérios, com sorte longe de mortais.

Corri a mão para o cabo da espada em um blefe que com sorte o encorajaria ainda mais no ataque. Antes de ter tempo para sacar, os pés fincados no chão e firmes como raízes de salgueiro, poucos centímetros nos separavam e uma mão moldada por chakra buscava perfurar meu pulmão ou alguma coisa por ali. Deixei o perigo se aproximar da pele tanto quanto a brisa mais leve, mas antes que a tocasse a mesma abria-se por si só e trabalhava como portal, expelindo inúmeros ossos contra a ofensiva possivelmente devastadora.

Os ossos cortando e perfurando a carne causam uma sensação estranha quando estão conectados ao corpo. Senti-a como um tapa, impedindo o impacto de um corpo rápido e pesado, penetrando-o em pontos não vitais, mas que barrassem o movimento e o avanço voluntário. Ombros, joelhos e mãos do adversário esvaíam-se em sangue vivo, eufórico através da brancura das minhas estacas.

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16/2/2020, 13:31

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Não houve muito tempo para o sangue escorrer ou o corpo pesar ainda mais, mole e espetado em meus ossos. Recolhi as estacas e segurei o adversário antes que atingisse o chão, ainda consciente. Coloquei-o sem impacto e o deixei para quem estava mais acostumado com o ritmo da competição. Não consegui ignorar a decepção por ter usado a carta de vitória certa logo na primeira luta, mesmo com todos os cochichos e olhares ao redor, provavelmente impressionados com a velocidade do confronto. Quatro segundos, eu contei.

Abandonei a multidão e os próximos combatentes por alguns instantes e limpei os resquícios de sangue que os ossos trouxeram do homem. A confiança em não precisar usar as estacas logo no início não só me rendeu a desvantagem de ter as habilidades reveladas, como também cobrou o valor das minhas roupas novas, agora cheias de furos. Encaixei a espada ainda desencaixada na bainha e segui novamente o barulho da multidão, dessa vez ovacionando alguma coisa.

Deparei-me com a mulher se retirando do ringue, tão expressiva quanto uma pedra, seu adversário no chão apertando o próprio pescoço na esperança de conter a cascata de sangue. Por um ínfimo e exclusivo momento pude perceber um fio de surpresa e irritação no velho apresentador e organizador do evento. Tão distante dessa expressão quanto eu estaria da vila da pedra, os espectadores comentavam a habilidade da shinobi independente da fatalidade. Alguns encaravam-na como encarariam uma bruxa à caminho da fogueira, mas esses eram poucos.

HP [875/875] | CH [725/825] | ST [1/6]

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16/2/2020, 22:59

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As lutas seguintes não agradaram tanto ao público, cada uma cobrou no mínimo oito minutos da atenção de todos e uma parte do ringue fora destruída, o que mais irritou todo mundo, dez vezes mais o velho mediador. Lutei mais três vezes contando a semifinal, venci todas. Minha última oponente já esperava na arena, entregue ao desgosto de todos com mais uma morte na trilha que fazia.

Como havia calculado, meus truques envolvendo surpresa com o Shikotsumyaku não foram tão eficazes, levando as lutas a durarem no mínimo cinquenta segundos. A mais longa levou três minutos, o início fora tenso e tenebroso como o dia em que fui capturado e colocado para lutar com várias dezenas de cobaias. Em referência a lembrança, o oponente obrigou-me a liberar o selo no centro do meu peito e o combate terminou não muito depois. Os outros dois embates extorquiram de mim tanto quanto os treinos árduos habituais, difíceis para os padrões pesados que eu mesmo estabeleço, mas fácil de se adaptar e conseguir resultados com o tempo e um tanto de observação.

Dessa vez iniciei com a mão esquerda já em uma das bainhas, o dedão pronto para empurrar a tsuba para fora. A direita imitava e repousava na outra espada, segurando firme o cabo. Estávamos na luta final e sentia tanto dela quanto do meu corpo a calmaria de uma tempestade. Quando o grito autorizou o começo, não houve hesitação de nenhuma parte e ambos agiram de imediato. Seu corpo em disparada contra o meu, o dedão em máxima força empurrando a espada com impulso e impacto o suficiente para projetá-la como uma lança. Entre tudo isso, o reflexo da shinobi tão rápido quanto o ataque repeliu a arma para longe e agarrou-se ao saque da outra lâmina no meio do percurso. Se sua outra mão não estivesse ocupada barrando o ataque da minha, seria o fim da luta para mim. Ambos entendemos isso e sorrimos enquanto cruzávamos olhares e medições.

HP [875/875] | CH [725/825] | ST [3/6]

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17/2/2020, 16:30

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Saltamos para nos afastar e reorganizar as estratégias. Até aquela luta ambos não precisamos extrair muito de nossas habilidades principais, me virei com as duas katanas e algumas manipulações internas de ossos, e aqui vale esclarecer que não considero o Juin uma habilidade própria, e ela sempre ágil e precisa com a lâmina de chakra, encontrando os pontos que minhas armas buscavam, certeiras e resistentes. Alguns olhos já nos estranhavam à vista ao passar do primeiro minuto, cada segundo escorregava lentamente como um molusco.

Fiz a última análise das possibilidades e as escolhas não eram muito vastas. A duração do combate já havia sugado a maior parte da graça do evento, esconder as habilidades não renderia nada naquele ponto, mesmo planejando participar nos dias seguintes. Deixei alguns movimentos marciais fluírem do corpo em busca de moldá-lo com chakra, surpreso e contente por vê-la observando até o fim.

Disparei e nos encontramos no centro do ringue, dessa vez minhas mãos estavam nuas e mais ágeis sem os pesos da espada, inteiramente silenciosas. Aproveitei a velocidade inesperada e a atingi duas vezes na costela enquanto eu desviava do chute com um salto para a esquerda completamente aberta, depois de enganá-la com movimentos que indicavam a direção contrária. Senti o peso manipulado dos meus ossos se chocar com os dela, quebrando-os mais de uma vez. Presumi que ela fosse continuar até o corpo não parar em pé, mesmo sendo de completo mal gosto até para um novato.

Aproveitei seu instante de dor e perfurei-a com estacas de ossos, todas do meu peito e ágeis como moscas. Por um instante pensei em cobrar o sangue do seu trajeto, mas estava curioso para saber mais da shinobi, mesmo que a chance fosse baixa. Atingi-a nos pontos que impediriam qualquer movimento antes de curar as feridas, os poucos observadores restantes já de costas a caminho de casa. O velho encerrou rapidamente, pagou o que me devia e juntou-se aos seguranças na arrumação do lugar.

Passei um dia em descanso e voltei a procurar o ringue, apesar de não o encontrar novamente no mesmo lugar e não ter notado sinal da carroça anunciante. Imaginei que algo como aquilo não se repetiria novamente no mesmo lugar, por isso dava-se fora dos limites urbanos da Folha. Achei depois de dois dias a procura, custando apenas horas nas vezes seguintes. Perdi uma de mais quatro tentativas de vitória, apesar de lucrar com todas as lutas, seja em conhecimento ou aprimoramento próprio. Minha capacidade estratégica e avaliativa estavam no máximo de suas existências.

HP [875/875] | CH [625/825] | ST [4/6]

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17/2/2020, 20:06

Aprovo.

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