O estímulo daquela tarde havia se tornado o objetivo que me faria seguir adiante. A ideia de que meus atributos estavam sobrepondo meu trabalho duro parecia desfrutar de uma profunda epifania do meu ser; tal como a necessidade de me renovar. Em ultima instância, após me alimentar, deixei minha morada em busca do campo de batalha. Sob os trajes que usualmente utilizava, caminhei diante o clima ameno de inverno, desfrutando do leve frio que resguardava os corpos. Tudo que um dia me compôs como homem parecia ter se tornado distante, efeito de um afastamento impulsivo, porém vindo do livre-arbítrio. A onda que um dia arrastou-me rumo à costa da solidão agora só trepidava as marés que travavam guerras com os pequenos castelos de areia que constituíam memórias inférteis.

Enfim, minha chegada resoluta ao campo de batalha tornou o frio ainda mais intenso. Imerso na própria fúria e determinação que um dia havia trazido as idealizações de um mundo melhor, tornei a procurar um ponto onde meu treinamento se efetivaria. Transitei até o limbo do próprio campo de batalha onde esperava não ser incomodado. Talvez a falta de companhia havia me tornado frívolo até uma ultima instancia e isso havia me aferido aquele olhar de descaso.

Os últimos ares que soaram vieram da voz de um homem que se aproximou diante minha presença. Caminhando diante o gramado esverdeado, onde as gotas d'agua começavam a se condensar dado a força da mudança brusca de temperatura.

— Ei, jovem, qual seu nome? — Perguntou o homem, reduzindo lentamente a distancia que os separava.

Pude ver sua aproximação ao ouvir sua voz soar e virando-me em sua direção esperei que fosse apenas uma conversa passageira.

— Ragnar. E o senhor? — Perguntei, quebrando a ideia de um interrogatório extenso de apenas uma das partes.

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— Yomo. — Ele respondeu, de maneira seca, em seguida seus olhos percorreram o campo de batalha como se buscasse alguma coisa. Mas pelo que pareceu, não chegou a encontrar, voltando me olhar dos pés a cabeça. — O que faz sozinho aqui, Ragnar? — Por fim, perguntou.

— Treinamento. — Respondi, procurando ser o mais direto possível. O homem gargalhou, como se eu tivesse dito algo engraçado.

— Sozinho? — Fora o que perguntou, demonstrando um olhar cético. Acenei positivamente com a cabeça, sem pronunciar quaisquer palavra. — E o que vai treinar? — Questionou mais uma vez. Apesar de cético parecia interessado em alguma coisa.

— Dominio Elemental, creio eu... — Respondi, apesar de não ter certeza se isso daria certo. O homem mais uma vez sorriu.

— E qual elemento seria esse? — Parecia querer brincar de alguma coisa, ao invés de ir direto ao ponto.

— Suiton... — A conversa já estava desinteressante, entretanto, continuei a responde-lo por questão de educação.

— Sou um ótimo mestre na arte da dominação elemental, há quem diz que um dos melhores... — Sorriu mais uma vez. Apesar de prepotente, poderia ser verdade, o que me fez pedir sua ajuda.

— Talvez possa me auxiliar, então? — Talvez não da maneira mais educada possível, entretanto, perguntei por impulso.

O homem me olhou mais uma vez, coçando a cabeça. Nesse instante percebi sua relutância e peguei um cigarro da parte de dentro do kimono.

— Não sei... não gosto de me irritar atoa... — Ele falava como se isso fosse certo de acontecer. O cigarro já aceso era fruto da minha satisfação fisiológica naquele momento em que tragava.

— E por que se irritaria? — Perguntei após soltar a fumaça. Ele me olhou nos olhos procurando algo em meu intimo.

— Sou um mestre muito rígido e algumas pessoas não conseguem me acompanhar, isso me irrita... — Ele coçou o queixo logo em seguida e concluiu com um desafio. — Talvez se me mostrar algo interessante, possa lhe ajudar. —

Esse instante fora o necessário para que eu fizesse a temperatura cair drasticamente, chegando ao grau zero. O homem pareceu sentir de súbito, tendo até mesmo um calafrio. O cigarro mais uma vez fora na minha boca sendo tragado.

— Que tal? — Perguntei após tragar, soltando a fumaça em seguida.

O homem pareceu interessado, dado como ele sorria ao mesmo tempo que tentava se aquecer.

— Entendo... talvez você sirva, Ragnar. — Algo parecia mostrar que ele já estava a procura disso.

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Apesar de parecer incomodado a principio com o frio, Yomo rapidamente pareceu se adequar a situação ao demonstrar seriedade diante sua resposta. Ele caminhou ainda mais próximo de minha pessoa e me fitou nos olhos, uma certa frieza eu pude sentir. Suas mãos tocaram uma a outra fazendo com que um redemoinho de suiton fosse criado ao nosso redor. Dado o frio, o redemoinho logo congelou e o homem sorriu.

— Creio que esta temperatura não seja tão adequada. — Acenei positivamente com a cabeça, aceitando tal comentário. A exalação do frio começou a diminuir de acordo com que a temperatura do ambiente ao redor voltou a tomar o local, entretanto, o gelo criado no redemoinho não derretia diante a mudança brusca.

Yomo quebrou com facilidade o gelo e sentou-se no chão, como se estivesse meditando, apesar dos olhos abertos e cerrados.

— Vamos lá, você deve aprender a utilizar tal elemento a partir de uma fonte, assim poderá avançar. — Explicou de maneira simplória. Apesar disso a única fonte em que eu podia pensar era a saliva de minha boca.

Acenei positivamente, tocando a palma das mãos uma na outra. Numa concentração rápida de chakra, tentei expelir uma certa quantia de agua pela boca, entretanto, apesar de ocorrer, a quantidade era quase que ínfima perto do esperado. O homem segurou a gargalhada.

— De novo. — Ordenou, ainda observando.

Mais uma vez mantive as mãos unidas pelas palmas e dessa vez fechei os olhos, me engajando sob a penumbra da escuridão. Na tentativa de fixar-me na concentração, respirei fundo a cada pensamento que vinha a mente, tentando faze-los desaparecer. Aquilo me recordava até mesmo o sattori da qual tanto havia ouvido falar. Budismo.

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A ideia de concentração funcionava bem até certo ponto, entretanto, a dificuldade em colocar em pratica o que aquilo proporcionava trazia problemas. A principio me pareceu simples canalizar o uso daquela forma de manifestação do chakra, dada minha afinidade natural com tal elemento. Entretanto, a expulsão do chakra como forma natural e sem acesso a jutsus em especifico parecia algo complexo de por em prática. Por isso, mantive-me inerte por um bom tempo, até que sentisse certa confiança naquilo que estava disposto a fazer.

Mais uma vez, abri a boca com a intenção de expulsar o chakra suiton e exponencialmente aumentar sua força. Dessa vez, a quantidade fora maior e mais maleável a minha vontade. Yomo observou dando um leve sorriso ao ver a agua criar um leve redemoinho ao meu redor, diante uma leve movimentação das mãos que acabara por fazer a mesma deslizar sobre o solo, apagando sua forma.

O olhei de maneira séria ao perceber o que ele queria dizer e, dessa vez, o mesmo apenas acenou positivamente. Retribui o gesto em resposta ao entendimento de que o treinamento estava apenas começando. Ergui meus braços ao céu enquanto as palmas das mãos mais uma vez se tocavam e desciam até a frente do corpo. A respiração em um ritmo lento ajudava a diminuir o fluxo de pensamentos desnecessários. Diante disso, um novo ciclo de concentração era iniciado.

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O que a principio parecia difícil, tornou-se fácil com concentração e foco. Diga-se de passagem, nunca fora um prodígio naquilo que era determinado a fazer. Apesar de muitas pessoas pensarem ser; o trabalho duro sempre superou o pensamento cômodo que instigava a relevar os fatos. Apesar da linhagem que carregava, tudo havia se tornado um fardo desde o momento em que havia me tornado aquele que carregaria o brasão da família nas costas. Dotado de pouca vontade para com isso, me abstive do patriarcado em que me vi colocado e, por fim, fui exilado.

Tudo aquilo havia me tornado a pessoa que estava diante daquele homem. Novamente, a boca entreabriu alguns centímetros até que a agua começou a ser regurgitada. Dessa vez, um movimento leve com o braço fora suficiente para que ela mudasse de curso e ao invés de se estender a frente, circulou meu corpo como um turbilhão. Meus braços se abriram bruscamente, como se gravitacionalmente eu empurrasse a agua que estava ao meu redor em formato de ondas.

Aquilo fez o homem se levantar. Apesar disso, seu olhar não demonstrava satisfação. Ele se aproximou mais uma vez, dessa vez, seriamente.

— Muito bem, o primeiro passo foi dado. — Ele acenava a cabeça positivamente. — Agora, quero que crie uma onda de quinze metros. — Pediu.

Nesse momento certa incredulidade chegou a bater em minha mente, fazendo pensar que aquele homem não passava de um fatídico louco em busca de alguém para gozar a cara. Porém, suas palavras não foram em vão. Ele bateu as mãos com força e abrindo a boca criou agua suficiente para que uma enorme onde envolvesse nós dois. Por fim, a onda estourou em seu ápice fugindo em outra direção sem ao menos utilizar de gestos.

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A idealização daquele uso extremo de habilidades elementais parecia usufruir de um treinamento extenso. Talvez pensar que eu não fosse capaz era a ideia errada, entretanto, nem tudo parecia tão simples como se mostrava. A ideia era que o trabalho duro sobressaísse quaisquer linhagem e dotes vindos de um suposto dom, então, assim seria.

Idealizei em minha mente a formação daquela colossal quantidade de agua e projetei o mesmo processo que Yomo havia demonstrado. Um tapa firme entre a palma das mãos e a abertura das mandíbulas fizeram com que a agua começasse a ser expelida pela boca. Mesmo ao extremo, percebi que a quantidade de agua criada não era suficiente. A agua se dispersou no solo já molhado com um tapa ao vento.

Dessa vez, respirei fundo, buscando me concentrar na execução e uso mais apropriado do chakra. As mãos mais uma vez se batiam e como se regurgitasse a própria agua, comecei a expulsa-la. A quantidade aumentava de acordo com a projeção de uma melhor utilização do chakra. Porém, não parecia suficiente. O homem simplesmente balançou a cabeça negativamente como se ainda não tivesse chegado ao ápice do treinamento.

Ele tinha razão, talvez fosse o pouco de comodidade que havia me tirado a determinação em continuar. A agua mais uma vez deslizou no solo, já encharcado. Dessa vez, a ideia era outra. A quantidade de agua no local já era imensa, tal como uma pequena inundação espalhada, onde a agua começava a se infiltrar no solo.

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Dessa vez a forma de manifestação da habilidade seria outra. Utilizando da agua presente no local a batida de mão fora o prenuncio para a elevação da agua ao meu redor. Circulando-me como um vórtice que cada vez aumentava seu tamanho. O esforço espiritual então fora elevando-se até que uma respiração funda fez com que o grande acumulo de agua criasse as proporções pedidas.

O vórtice girava em velocidade até que arrebentava-se na direção contrária a posição do orientador. A mesma onda que quebrava rumo ao nada dividia-se em duas e então voltavam em direção a minha pessoa. A massa de água mais uma vez se arrebentava, mas dessa vez jorrando ao chão que novamente se encharcava. O homem sorriu ao ver aquilo tudo ocorrer. Provavelmente havia sido aquilo que esperava ou, talvez, até superado suas expectativas.

O esforço feito anteriormente me fazia sentir certa fadiga. Apesar de não sentir cansaço, meu corpo tremulava fracamente. Aquilo me fez sentar no gramado molhado, mesmo que intencionalmente. Olhei para o homem que esboçava um sorriso na face e retribui o semblante, apesar da expressão em meu rosto ser mais leve. Algo me dizia que ainda precisava continuar a prática.

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Ao final, a ultrajante dificuldade que havia tornado aquele treino tão fatídico havia se dispersado com concentração e foco. O homem não se despediu ou me parabenizou. Ele simplesmente se virou com um sorriso no rosto e foi embora.

Não o impedi, afinal, algo me dizia que ele tinha algo a fazer. Peguei mais um cigarro de dentro do kimono e o acendi, tragando-o intensamente. Me levantei despertando certa dificuldade, afinal, havia gasto uma grande parcela de energia em minhas tentativas. Entretanto, senti que o treinamento ainda não havia se completado. Caminhei rumo ao centro de Konohagakure, onde minha mente talvez se clareasse nos dispersos tumultos da civilização. Talvez algo irônico de se dizer, afinal, a maioria das pessoas prefere o silencio. Entretanto, algo me dizia que a resposta viria do oposto do silencio ensurdecedor. Sim. Os sons que não pudiam ser ouvidos.

Talvez lá eu pudesse encontrar a resposta para todas minhas perguntas. Na verdade, não todas, mas aquela que matutava em minha mente. "Qual é o próximo passo?". Individualmente seria minha a decisão e isso trazia a responsabilidade de seguir meu trajeto, sofrendo as consequencias de minhas escolhas. Afinal, era pra isso que havia me tornado ninja.

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