Ele nem deveria estar ali, mas sua abelhudice lhe fez cair em tal situação. Os gritos chamaram sua atenção e o impulso o levaram até lá, normalmente não seguiria por um caminho como aquele, escuro e imprevisível, no entanto, o clamor por ajuda que vinha daquela voz era sufocante.

Já passava das duas horas, apenas aquele menino ousava andar na rua tão tardar da noite, mas ele não imaginava nem em seu pior pesadelo ver tal situação na frente de seus olhos. O clima quente e seco de Iwagakure pareceu ter dado uma guinada, Abe sentia calafrios e sua roupa molhada de suor colava em seu corpo. Ele estava para soltar um grito, mas levou uma de suas mãos rapidamente a boca e a fechou.

O homem ainda não o tinha percebido, ele tentava se afastar sem fazer qualquer barulho e fugir. Um corpo jazia no chão, sangue tingia a areia em vermelho. O cadáver pertencia a uma mulher de meia idade, sua calcinha pendia em seu calcanhar. Quando Abe chegou o homem estava debruçado sobre o defunto e a estuprava, os gritos deviam ter vindo dela.

Se afastando devagar, passo a passo voltou pelo caminho que tinha vindo. No entanto, sem querer acabou chutando um pequeno vasinho e o quebrou. O som foi alto o suficiente para alertar o ser de sua presença, o que lançou os dois num jogo de perseguir e ser perseguido. Ele teve um breve momento de vantagem para correr enquanto o ser levantava suas calças e tirava sua arma do corpo morto da mulher que havia matado.

Com o homem vindo atrás de si, Abe gritou o mais alto que pôde e esperava que alguém viesse a ajudar, mas ele estava na mesma situação que a mulher de antes, sozinho num lugar afastado e com pouca vigilância. O luar refletiu o medo em seus olhos ao passo que lágrimas escorriam por sua face, fazia apenas um mês que havia saído de sua casa e já seria morto.

O desespero que ele estava sentindo pela primeira vez na vida era sem igual, o sangue estava agitado e ele sentia o coração bater em sua garganta. Tudo ficou pior quando ele começou a ouvir os passos do homem ficarem mais nítidos e altos, ele estava se aproximando dele.

—— Não era pra...você...estar lá. —— gritou o estuprador para Abe enquanto corria atrás dele, ele estava sentindo-se um pouco cansado e por isso sua voz saiu um pouco falhada. Ele não deu bola para as palavras dele e apertou o passo.

—— Essa noite era para ser apenas minha e de Momo, você estragou tudo seu idiota. Eu vou te matar. —— esbravejou o homem, ele corria com mais vigor e vontade, o ódio escarnecido em sua face. Ouvir aquelas palavras fez Abe sentir calafrios subir pelo seu corpo inteiro, ele não parava de pensar se aquele homem iria fazer com ele o mesmo que ele tinha feito com aquela mulher, por isso ele precisava correr o mais rápido possível.

Ele não estava mais gritando, afinal isso só estava gastando o pouco do fôlego que ainda lhe restava, todas as casas daquele bairro tinham sido abandonadas por causa de uma doença e por isso não havia ninguém por perto em torno de um raio de dois quilômetros. Ele só ficava se perguntando no como tinha sido idiota ao ponto de ir até um lugar tão afastado e taxado como perigoso, além de ainda deixar sua curiosidade guiar o seu caminho. Foi nesse momento que ele percebeu que ainda não passava de uma criança.

Então, foi que aconteceu o pior cenário possível, infelizmente para sua sorte, Abe acabou tropeçando num punhado de areia e caiu no chão, o ser imediatamente o alcançou. Ele pegou os braços dele e os amarrou com um punhado de cordas que trazia. Seu rosto esboçava um sorriso perverso e sua língua passeava entre os lábios.

—— Sabe, vendo de perto você é uma belezinha, acho que eu vou aproveitar um pouco de você antes de te matar. —— sibilou o ser para o garoto, ee soltou um grito nesse momento, o nojo e o medo presente em seu rosto. Ele tentou usar seu corpo para afastar o homem de si, mas ele já estava em cima dele e tinha total domínio sobre o menino. Os olhos dele estavam embriagados com a louca vontade de beija-lo e foi o que ele tentou, no entanto, ele teve a oportunidade que precisava.

Ele bateu sua cabeça na dele e o empurrou de cima de si para longe, o homem caiu para o lado com as mãos sobre o machucado e grunhiu de dor, rapidamente tentou se levantar e começar a correr, mas ele foi mais rápido do que o menino. Ele apanhou a espada de sua bainha e num movimento rápido atacou Abe com um corte, acertando-lhe nas costas.

O sangue espirrou em sua roupa, ele gritou de dor, o homem gritou de êxtase. Enquanto o menino caía no chão desmaiado e sangrando, o homem gritava e dava risadas para o vento e a lua. Ele estava feliz em machucar um ser humano, somente por vê-lo sentir dor. Apanhou os braços cortados dela e os lambeu como um sádico, louco de facto.

Ao longe, o líder do clã Hoki, mandado para tentar curar a praga naquele bairro,  não conseguia mais assistir aquela cena, ele apontou para o homem que tinha decepado os braços da menina e uma dúzia de ninjas saltaram da escuridão e o atacaram. Logo, o corpo do ser caiu inerte sem vida no chão.

Quando eea acordou, imaginou que estava no paraíso e que tinha morrido. No entanto, logo percebeu que tinha sido resgatado e então foi informado do que tinha acontecido. O líder do clã explicou-lhe que havia lhe salvado e que ele poderia ficar hospedado por ali. Talvez pudessem fazer algo para curar as queimaduras que tinha por todo o corpo. O corte nas costas já havia sarado, mas uma feia cicatriz ficaria de recordação para sempre do que havia ocorrido naquela noite estranha. Não que se importasse com isso, afinal, seu corpo inteiro já era horroroso por si só.