— Se permite dizer Asami-chan, você é um investimento, como tal, quero te transformar, destruir e reconstruir da maneira que eu bem entender. Espero que esteja ciente desse, como posso dizer; meu jeitinho... De toda forma o treinamento de hoje se estenderá em saber a facilidade que seu sangue tem com outras artes que não envolvam ilusão, de acordo? — Essa ultima parte apenas disfarçava o fato da mulher não se importar nem um pouco com a menina.

Naquela noite, poucas horas depois de ter terminado sua missão, Asami voltou para casa abatida, deitou em sua cama, tentou dormir e acordou suando, em estado febril, na manhã do treinamento, mais um daqueles dias infindáveis, temeu abrir sua boca para dizer qualquer coisa, afinal, sua mãe sabia de tudo e, naquela relação, muito bem se sabia quem tinha o poder.

“Droga... Talvez eu devesse ter morrido lá, por que não posso dormir pra sempre? Por que morrer é tão difícil quando se sabe que o sofrimento permanece? Não... Eu devo destruir tudo e todos, quem vai fazer isso sou eu sua puta fudida!”

Engoliu a seco e se preparou para mais uma daquelas sessões.

— Está calada hoje querida? Quer que eu penteie seu cabelo?

— Estou bem.

Mas obviamente não estava, tudo que sentia era um vazio, por um momento sentiu saudade da Mushi-chan, Ko-chan e Chunin-kun, seus companheiros, talvez algum deles estivesse ali esperando para salvá-la, mas não estavam, não era uma princesa dessas de história, na verdade, como qualquer criança chorona, não passava de mais uma criatura sofrida nessa distopia conhecida como mundo shinobi.

— Nesse primeiro momento treinaremos sua capacidade de fazer selos de mãos, quero ver em quanto tempo você aumenta sua velocidade. Usarei um pouco daqueles incentivos que você conhece para, vamos dizer assim, fazer você ir além, tudo bem querida?

— Vamos logo com isso.

E assim seguiu uma sessão de interminável tortura, choques elétricos percorrendo o corpo da menina em duas situações: quando errava um selo ou quando sua velocidade diminuía. A dor causada foi tanta que lagrimas desceram de seu rosto já enrubescido pelo ódio que sentia daquela mulher.

“Não vou perder pra você tão facilmente vadia...”

Sua voz e força se perdiam ao longo de dias de treinamento concomitante com algumas horas de sono e descanso — gastos entre o tempo em que a menina realizava suas necessidades mais básicas como comer e ir ao banheiro.

— Muito bem, realmente é muito bom ver que você tem pegado o jeito, mesmo que tenha passado por maus bocados não é mesmo? Valeu a pena?

— Mamãe, tire esse sorriso bobo da cara, eu ainda to de pé e vou fazer muito mais do que você pensa que eu posso.

A mulher sorriu.

Asami quis correr dali, tinha medo daquele terrível ser, na verdade, começava a temer tudo e a todos, por isso queria destruir tudo o que existia. Devo alertar, entretanto, caros leitor, que a mentalidade da ninja nunca foi resultado apenas das coisas terríveis que passou na infância ou que passa na adolescência, na verdade, no fundo, ela tinha consciência da existência de pessoas boas, outras puras e solidarias, mesmo assim, destruir todos e tudo persistiam como um objetivo, não para encontrar a paz, mas porque estava de saco cheio disso e daquilo sendo a única solução a destruição por inteiro das pessoas e do produto delas, ou seja, suas frágeis e corruptíveis instituições.

— Qual a próxima etapa? — Limpou os olhos que brilhavam pelas lagrimas de outrora, o rosto corado iluminado por uma luz exterior intrusa.

— Tentaremos melhorar ainda mais seu ninjutsu, alcançar níveis próximos daqueles que observamos com seu ninjutsu.

Dessa vez a primeira parte do treinamento assumiu uma faceta mais leve, descompromissada. Leu alguns pergaminhos e ouviu de sua querida mãe algumas maneiras de utilizar o chakra de maneira mais correta, mesmo que essa apenas reproduzisse aquilo que tinha lido em pergaminhos e, fisicamente, se mostrava um desastre em qualquer uma das artes shinobis.

“Então um cientista pode ser o caos, trazer a desordem como ela vem fazendo comigo há anos... Talvez eu devesse ser grata a ela por retirar de mim qualquer bobagem que minha avó tenha colocado como verdadeiro.”

Tomou algumas pílulas para permitir que estendesse seu treinamento sem precisar descansar, cedidas por sua mãe — na verdade um ato muito mais involuntário que escolha.

— Tome tudo, não temos tempo a perder.

A jovem Chinoike preferia os choques, as queimaduras e outras agressões que as pílulas. Assim que o efeito terminava todo seu estomago queimava num ardor infernal, vomitava até aquilo que não tinha comido. Passava a noite com tremedeiras e nem conseguia dormir, a boca seca, implorava por água e, mesmo aquela fonte mais cristalina e pura, não saciava seu desejo incontrolado. Decidiu não sofrer por antecedência e, mesmo com a ansiedade consumindo sua existência, permaneceu com o treinamento, fazendo jutsus, utilizando seu chakra, lendo e relendo, horas e horas, quase dois dias seguidos sem pregar os olhos, contornados por imensas olheiras que obscurecia seu belo e resplandecente rosto.

“A resistência dessa menina vem melhorando... É engraçado como mesmo assim ela se mantém ordeira, creio que já retirei qualquer vontade que existia em seu corpo, na verdade, nem mesmo a casca sobrou, ela não passa de um fantasma, um reflexo a procura de vingança.”

O treinou terminou com o tocar de um relógio, Asami foi ao chão inconsciente, submergida sobre seu próprio vomito — resultado da medicação.

Acordou no outro dia encantada com um belo passarinho pousado sobre sua janela.  

STATUS:

Considerações: