Na academia Moriyama ia bem nos quesitos de ninjutsu, taijutsu e concentração, no entanto um tema sempre lhe foi difícil de lidar: armas. A aula relativa ao uso de armas era a que sempre deixava os jovens mais animados, loucos para arremessar shurikens e kunais, no entanto o jovem em questão não compartilhava desse mesmo interesse ou talento. A verdade é que sua incapacidade armamentista era uma questão mais psicológica do que puramente de manuseamento dos itens, o corpo de Moriyama ainda carrega as marcas dos diversos golpes que foram-lhe marcados em sua infância, lâminas para ele automaticamente tomaram uma aparência ofensiva e perigosa, ver armas brancas já lhe tirava um pouco o ar, manuseá-las então punha-o na posição de seus violadores, no entanto compreendia que para sua evolução como shinobi - e como ser humano - deveria confrontar medos como esse e ultrapassá-los, quem sabe futuramente não utilizando armas para seu próprio uso?
Durante as aulas no pátio de terra ao lado da academia o professor e todos os alunos tinham noção da dificuldade de Moriyama, alguns o respeitando - pois muitos o temiam pelas cicatrizes e lendas que o permeiam - outros zoando-o, como era muito comum aos jovens daquela idade, mas nada disso o abalava, Moriyama entendia que todos estavam sob a ilusão da arrogância do início do desenvolvimento do ego, aos poucos desprenderiam-se dessas vontades de humilhar o próximo, o jovem monge mais se preocupava com seu desenvolvimento, sempre durante essas aulas ao invés de treinar com as armas ele exercitava seu corpo com flexões, abdominais e outros exercícios físicos, buscando reforçar-se, naquela aula em específico após seus exercícios rotineiros pegou uma kunai jogada ao chão com a mão direita e observou-a, sua lâmina brilhava e em no seu reluzir viu cenas violentas de seu passado, largou a faca no chão imediatamente e saiu da sala. O professor Xian logo veio falar com ele em privado, era um senhor que já tinha quase seus 60 anos, aparência chinesa, olhos puxados pele parda levemente amarelada, longa barba e bigode branco, mas movimentação precisa e mente fresca e ativa, "Não gosta de armas, é isso?" questionou-lhe em tom amigável, Moriyama virou-se para ele, com expressão séria no rosto: "São coisas que nunca me fizeram bem, pelo contrário, só foram usadas como instrumentos de dor e sofrimento." o mestre armamentista da academia ouviu com seriedade, aquele rapaz não tratava-se de um habitante comum da vila, parecia ter passado por algo a mais, algo pior, Xian olhou firmemente nos olhos do menino e lhe disse: "Você usou as palavras certas, armas são instrumentos, e nós tocamos a música que queremos com nosso instrumento, assim é com elas, o que elas fazem é o que o usuário faz, e isso muda de coração para coração, entende?" Moriyama surpreendeu-se com as palavras do sábio professor, que extendeu-lhe uma kunai para que segurasse-a "Leve para casa, amanhã cedo volte ao pátio para treinarmos", o rapaz segurou a kunai na esperança de sobrepujar sua dificuldade e levou-a para casa naquele dia, em seu quarto observou-a, "Uma arma perfeita para cortar a carne de seus inimigos!" ouviu Himori dizer em sua cabeça, no reflexo negro da lâmina podia ver seus olhos brilhantes e medonhos "Eu não tenho inimigos, Himori." afirmou em voz alta, recebendo somente a risada da entidade como resposta "Não se preocupe, quando tiver não precisará dessas arminhas, eu te ajudarei a tornar seu próprio corpo na arma que precisar!" afirmou novamente Himori, Moriyama tentou ignorar aquela sugestão profana.
Na manhã seguinte Moriyama acordou cedo, alimentou-se com um desjejum saudável e orgânico e pôs-se a exercitar seu corpo, preparando-se para o treino do dia e dando mais vitalidade ao seu corpo, vestiu sua traje negra comum aos monges e sua bandana no pescoço, partiu logo em direção da academia pelas ruas de barro batido, manuseava a kunai que lhe foi dada com as mãos com cuidado, segurando-a em diversas posições, quando chegou ao pátio Xian estava lá junto de outro aluno que parecia ter a idade de Moriyama, o mestre segurava dois bastões simples de madeira "Bom dia Moriyama, esse é um aluno meu, Kojuro." os dois se reverenciaram em respeito, Xian continuou: "Agora, antes de começar vamos fazer alguns exercícios para aquecer o corpo" então o mestre começou a ensiná-los diversas posições de alongamentos específicos seguindo suas próprias técnicas, as posições eram incríveis e realmente atingiam músculos que Moriyama - mesmo exercitando-se regularmente - não prestava tanta atenção assim, seguido disso fizeram alguns exercícios básicos de aquecimento muscular e Xian prosseguiu: "Já que você tem certa dificuldade com armas de lâmina por que não tentamos tratar sua questão usando armas sem lâminas?" jogou a ele então um dos bastões de madeira, e o outro à Kojuro, abaixou-se e desenrolou um pequeno pergaminho no chão, pôs sua mão em um selo desenhado no meio deste e invocou uma belíssimo bastão negro, girou-o e fez mais algumas acrobacias com o próprio, demonstrando o potencial daquela arma, por fim posicionou-se com os joelhos levemente dobrados e o bastão apontando para a frente "Por favor façam a posição indicada" pediu, Moriyama segurou o bastão, acostumando-se com seu peso, rapidamente buscou posicionar-se conforme era indicado "Não, não, não" disse o mestre, aproximando-se do rapaz e ajeitando alguns pequenos detalhes na sua forma, voltando ele então à sua posição. Em seguida Xian começou a apresentar alguns movimentos bem simples, todos partindo da posição inicial, executava-os com paciência e prestando sempre atenção em sua respiração, junto ao seu parceiro o monge fazia seu melhor para executá-las, aquele momento era de certa forma mais coreográfico, mas as posições certas (principalmente dos pés) eram essenciais para a movimentação correta em combate, assim dizia Xian, ao longo de diversas outras filosofias práticas que dispunha enquanto se movimentava, após isso começavam a acelerar um pouco os movimentos, Xian unia diversos golpes em um formando uma sequência, que além de ser memorizada pelos jovens devia ser executada com precisão, afinal Xian era um homem que exigia a perfeição de seus alunos, muito tempo se passou até que Moriyama atingisse suas expectativas, o treino era árduo, mas gratificante.
Por fim, Xian parou os movimentos e lhes disse: "Muito bem, agora é a hora de vocês lutarem um contra o outro." sorria, Moriyama não estava confiante, Kojuro assumia posição de batalha, com rosto sério, aquele rapaz era aluno de Xian, o monge temia ser espancado por ele, mas faria o possível para sobreviver, posicionou-se também e a batalha logo começou, os movimentos de Kojuro eram rápidos e precisos, pelo menos assim soava aos olhos de Moriyama, que fazia o possível para defender-se dos golpes que conseguia, mas ocasionalmente recebeu alguns ataques, seu oponente tinha noção de sua inexperiência, mas também não pegava leve com ele, forçando-o ao seu limite, o monge defendia-se gradativamente de cada vez mais golpes, no entanto a derrota era inevitável, com um golpe certeiro no peito com a ponta acolchoada do bastão Moriyama foi jogado ao chão, logo levantado novamente por Kojuro, Xian sorria: "Muito bem, foi o que eu esperava, você perdeu mas ganhou. Perdeu a batalha mas tenho certeza de que não terá mais tantos problemas com o manuseio de armas, certo? Sempre que quiser venha aqui para treinar, podemos tentar com lâminas quando quiser!" Moriyama estava feliz, não se incomodava com aquela derrota, agradecia profundamente a Xian e a Kojuro, que logo retornaram para a academia. Aquele dia havia sido engrandescedor, o monge ficava feliz em saber que haviam pessoas decentes naquela vila para ajudá-lo em qualquer problema que encontrasse, retornou alegre e cansado para sua casa pelo belo caminho perfumado por flores, chegou rapidamente em sua casa que não era muito distante da academia, lá tomou um banho confortante e começou a preparar sua janta, enquanto cortava cebolas segurou firmemente sua faca e olhou seu reflexo na lâmina, não temia mais Himori, ao menos não por aquele caminho, a partir daquele momento faria conforme Xian o ensinou: seria um músico, e um músico que utiliza seus instrumentos para o bem, mesmo que isso faça com que alguns chorem - ou sanguem - evitaria cometer homicídios, mas não temeria tirar sangue de ninguém, e para comprovar aquilo fez um pequeno corte em sua mão, uma gota de sangue escorria, o corte ardia, Moriyama lambeu o sangue que escorria, aquela ferida era pequena mas representava uma grande mudança, um grande amadurecimento por parte do rapaz.

Observações:

Técnicas usadas: