Aquele seria seu primeiro ato invernal. A imagem de Shigure ainda permanecia gravada nele, a assombra-lo como um fantasma inconveniente, que não sabe a hora de terminar sua vigília. Poderia ser amor, paixão, claro que poderia; poderia também ser mero fascínio pela figura obstinada e frágil da jovem. Aquela incerteza o atormentava, o fazia passar noites com os olhos bem abertos, deitado de lado e observando o silêncio noturno através da janela. A estação também não o ajudava: o fazia sentir-se inseguro, tremendo de canto em canto fosse por frio de fato ou por ansiedade.

Duras batidas na porta o tiraram da cama.
Ele levantou num salto.

O coração aos saltos, caminhou apressadamente, disparando pelo corredor e buscando saber de que se tratava. Já tinha então um cigarro aceso entre os dedos, enquanto entre abria a porta de madeira e dava de cara com o oficial enviado para lhe dar ciência de sua tarefa. Ele olhou no rosto do homem, em suas mãos, de volta ao rosto. Assentiu. "Dê-me algum tempo para me aprontar", disse, tomando o pergaminho para si. Fechou a porta e voltou para dentro de seu aconchegante casebre, escondido nas ruas mais distantes do centro, onde sempre recaía uma sombra pesada. Passou a vista por cada linha, tomando conhecimento da missão a ser desempenhada. Apagou a cigarro, abriu a porta novamente — agora completamente trajado, espada à cintura, bolsa à coxa — e seguiu rumo à comitiva.

Hp: 500. Ck: 550. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Apesar de ter alguma pressa em seus passos, Shizuke não correu. Caminhou contra o fluxo que pessoas rumavam ao centro da vila, maioria destes preocupados em adquirir os melhores produtos, as frutas mais frescas, os melhores tapetes, as vestes de linho fino. Tais preocupações o faziam perceber a importância dos afazeres de um ninja — contudo, não deixava também de se perguntar quem incutira nele tais preocupações que sequem deveriam ser de sua preocupação —, que tinha de atentar-se a segurança de vila, dos arredores, embrenhar-se na Floresta da Morte. Não importava o quão bom se tornasse o perigo sempre estaria à espreita. Seus passos enfim o levaram ao destino.

Divisou, logo que se juntou ao grupo, um par de cachorros de cujos tamanhos passavam em muito do habitual, em nada parecendo com aqueles animais abatidos e abandonados que encontrava pelas ruas de seu bairro. A mulher ao centro de ambos os animais tinha riscos no rosto e ele lembrava-se vagamente acerca daquilo, embora sua mente teimasse em não deixar a memória vir à tona. Levou sua audição às breves instruções que lhe eram passadas, aproveitando para apertar as vestes ao redor do corpo enquanto o sol matinal despejava raios cálidos, que envolvidos na atmosfera invernal mais pareciam finas linhas de ouro. Tentou pensar no trajeto que o aguardava, em toda a responsabilidade jogada em seu colo, de proteger toda uma comitiva de ninjas médicos. As pessoas da qual estava encarregado dependeriam dele adiante, teriam de confiar cegamente de que ele os protegeria apesar da vulnerabilidade a que eram acometidos enquanto carregando mochilas e todos os pertences necessários para conter a doença. Ainda assim, ele só pensava em Shigure. O mero pensamento era perigoso, sim, mas a periculosidade não rodeava a figura mística, quase divina da garota, se pautando unicamente na distração que aquilo lhe traria.

Shizuke acalmou-se, deixando seu coração seguir o mesmo ritmo de seus pés batendo contra o solo a cada passo. Ele seguia, repreendido por ocasionais rajadas de um vento forte e selvagem, avançando como um barco impelido contra a corrente. Lembrou-se de uma história: nesse conto, a própria jornada era o tesouro procurado, a recompensa não mais do que uma satisfação, mero prazer pela caminhada feita. Ajustou o corpo e apontou seu nariz na direção que seguia a estrada, fechou os olhos. Dentro dele aquela energia azulada e misteriosa corria em circuito, dormente, apenas esperando por uma oportunidade de ser ativada e transmutada nas infames chamas de Shizuke. O simples pensar no fogo o aquecia. Aproveitou a ainda silenciosa trajetória até a vila para domar a besta dentro de si; com mãos invisíveis tocou seu sistema circulatório de chakra, esperando que ele respondesse ao chamar com o iniciar do fogo em algum lugar — mais costumeiramente, bem sabia, isso se iniciava em seu estômago, chakra amassado e transformado em fagulhas e então em longos dedos de fogo a sair pela boca. Algo mudava, percebeu. O poder parecia mais responsivo ao seu toque, como se agora deixasse-se ser manipulado como um joguete, atirado pra lá e pra cá, remexido sem propósito alguma, apenas por que era subserviente ao seu portador. Perguntou-se como pareceria àqueles no derredor, acompanhados por um pseudo-espadachim de cabelos soltos ao vento, vestido à maneira de tempos há muito passados, com os olhos fechados enquanto os deveria ter bem abertos, na procura de alguma ameaça. Perguntou-se também se isso afetaria a confiança nele, mas foi só isso. Estava mais focado, quase de todo imerso, na manipulação, na dominação de sua energia selvagem.

Hp: 500. Ck: 550. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Quando abriu novamente os olhos, o cenário característico de Konohagakure, a única vila que conseguia se manter em estado primaveril mesmo no inverno, despontou diante dele. A estrada seguia, pontilhada aqui e ali por pequenos arbustos, quase rasteiros, à altura do solo. A luz continuava a ser emitida como num brilho gélido, fosco e sem vida, que chegava à pele já sem calor. O ritmo adotado pela comitiva, e seguido por Shizuke sem quaisquer objeções, não lento, mas tampouco o era rápido; era cauteloso, pois evitava a fadiga que viria de uma corrida ou passos apressados, ao passo que também impedia o avanço de ser algo inconsequente, avançando cegamente antes que o terreno adiante pudesse ser cuidadosamente perscrutado. Atrás de si, percebeu, a garota cujos cabelos cintilavam ora azuis ora vermelhos — sua beleza era notável, captava o olhar de maneira quase hipnótica, ainda que não despertasse nele a mesma que Shigure — tinha as veios no entorno dos olhos pulsantes, vivas, quase saltando da pele. Os glóbulos completamente brancos, diferindo do usual. Quando pôs-se uma vez mais a fitar o que estava em sua frente, o perigo surgiu, provindo das laterais da estrada.

Antes focada no que quer que fizesse, a mulher de cabelos azulados agora avançou e escolheu sua luta. Shizuke pegou as sobras daquele combate, sendo deixado para dar conta da figura rechonchuda que balançava uma espada. Sentiu aquela energia balançar-se dentro de si novamente, como um rio de magma no estômago, mas optou por não usa-la: atrás de seu algoz a floresta avançava muito além do horizonte e o fogo gerado por suas técnicas seria difícil de ser apagado. Não estava afim de causar um incêndio florestal. O primeiro pé roçou o solo, dando-lhe impulso, levando-o rapidamente à sua velocidade máxima; a mão direita erguia-se vazia contra o ar, a palma bem aberta emitindo um ruído que começou baixinho e depois transformou-se num turbilhão. Capturada por sua mão, uma esfera de chakra maciço, projetada contra o estômago do desafortunado.

Hp: 500. Ck: 450. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

A esfera de chakra girou na mão de Shizuke até desaparecer no interior do estômago de seu algoz, liberando energia suficiente no impacto, que o arremessou floresta adentro; pouco se fazia necessário ir até lá dar cabo nele, o ferimento causado pela técnica destruiria os órgãos interiores de maneira que morte seria iminente e mesmo que tardasse, seria inevitável. Sua companheira de olhos brancos como o leite realizara também sua parte. Por ora, ao menos, estavam livres do perigo — qualquer outra dupla ou grupo à espreita entenderia o recado dado pela derrota de ambos os atacantes, de modo que conseguiriam seguir em plena calmaria até o destino. Após o embate, notou, a figura acompanhada pelos cachorros de tamanho anormal parabenizou a mulher de cabelos azulados e ele então soube que seu nome era Akemi. Aquela técnica também... apenas se lembrava de ter sentido vento em suas costas e algo mais, um presença, como uma liberação abrupta de chakra puro. Era habilidosa, pensou, ao menos em algum nível. Certamente lhe seria útil quando necessário, seria útil à todos. Ao fim, antes de prosseguirem o trajeto, foi perguntado também seu nome e ele disse sem rodeios. "Yoshimura Shizuke," e esperou que o sobrenome não fosse conhecido, pois já estava farto dos preconceitos. Acendeu um cigarro e se deixou ser guiado pela estrada, em direção seu destino.

A visão de Kusagakure surgiu aos poucos no horizonte, até que o cenário caótico assomasse, agora inteiro, sobre a comitiva. Instintivamente, Shizuke manteve-se próximo ao grupo, perscrutando a paisagem com o olhar, especialmente mais ao longe. Quando voltou sua atenção ao que se dava próximo a ele, deu com uma mulher que tinha mais de trinta anos, fato evidenciado em sua aparência madura. A guarda pessoal dela, lhe pareceu, era grande demais para um vilarejo pequeno como aquele; a própria Hokage, imaginou, não se via em necessidade de ter tantos ao seu entorno. Era notadamente estranho, mas havia certa lógica mesmo assim: o caos na aldeia parecia generalizado e como ouviu pouco depois, os próprios sintomas da doença tornavam a situação perigosa. Achou melhor silenciar sua intuição e dar ouvidos a palpabilidade da realidade. O grupo isolou-se após a mulher se afastar e Akemi logo foi designando tarefas para cada um dos membros, até que sobrou somente ele. Com Shizuke, ela preferiu ainda mais privacidade, se afastando até a sombra de uma escada. Tarefa designada, ele sabia o que fazer — ao menos tinha um esboço mental. Aproveitou-se do caos e se aproximou de uma barraca onde feridas eram tratados, tomando para si uma máscara cirúrgica e um jaleco deixados sobre uma caixa. Prendeu o cabelo e manteve distância da líder da aldeia, seguindo ela e seus guardas com passadas lentas e discretas, aproveitando bem as sombras da tarde que caia.

Hp: 500. Ck: 450. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Até agora, tudo bem. O disfarce improvisado impressionara a si mesmo; o jaleco branco se sobrepunha bem ao seu manto florido e dado que todos os presentes usavam roupas, fossem de civis ou ninjas, por debaixo do sobretudo branco, ninguém pareceu se importar ou mesmo desconfiar do traje improvisado. Assim, seguiu à espreita, mantendo-se o mais próximo possível da comitiva da líder da aldeia, parando e se misturando em pequenos grupos sempre que possível, para evitar de ser reconhecido como um dos membros que acompanhavam à Akemi anteriormente. Os cabelos presos, imaginou, ajudavam um pouco nisso; era surpreendente o impacto que pequenas mudanças tinham na maneira que outros percebiam um rosto ou a imagem geral de uma pessoa. Bem, ele apostava que o fato não o traísse. Num certo momento, percebeu, a mulher se destacou de seus acompanhantes, os guarda-costas que se mantinham grudados à ela, tomando como companhia agora outros dois ninjas, que logo notou possuírem bandanas distintas. Kumogakure? Ponderou, mas a distância impedia qualquer certeza acerca daquilo. Eles tomaram como rumo o fundo do hospital e Shizuke foi atrás, esperando na esquina de um corredor anterior, escutando atentamente o eco das vozes, que mesmo baixas podiam ser escutadas. Ali estavam, os planos, claros e objetivos. Ele assentiu para si mesmo, pronto para voltar e contar tudo à Hyuga de cabelos azulados. Entretanto, percebeu outra fala, a última: Quem está aí? Com a espada em punho, esperou. Mas logo repensou a decisão e correu dali, voltando para seu grupo de inicialmente.

Hp: 500. Ck: 450. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Apressado, refez o caminho que o levara até aquele corredor escondido nas sombras e no silencio dos fundos do hospital, agora retirando-se dali em passos ligeiros. Estranhamente, o único pensamento que lhe passava pela cabeça era: se tivesse meus cabelos soltos eles estariam se debatendo em meu rosto agora, se colocando acima dos olhos, balançando ao vento e certamente fazendo de mim uma figura a ser observada. Porém, manteve calma, assim como manteve seu ritmo apressado cadenciado, não estava caminhando mas também não corria atabalhoado. Não tardou em chegar até Akemi.

"Eles pretendem isolar a aldeia completamente", tinha um ritmo ansioso imbuído em cada palavra, também gesticulava, como se aquilo pudesse atestar pela urgência do comunicado. Ainda assim, não havia pânico nem medo na voz, mas somente a urgência. As demais palavras foram jorrando, mas aqui a ansiedade parecia se reter, pois o que falou à ela foi um relatório minucioso de suas observações, não deixando de fora o fato de que dois ninjas, da vila que ele presumia ser Kumogakure, estavam junto da líder da aldeia.

[...]

Agora, corria no sentido oposto à sua vinda, exigindo o máximo de seu corpo — retirara de sobre o corpo o jaleco e a máscara cirúrgica, imaginando que o problema seria menor caso fosse apanhado como ninja do que como um médico debandando da situação caótica. Era um tanto problemático que tivesse de correr, sendo ele relativamente lento em comparação com outros ninjas de patente semelhante, mas tampouco existia opção melhor do que essa. O cansaço, ao menos, sabia que evitaria com facilidade.

[...]

Arfando, ultrapassou os portões quase sempre abertos de Konohagakure e, imaginou ele, naquela confusão de pés levantando poeira no solo de terra batido algum vigia do portão deve ter visto sua bandana, pois ninguém o incomodou, nem se colocou em seu caminho ou gritou para ele. Tinha a imagem do caminho a ser percorrido do portão até o Hospital da Folha um tanto clara na mente: não era vaga como um borrão, mas também não era um mapa bem desenhado. Era apenas o suficiente. E assim, após tomar algumas curvas aqui e ali, quase esbarrando em civis e comerciantes enquanto avançava apressado, chegou diante do edifício almejado. Abriu as portas da frente, passando por elas quase que com um encontrão do corpo na entrada, colocando as mãos ao redor da boca e chamando pelo líder da equipe de plantão. Arfou mais algumas vezes, curvando o corpo e apoiando as palmas das mãos nas próprias coxas. Uma figura veio correndo, irrompendo através de um corredor imaculado que deveria seguir até os fundos do hospital. Brevemente, explicou a situação a ele, tirando o papel que Akemi lhe entregara de dentro de um dos bolsos interiores do manto.

"Quando estiver com tudo pronto, pegue ao menos um ninja que saiba o caminho até Kusagakure, um que possa defende-los. A estrada deverá ficar segura por um bom tempo depois do que aconteceu, mas é sempre bom precaver. Leve consigo uma equipe grande, mesclada de médicos e ninjas-médicos. Farei o possível para colocar vocês na aldeia assim que chegarem lá, mas imagino que não será fácil, a quarentena vai ser iniciada em breve. Se algo não estiver claro, bem, vai ter que confiar no próprio julgamento." E da mesma forma que chegara à Konohagakure, partira, rápido como o vento — ou o mais próximo disso que lhe era permitido — rumando de volta ao caos de Kusagakure.

Hp: 500. Ck: 450. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Depois, nos instantes seguintes, percebeu ter sido afobado em seus desígnios. Recompôs-se e manteve-se em conjunto com a equipe médica estacionada no hospital de Konohagakure, impaciente, mas sabendo que seria necessário — ele e ninguém mais — para coloca-los dentro de Kusagakure. Em fato, a demora foi apenas amplificada por seu nervosismo, dado que o tempo real que se passou desde entregar o papel com seja lá qual fosse a mensagem de instrução de Akemi até a produção dos antídotos fora recorde. A equipe estava visivelmente cansada, mas o esforço se pagaria. A urgência nas palavras que se seguiram evidenciaram à ele o conteúdo imediatista da mensagem. Sem mais delongas, se colocou em movimento, saindo de pronto do hospital. A tarde tinha agora um tom arroxeado, marcando o fim da tarde. A noite cairia muito em breve, isso o preocupava. Não teriam de se preocupar mais com assaltantes e saqueadores, mas ainda haveriam lobos e quais fossem as outras criaturas que espreitassem na noite. Seguindo sua liderança, a comitiva avançou apressada. Kusagakure não estava longe e imaginou que a quarentena já estivesse iniciada.

Hp: 500. Ck: 450. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Saber previamente da quarentena imposta à pequena aldeia não o aliviou da decepção de ver a ponte de acesso erguida. Ela permanecia esticada, porém, sobre a superfície da água, num reflexo tortuoso; era de pouco uso a imagem, servia somente para ser observada, contemplada. Shizuke olhou rapidamente para aqueles olhos nervosos atrás de si, que esperavam que ele tomasse uma atitude muito rapidamente, qualquer que fosse, para leva-los ao outro lado da margem, para leva-los para dentro de Kusagakure. Fitava os morros mais a direita da paisagem, com casas despontando mesmo na encosta do relevo. Leva-los ao outro lado certamente seria complicado; no calor do agora, imaginava ser impossível. As coisas mais simples nunca chegam quando são esperadas, especialmente quando são soluções. Baixou então sua visão sobre o rio que corria logo abaixo. Não havia nenhum barranco na porção de terra onde estavam, com o solo descendo inclinado até a margem como se fosse uma rampa. Todos são ninjas, se lembrou. Tudo acabava de ficar mais fácil.

Limpou a garganta, virando-se para o grupo atrás de si. "Escutem bem", a voz estava firme ainda que embotada, sem nenhuma expressão aparente mesclada à ela. "Vamos descer até o rio e caminhar sobre ele." O olhar deixou transparecer a dúvida: são todos ninjas, certo? Esperava que de fato o fossem. "Quando alcançarmos o outro lado, iremos subir aquela parede" e apontou para a estrutura amarela que separava a aldeia da água. "Os mais fortes podem carregar quem tiver dificuldade para atravessar o rio ou subir a parede. Minha prioridade são os antídotos, se eu tiver de deixar alguns para trás..." E deixou o vento completar as palavras que não proferiu. Desceu a encosta e concentrou chakra nos pés para atravessar o rio e subir a parede verticalmente, ambas técnicas básicas. Esperou no topo do muro, sentado, meio encolhido para não alertar possíveis sentinelas antes da hora. Caso todos conseguissem subir, ou ao menos caso conseguisse transportar todos os antídotos, adentraria Kusagakure e partiria em busca de Akemi. Enquanto esperava, acendeu um cigarro e tragou sua fumaça.

Hp: 500. Ck: 450. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Estaria mentindo se, ao expor as memórias daquele dia futuramente, dissesse que o resultado de toda a comitiva ter atravessado o rio e subido o muro bege sem quaisquer dificuldades eram esperado; achava que talvez um ou dois teriam se mostrado inaptos ou medíocres no controle de chakra, de modo que a técnica básica seria falha em sua aplicação. Ficou sentado, meio encolhido, tragando a fumaça do cigarro para seus pulmões, observando enquanto o esquadrão composto por médicos e enfermeiros de Konohagakure fazia a travessia de maneira calma e ordenada. Ao fim, todos estavam já no interior de Kusagakure, do outro lado daqueles paredes desprotegidas. Shizuke descartou o cigarro no rio, agora um casulo de cinzas envolvendo o tabaco queimado. Apercebeu-se de ter os cabelos presos ainda, havia os deixado assim desde o momento em que tivera de se disfarçar de médico para escutar escondido os planos da líder da aldeia. Essa necessidade não existia mais e eles deixou suas mechas negras desceram sobre as costas, enquanto liderava a comitiva entre becos, traçando um caminho mental de onde imaginava ser o hospital — seguindo também a visão de um imponente prédio branco, que assomava sobre as demais casas. A visão do hospital crescia conforme ele avançava. Mas o avanço teve de ser interrompido. Um grande número de civis apareceu para surpreende-los. Shizuke estava prestes a avivar o fogo dentro de si, para transformar aquele grupo numa pilha de cinzas, mas se lembrou de quem era. Definitivamente não um monstro, não como Shigure lhe dissera. Aplicou sobre eles uma paralisia debilitante, uma técnica simples, mas de grande valia contra meros civis.

— Por favor senhores — disse cortesmente, caminhando entre os paralisados e sinalizando para que sua própria comitiva seguisse. — Não atrapalhem — E seguiu, galgando a terra batida com uma expressão fria, mas não a expressão de um homem cruel, mas de quem fazia bem o que devia ser feito; agora que sua vida pacata fora destroçada, não havia outra escolha, precisava cumprir com tudo que lhe era imposto à mais precisa maneira, com eficácia. Apertou o passo e rumou para o hospital.

Hp: 500. Ck: 440. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Chegaram rapidamente após ultrapassarem o grupo de civis agora paralisados. Seguiram adiante, atravessando o quarteirão final e chegando no hospital. Ouviu os resmungos distantes do grupo agora que a paralisia passava e eles tinham os movimentos recuperados, mas por algum motivo que era só deles, não ousaram se aproximar dali. Toda a comitiva da Folha, acompanhado do obstinado Chunin, adentraram o hospital. Logo na entrada, após a porta principal, encontraram Akemi, ansiosa e incerta quanto ao sucesso da tarefa que designara. Mas agora estava tudo feito. Ele recebeu a mescla de parabenização com reprimenda e, cansado dos acontecimentos exaustivos daquela missão, resolveu ir diretamente ao quarto que lhe fora reservado.

O lugar que o esperava era pequeno, aconchegante. Ele parou diante da fachada da pousada, observando por alguns instantes as diferenças arquitetônicas daquela pequena aldeia em comparação à poluição visual de letreiros e cartazes de Konohagakure. O retrato minimalista do estabelecimento era o que o tornava aconchegante, o tipo de lugar para o qual você desejaria ir após longas horas de tarefas exaustivas. O exato caso de Shizuke. Adentrou e junto com ele entrou também o vento invernal, dando calafrios que subiram por sua espinha. Falou brevemente com o recepcionista e pegou a chave para um quarto.

Não dormiu, não pensou em Shigure, nem ponderou acerca dos acontecimentos; sentou-se na beira do colchão e ficou observando a paisagem que desaparecia além do horizonte.

Hp: 500. Ck: 440. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Os ventos iam e vinham contra a janela. Shizuke tinha a impressão de que eles arranhavam o vidro com suas fortes correntes invernais. Distante, a paisagem se desvanecia pálida, a terra plana e verde se fundindo ao céu que era ao mesmo tempo cinza e roxo, com resquícios ainda da luz solar. Se perdia em pensamentos ininteligíveis, que vinham até ele como um tsunami descontrolado. O borrão formado dominava-o e tudo que existia era o agora, a paisagem diante de seu olhar negro opaco. Batidas secas na porta o despertaram do transe, quebrando o encanto etéreo daquela calmaria que parecia infindável. Antes de se perguntar como sabiam onde estava, lembrou-se que o repouso havia sido preparado pela própria líder da aldeia. Caminhou até a porta e recebeu um homem portando pequenos bolos de notas enroladas, o pagamento pelos serviços prestados. Shizuke recolheu e colocou tudo nos bolsos interiores do manto, dispensando-o logo depois. Mas não fechou-se no quarto por definitivo, abrindo a porta e correndo atrás do homem, querendo saber se havia em Kusagakure algum lugar pacífico onde pudesse praticar seu Ninjutsu. Se viu então voltando até as margens daquele rio que atravessara em pânico, na urgência de entregar à Akemi os antídotos produzidos em Konohagakure. Sentou-se com os joelhos semiflexionados, apoiando neles ambos os braços esticados. Avivou aquela energia cálida dentro de si, pondo-se a controla-la.

Hp: 500. Ck: 440. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Fechou os olhos e deixou que a brisa invernal — que mesmo sendo atirada em pequenas lufadas não era menos cortante — varresse seus cabelos ao bel prazer, colocando-os ora à esquerda do rosto, ora à a direita, ora empurrando-os por sobre os ombros, ora fazendo com que eles pousassem diante do rosto. Não havia canto de pássaros em lugar nenhum, nem mesmo o farfalhar das folhas. Apenas seu manto estampado com flores primaveris farfalhava, debatendo-se contra as correntes de ar impelidas contra ele. As chamas ardiam em seu estômago e era esse o único alento que tinha contra o aperto gélido da estação. Passado algum tempo de concentração, tentou deixar com que a concentração ficasse em segundo plano. Ainda mantendo vivo o fogo dentro de si, enviou a mão direita ao bolso interior do manto, que ficava em seu lado esquerdo, na altura do peito. Apalpou dentro dele, tirando as notas enroladas e presas com elástico do caminho de seus dedos para pegar a caixinha de fósforos. No bolso do lado oposto, encontrou seus cigarros. Levou um à boca, riscando um fósforo para acende-lo. Inspirou a fumaça e tossiu, tirando momentaneamente de seus lábios o cigarro. O recolocou logo depois. Notou que a fumaça saia da ponta numa minha serena, que seguia debilmente o caminho ditado pelas correntes de ar. Checou seu chakra, ele seguia ativo, conservado na forma que o deixara. Então, expulsou a fumaça abruptamente, tentando expulsar também um pouquinho daquela energia. Transformou a expulsão de fumaça numa grande nuvem de cinzas, que avançou, pairou e então se dissipou diante dele.

Hp: 500. Ck: 440. RC: 1000.
P.s.: Ajudaria um pouquinho se você inserisse algum NPC pra me ajudar, tenho dificuldade em bolar o plot sozinho/do zero. xD

Spoiler:

Spoiler:

O ar se tornava cada vez mais frio. A impressão que tinha era de que a atmosfera convergia em seu torno e o congelava, como se uma nuvem de oxigênio se condensasse ali. Apenas não tremia pelo fogo que ardia dentro de si, uma chama viva em seu estômago — ainda que não necessariamente estivesse ali fisicamente. Ele apenas tinha a sensação e essa tinha sido criada voluntariamente, como parte de seu treino, um artifício para se manter aquecido na crueldade do inverno.

E naquela faixa de terra, escondida num cantinho quase inabitado do País do Fogo — como era em toda planície ou montanha entre vilarejos e aldeias —, Shizuke apercebia-se tão solitário que sentia um buraco no peito, um vácuo instaurado dentro de si que o consumia a cada segundo distante de Shigure, Artur e tudo o mais que conhecera até então, os elementos que não podia acessar enquanto longe da Folha. Ele sabia, todos os dias o sabia e não esquecia nunca, que fora uma tragédia que o levara até lá; não obstante, seria tolo em pensar que isso transformaria todos os frutos daquela vila em frutas podres. Para dizer a verdade, todo prazer e júbilo provinha da Folha. Sussurrou uma prece baixinho, descobrindo-se como religioso. Descobria-se muitas coisas desde que fora catapultado para fora de seu mundo pacato e inerte; a vida ninja, fosse ele mero Genin ou coisa mais, fervilhava de acontecimentos aqui e ali, de modo que era impossível abster-se de ser influenciado pelos mesmos. Sabia disso pois o fizera a vida toda, sem sucesso; esquivara-se das responsabilidades, dos impactos dos acontecimentos além da sua alçada, por medo de não poder conter os resultados recaídos sobre si. Não mais. E avivou novamente o fogo dentro de si, sentindo-o explodir num calor que fez sua testa pingar de suor.

Achou por bem interromper um pouco sua meditação e tornar à caminho da vila. A fome o acometia. Caminhou em círculos por um bom tempo até encontrar um restaurante. Aparentava ser o único na cidade, pois encontrou ali toda a equipe médica reunida. Trocou breves palavras de cumprimento, recebeu algumas congratulações e então se sentou um pouco afastado, tentando desfrutar de um pouco de paz.

Disso sentia falta: paz. Os dias em sua pequena casa, acordar de manhã bem cedo e caminhar pelas ruas apenas para garantir a permanência da ordem, de vez em quando repreender algum bêbado, um assediador ou canalhas do tipo, mas acontecimentos pontuais, que sequer lhe davam a sensação de perturbação. Os ventos do agora eram outros, e sopravam pra outro lugar, e sopravam forte, pouco se importavam com as vontades do Yoshimura. E vinte e um invernos, um tempo que se passara rápido.

Pediu uma sopa. As outras opções do menu se resumiam a pratos de nomes ininteligíveis, pratos que conteriam carne. Nenhuma carne que não a humana lhe aprazia e nem mesmo essa era toda de seu agrado. Um caldo e alguns legumes não lhe eram assim tão indigestos. Sorveu pequenas porções com a colher, até que foi interrompido por uma figura próxima. Figura esta que não percebera estar ali até ouvir sua voz. Olhou bem para ele. Não parecia ninja, não parecia de lugar nenhum que lera ou ouvira falar. Devia ser estrangeiro, mas de onde? Não conteve a curiosidade.

— Me parece um bom conselho. Mas são palavras, apenas isso. Entende algo de chakra? Ninjutsu? — Sorveu outro gole de sopa, limpando o que escorrera em seu queixo. — Parece um pouco deslocado aqui, vestido desse jeito. Mais até do que eu. De onde veio? — A sopa talvez estivesse sendo agradável, pois seguia saboreando-a intermitente, alternando sua atenção à essa e ao homem na mesa próxima. Não era bobo, contudo: comia com uma única mão, a esquerda, que ainda que de pouco uso servia bem sua necessidade. A mão direita repousava em suas pernas, na junção das coxas pouco acima dos joelhos. Se precisasse da espada, ou tecer algum selo, poderia faze-lo rapidamente.

Hp: 500. Ck: 440. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler:

Ele meneou com a cabeça. Mas o fizera de maneira brusca, rápida, quase selvagem o movimento. Queimara a língua com a sopa, tentando por na boca uma colher com muito mais líquido fumegante do que deveria. Ficou uns instantes em silêncio, esperando a dor que latejava sobre a língua desvanecer e sumir. Com o rosto contorcido de dor, e mantivera essa mesma expressão por bom tempo sem se dar conta, fitou atentamente o homem ao seu lado, percebendo que ele também o fitava de maneira atenta. "Percebeu que estou tenso", notou Shizuke, mas não pôde se apoiar em nada para concretizar sua suspeita. O homem ao lado começou a tagarelar e logo tinha um garrafa de saquê à mesa. "Isso nunca vai terminar," resmungou baixinho o Yoshimura, levando uma das mãos até a testa e aproveitando para limpa-la e afastar os cabelos um levemente úmidos de suor. Para sua surpresa, o homem simplesmente se foi, levando com ele seu copo e sua garrafa de destilado de arroz. Shizuke baixou os olhos sobre a tigela quase vazia. Sobrava apenas pouca sopa, de modo que enxergava o fundo de cerâmica através de um véu fino e translucido. Virou o resto do líquido sem auxílio da colher, passando o dorso da mão sobre a boca e deixando na mesa alguns trocados, troco incluso.

Voltou a margem do rio. Como dito, ele o esperava lá. Shizuke observou à distância, as mãos enfiadas nos bolsos da calça, visivelmente despreocupado. Havia esquecido da quarentena e agora sabia que o perigo beirava zero.

— É meu chakra, nada mais — respondeu sem rodeios, mas uma voz interior lhe disse o que tinha medo de admitir: sua conexão com fogo estava no conforto que o elemento podia lhe dar, um substituto para as pessoas que não tivera em seu entorno.

Hp: 500. Ck: 440. RC: 1000.

Spoiler:

Spoiler: