Ainda era de manhã quando os barulhos naquela casa começaram, desde a gritos agressivos, a até mesmo, móveis arrastados pelo chão amadeirado.  — D-desgraçados! — Gritava uma garota de cabelos ruivos, perseguia outros dois, de aparência semelhante à dela. Quanto ao porquê daquela irritabilidade dela? Não sabia-se de imediato e, embora fosse uma situação um tanto quanto inconveniente, os perseguidos pareciam, no mínimo, se divertir com a agressividade desta. — Oque estão fazendo? Covardes! Voltem aqui! — Gritou mais uma vez, enquanto, sem olhar diretamente ao chão, tropeçou num dos materiais, semelhante a ferro, fazendo-na cair para frente, com grande velocidade e potência.

O barulho que se seguiu, não fora devido a bagunça, mas uma queda, de fato, engraçada e, da mesma forma que começou, fora interrompida e os outros dois, voltaram em direção a pequena ruiva.

— Flamma, F-Flamma, você está bem? — Disse o menor dos outros dois.

Ele parecia mais jovem que a garota nomeada de Flamma, embora tivesse um punhado de pelos em seu rosto e, ele parecia bem mais preocupado, ajoelhando-se frente a ela e, tentando a auxiliar em seu levante.

— Era brincadeira, tá? Você tá bem?
— Ei ei, vamos sair daqui, quando ela estiver bem, nós estamos mortos.
— Você está louco? Você não viu como ela caiu? Ela deve ter quebrado o nariz, nossos pais vão nos matar!
— Você já viu ela se machucar? Isso nem humano deve ser!
— Para com isso, ela é nossa irmã!

Os dois discutiam enquanto o mais velho, mais recuado, parecia não ter tanta confiança em permanecer ali. De toda forma, em seguida, a garota - como o próprio irmãos havia comentado - não parecia ter ficado muito machucada e, aos poucos, enquanto levantava seu rosto, com o apoio de seus braços, pode-se ver um respingo de sangue sair de seu nariz.

— Flamma! Você tá sangrando! Flamma!
— Ela só bateu o nariz, e tá muito quente nesse lugar, é só isso, calma Ren!
— Ela tá machucada de verdade Hiroshi! — Ren parecia extremamente preocupado e seus olhos, começavam a sair algumas gotas de lágrima e, embora tudo isto, de fato, não havia sido muito para Flamma, mas ainda estava um pouco tonta para tentar algo contra os dois, mantendo inicialmente, uma calma para que pudesse pega-los desprevenidos.

— Então vocês pararam, né? Eu vou — Disse, segurando o braço de Ren. Embora não fosse tão forte quanto o garoto, apenas sua presença e rosto fora suficientemente forte para segura-lo parado, enquanto Hiroshi, aproveitou aquela deixa, para deixa-lo só e correr.

— Boa sorte, Ren
— Matá-los! —
— Onee-chan?

Os pais dos três demoraram um pouco mais aquela tarde. Haviam ido para o mercado e, embora sem ajuda, haviam conseguido comprar toda a alimentação da semana. Eles estavam esperando algum tipo de ajuda assim que passaram da porta de entrada, deixando as sandálias para trás do tapete, mas somente tiveram uma visão um tanto quanto... estranha - mas que para eles, parecia bem mais normal do que vê-los beber água. Flamma estava sentada nas costas de Ren, enquanto forçava-o se desculpar.


— Onee-chan, era brinca-
— Oto-sama! Oka-sama!

E então, Ren virou-se, derrubando a ruiva, indo em direção aos seus pais e ficando atrás destes.

— Oque fizeram desta vez? Flamma, seu nariz está sangrando.
— Não foi nada, a gente só assustou ela
— Não faça isso com sua irmã, filho!
— Sim, não faça isso com ela, está vendo como ela ficou assustada?
— É, e me assustou também
— Vocês precisam parar de se tratarem assim. Oque vai acontecer quando eu e seu pai morrermos? Vocês vão se separar?
— Não, não! Eu e o Hiroshi gostamos muito dela, só é engraçado vê-la irritada.
— Mas ela não gosta, você tá vendo sorriso no rosto dela?
— É verdade...
— Me desculpa, Onee-chan.

Calada, Flamma manteve-se quieta, apenas limpando o sangue escorrendo em seu nariz e, levantando-se logo em seguida. Sua raiva havia diminuído, embora ainda não tivesse, por completo, melhorado seu próprio humor. — Está tudo bem — Respondeu-a, forçando um sorriso e, em seguida, pegando as sacolas de compras junto à Ren e, diferente do que se esperava, assim quando seus pais viraram o rosto, ela fizera uma ameaça a partir de seu próprio gesto facial para Ren, que como resposta, apenas engoliu seco. Os quatro arrumaram pacientemente as coisas na dispensa por cerca de uma hora até que, finalmente, tudo havia sido feito. Ren sentou-se ao chão, ao lado de sua irmã, enquanto sorria, um pouco soado.

— Ei Flamma, vamos jogar algo?
— Algo para aumentar essa sua paciência — Riu.

Flamma olhou para ele, assustada inicialmente. Ren geralmente iria trabalhar naquela hora, então, porque aquilo? — E você, não vai trabalhar? — Perguntou, curiosa.

— Não temos nenhum pedido hoje e, o Hiroshi se vira bem
— Vai ser bom, é um teste de inteligência muito interessante.
— Se chama jogo-da-velha. Basta você empilhar três marcas destas, de maneira que conectem-se e vencerá.
— E oque eu ganho com isto? — Perguntou, um pouco desinteressada.
— Eu te ajudo no seu próximo treino, tá?
A ruiva então, estralou a língua, mostrando certa impaciência. Ela sabia que seria necessário a ajuda dele em algum tempo, mas não queria jogar aquele jogo tão... irritante. — Está bem. — Respondeu um pouco irritada.

Ren levantou-se e fora até seu quarto, cruzando parte da casa para que pudesse pegar uma folha em branco e duas canetas.

— Você pode ficar com o X
— Não vai ganhar mesmo — Riu mais uma vez, debochando.

Ren desenhou algumas cerquilhas naquele papel, para que então, posicionasse, uma bola dentre um dos espaços em branco de uma delas. — Sua vez, Onee-chan — Sorriu, entregando uma caneta e o papel para a garota.

— Vou te explicar. Cada uma dessas lacunas, das três colunas, são espaços em branco. Devemos preencher com um dos símbolos entre X e O. Só um de cada vez. O objetivo é conseguir alinhar em horizontal, vertical ou diagonal três dos mesmos símbolos e, isso, decreta o vencedor. Fácil não?
— Mas não é, então preste atenção

— Isso é muito chato — Sussurrou, enquanto desenhava um xis ao lado do símbolo de seu irmão.

O jogo pouco manteve-se e Ren ganhou a primeira, alinhando as bolinhas em horizontal. Flamma não havia entendido muito bem como jogar aquilo e, talvez, por isto não havia dado uma boa disputa à seu irmão. — Mais uma! — Desenhou o mesmo xis, desta vez, como a primeira no jogo. Um ponto em específico do jogo em questão é, criar um caminho e tentar segui-lo de maneira inteligente, enganar o inimigo, despista-lo, montar algum tipo de estratégia e, Ren, sabia o quão Flamma não era a típica garota mais inteligente do mundo. Desenvolver um lado pensante da garota, poderia proporcionar uma evolução de forma geral.

— Ganhei de novo. Essa já é a vigésima vez, mas está melhorando!
— Só tem que parar de se focar tanto em tentar vencer. Tente se defender, você não é tão idiota a ponto de cair em tudo que eu faço, né?
— Desgraçado! — Irritada, mais uma vez, começou. Como Ren havia falado, ela tentou, desta vez, prever onde ele tentaria pontuar e marcar. Aos poucos, ela estava, de fato, melhor. Passou-se bem mais tempo do que anteriormente e, apenas naquele jogo. Ren finalmente empatou com a garota e, aquilo manteve-se por mais treze ou quatorze jogos, até que, usando uma estratégia um pouco diferenciada, Flamma maquiou os pontos que desenhava. Onde exatamente ela iria tentar alinhar? Desenhando um círculo ao meio, o irmão desta tentou diminuir as chances do diagonal, e então, outro xis fora desenhado, numa ponta inversa. Sua bola impedia o diagonal e, ele decidiu atacar, colocando no diagonal inferior esquerdo. Flamma defendeu-se, no entanto, diferente do que se esperava, ela também estava a atacar. Tanto o meio superior, quanto o meio direito estavam livres para marcar e a garota finalmente venceria seu primeiro jogo. A evolução era um tanto quanto assustadora.
— Isso, eu venci, idiota!
— Parabéns, Onee-chan
— Vamos mais uma! — Chamou, já desenhando mais um xis, no entanto, Ren levantou-se do chão.
— Eu vou dormir um pouquinho, depois jogamos outra coisa. Até mais, Flamma.

Flamma então, sem entender o do porque daquilo, apenas despediu-se temporariamente do irmão, olhando pela janela. — Que? Já anoiteceu?

Hiroshi havia chegado bem tarde naquele dia... Talvez medo? De qualquer forma, suspirando, abriu a porta daquela casa com grande tranquilidade, enquanto simplesmente retirava suas sandálias. A casa estava escura e, era bem provável que todos já estivessem dormindo a algum tempo, oque fizera por consequência, o rapaz ter certo cuidado com o barulho que fazia.

— Hohoho, se não é o covardinho — Uma voz leve fizera o ruivo olhar em direção ao corredor, para a porta. Uma figura negra, baixa e sombria o esperava. E, de fato, ele esperava que fosse um fantasma.
— Flamma, eu to cansado. Amanhã você briga comigo, tá? — Suspirando, ele levantou-se, enquanto olhava descrente para a garota. Ela realmente o havia esperado? E apenas por causa de uma brincadeira? — Hã? Porque eu iria bater em alguém que me ajudaria? — Irônica, ela começou a aproximar-se de Hiroshi, que, para seu próprio bem, dava passos lentos para trás, embora a porta o esperasse logo mais.
— Do que tá falando? — Perguntou, enquanto cada vez mais perto, sentia a respiração da garota.
— Você é bom com selos, certo? — Perguntou retoricamente, sorrindo. Seus dentes caninos pareciam levemente saltados.
— S-sim — Estralou a língua. Ele não parecia muito a fim de ajuda-la, não aquela hora.
— Eu te ajudo, se me deixar dormir, não é hora de treinar, Flamma
— Tá bom — Dando meia-volta, a garota simplesmente deixou aquilo como estava. Oque era estranho.
— O merda... — Reclamou, enquanto simplesmente coçava a cabeça. O próximo dia ia ser muito longo.

Mal o sol havia nascido e, os sons voltaram a acontecer, embora um pouco mais concentrados. Num dos maiores quartos, Flamma preparava-se para seu treinamento. Estava extremamente animada, oque não a deixava dormir exatamente bem, não que aquilo a fizesse mudar de alguma forma. A frente do espelho, arrumava seu cabelo, amarrando-o. Geralmente, ela o cortava antes de crescer tanto, mas, desde um ano para cá, decidiu deixa-lo como o de sua mãe, grande e bonito. O resultado era espantosamente bom, devia admitir. Com o restante do tempo, também arrumou parte de seu quarto desorganizado, arrumou-se com uma roupa mais leve e, fez-te toda e qualquer necessidade física.

Com a chegada do sol, era a hora de finalmente acordar Hiroshi e, saindo pela porta de seu quarto, simplesmente bateu no quarto ao lado do seu, ainda fechado. Os toques na porta aumentavam a medida que a impaciência na ruiva aflorava, em seguida, abrindo por conta própria. — Ei, idiota, já tá na hora de acordar — Comentou, adentrando o quarto escuro, no entanto sem resposta. O rapaz parecia ainda dormir, cansado e com o semblante tranquilo, embora todo o barulho feito por Flamma. Aproximando-se, tocou-o levemente, em seguida, dando um leve impulso. — Hiroshi? — Sua resposta fora um simples virar de posição.

A ruiva então deu seguimento as tentativas de acorda-lo, até que, irritada, simplesmente, derrubou-o da cama, com a expressão tão visível quanto a dele.

— TÁ NA HORA DE ACORDAR
— Oque? Hã? Flamma...
— Você tá vendo sol? Idiota, não deve ser nem oito horas da manhã
— Eu não ligo, você prometeu, você vai me ensinar
— Tanto faz, só saia daqui e deixe-me trocar de roupa. — Suspirou, simplesmente aceitando a situação atual e, em seguida, fazendo a garota sair de seu quarto.

Ele fizera o mesmo que sua irmã, embora de maneira mais simplista e rápida, descendo pelas escadas para estar naquela pequena sala de arquitetura asiática. Havia uma mesa pequena, cobertores e ... Ren, que ainda dormia, oque o irritava ainda mais. Aparentemente, o idiota não havia sido acordado por Flamma que estava sentada comportadamente ao seu lado. A resposta de Hiroshi? Um chute em seu estômago, fazendo-o acordar.

— Ooh, desculpe, tropecei

Sem ar, Ren simplesmente sentou-se, ficando tão vermelho quanto tentava puxar ar.

— Oque, oque foi? Porque me chutou Hiro-chan?
— Foi sem querer, volte a dormir, Ren.
— Eu vou ir treinar com a Flamma no nosso quintal, então se quiser se juntar a nós...

Flamma riu da situação e, obviamente, havia percebido que não tinha sido nada sem querer o chute, de qualquer forma, apenas levantou-se, acompanhando Hiroshi em direção ao quintal.

— Oque precisa saber, Flamma?
— Selos. Eu não sou muito boa neles e só sei os que eu uso para meus próprios, que já uso
— Entendi, vou te dar uma pequena aula, mas preste atenção
— Não é tão difícil, e não são tantos, o problema estar em realizar com rapidez, pois tenho certeza que, ao menos, fazê-los, você sabe.

Quando finalmente chegaram ao quintal, mais uma vez, Hiro suspirou, enquanto olhava diretamente para Flamma. Geralmente, se ela não estivesse, de fato, prestando atenção nele, iria simplesmente desistir de ensina-la, mas não era o caso. Ela estava bem... determinada.

— Por hoje, ensinarei a você somente os básicos. São um total de doze e, a maioria deles, são muito usados em jutsus comuns e sem muitas dificuldades.
— Tente me acompanhar. Pássaro — Realizou o selo comentado. Suas mãos estavam conectadas, alguns de seus dedos, levemente dobrados, enquanto outros, faziam algo semelhante à uma "casa". Flamma demorou um pouco mais que ele para realizar, demonstrando certa aptidão, embora sem prática nenhuma.
— Javali - este é importante, Flamma, é usado geralmente para o controle de fluxo de chakra. — Posicionou corretamente os braços de maneira invertida, fechando os punhos levemente, fazendo o selo em questão.
— Cão. Este geralmente está associado a alguns fuutons que uso e, talvez, que você possa usar também. — Diferente dos outros, este tinha um contato bem mais direto, a partir da mão esquerda que era sobreposta pela direita, que mantinha-se fechada.
— Dragão. — Outro com grande contato a partir das duas mãos, separando os dedos.
— Boi. — Mais uma vez, realizando com grande praticidade os selos. Flamma o acompanhava da melhor maneira que podia.
— E agora, Tigre. Este eu tenho certeza que sabe fazer tanto quanto eu, já que está conectado com jutsus do elemento fogo.
— Cobra. Usado geralmente com dotons.
— Rato, Cavalo, Macaco, Coelho e, finalmente, Carneiro.
— Esses são os selos básicos, está vendo Flamma? Vamos repeti-los o máximo de vezes que conseguirmos. — A ruiva então, continuou acompanhando-o. Sua velocidade manual, aos poucos, melhorava.

Algum tempo se passou, geralmente, Hiro trocava a ordem para manter Flamma prestando atenção nele, além dos próprios selos, forçando a ela, pensar rápido. Com sua evolução a um nível bom, ele decidiu finalizar o treinamento por ali.

— Certo, está bom por enquanto. Depois treinaremos mais, vou ir almoçar.
— C-certo — Respondeu Flamma, enquanto ainda realizava selos.