Deitado sobre a sacada de seu prédio, Kojiro estudava atenciosamente as formas das diversas nuvens que esbranquiçavam os céus. Nelas repousavam alguns de seus sonhos mais loucos, como quando vencia a Hokage numa disputa de esgrima, muito embora não conhecesse suas habilidades com a espada. Tanto sonhou que adormeceu, comportando as costas no concreto duro. Naquele momento, a porta de acesso ao terraço se abriu. Era seu avô, um homem velho de barba rala, corcunda, roupas gastas, bengala e olhar cansado. – Acorde, Kojiro-kun – disse ele. O garoto se revirou naquela posição, abrindo os olhos lentamente. – Vovô... – replicou o jovem, atordoado pela sonolência. – Está na hora de treinarmos. Mesmo tendo se tornado um Genin, é inaceitável que perca seu tempo dormindo. Não quer mais enfrentar grandes adversários? – questionou. A velha raposa era ardilosa, e conhecia bem como instigar seu neto a agir. Ao ouvir aquilo, a face do garoto se transformou. O sorriso deu espaço a uma afiada expressão de seriedade. Ergueu-se sem custos num rápido movimento de salto. – O senhor está certo, vovô. Estou pronto! – disse. E dessa forma ambos saíram juntos da sacada da edificação, direcionando as passadas calmas ao campo de treinamento do vilarejo.

Alcançaram o grande campo arborizado em instantes. Era outono, final de tarde, a brisa soprava e empurrava os galhos das árvores uns contra os outros. Estavam numa porção periférica da região. Pisavam em terra levemente umedecida, com grama esparsa e muita areia de grãos finos. Era claro: há pouco haviam treinado ali. Eles trocaram olhares por alguns poucos segundos, quando o mais idoso finalmente se decidiu. – Acho que chegou a hora... – disparou. – Hora de quê, vovô? – perguntou curioso. – Agora que você é Genin, vou ensiná-lo a lutar... – afirmou sem firmeza, temendo que algo pudesse acontecer ao menino. Com dificuldade, empunhou a bengala na destra como se tratasse de uma espada. – Está pronto? – inquiriu, deixando subentendido o que deveria fazer. O descendente balançou verticalmente a cabeça, assentindo, e sorriu. Seu sorriso, como de costume, era caloroso e sincero como o de uma criança. Ele então esticou a destra e, a partir do chakra, deu vida a uma espada produzida nos moldes de sua linhagem sanguínea avançada: o aço. Ela tinha o comprimento de aproximadamente sessenta centímetros, imitando os moldes de uma token. Avançaram um contra o outro de repente, após breve e intensa troca de olhares. Apesar de velho, Hosaka era arrojado. Não era grande espadachim, porém compreendia a mecânica dos movimentos como nenhum outro. Do outro lado, embora houvesse a voracidade juvenil, faltava a experiência e articulação de alguém que lutou por dezenas de anos. As armas se chocaram, porém o veredito do treino se deu três movimentos após. O idoso acertou seu orientando com uma potente cajadada contra o crânio. – Ai! – gritou. – Hyahaha – gargalhou o velho. – Não pensou que seria fácil, pensou?! – provocou esboçando ironizado sorriso. E foi assim que se encerrou a tarde, num longo e desgastante treino.

Ao final, ficou claro aos olhos de Kojiro o quanto ele deveria melhorar. Ofegantes, retornaram à residência onde juntos viviam, além dos pais do Genin e seus irmãos, todos comerciantes. Jantaram, repousaram e, ante a hora de dormir, decidiram continuar com a prática. Foi no quintal da casa em que moravam que eles se enfrentaram novamente, porém desta vez elevando o nível do combate. O fizeram pois, pouco a pouco, os ataques do rapaz se tornavam mais afiados, ágeis e contundentes. A fluidez com que seu corpo se mexia havia, claramente, se transformado. O velho, por sua vez, demonstrou ótima forma ao corresponder todos os assaltos incessantes do seu neto. Os instrumentos se chocaram e produziram um ruído capaz de ser ouvido à altíssima distância. Com o passar das horas, o garoto notou que a sua espada, por melhor que estivesse, jamais ganhava da de seu avô. Ele notou que, embora pudesse desviar dos golpes do mais idoso, estava sendo empurrado para trás na disputa. Todas as vezes que o aço de ambos se encontravam, Kojiro levava a pior e se acuava dentre os cantos do pequenino quintal. Foi naquele mesmo instante em que ele se deu conta do que deveria fazer afim de progredir. Não se tratava tão somente de melhorar o seu manuseio e técnica no combate corporal, como também utilizar-se do máximo das suas valências físicas para incrementar a força física dotada pelos seus singelos músculos.

Foi durante toda uma noite de combate que ele encontrou o verdadeiro sentindo de existir: lutar. Daquele modo, acometido por um exótico vício em combater, continuou a disputar com o seu ascendente durante uma semana inteira. Dois terços dos sete dias se dedicaram a tão somente trocar uma infinidade de golpes, dos quais quem obviamente levara a pior fora o mais novo: Kojiro. Atingido por uma série de ataques diferentes, ele buscou sempre aprender. Àquela altura, havia alcançado uma força física considerável, se comparada a detida anteriormente. – Incrível, Kojiro-san. Você é mesmo um grande ninja de nossa família. Em toda a existência dos Sasaki, somente o meu tataravô possuíra o aço. Ele ficou conhecido por Konohagakure, mas já fora apagado de sua história. Acredito que você será capaz de alterar os rumos da nossa linhagem, Kojiro-san. – disse o idoso, já atormentado pelo cansaço e estafa de estar lutando por uma semana seguida. – Eu não ligo pra isso, vovô. Tudo o que quero é um bom oponente... – respondeu o menino sorridente. Aquele era o ponto final de um dos inúmeros treinamentos do Genin.  

Sasaki Kojiro; 200/200 200/200 00/02

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