A época favorita do ano para Junko finalmente chegara, para algumas pessoas o fim do frio era o auge da estação, mas para a menina nada se comparava a ver suas ervas cultivadas na estufa de casa crescendo mais e mais forte. Com as temperaturas amenas e as flores desabrochando, ervas para chá e temperos se tornavam mais resistentes e abundantes, quase todas as sementes sobreviviam.

Se eu fosse um chá, acho que seria o de maçã e canela... Tem um sabor sutil, mas o cheiro é marcante e a cor antecipa o sabor primeiro. Já se fosse uma flor, talvez fosse uma Gérbera, elas são mais simples e limpas, mas também podem ser lindas e chamativas.. Os pensamentos aleatórios da jovem lhe tomavam a cabeça e a levavam para longe dali.

Enquanto olhava os pássaros agitados e cantarolando em seu pátio, Junko podiam sentir o aroma de sua plantação de hibisco enquanto os colhia. Aquele parecia um dia promissor para ver melhor a vegetação e entrar em contato com a natureza, talvez treinar ao ar livre.

Uma súbita empolgação tomou conta da jovem que deixou suas ervas sobre a pia na cozinha e correu para o quarto para se trocar.

Junko saiu de casa saltitando e correndo em direção as florestas nos arredores da vila, o momento era perfeito para pegar a natureza despertando do longo inverno.

Em meio a atmosfera condensada e enigmática Junko via as correntes de ar levantar as folhas do chão que que dançavam em círculos até subirem para então serem jogadas para vários lados, inclusive para perto da menina que sentia seu corpo se arrepiar com o ar gélido pela falta de luz solar abundante como era fora da clareira.

A jovem se permitia apenas sentir as energias dali sem pensar muito a respeito, de repente algo lhe chamou a atenção fazendo Junko se levantar e observar pétalas azuis soprando com o vento que lhe tocava o corpo.

O que? São pétalas azuis... Eu nunca havia visto algo assim.

A beleza dos tons azuis flutuando inevitavelmente atraiam a menina para a origem, encantada, ela seguiu lentamente em direção ao local de onde pareciam vir as pétalas. A cada passo a sensação de formigamento se tornava mais intensa, seu corpo parecia estar ficando dormente, mas a mente da jovem não dava importância a isso, era como se estivesse enfeitiçada pela estranha planta que a chamava.

As pétalas azuis atraíram Junko para uma parte da mata que era desconhecida ela. A sua frente uma árvore inusitada e estonteante com folhas azuis lhe tirou o fôlego por alguns segundos. A menina olhava para a planta completamente encantada, era tão rara e incomum que fazia todo resto meio opaco, ela chamava toda atenção para si.

Em seguida, inúmero papéis surgiam e os formatos de origamis deram vez a imagem de uma moça loira. A estranha menina saltitava descalça sem que seus pés se sujassem e animada perguntava a jovem genin se queria poder ou estava perdida.

- Ah.. OI! Respondeu ainda confusa sobre a situação.

- Eu segui as folhas azuis, elas são tão bonitas e encantadoras, me senti inevitavelmente atraída por elas.

Junko parou para pensar na questão levantada pela moça.

- Bem.. Sua pergunta é muito complexa, meio que todos estão perdidos e tentando se encontrar no mundo, mas não parece que seu intuito foi me fazer refletir sobre a vida, então, perdida eu sempre estou e em busca de poder também. Acho que esta é a resposta mais adequada... Junko falava enquanto coçava o queixo pensando no retorno adequado a indagação.

- De qualquer forma, eu já vi alguém se desfazer e refazer em origamis como você! É tão incrível que acho que nunca vou me acostumar.. A menina olhava admirada para a moça loira.

Junko estava absorta pela conversa que lhe exigia uma certa concentração pela profundidade da pergunta anterior, quando viu a menina loira fazer uma expressão infantil de birra e cruzar os braços o que imediatamente fez a genin rir pelo jeito da misteriosa garota que muito lembrava uma criança mimada.

Sua expressão facial mudou repentinamente para surpresa logo que ouviu a menina falar sobre a jovem de cabelos que deveria ser Yukino.

Ãh? Ela não somente conhece a Yuki-Sensei como também lhe deu parte de sua alma? Como assim?

Enquanto refletia sobre a relação entre a enigmática menina e Yukino, Junko subitamente foi surpreendida por um soco na boca do estômago pela menina, enquanto caia teve a impressão de ouvir a agressora falar algo sobre "carregar a habilidade".

Uma sensação de coceira parecia lhe correr o corpo, a menina abriu seus olhos lentamente, mas ao seu redor tudo estava escuro como em um enorme vazio.

- Quê?! Onde eu estou? Eu.. eu tava na floresta, mas que lugar é esse? E porque está tão escuro? A jovem olhava ao redor mas não havia sons ou respostas as sua indagações. A coceira lhe chamou a atenção para o próprio corpo, uma sensação estranha lhe dominava, enquanto a coceira diminuía, uma dormência se instalava, ela não sentia mais o próprio corpo direito e não conseguia mexer seu membros.

Será que eu dormi? Isso deve ser um sonho, mas parece tão real..

Como se colocasse a prova a racionalidade da menina, suas mãos começaram a descamar em frente aos olhos de Junko que logo percebeu que na verdade elas estavam se desfazendo em papéis.

- O QUE É ISSO?! Alguém me ajuda, eu... eu.. já vi isso antes.

A menina então percebeu que o padrão se assemelhava ao que Yukino fazia com sua habilidade especial.

Será que eu admirei tanto aquela técnica que tô sonhando que posso fazer igual? Isso está mais para um pesadelo, eu não tenho controle nenhum e já não tenho mãos. O que eu faço?!

Mais e mais seu corpo se desfazia em papéis, seus braços já haviam sumido até a altura do cotovelo quando o mesmo começou a acontecer nos pés se alastrando pelas pernas indo em direção ao tronco da menina.

Eu não sei onde estou e nem se isso é real ou não. Também não sei como parar isso.. O desespero começava a tomar a menta da jovem.

Espera. Seria muito indigno morrer  me desfazendo em papel, é quase como por na minha lápide "aqui jaz uma pessoa que morreu como um rolo de papel higiênico depois de completamente desenrolado". Não posso deixar isso acontecer, não vamos perder a cabeça. Junko quase riu de seu próprio trocadilho visto que de fato ela poderia perder a cabeça em centenas de pedaços de papel.

Meu corpo está se desfazendo de um jeito muito louco, ok. Eu não consigo parar isso, ok. Não sei o que posso fazer para tentar resolver isso, ok também. Então eu vou me focar apenas em não surtar e ter esperança de que não morrerei aqui. Parece uma boa ideia, na verdade parece a única... Suspirou a garota.

Só restava metade do tronco de Junko e sua cabeça aquela altura.

- É o seguinte o coisa bizarra que está acontecendo aqui eu não aceito morrer aqui, eu vou voltar nem que tenha que colar esse papeis tudo de novo! A menina já não conseguia conectar muito bem as ideias, só tinha a determinação e o desejo de aguentar aquilo independente do que fosse.

O resto do corpo de Junko se desfazia em papéis, a menina então fechou os olhos para não ver os momentos finais do estranho fenômeno que a dominava.

Meu corpo.. Posso senti-lo!

Ao abrir os olhos para verificar, a jovem percebeu que seu corpo voltara a normal, ou quase isso. Ela ainda era um amontoado de origamis que mal conseguia manter junto, vendo algumas partes do corpo oscilarem e voltarem. Logo após se acostumar um pouco com isso, a genin viu que agora estava em uma sala escura.

Como é difícil isso! Mal consigo me manter inteira..

Em meio as tentativas de se manter inteira, pequenos detalhes lhe traziam lembranças. O cheiro de cânfora que seu pai sempre usava nas dores musculares após as missões, o som de sua mãe cantarolando no banho e vários flash de memória que iam e vinham entre o antigo e novo. Ora via seus pais na sua infância em kirigakure, ora via seus tios e amigos em Konoha.

Junko então ouviu os comentários da menina loira sem dar muita atenção a opinião dela até que algo lhe despertou outra memória, pouco antes de cair a genin acreditava ter ouvido a loira falar algo sobre "carregar a habilidade" e novamente ela perguntou se Junko ainda não conseguia controlar a habilidade.

Habilidade? Do que ela está falando? Enquanto olhava ao redor uma lembrança lhe ocorreu, a primeira vez que viu alguém usar a técnica de origamis quando conheceu Yukino.

É verdade, ela também conhece Yuki-sensei. Será que é disto que ela está falando? Ela é responsável por meu corpo estar assim? Isso significa que posso aprender a mesma técnica da Sensei? tantas perguntas traziam ainda mais confusão a jovem.

Enquanto desfazia e refazia sua mão, algumas falhas eram possíveis de ser vistas, outras eram apenas sentidas pela genin, no entanto aquele já era um avanço considerável para ela, visto que conseguia sentir e mover seus membros além dos origamis, ainda que de forma desengonçada.

O controle do chakra tinha que ser preciso e a concentração absoluta para se ater apenas a manipulação dos papéis infundidos. Junko estava tão absorta na tentativa de controlar a habilidade que não reparou que a loira havia trazido a de volta a realidade. Enquanto seus olhos abriam e sua visão focava, a menina notou que estava novamente deitada na floresta o céu encoberto pelas copas das árvores lhe impediam de saber quanto tempo havia se passado, mas aquilo era irrelevante naquele momento.

Ela se levantou com apoio das mãos enquanto sentia o próprio corpo materializado, ainda não tinha certeza se o que tinha visto até então era real ou não passava de uma ilusão, por isso sabia que precisava testar para confirmar. A jovem então lembrou das asas de anjo que Yukino criou em si mesmo com os origamis durante um treino, ela não tinha muitas referência de como criar algo como aquilo, mas decidiu tentar.

Asas, como as de um anjo...

Junko fechou os olhos para se concentrar e fluir melhor o chakra enquanto sentia mesma sensação que tivera dentro do genjutsu. Em sua mente recordava como eram as asas de Yukino e tentava se focar no formato delas.

Um leve susto tomou parte de Junko ao perceber que tudo que havia visto e sentindo dentro do genjutsu também havia sido real, mas aquilo não abalou sua concentração. A tentativa de asas exigiam bastante da jovem que mesmo no auge de seu esforço não conseguia fazer executar a técnica adequadamente.

- Estão moles e despencando.. Mal consigo manter o formato de asas..

A confiança de Junko estava um pouco abalada por todo seu esforço e concentração não serem o suficiente para fazer as asas direito. Inesperadamente a loira enigmática apareceu próximo a menina e desta vez tinha um ar mais sério. Enquanto dava instruções e dicas para a genin, a brisa balançava as asas que se desfaziam ainda mais.

Tudo que eu fizer é parte do meu corpo? Então.. A jovem olhou para as asas. Elas também fazem parte de mim, não são acessórios, são tão minhas quanto meus braços e pernas. Se são parte mim, devo conseguir controlá-las.

Junko parou para tomar fôlego e então se concentrou novamente, dessa vez ela mandava chakra  para asas e permitia que ele circulassem entre os origamis como se fossem membros do seu corpo.

As tentativas constantes tiveram um bom resultado, finalmente as asas da jovem eram firmes e bem definidas como havia visto em Yukino um dia.

Eu consegui, finalmente eu consegui!! A menina olhou animada para as asas.

Ao ouvir as palavras da Loira Junko se virou para ela e ofegante abriu um enorme sorriso. Aquela deusa enigmática havia lhe confiado uma habilidade incrível e acreditado que a jovem poderia prendê-la e dominá-la.

- Muito obrigada!!! Disse enquanto a loira desaparecia de sua vista.

Junko então desfez a técnica imediatamente e desabou no chão sentada, seu corpo estava pesado e ela se sentia exausta.

Ainda falta muito para que eu consiga dominar de verdade essa técnica. Mas com o tempo e treino, posso chegar lá. Até mesmo ela acreditou em mim...

A menina então usou todas as forças para levantar e caminhar de volta para a vila, o cansaço era tanto que havia desistido até mesmo de procurar ervas, só queria ir para casa dormir e se recuperar para treinar sua nova habilidade melhor.