Ato I - Kaoso

Freyja se metia em confusões desde a infância. A ordeira, metódica, justa e brava cavaleira já foi uma garota mimada. Mesmo na academia, sendo uma das grandes alunas de sua geração de formandos, tinha uma personalidade forte, na qual não se deixava jamais subjugar-se para com os outros, nem mesmo ao professor da sala ou a alunos de linhagens mais respeitadas e tradicionais da Folha. Com o tempo, tornando-se uma grande shinobi respeitada no vilarejo por sua patente com pouca idade, o nível das missões aumentavam e com isso seu ego inflava a níveis exorbitantes, de modo que ela encontrasse em si a grande salvação do vilarejo.

Tudo isso mudou quando sua primeira missão de nível S foi designada para ser realizada o mais rápido possível, três anos atrás. O objetivo era investigar as bases de uma organização criminosa e conseguir informações para o Godaime Hokage Mako, de modo que seu aprendiz pudesse invadi-la e com seus poderes vindos da floresta, erradicar a existência de Kaoso. A notícia veio como um soco no peito e logo ficou entusiasmada em começar a missão de uma vez por todas.

Seu primeiro passo foi se vestir, trajando uma roupa de gala que permitiria a ela se infiltrar no meio dos aldeões e conseguir informações da melhor forma possível utilizando de seu corpo escultural que lhe era ciente. Acostumada a jogar shogi enquanto mais nova, carregava o mantra de que os fracos eram peões e os fortes eram bispos, torres ou cavaleiros, mas para ela, ela era a própria rainha de sua própria partida de shogi e sentia isso profundamente, mal sabendo que no mesmo dia estaria reduzida a menos que um peão.

O segundo ato foi se infiltrar na multidão que tomava as ruas do centro de konoha nas noites de sábado. Havendo informações obrigatórias para a participação de membros da organização, a seleção de alvos possíveis provavelmente seria muito mais fácil do que se podia imaginar, já que um símbolo em comum os associaria os membros ao grupo criminoso. De vestido fendado vermelho, cabelos presos em um coque e de salto, Freyja deslumbrou no baile de gala realizado pelos malfeitores, aparentemente. No modo sedutora, ela desfilou pelo evento, jogando olhares para atrair os homens que tinham o perfil descrito no briefing de sua missão. Levando-os para uma sala privada, onde acreditariam que se afogariam em prazer com a bela de cabelos ruivos, caíram em uma ilusão que os forçava a revelar informações privilegiadas, de modo que a garota conseguia facilmente extrair não só a localização da base, como também os grandes nomes da alta cúpula de Kaoso e também descrições físicas para cada nome revelado.

Freyja acreditava que conseguia mais do que a extração de nomes, endereços e descrições físicas daqueles que assolavam Konohagakure durante a época em que Mako simplesmente desapareceu da face da terra e o alto escalão do vilarejo movia mares e montanhas para manter a civilidade do vilarejo íntegra. Pensou que o aprendiz do Hokage não conseguiria fazê-lo da melhor forma como ela poderia fazer; pensou que, se o fizesse, conseguiria além de uma grande promoção, uma condecoração de honra ao mérito por serviço ao vilarejo. Com as informações mentalizadas em seu intelecto capaz de guardá-las de forma eficiente, ela partiu ao norte do vilarejo, próximo da montanha que protege aquela região, mas ao mesmo tempo longe do gabinete do Hokage e do monumento que simbolizava as cinco faces dos antigos líderes da Folha.

A base era nada mais do que uma escadaria que dava acesso a uma misteriosa e sombria entrada subterrânea. Não haviam inscrições, tampouco iluminação ou uma indicação de que ali seria um local visitável, mas Freyja tinha plena consciência de onde estava se metendo, ou ao menos ela imaginava que estava se metendo em algo que conseguiria lidar facilmente.

Com um chute, quebrou a porta de entrada, feita em madeira, fazendo-a voar pelo corredor que era o caminho de acesso a salas enumeradas com números ímpares à esquerda e pares à direita. A iluminação era elétrica, indiciando a presença de uma tecnologia um pouco mais avançada do que na maioria dos estabelecimentos presentes na Folha, que utilizavam a luz à base de óleo, velas ou simplesmente a dobra do fogo. Mais extravagante do que a presença tecnológica no local escondido às vistas comuns foi a entrada da ninja, que chamou instantaneamente a atenção dos subordinados próximos e os levou até a entrada para testemunhar a presença de uma ninja da Folha adentrando seus aposentos.

Freyja foi capturada e enclausurada em uma cela escurecida por dias a fio, privada de comida, água e luz. Quando abriram a porta da cela, seus captores enxergaram uma mulher desnutrida e completamente enfraquecida, desprovida de qualquer capacidade de fala ou cognição; estava inerte e incapaz de reagir a quaisquer estímulos. Ainda assim, foi exposta a torturas e práticas violentas das quais geraram tantas mágoas em sua mente que sequer lembra-se do que aconteceu naqueles dias em que foi mantida capturada.

Aos poucos, a ninja cativa conseguiu reunir parte de seus poderes novamente com a pouca comida que conseguia guardar, seja pelos guardas derrubando ou por eles mesmo entregarem a comida à garota. Então, certo dia ela rebelou-se. Conseguiu, por meio de uma brecha, assassinar um guarda e usar o sangue do corpo do morto a partir de seu Ketsuryugan para manipulá-lo e assassinar os demais capangas com muita dificuldade. Fugiu por um triz, escondendo-se e esgueirando-se pelos dutos de ventilação e posteriormente pelo esgoto até estar livre de uma vez por todas em um rio que cortava o País do Fogo. Freyja já nem mais sabia onde estava quando foi encontrada no meio da floresta por uma equipe de patrulha de ANBUs que saíram em busca de pistas da organização criminosa. Dada como desaparecida e possivelmente morta, a então tokujo deu sorte de um dos ninjas assassinos reconhecer seu rosto pela época da academia.

A partir deste dia, uma nova ninja surgia nas manhãs da Folha. Completamente renovada e cumpridora de regras, os traumas da tokujo jamais invadiram seus sonhos; muito pelo contrário: a fizeram na mais honrada cavaleira de Konohagakure.