Meu primeiro contato com aquela estranha criatura foi um tanto quanto curioso. Remetendo a mim um monstro terrestre quadrúpede, sua cauda chicoteava os ventos conforme corria e eu aparava seu golpe voraz com minhas lâminas relâmpago cruzadas. Estranhava-me sua face expressar um sentimento de raiva humano, ainda que fosse uma besta; minha preocupação era de que a situação poderia desencadear Brynhildr tomar conta de mim e novamente a escuridão envolver meus olhos, privando-me da visão por tempo indeterminado. O pior de tudo é que é impossível comunicar-se e dizer àquela selvagem sobre a situação, sobretudo para que não assumisse o controle de nossa carcaça. Tomar uma decisão se fazia necessário... tarde demais. O furor combatente subiu à minha cabeça como um cronômetro o fazia, escurecendo completamente minha visão.

A visão tomou conta dos meus olhos, assim como uma dor forte de uma cicatriz no formato de três garras, localizada em meu braço dominante. Me via em um combate contra um monstro que andava sobre as quatro patas, mas em seu olho ainda enxergava raiva, como se fosse um ser humano. —— Olha aqui, filho da puta! Eu não sei o que a desgraçada da Hrist fez, mas eu vou te destruir! —— gritei correndo contra o monstro para matá-lo com honra. Precisei de um único corte cruzado com as presas relâmpago gritando em eletricidade para o monstro cair sem sua própria cabeça. Me aproximei devagar para ver que sua fisionomia parecia retornar a uma forma humana conforme traços pretos voltavam para uma tatuagem no centro do peito.

—— Bosta. —— reclamei levando a mão até o machucado, que me relembrou de sua presença com uma latejada, conforme o monstro provavelmente havia atingido Hrist. Pensei no que fazer com o corpo desfalecido, para não dizer morto, mas levar aquilo para o centro de reconhecimento de Konoha imediatamente não me parecia a melhor opção. Retornar naquela hora era inviável, o que me levou a querer investigar o caso mais a fundo, pois aquilo poderia ser um caso que poderia comprometer seriamente a defesa de meu amado lar.

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Levantei do chão depois de examinar o corpo decapitado pra ter uma surpresa completamente inesperada. Sombras voavam por entre as copas das árvores, a cabeça do defunto já não estava mais no lugar onde havia repousado depois de deixar o dono, tendo deixado um rastro em sangue pelas sombras que dançavam entre as folhagens. —— Ei desgraçados, voltem aqui! —— gritei emputecida, sem nenhum escrúpulo ou medo de quem poderia ser. As lâminas relâmpago já nem demonstravam mais piedade após mais um assassinato para a conta, pareciam dois trovões encarnados sedentos por mais derramamento de sangue infiel.

Foi pelas árvores que eu segui saltando galho por galho, seguindo o rastro em sangue que as sombras deixaram pelo caminho, tornando tudo muito mais fácil do que eu esperava. Fresco, o sangue jorrando pela cabeça decapitada demarcava o caminho que eu deveria seguir, me excitando ainda mais para combater contra seja quem fosse o malfeitor. Chegou dado momento em que já não havia mais sangue; conforme seguia o rastro, este ia diminuindo e reduzindo-se a trilha alguma. Estava agora desamparada e sem nenhum meio de prosseguir minha investigação.

—— Ei Hrist, viada, é uma boa hora pra você aparecer, sabia disso? —— gritei comigo mesma, esperando que a outra contraparte deste corpo que eu vivo pudesse ouvir, mas eu sabia que era em vão. —— Como que você se meteu nessa cagada, cuzona?! —— continuei, mas nenhuma resposta vinha, como sempre aconteceu e provavelmente sempre acontecerá. Sentei em um dos galhos de uma árvore, embainhando as gêmeas na bainhas localizadas nas laterais de minha cintura, pensando em alguma forma de lidar com isso.

Leve em conta:

Equipamentos:

Tentei raciocinar de forma sã, mas aquele ambiente não era tão interessante para que minha cabeça funcionasse propriamente. Talvez se eu estivesse sentada no balcão de um bar, pudesse pensar melhor com uma cerveja oxigenando melhor o cérebro ou na cama com qualquer pessoa que satisfizesse meus desejos incomuns. —— Hrist, caralho, aparece logo! —— reclamei mais uma vez, na esperança de que minha contraparte assumisse.

Fato é que desanimei a ponto de escrever um bilhete e colocá-lo em alguma dobra de minha armadura, como era costumeiro, usando um bloquinho de papel e caneta que carregava na bolsa ninja para situações como esta. Após isso, restou relaxar o corpo e deixá-lo balançar no galho de árvore usando como sustentação as pernas dobradas, de modo que meu cabelo pendesse... e o mundo escurecesse repentinamente.

Quando me imputei novamente a meu corpo, horripilante foi a situação que me encontrei. De cabeça para baixo, meu corpo pendia no galho de uma árvore em meio a uma floresta. Observando os arredores, percebi não só um rastro de sangue, como um papel preso em uma das cavidades da armadura que trajava. "Encontre a cabeça!", era tudo o que dizia o papel branco que logo assumi ser parte do pequeno calhamaço de papel que portava na bolsa ninja de uso exclusivo para a comunicação com Brynhildr. —— Em que você se meteu agora, garota...? —— murmurei guardando a folha na bolsa novamente.

Analisei novamente os arredores e sem dificuldade alguma, com minha linhagem sanguínea, pude notar o rastro de sangue invisível a olho nu. —— Como você não pensou nisso, Brynhildr? —— indaguei-me tomando a rota do sangue invisível.

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Persegui os rastros de sangue pela floresta, que findaram em um local pouco ortodoxo e de difícil acesso. O Ketsuryugan serviu de bom grado para esta empreitada, tornando-se força motriz para o início de meu possível encontro com o inimigo. Meu medo de errar era iminente conforme o tempo passava e nada aparecia. Obviamente, não adentrei o local de uma vez, permanecendo camuflada por entre as folhagens das árvores por momentos antes de poder tomar a derradeira decisão de me jogar contra a morte, tomando como princípio a investigação de algo que pudesse comprometer a segurança de meu vilarejo.

Adentrei o suposto destino da cabeça do demônio. Uma passagem cavernosa e grotesca como a própria forma da criatura humanoide se fazia no próprio solo, acessando uma entrada pelo subsolo após algum tempo de caminhada iluminada por tochas que bruxuleavam o ambiente com suas labaredas alaranjadas. Crepitantes, as tochas deixaram de iluminar o local após cruzar a porta, que estava aberta, para deparar-me com um enorme salão iluminado a velas. Tamanha imprudência por parte de uma ninja de elite como eu poderia ser punida com exoneração do cargo, mas eu realmente não estava interessada em falhar nessa empreitada que estabeleci como meta pessoal de investigação.

Cruzei a porta sem nenhuma cerimônia. Esperava que o fator de troca de mentes, ou seja lá o que acontecia em minha mente, estivesse a postos para que Brynhildr assumisse em um possível confronto, já que eu prefiro evitar combater, apesar de fazê-lo de forma desnecessariamente adequada. Me encontrei em um salão circular com uma quantidade exorbitante de velas, ainda maior do que se encontrava no corredor, como se um ritual estivesse em andamento, já que havia um quarteto no centro, desnudo e recitando palavras desconhecidas e incompreensíveis para meu repertório vocabular. —— Brynhildr, é uma boa hora para aparecer... —— sussurrei para mim mesma, mas a entonação não foi favorecida pelo salão circular, que propagou minha voz pelo círculo e atingiu o grupo, tornando-os contra mim... Estava encurralada.

Leve em conta:

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Os seres humanos despidos avançaram contra mim com voracidade tremenda, de modo que eu não conseguisse me preparar imediatamente pro combate. Um salto para fixar meus pés à parede foi suficiente para evitar a primeira onda; logo em seguida, um avanço contra minha localização à parede seria suficiente para me desequilibrar, me senti insegura suficientemente pra estremecer minha não tão resistente confiança, desencadeando minha fuga ainda mais para cima. Cada passo fixada à parede era um passo mais próximo ao teto e minhas opções não eram muitas. Em um combate desfavorável, a evasão não poderia ser minha arma principal, também não poderia recorrer a Brynhildr, uma vez que nós não temos controle sobre a mudança mental que sofro.

Sem abrir a boca para falar algo, desembainhei as Kibas em pleno ar, me projetando da altura ao solo, ganhando o baixo terreno contra as bestas que me acompanhavam. Incendiei minhas espadas com eletricidade e as ergui para cima em cruz, concebendo incontáveis centelhas de coloração azulada que viajavam como verdadeiros relâmpagos contra as criaturas humanoides, que foram paralisadas instantaneamente, tendo duas delas despencado do alto salão e as restantes agonizando em sua própria paralisia. —— Que droga. —— praguejei. Teria continuado a reclamar se não tivesse ouvido um som vindo de minhas costas.

Luz mais intensa se fez por uma porta e conforme me virei, pude notar a origem de tal luminescência. Pela porta, uma figura curiosa, de pele albina e aparência andrógena, com gênero quase que indistinguível. Apenas um sorriso era notado em seus lábios, um sorriso maléfico que logo se tornou algo maquiavélico. De súbito, seu pescoço desprendeu-se do resto do corpo, avançando contra mim velozmente; não tive reação e recebi um golpe no pescoço. Senti o sangue jorrar pelo golpe e levando a mão, era notável a presença de dois buracos. —— O que foi isso? O que você fez?! —— gritei em indagação, mas não recebi respostas, pois minha visão turvou, perdi as forças nas pernas e então apenas senti meu corpo tombar antes de tomar a inconsciência total.

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Aos poucos, conseguia sentir minha consciência voltando ao normal. Me perguntava, ainda de olhos fechados, com uma dor forte no pescoço, o que Hrist havia feito de tão errado para a dor intensa que estava passando naquele momento por toda a extensão corporal. Parecia que meus músculos estavam rasgados, como se tivesse levado uma surra muito bem dada; parecia que meu corpo ia se desmontar ali mesmo, ainda somando com um cheiro acre e nojento, abri os olhos com dificuldade, me apoiando com as costas em uma parede que encontrei tateando a escuridão. Apenas um único e pequeno feixe de luz entrava por uma grade no teto.

Me arrastei pelo local e me dei conta de estar em um cubículo fechado; estava presa. —— Merda Hrist, o que você fez, porra? —— reclamei caindo no chão de novo. Notei estar sem as presas relâmpago, então quase me apavorei. Respirei fundo para pensar em uma solução, já que com certeza força bruta não se aplicaria em uma situação em que meu corpo estava despedaçado. Pensei que seria melhor descansar, então deitei minha cabeça com cuidado no chão rochoso, me coloquei a pensar naquilo e cheguei a conclusão de que deveria esperar meu corpo se recompor para tomar as devidas providências; enquanto isso, estaria a mercê do destino e de quem fosse meu captor.

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Deitada, eu não tinha opção nenhuma, simplesmente fiquei jogada ali impacientemente, tamborilando os dedos no solo de pedra e balançando as pernas com frequência, dissipando a ansiedade e o nervoso de estar encurralada, de "mãos atadas". A grade do nada se abriu, revelando mais luz para o ambiente totalmente escuro; não conseguia ver nada senão silhuetas no topo, como se me olhasse daquela prisão de pedra. —— Ei filhos da puta, me tirem daqui! —— gritei me levantando rápido, com a mão fechada para as sombras. Uma delas desceu, era um homem com cabelos pretos, usava óculos e tinha pele branca; o que mais me incomodava nele era um sorriso de deboche, ainda mais quando tocou em meu queixo. Dei um tapa com as poucas forças que eu tinha em sua mão e a afastei. —— Filho da puta, quem você pensa que é? —— perguntei, me afastando.

Demorou um pouco até que ele recobrasse a compostura e me tomasse pelo braço, erguendo-me para além da grade em um único salto. —— Você irá à presença de Hebi-sama. —— falou me arrastando pelo pulso. Ele tinha uma força bruta que era maior que minha força debilitada, então eu só tinha de aceitar a situação e esperar, porque me debater naquele momento só ia piorar meu estado. Aparentemente, estava sendo arrastada para a presença de alguém, eu só não conseguia compreender a magnitude de onde eu e Hrist havíamos enfiado nossa fuça.

Sentado em um trono de prata em um salão muito bem iluminado, cheio de pilastras e tochas decorativas, o mesmo ser de aparência andrógena de antes estava sentado com as pernas cruzadas e um cálice dourado à mão. —— Seja bem-vinda, Freyja. —— disse ele, arrepiando os cabelos de minha nuca, já que eu jamais havia revelado meu nome.

—— Eu tenho lhe sondado dentro da Folha e percebo que você caiu em minha armadilha. —— falou em um tom de deboche, como se quisesse se sentir superior a mim.
—— Filho da puta, me deixa ir embora e eu não te mato!. —— retruquei
—— Você não vai me matar, garota. Não vai fazê-lo, pois eu posso te dar poder. Você sempre quer poder pra jamais perder um combate e proteger seu amado vilarejo, não é?

Estremeci por um segundo, então esperei que ele desse início a explicação. Provavelmente ele já me conhecia suficientemente para saber de minhas capacidades, tornando um movimento surpresa uma atitude completamente imprudente de minha parte.

—— Eu lhe apliquei um selo amaldiçoado. Não é tão mal quanto o nome soa. Ele libera todas as capacidades de uma pessoa, mas há um custo... —— ele deu uma breve pausa que eu considerei com certeza proposital. —— Sua própria vida.

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Jamais me entregaria. Minha morte? Onde já se viu uma guerreira entregar-se por ganância ao poder? Somente a honra e o trabalho duro poderiam entregar a verdadeira glória de um lutador nato. —— Eu sou a guerreira que vai trazer glória para a Folha, seu filho da puta. —— falei com fúria nos olhos. As lâminas relâmpago ainda possuíam meu chakra; elevei as presas no ar com minha energia, fazendo-as girar e decepar a cabeça de meu captor com uma delas. A segunda lâmina gerou contra os súditos, biseccionando seus corpos da mesma forma.

Corri sem destino algum, movida pelo anseio de sobreviver, ignorando a insuportável dor que atingia meu ser. Me arrastei, me joguei, me elevei ao máximo. Eu sairia dali com vida, com certeza, e esta não seria o último feito de meus dezenove anos.

Cruzei os campos labirínticos daquele esconderijo, escancarando portas em busca de uma saída que provavelmente nem encontraria transitando por aquele local. Eventualmente, depois de inúmeras portas abertas e metros, que pareciam quilômetros andados, finalmente a luz do sol atingia novamente meus olhos, ofuscando a visão por algum tempo, até que tudo escureceu. Hrist não tomou conta do corpo, tampouco retornei ao controle...

Acordei no hospital do vilarejo. Meu corpo estava completamente dolorido, não conseguia mover sequer uma parte sem sentir que meus músculos estavam esmigalhados. Caí no sono novamente ao ver uma enfermeira conhecida, sabendo que estava em solo seguro.

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