Não fazia muito tempo que a garota havia saído de casa. Seus minúsculos e magros pés davam passos que ecoavam pelo silêncio da madrugada. Na região da vila em que estava não havia ninguém nas ruas, era só ela e o vazio. A lua minguante lançava sua luz prateada sobre as pedras que compunham a vila, criando assim uma série de reflexos coloridos sobre o corpo da garota, era de uma beleza natural espantosa e a menina riu quando um feixe lunar refletiu e atravessou seu rosto, trazendo um clarão colorido aos seus olhos. 'Legal...' Ela pensou, empolgada, enfiando as mãos ainda mais fundo nos bolsos do casaco que trajava.
Era frio aquela madrugada, o inverno havia chegado há poucos dias e ele lançava sobre a menina cruéis ventos gelados. Além disso, o vento que caminhava ligeiro sobre as formações rochosas que cercavam a vila faziam um sibilo fantasmagórico que eriçaram os pelos do braço de Nami. Não eram só suas mãos que estavam dentro do casaco mas também sua cabeça, essa completamente envolvida pelo capuz, lançando uma sombra que escondia seu delicado e infantil rosto.

‘Tenho que ficar mais forte... Tenho que ficar mais forte...’ A menina repetia em sua mente a cada passo que dava, preenchendo o silêncio com os barulhos de sua alma. Fazia três dias que ela havia sido promovida para Gennin e aquilo, até o momento, a deixara muito feliz. ‘Finalmente vou retribuir o que Iwa fez por mim!’ Concluiu no dia em que saiu da academia. Mas com o passar do tempo, ela que era muito observativa viu seus antigos companheiros de classe saindo para treinos e com o passar do tempo essa visão começou a fazer ela se sentir para trás. ‘Iwa precisa de mim!’ Pensou, apertando ainda mais o passo. ‘Dessa forma eu serei inútil para as pessoas que me salvaram...’ seus olhos foram até a meia lua do céu por um instante, lembrou-se do enclausuramento que viveu por anos naquele maldito laboratório de teste, apertou os dedos com tanta força contra sua mão que se ela não tivesse feito as unhas no dia anterior certamente teria machucado suas palmas. “Tenho que ficar mais forte...” Ela repetiu em sua cabeça, como um mantra.

Ela passava por diversas casas, mas conforme avançava na direção do local em que ia, as residencias iam ficando mais espaçadas, menos numerosas, até que ela chegou em um ponto limite da ilha que era um grande espaço liso que ficava entre a região residencial e as enormes montanhas que circundavam Iwa. Havia algumas rochas ali e acolá mas no geral era um plano infértil e inóspito. – Ufa, cheguei... – Suspirou, jogando o capuz para trás. Uma lufada de vento frio mordeu-lhe o rosto, forçando-a a fechar os olhos. Quando os abriu já se considerava preparada para treinar.

Seu principal objetivo ali era melhorar sua capacidade de manipulação de seus jutsus. Ela liberou uma onda de insetos e começou a praticar dando diversos golpes com essa nuvem de insetos no ar. Ela imaginava alvos à sua frente – membros de outras vilas com rostos diabólicos – e acertava-os, brandindo sua mão no ar e coordenando aos insetos a irem para tal local em mutirão, acertando o inimigo imaginário. Quem a visse de fora certamente acharia que ela não estava treinando e sim jogando golpes sem sentido no ar. Mas internamente, a cada golpe que dava, Nami tentava utilizar a menor quantidade de chakra possível ao mesmo tempo em que tentava movimentar os insetos com mais velocidade e força. Eram duas coisas que iam em direções contrárias e por conta da dificuldade ela fazia isso aos poucos, aumentando tanto a força dos golpes com a menor utilização de chakra gradualmente.

Com o passar de uma hora ela já ia ficando cansada. – Ah... Ah... – Ofegou antes de acertar mais um ninja inexistente no rosto. Mas ela já sentia que havia melhorado, que a força com a qual os insetos atacavam o ar havia aumentado e assim continuou por mais tempo, até completar uma hora e meia nesses exercícios.

Após esse tempo todo ela estava exausta, sentada no chão, ofegando tanto que mal conseguia respirar. Mas havia um sorriso em seu rosto. – Eu consegui! – Ela exclamou, socando o ar para cima, feliz. A lua pálida observava-a lá de cima, muda. A menina estava ciente que havia evoluído e que havia aprendido a dominar ainda mais seu chakra e a agressividade de seus jutsus. – Agora pausa para o lanche! Hihi... – Riu baixinho, enfiando a mão no bolso do longo casaco e tirando um pacote de chicletes de inúmeras cores. Esse era o seu ‘lanche’. Mastigou-os por um tempo, e quando a mandíbula começou a doer e o ultimo chiclete foi mascado, a menina levantou-se e foi-se embora para casa.

Faltava algumas horas para amanhecer e o vento ainda assoviava por cima das montanhas, mas o frio era mais suportável já que ficar movimentando os braços e o corpo por tanto tempo havia dado à Nami um pouco de calor corporal. Não demorou muito a chegar em casa, abriu a porta de pedra porosa, ligou a luz e caminhou até o banheiro.

Ficou um tempo no banho, lavando os vestígios do treino para longe de sua pele e cabelo, vestiu um macacão azul de pijama e caminhou na direção da cama. Mas não era pra dormir. Puxou um livro que havia numa prateleira ao lado de sua cama, um calhamaço velho e pesado cheio de poeira, e colocou-o sobre seu colo. – Um ninja nunca descansa. Aaatchim! – Espirrou, animada pra iniciar seus estudos. Na capa do livro podia-se ler escrito em letras garrafais: “Estratégias Shinobi”.
E ali ela ficou lendo aquele livro, passando seu indicador pelas linhas e esforçando-se ao máximo para criar na imaginação as situações que o autor descrevia para que assim ela pudesse fixar ainda mais o conteúdo. Quando o sol nasceu do lado de fora da casa, seus braços de luz encontraram a pequena Nami dormindo, babando sobre o livro.

Mais uma noite caia em Iwagakure, dessa vez, portanto, a garota havia vindo com blusas a mais para enfrentar o frio, o que havia dado certo já que todo seu corpo, com exceção de seu rosto, estava protegido do vento gelado da noite. - Mais um treino! Estou empolgada... - Disse para si mesma, animada. Aprender a utilizar o chiclete como arma no dia anterior fizera a garota se tornar bastante confiante de si mesma, acreditando que isso denotava uma certa genialidade da sua parte já que ela havia mesclado o que amava com o seu trabalho como ninja. A menina saltitou sobre algumas pedras que haviam na lateral de uma rua, pulou, seus pés se arrastaram pela parede e ela pousou no chão, voltando a correr. Toda aquela movimentação esquentou tanto seu corpo que por um momento ela havia esquecido que era inverno. Mesmo correndo a garota era mais lenta do que não à incomodava, já que ela havia outras habilidades que faziam sua falta de rapidez não ser algo tão ruim assim.

Um inseto havia escapado de dentro de sua roupa e ousou ficar em seu rosto, ele andou por sua bochecha e parou na ponta do nariz da menina, que ao o ver mexeu o nariz fazendo uma careca, fazendo-o voar e entrar novamente para dentro de sua roupa. Havia uma colônia de insetos dentro daquela roupa, paridos pelo corpo estranho de Nami. Ela achava nojento revelar da onde os insetos insetos, como todo Aburame sensatamente acha, o que fazia ela sempre esconder as roupas que escondiam os furos dos quais os insetos podiam sair de dentro do seu corpo. Pensou nisso, pensou também na sua condição genética, que fazia-a aparecer um inseto e por um momento seu sorriso morreu. 'Por que eu sou tão diferente?' Lembrou-se dos maldito ninjas que haviam feito experimentos em seu corpo e amaldiçoou-os. 'Não devo mais pensar nisso...' Conjecturou quando saiu da zona residencial e chegou a um lugar plano cujo o qual ela já havia treinado. 'Eu tenho Iwa para defender!' Lembrar que era uma ninja da vila oculta da pedra fazia toda a tristeza da garota ir embora, aquilo era como a fagulha que a mantinha viva, a pedra sobre a qual ela edificava toda sua vivência. Essa devoção à aldeia era a coisa que mais amava e que mais lhe afastava da escuridão. - Vamos começar! - Falou, confiante, parando o caminhar.

- Bem, agora podem sair... - Disse, brincalhona, voarem e se aglomerarem em sua frente. 'Tão bonitinhos!' Pensou, colocando a mão no queixo imaginando ser incapaz de lidar com tanta fofura. Para uma pessoa comum os insetos poderiam ser até mesmo nojentos, mas Nami enxergava-os como uma coisa esplêndida; via-os como o que havia de mais perto, como sua verdadeira família. - Hoje vocês vão trabalhar... - Disse, fazendo dois selos de mão ao mesmo tempo que os insetos se juntavam em uma nuvem que mais parecia uma plataforma voadora. No entanto a junção dos insetos ainda estava meio irregular e quando a menina tentou subir neles seu pé vazou pelos insetos e ela acabou caindo de boca no chão. - Merda!

A fastou a poeira no chão e ficou a noite inteira, mais uma vez, treinando. Focou não só em tentar fazer a plataforma de insetos como também na velocidade na qual o jutsu era executado. Tentou diminuir o tempo em que os selos canalizavam o chakra e assim ficou por três horas. Quando isso acabou, ela conseguia subir na plataforma e manipulá-la ao bel prazer, apesar de que quando a plataforma andava para frente ela sentia fortes enjoos. - Aiiiii.... - Reclamava, com a mão na barriga, usando toda a força que tinha para não vomitar.