Receber uma missão sempre foi algo complicado para mim. Simplesmente não entrava na minha cabeça que eu poderia sair por aqueles enormes portões pedregosos numa calma manhã com os pássaros cantando e voltar na noite seguinte ensanguentada, ou talvez nem mesmo voltar. Falhar em minha missão para com Iwagakure seria como desonrar o sangue daqueles que já morreram tentando e eu nem havia chegado a dar sequer um passo em direção ao meu objetivo principal, a Tsuchikage, Yamiko, nem mesmo sabia da minha existência naquela altura e com os Exames Chunin se aproximando, era hora de eu ficar mais forte, a missão seria uma espécie de teste, talvez.

Quando fui comunicada de minha incumbência ainda era dia, o sol raiava no topo do céu e era forte e imponente mesmo que fizesse um frio incomum, pois estávamos a um dia do inverno e este aumentava gradativamente a cada dia que passava. Eu não me surpreenderia se amanhã amanhecesse frio, aliás, mas mesmo assim não abdiquei de minha roupa comum, o pouco reconhecimento que tinha como uma kunoichi veloz era pelo meu jeito de vestir, a capa tremulando ao vento em um flash negro era o sinal de que Motoko estava em ação. "Que idiotice." Pensei fechando a porta de meus aposentos, olhando para o céu.

Naquele dia em especial eu me daria ao luxo de me desafiar e quebrar meus limites de velocidade. Se eu quisesse me tornar alguém nesta enorme vila e ganhar os olhos da Tsuchikage, eu precisaria me destacar e aquela altura, eu não acreditava que meu poder me levaria a algum lugar, mesmo tendo nascido sob a luz da velocidade. Então, desci as escadas de meu condomínio rochoso, a parte boa de morar em uma área comercial é a de que você não precisa perder seus cabelos para encontrar o que quer comprar, simplesmente dobre a esquina e voilá. Desta forma, comprei alguns sacos de alimentos que nem me importei em ver seu conteúdo, pois o que importava era o peso: dois sacos de dez quilos amarrados em minhas costas por uma corda, este seria meu desafio.

Uma criança como eu, correndo no centro de Iwagakure carregando dois enormes sacos nas costas provavelmente levantaria muitas suspeitas, então decidi por simplesmente tomar outra rota e adentrar as regiões periféricas da Pedra, assumindo que ali as pessoas estariam mais acostumadas com cenas como as que eu estaria prestes a propor ou nem dariam bola para minha existência, o que eu agradeceria encarecidamente.

A postura de corrida ninja era característica e ela era básica e essencial pelo fato da aerodinâmica ser algo importante na movimentação. Assumi esta postura e comecei a correr, sentindo o peso dos sacos ainda maiores sobre minhas costas, pensando que aquilo era a maior besteira que eu poderia fazer em toda minha vida, mas além de necessário, seria um modo de eu provar para mim mesma que eu seria capaz de realizar as tarefas incumbidas a mim. O peso dos sacos de alimento me faziam querer largar tudo ali e sair livre, mas meu orgulho e minha necessidade de tornar-me mais forte me impediam de fazer isso, mais forte para proteger a todos.

Em dado momento, o peso nem era mais meu maior inimigo, pois o cansaço começava a tomar conta de minhas pernas e meu corpo parecia tão pesado que acreditaria que nem mesmo um homem com capacidades físicas avantajadas conseguiria erguer meu corpo. Eu não estava usando minha capacidade proveniente da linhagem sanguínea de minha família, usar aquele tipo de poder seria trapaça para com eu mesma, o que decidi foi mesmo que arfando como um ser humano perdido no maior dos desertos encontrados no País do Vento, eu continuaria firme e forte carregando aqueles sacos alimentícios.

Minha roupa talvez estaria ensopada, eu notaria isso se eu não estivesse tão cansada, mas eu nunca havia perdido um auto desafio, todos aqueles que eu me desafiava a concluir, eu o fazia sem titubear. Lembrei-me momentaneamente da vez que me desafiei a subir a encosta que protege toda a vila, o enorme rochedo que impede qualquer pessoa de entrar na vila sem ser visto, isso se conseguir sobreviver as pequenas rochas soltas e os estalagmites rochosos que com uma queda, são fatais ao primeiro contato.

A visão voltou-se para o mundo normal e a região periférica estava quase por acabar, as casas começavam a ganhar mais adornos e tinha melhor aparência, o que significava que o quartel general estava próximo e consequentemente o centro da vila. Assim eu deixei os sacos de comida que eu carregava em uma casa, em sua porta, uma ação caridosa, mas sem nenhum intenção real de ajudar, apenas queria me livrar daqueles objetos que me fizeram sofrer por alguns quilômetros. Finalmente, livre daquele peso que carregava, eu conseguia sentir que meu corpo se comportava melhor e respondia aos estímulos de forma mais suave, de modo que eu me movesse mais rápido e tivesse melhores reflexos.

一 Kusanagi Motoko se apresentando! 一 Anunciei mostrando o bilhete que recebi da ave correio, unindo os pés em forma de respeito. Lá eu recebi todas as instruções e aguardei o cair da noite para que pudesse de fato iniciar a missão, me dirigindo ao portão, esperando que lá a mercadoria que eu deveria escoltar. Só esperava que não tivesse de fazê-lo sozinha. Morrer não era uma opção.

Considerações:

Finalmente fui introduzida àqueles que eu deveria escoltar, mas diferentemente de tudo que eu já havia visto em minha vida, aquilo não parecia ser uma situação cotidiana que um ninja da Pedra poderia viver ao sair da rua. Uma severa quantia de pessoas trajadas em negro, sendo que algumas portando velas se aglomeravam ali no portão, me criando certo desespero a primeira vista, pois aquilo era com certeza bizarro. Pareciam ser membros de alguma seita religiosa ou provavelmente eram seguidores de algum culto a julgar por suas indumentárias, adornos e as velas queimando em suas mãos.

Não me apresentei, apenas reverenciei o trio central que aparentemente eram os escoltados e esperei que eles deduzissem que eu seria sua guarda. A primeira, a jovem moça, despertava certa curiosidade em mim por algum motivo desconhecido, ela era misteriosamente atraente, ainda mais acompanhada de duas figuras velhas e masculinas que de alguma forma me davam asco por um motivo tão misterioso quanto o outro sentimento. Dei de ombros com relação a isso e segui a procissão bizarra.

A jornada começou e sem delongas, com os passos lentos que aqueles fanáticos davam, me causavam nervosismo pois por minha parte nós sairíamos correndo dali e atingiríamos o objetivo em menos de um dia. Naquele passo nós chegaríamos no ano que vem, mas como estariam me pagando para escoltar os loucos vestidos de preto, tratei de não abrir o bico e me atentei aos arredores para evitar qualquer emboscada.

Considerações: