Considerações:

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   O velho imediatamente retrucou, levantando até mesmo sua mão, sinalizando para o garoto se afastar. "Não toque nisso. Não confio em ninguém para carregar estas coisas..." - Abaixou-se, com dificuldade. Ainda dando leves gemidos de dor e apoiando a mão nas costas, conseguiu, depois de um tempo, empilhar o restante dos pertences. Depois que o fez, seu semblante tornou-se nitidamente mais tranquilo, como se, com os pacotes encima da carroça, estivesse mais seguro.
   "Você... é o ninja que enviaram para me escoltar, não é?" - Do bolso, pegou um pequeno cigarro, que acendeu com um fósforo que raspou na cerca. Provavelmente não carregava isqueiros normalmente. "Me diga, garoto, qual cargo você exerce como um shinobi?" - Perguntou, enquanto levava o cigarro à boca. Sua voz soava tranquila, porém seca, como um cliente averiguando o produto que comprou.

   Mesmo com o seu rosto fechado, você pôde perceber uma leve feição de surpresa vinda dele ao vê-lo fumando. "Nessa idade... e já fuma?" - Depois de uns poucos segundos, deu um sorriso e uma risada. "Alguns costumes não têm geração..." - Poderia ser algo estranho o hábito de fumar tão precoce, mas, mesmo assim, isso acabou dando um sutil ar de confiança para o homem.
   Encaminhou-se até a carroça e ergueu-a com as mãos. Aparentava ser fraco, mas mostrou plena capacidade de aguentar o peso das cargas. Notava nitidamente o cuidado que o homem tinha com o conteúdo das mesmas. "Bom... espero que você esteja preparado. Vai ser uma viagem bem longa." - Antes de começar a caminhar, virou a cabeça. "Me chamo Mashiba. Mashiba Okamoto." - Começou a caminhar. "O seu no...--?" - Sua fala foi interrompida por um áspero som de tosse, seguido de pequenas gotas de sangue que saíram de sua boca. Suas mãos largaram a carroça e ele caiu, de joelhos, apoiando-se no chão. Por longos segundos ficou parado, ofegante, tentando se recuperar.

   Era mais do que claro a má vontade do homem de deixar outra pessoa levar a carroça. Porém, era mais do que óbvio que não havia uma escolha. "Heh... malditos jovens. Sempre se gabando de sua juventude, não?" - O seu semblante padrão parecia ser sempre emburrado, não importando a emoção que emitia. Por isso, quando sorria, mais parecia voltar para uma expressão neutra. Com um pouco de dificuldade, forçou-se a sentar encima das cargas. Tossiu. "Apenas tome cuidado com a minha carroça."
   Seguiram viagem. O caminho foi bem menos tortuoso do que o que andara para chegar na missão. Quanto mais se aproximavam do interior do País da Terra, mais nivelado e uniforme o terreno ficava. Mais árvores circundavam o local e menos rochas e picos apareciam. Ventos frescos batiam no rosto... o ambiente, por um bom tempo, mais parecia um passeio do que uma missão de escolta. O caminho era sempre indicado pelo senhor. Ele parecia reclamar constantemente da maneira como Brown andava, se portava e como segurava a carroça. Trazia à tona todos os costumes que, hoje, já se tornaram obsoletos.
   Após algumas horas, o local se tornara completamente denso. Árvores altas escondiam boa parte da luz do sol e o solo de terra batida ficava cada vez mais úmido. Foi quando já estava dentro da mata que começou a escutar alguns barulhos suspeitos... não conseguia distinguir se eram passos, saltos, ou apenas os chiados que a natureza produzia. Estes foram ficando menos frequentes com o tempo, então até mesmo um pensamento poderia ter passado pela sua cabeça de que tudo foi só impressão.
  Um pequeno animal: um esquilo passou correndo pelo solo. Dentre toda a fauna que vira durante a trilha, este foi o primeiro animal que realmente se aproximou de vocês. Ao olhar pra trás, percebeu que o mesmo subiu até os braços do velho. Ele estendeu a mão para ter uma troca de olhares com o animal. Era transparente o fato de que não se dava bem com a natureza: encarava o pequenino como um olhar irritado e impaciente. Sua visão, que já estava debilitada, talvez não tenha percebido, mas você viu que, colado às costas do roedor, estava um papel bomba.

   O movimento foi rápido, por isso, brusco. O solavanco causado pela repentina soltura da carroça fez o velho quase desequilibrar-se. "E-ei!! Moleque! Eu avisei para tomar cuidado com a minha carroça!" - Enquanto o mesmo falava, o pequeno papel bomba nas costas do esquilo começava a brilhar.
   "Squiiiik" - Agonizou o animal, ao ser jogado para longe com um forte soco vindo de Brown, que avançou na carroça com urgência. Antes que o roedor pudesse tocar o chão, a folha em suas costas desfez-se em brasas, até que uma enorme explosão tomou conta da cena. As folhas das árvores tremeram, enquanto os pequenos veados e pássaros que estavam por perto fugiram para a escuridão da mata. O vento e o barulho foram altos e o velho acabou caindo no chão, de costas. "O que diabos...!?" - Exclamava, com um tom de dor.
   Depois do ataque, já era óbvio o que estava acontecendo por ali. Logo, sem mais motivos para estarem ocultos, três homens desceram de alguns galhos de árvore e pousaram logo à frente de Brown. Os três usavam chapéus cônicos orientais, amarrados ao rosto por um fino laço de barbante. Usavam roupas cheias, com panos grossos. Tornozeleiras e cotoveleiras improvisadas, típicas de mercenários e o mais intrigante: na testa de cada um havia uma chamativa cicatriz de formato similar a uma cruz: メ. Um deles, entretanto, se diferenciava dos outros. Sua roupa era muito mais trabalhada e seus acessórios não eram improvisados ou remendados. Este jogou o seu chapéu longe, revelando por completo o seu rosto extremamente cheio e robusto. "Mashiba..." - Sua voz era extremamente grave, sequer parecia um ser humano falando. Ela, no entanto, era surpreendentemente controlada e contida. "Você é previsível demais, seu velho patético." - Sua atenção era gradualmente levada ao Gennin. "É isto que você trouxe para defender os seus bens?!" - Deixou escapulir uma pequena risada, que, ainda sim, era grave. Concluiu: "Apenas me entregue essa carroça antes que eu perca a paciência."

   O garoto rapidamente atirou uma Kunai na direção dos homens. A explosão atingiu uma larga área... por isso, os dois subordinados acabaram saltando para longe, afastando-se do líder, que sequer se moveu. A destruição pegou-o em cheio, por isso, uma pequena esperança de vitória emergiu na cabeça de Brown... até que a silhueta do inimigo se formava mais uma vez enquanto a fumaça se dissipava: estava intacto. Suas roupas se rasgaram, mas seu corpo não exibia uma marca sequer de ferimentos ou sujeira. "Hehehe... Isso vai ser mais fácil do que eu esperava." - Com um sinal os dois ninjas que se afastaram, sacaram pequenas espadas e correram na direção de Brown, enquanto o provável chefe começou a caminhar em direção à carroça.

   Mashiba parecia um pouco atordoado com a queda que sofreu. Apenas depois dos primeiros golpes serem travados que pode recuperar o fôlego. "Esse homem... é um dos líderes da Southern Cross." - Enquanto tentava se levantar novamente, o homem acabou pegando-o pela gola de seu manto e jogou-o contra o tronco de uma árvore. "Seu inútil. Você já perdeu tudo... e ainda assim tenta resistir contra nós?" - Disse ao velho.
   Enquanto isso acontecia, os dois homens que antes avançavam na direção de Brown, agora já estavam praticamente ao lado dele. Desciam suas espadas ao mesmo tempo mirando na cabeça do Gennin.

   O Gennin conseguiu bolar um plano nos últimos segundos. Assim que as espadas partiram o corpo do garoto ao meio, o mesmo se desfez e deu lugar a um pequeno tronco cortado de árvore. Por causa do giro do corpo, não conseguiram se afastar depois de ver os papéis bomba colados no casco da madeira. Uma enorme explosão os jogou para trás, deixando metade do campo de batalha envolto com fumaça. "M-maldito moleque...!" - Ambos pareciam bem danificados, com partes do corpo queimadas e pequenos cortes no corpo causados na queda. Levantavam-se com dificuldade, por isso, não houve tempo para impedirem a nova investida do menino.
   Brown não hesitou: seu alvo era maior. O homem em questão olhava para Mashiba com os olhos de um vencedor... com os olhos de quem estava finalmente acabando com um empecilho que o atrapalhara há bastante tempo. Sequer se importou com os seus homens feridos quando ouviu a explosão; provavelmente não valorizava tanto seus subordinados. "Então, acho que vou levando isso." - Pegou os sacos e caixas pesados que estavam empilhados na carroça e os levou no ombro como se sequer chegassem a um quilo.
   Talvez por subestimar o menino, ou por simples falta de atenção, sequer reagiu ao golpe desferido pelo garoto. Talvez um dejavú tenha acontecido nesse momento: mais uma vez, Brown acreditava ter acertado o golpe em cheio no seu oponente. Dessa vez, no entanto, sem a fumaça da explosão para omitir o que realmente ocorria em sua defesa, pôde ver o inexplicável: a Kunai passou direto pela sua testa, como se o homem sequer estivesse ali. Enquanto penetrava, pequenas faíscas de raio eram emitidas nas extremidades da pele do inimigo... nestes poucos instantes, teve a sensação de que o seu corpo inteiro era composto apenas de raios e faíscas.
   "Hum...." - Com um murmúrio de desdém, pareceu ignorar o ímpeto do Gennin e começou a andar em direção à mata densa. Talvez tivesse tempo de impedi-lo, mas, antes, precisaria preocupar-se com a sua vida. Os dois homens que foram pegos na explosão começaram a mudar: ao olhar para eles mais uma vez, percebeu que a pequena marca na testa de ambos começava a brilhar. Os braços que empunhavam as espadas se deformavam até dobrarem... triplicarem de tamanho. Com um grito descontrolado, suas pupilas pareciam se revirar até que apenas fosse possível ver o branco de seus olhos. Avançaram em direção ao Gennin com movimentos estranhos e imprevisíveis, como se tivessem se tornado verdadeiras bestas.
   

   Os homens avançavam em direção ao Gennin de maneira descontrolada, quase imprevisível. De alguma maneira, aquela cicatriz os dava, porém, mas também os tirava sanidade. Assim que as enormes mãos que portavam as espadas começavam a descer acima do jovem, o mesmo expandiu o seu cabelo, com uma breve anunciação: "Ranjishigami no Jutsu!" -  Os fios cresciam rapidamente. Não foi difícil impedir o ataque dos homens. Assim que seus braços eram enrolados pela técnica, logo seus pescoços também sofriam. Talvez pela insanidade causada pela técnica, sequer gritavam ou praguejavam com a dor e os cortes, apenas mantinham os olhos vazios abertos e a espada empunhada. Com um áspero som de corte, suas cabeças voaram pelo campo de batalha.
   A investida do garoto ainda não havia terminado: dos seus cabelos que já se estendiam até o solo, uma figura felina surgiu. Com um enorme salto, o leão pousou no chão e avançou com uma investida para cima. Antes que o homem pudesse olhar para trás, a boca do animal já adentrava o seu corpo. Mais uma vez, a cena irreal aconteceu: o leão atravessou o corpo do inimigo como se o mesmo sequer existisse, deixando apenas uma trilha de faíscas e raios nas extremidades. Nos primeiros milissegundos, ele pensou que apenas se tratava de mais um golpe falho vindo do menino, mas assim que percebeu que o alvo era a carga, tentou ao máximo virar o seu corpo contra a boca do animal.
   Ele era rápido, quase tão rápido quanto o felino... talvez fosse graças ao seu aspecto de eletricidade. Conseguiu girar o corpo suficientemente para salvar boa parte da carga. Apenas um pequeno pacote acabou caindo da enorme pilha que carregava nos ombros. O homem acabou não se importando. "Humph... pois bem. Vou deixar esse para trás. Considere-se grato por ainda sobrar-lhe algum pertence depois de todos esses anos, seu velho decrépito." - Finalizando, e ignorando completamente seus companheiros mortos, sumiu da cena com um salto.
   Recolhendo os fios, sua visão lentamente voltava para o alcance original. Ao olhar para o local aonde Mashiba estava caído, mesmo com um pouco de sangue escorrendo pela boca e a maior parte dos pertences levados, ele parecia estar rindo. Agora com o fim da luta e apenas vocês dois presentes nos arredores, esta risada acabava tomando conta do lugar.

   O velho dava uma pausa em suas risadas. Levantou-se. "Você foi perfeito. Sabia que podia confiar em um garoto pra falhar tão miseravelmente." - Caminhou até você, com a mão nas costas, ainda com dificuldades devido aos ferimentos na batalha. "Se tudo der certo... esta vai ser a ascensão da família Okamoto." - Abaixou-se para pegar o pacote que recuperara. "Aquela carga... não tinha absolutamente nada de precioso. A maioria dos pacotes estavam vazios. Era tudo, basicamente, uma armadilha." - Ria. "Dentro de alguns deles é onde a diversão começa." - Com o pacote que deixou em mãos, abriu-o casualmente, sem se importar com o conteúdo. Quando o desempacotou, porém, seus olhos se arregalaram em desespero.

   O homem deixava a caixa cair no chão, de surpresa. "De todas as caixas... tinha que ser logo esta...!" - Olhando mais uma vez para você, sua feição enchia-se de raiva. "Bom. O meu dinheiro está depositado no gabinete da Tsuchikage. Por isso, ainda está a meu serviço." - Com uma tosse, pegou um pequeno cigarro de seu bolso e o acendeu com um fósfoto. "Pegue a caixa. Nós estaremos invadindo o quartel general deles." - Dizia, metódico, enquanto caminhava para longe, indicando para segui-lo.