Luki e Gesso seguiam juntos, poucos passos atrás do provável renegado, até que decidiram parar. Tinham chegado perto de uma edificação de madeira, muito simples e pequena, com duas portas e uma janela. Pararam abruptamente e aguardaram os movimentos do outro ninja, que seguiu para o interior da casa. – Receio que... que... que... ele po... po... possa nos ver se... se... se... se formos olhar pela... pela... pela... pela janela. Mas eles nem precisaram se preocupar com isso. Minutos depois de adentrá-la, o inimigo se retirou do refúgio e, parecendo preocupado, dirigiu-se novamente à mata. – Essa é a... a... a... nossa chan... chan... chance! Sabendo da existência de somente dois nukenins, pelos seus cálculos aquela parecia uma ótima oportunidade para espiar o que lhes esperava. – Va... va... vamos!

Considerações:

Se os meninos não tivessem a consciência do que aquele recinto representava, a casa pareceria abandonada. Haviam muitos artefatos espalhados pelos cantos, pelo chão, pelas paredes, mas havia principalmente poeira, muita poeira, teias e aranhas. – Será se... se... se deve... ve... vemos? Luki não sabia o que os esperava, mas o que ele poderia fazer agora? Gesso já tinha tomado a iniciativa de seguir o caminho do alçapão. Luki não quis ficar sozinho. – As... as... as... luz... luz... luzes Gesso! Uma lâmpada fluorescente piscou três vezes antes de acender. Mesmo caindo aos pedaços, aquela era iluminação suficiente para vislumbrar o local por inteiro. Um quartinho minúsculo, que cabiam somente Gesso, Luki e mais uma centena de corpos, empilhados um por cima do outro. Alguns dissecados, outros sem algum membro, outros ainda sangrando, assim como o chão, recheado de vermelho. Duas mesas se dispunham uma de cada lado da sala, a da direita com recipientes cheios de coisas desconhecidas, olhos, cartilagem, líquido, gases, a da esquerda com pergaminhos, uma pirâmide de pergaminhos, todos enrolados e aparentemente amarrados por laços. – O que a gente faz? - Misteriosamente, Luki não tinha gaguejado.

Considerações:

Desde o sangue no chão até o fato de Luki não ter titubeado na sua última fala, tudo era estranho. Gesso, surpreendido, trocou as funções com o seu companheiro e soltou a voz pausadamente, gaguejando. Decididos a se aproximarem da mesa de pergaminhos, passaram cuidadosamente pelos cadáveres, sem pisoteá-los, e encostaram na beirada da madeira revisando mais uma vez a aparência geral do recinto. Quando foram pegar no primeiro papel da pirâmide, a coisa desmoronou. O único pergaminho que ficou ali continha esse conteúdo:


A leitura não tinha acabado. Algumas outras informações estavam presentes naquele documento. O que aconteceu foi um barulho, um rangido de porta, provavelmente da porta de entrada da casa. Eles não poderiam subir porque não sabiam o que os esperava, mas também não podiam permanecer porque aturar aquele cheiro por mais tempo não ia dar certo. Então, o que fariam?

Considerações:

Percebendo que não havia outra opção se não seguir o caminho de volta ao piso principal, Gesso contornou uma última vez os corpos mortos e, depois, esperou por Luki, que, novamente sem saída, voltou à sala de estar. Assim que chegaram lá não perceberam nenhuma novidade, com exceção da porta entreaberta. – CUIDADO! O grito tinha sido do gago, ou ex gago, se preferir. O shinobi tinha sido eficaz o suficiente para notar uma armadilha próxima do pé de Gesso, que recuou antes de atiçar o fio de arame. – Tem gente aqui! Quatro kunais, duas na direção de cada um deles, e a movimentação rápida como um vulto de dois shinobis que se revelaram conhecidos. – Segura essa, pirralhos! Ambos atacaram juntos, cruzando as espadas em um x nas direções dos gennins, buscando feri-los com uma espécie de combo de kenjutsu. – Pestes!

Considerações:

Gesso foi ágil o suficiente para desviar as duas kunais com sua arma, e Luki, ainda mais, escapando com simples movimentos corporais. A investida de ambos os adversários pareceu pouco, tanto que Gesso conseguiu ter tempo o suficiente para fabricar selos e dispor de uma habilidade nascida de seu chakra elemental.  – Técnica da Dança Cortante Dupla! Enquanto investiam na direção dos gennins, os homens mais velhos conseguiram, no ar, direcionar as suas espadas nas retas da habilidade de Gesso, anulando-a completamente e, depois, impedindo-o de realizar outros selos. As duas lâminas desceram: uma na direção de Gesso e outra na direção de Luki, envoltas por um chakra também elemental, o raiton. Os ninjas renegados tentariam paralisar ambos os gennins com a ajuda da condução elétrica e o contato das espadas nos seus corpos. Pelos lados, as quatro kunais que desviaram antes tinham sido erguidas por um provável ninjutsu que, depois, multiplicou-as em centenas. Gesso e Luki não somente tinham que se preocupar com as espadas que iam nas suas direções, como também com todas as kunais que lhes miravam. – Técnica da Armadilha Não Escapatória! Faltava um triz para pisarem nos fios de arame que recuaram antes.

Considerações:

Aqueles dois eram no mínimo chunnins. Suas técnicas de combate, ainda que pouco discretas, eram bastante ajeitadas e perspicazes para se classificarem menores do que rank B. Toda aquela sequência de golpes era demais. Demais inclusive para Gesso. O garoto parecia perplexo, pretérito, indisposto e, quem sabe até incapaz de continuar. Talvez um pouco vislumbrado com toda a situação, deixou-se levar para trás e pressionou o arame com os pés. Fechou os olhos e aguardou o que considerou tempo suficiente para morrer e comprovar se aquela coisa toda de céu e inferno existia mesmo. Não aconteceu. Ao contrário disso foi lançado para o lado de fora da casa, levando consigo a porta da moradia e, também, uma parte da parede ao redor. Dando cambalhotas até conseguir se firmar de pé novamente, percebeu que alguma força tinha lhe possibilitado escapar de tudo aquilo, ileso. Luki? Onde ele estava? Uma fumaça se formou, densa, e só depois de alguns minutos é que Gesso conseguiu distinguir a silhueta do garoto negro. Englobado por uma aura azul, podia-se deduzir que aquilo era o seu chakra, e que aquele era, muito provavelmente, um estilo de luta próprio. O gennin não queria aceitar que tinha sido salvo justo por ele, que desde o início julgou mal, mas também não queria ficar de fora da rincha, pelo menos não depois de perceber o potencial de Luki e apostar que, agora, tinham chances de ganhar. Lembrou-se do pergaminho que carregava consigo. Tateou os bolsos e viu que não estava mais ali. Quando procurou ao redor o viu próximo da casa estraçalhada, aproximando-se para ler. Na última vez que abriu o papel, não notou que nele estava inclusa a forma de uso da técnica, mas agora, em meio aquela confusão, conseguiu. Dali, de longe, pensou em como otimizar aquela habilidade, já que não haviam papéis para se dobrar. "O próprio pergaminho", refletiu. A batalha entre Luki e os renegados continuou enquanto Gesso se concentrava. Muitas vezes, aos olhos de quem estava de fora, Luki parecia prestes a falecer com um golpe fatal daquelas espadas, mas antes disso se comprovar, Gesso agiu. Aquele pergaminho enorme tinha se desfeito e todos aqueles fiapos de papel tocaram a pele dos bandidos bem no pulso, impedindo-os de continuar até que fossem tomados por completo pelas dobraduras. Tínhamos o mais novo usuário de uma arte milenar, presente em campo.

Considerações: