Tempo. As pessoas costumam dizer que tudo se constrói e se destrói com o tempo. Eu discordo; há coisas que nem mesmo ele é capaz de levar. A memória de uma criança sem pais deixada ao acaso, por exemplo, é uma das coisas que não se esquece não importa quanto o tempo passe. Mas deixando toda a parte melancólica de lado, podemos dizer que essa é uma boa história para se contar. Grite, esperneie, bata, coloque tudo pra fora; essas são algumas das palavras que vinham na mente de Altair ao longo dos inquietantes dias após sua graduação. Você pode protestar o quanto quiser, garoto, mas suas ações apenas comprovam o quão inexperiente você é para sair mundo afora; o quanto seu cérebro te faz acreditar que é forte, que é esperto o suficiente, que pode aprimorar suas habilidades sozinho. Tudo isso baseado num ego criado através de crimes do qual nunca era responsabilizado, mas aqui fora é outra coisa. Antes ninguém se importava com o que um mero órfão fizesse nas ruas de seu vilarejo, mas a partir do momento que você decidiu se tornar um ninja, ah, foi aí onde o seu nome começou a ser reconhecido.
E você gostava disso.
Gostava porque permanecer nas sombras dos outros não era algo que lhe agradava. Por que mais sempre pichava suas iniciais nas construções que depravava até pouco tempo, mesmo sabendo que podia ser preso? A resposta todos nós já sabemos: você gosta da atenção. É impossível negar; pode não gostar da maneira irrelevante como as pessoas te olham, mas ser notado é o que realmente importa, seja de maneira positiva ou negativa. Esse é um daqueles defeitos que alguém carrega durante toda a sua vida, não importa o quanto ele evolua. Mas, como tudo o que passamos nessa sofrida jornada, isso também pode ser algo passageiro, algo que procura apenas o momento certo para se desfazer de sua personalidade e te ensinar a ser um verdadeiro ninja.
Agora está aí, andando sozinho em meio a labirintos de rocha sob um sol escaldante, completamente perdido de si e de todos. E foi enquanto caminhava como um urubu sem direção, que dois homens de aparências nada amigáveis cruzaram seu caminho. Foi apenas neste momento que você se deu conta do que estava acontecendo, Altair. Olhou para trás à procura de ajuda mas tudo o que viu foi o vilarejo, adicionando o fato de que a distância até a casa mais próxima era de no mínimo vinte minutos. Por que tinha ido tão longe? Para que ir caminhar num lugar tão distante da civilização? Você gostava de pensar sozinho, sim, mas ainda era muito fraco para fazer isso num lugar desses. Nervoso, jogou uma bala de maçã na boca e tentou se acalmar um pouco, mas não sabia ao certo se uma mera distração o traria de volta à realidade.
O estatelar de um soco na cara lhe trouxe de volta ao presente, um plano de onde você nunca deveria ter saído. Se viu caído no chão e com um forte gosto de ferro escorrendo pelo lábio inferior; tentou levar sua mão direita à boca para conferir o estrago, mas antes que pudesse, sentiu o braço ser impedido pelo grande e gordo pé de um daqueles homens. Você estava fraco, Altair, e se continuasse fraco, iria morrer. O que querem? — gritou, levando a cabeça do chão quente e encarando o agressor mais próximo. Eles eram, para se dizer o mínimo, quarenta centímetros maiores que você. É, as técnicas básicas de academia não lhe prepararam para isso, e tudo com o que você poderia contar desapareceu no momento em que deixou sua pochete em casa, onde guardava todo o seu arsenal ninja.
O que lhe deixou irado foi que os bandidos nem ao menos disseram o que queriam com você, apenas lhe socaram e lhe bateram como se fosse uma encomenda. Uma encomenda, pensou consigo mesmo. Agora sim, Altair, agora seu cérebro preguiçoso começou a funcionar. Mas pensar em quem contratou aqueles caras para lhe matar não lhe ajudaria neste momento, você precisa de algo que te dê poder real, algo que possa usar para vencer os inimigos e voltar correndo para a vila, lugar da onde nunca deveria ter saído sozinho. Pense Altair, você consegue, eu sei que consegue; estou aqui há muito tempo para ver você desistir da vida dessa forma, sem nem lutar por sua bandana. Faça eles saberem quem é, faça você saber quem é. Não tenha medo, liberte seu chakra e abrace o poder que carrega em suas veias, seja um verdadeiro shinobi!
Desconsiderando minha empolgação, é verdade, até que você foi. No momento em que o maior dos bandidos estava prestes a desferir um chute certeiro em seu rosto, você emanou uma energia tão grande que até o chão no qual estava deitado cedeu. Sua pele fora revestida por uma camada metálica forte o suficiente para amortecer o golpe, o que lhe fez olhar para os próprios braços desacreditando no que estava vendo. Estavam totalmente revestidos por grandes lâminas braçais pontiagudas. Sim, Altair, você não é um ninja desses qualquer, você tem um verdadeiro poder, e demorou para descobrir isso, mas agora estava na hora de mostrar aquilo que o seu sangue lhe provém. Aproveitou a dor que o bandido sentiu ao acertar sua pele com o pé e avançou na direção de um deles, estava agindo por instinto, como um animal. Enterrou uma grande lâmina que fez surgir em seu pulso direito no peito do homem, que caiu imediatamente quase sem vida no chão. Virou-se para trás ao sentir suas costas nuas serem atingidas por um objeto metálico. Uma kunai caiu no chão após tocá-lo como se fosse nada, que tipo de poder era esse que permaneceu adormecido durante tanto tempo? Você e o agressor correram um contra o outro na mesma intensidade, mas dessa vez era diferente; você sentia como se pudesse se esquivar de todos os golpes daquele bandido de meia tigela, como se a força bruta dele não fosse nada comparada à agilidade de seus movimentos esguios.
Agora eu posso dizer sem brincadeiras, ver você lutar era bonito. Num milésimo de segundo aquela grande e cinzenta massa se transformou num martelo de proporções consideráveis. Os golpes do bandido nem passaram perto de acertá-lo, já os seus ocorreram exatamente ao contrário. Escorregou por debaixo das pernas do homem e virou-se para suas costas após rasgar seus tornozelos com as lâminas braçais, desferindo uma porrada certeira em sua canela. Naquele momento um voleio de lembranças correu pela mente do jovem, trazendo algumas memórias de seu passado da qual ele não tinha sequer noção da existência. O embate estava acabado, o bandido ainda acordado permanecia quase ajoelhado enquanto sangrava por toda a parte, mas para você... Ah, ainda não era o suficiente. Para que deixar os dois vivos? Apenas um seria o suficiente para entregar o recado ao mandante do crime, mostre-o que agora você é forte. Correu como corre uma onça e pulou no meio ar, erguendo o martelo enquanto mergulhava na direção do bandido mais fraco. O barulho da perfuração foi alto e conclusivo, seus olhos fixaram-se nos deles enquanto você sentia a vida do homem se esvair de vosso corpo. Sem querer lidar com conflitos internos, desfez os constructos criados e saiu correndo de volta para a vila, tinha uma longa pesquisa a realizar agora.